Todo modelo arbóreo segue a lógica do "decalque e da reprodução" (DG 1995, p. 21):
"Ele é antes como uma foto, um rádio que começaria por eleger ou isolar o que ele tem a intenção de reproduzir, com a ajuda de meios artificiais (...). O decalque já traduziu o mapa em imagem, já transformou o rizoma em raízes e radículas. Organizou, estabilizou, neutralizou as multiplicidades segundo eixos de significância e subjetivação que são os seus. Ele gerou, estruturalizou o rizoma, e o decalque só reproduz ele mesmo quando crê reproduzir outra coisa" (Ibidem, p. 23).
O desenvolvimento arbóreo, portanto, é aquele que busca neutralizar as múltiplas formas locais de desenvolvimento a partir de um modelo exterior, elaborado tendo como referência o exemplo das chamadas sociedades "desenvolvidas" da Europa e, mais recentemente, de países como os Estados Unidos e a China. Trata-se do projeto de transformar o Brasil (múltiplo em termos ambientais e culturais) em uma "Europa Tropical", objetivo almejado pelas nossas elites desde o momento do "descobrimento". Conforme a famosa frase de Sérgio Buarque de Holanda, o problema do Brasil é que "as nossas elites sempre governaram o país com os olhos voltados para a Europa"... Esse projeto político e tecnológico demostrou-se completamente desastroso a médio e longo prazo, ao mesmo tempo em que impediu ao povo brasileiro de trilhar o seu caminho e escrever a sua própria história, com certa originalidade e autonomia, a partir das nossas qualidades e características locais (hoje em dia tão valorizadas mundo a fora).
Deleuze e Guattari falam do predomínio hegemônico de certa "cultura arborescente" no pensamento ocidental "moderno":
"É curioso como a árvore dominou a realidade ocidental e todo pensamento ocidental, da botânica à biologia, a anatomia, mas também a gnoseologia, a teologia, a ontologia, toda a filosofia" (Ibidem, p. 28-9).
As três principais características do pensamento arbóreo são: 1) faz uso de modelos que funcionam a partir da lógica da reprodução, como o mapa; 2) visa a neutralização da multiplicidade a partir de eixos centrais pré-definidos; 3) e possui uma estrutura hierárquica de geração e distribuição das relações conforme os canais pré-estabelecidos no modelo.
Conforme afirmam DG:
"Os sistemas arborescentes são sistema hierárquicos que comportam centros de significância e de subjetivação, autômatos centrais como memórias organizadas. Acontece que os modelos correspondentes são tais que um elemento só recebe suas informações de uma unidade superior e uma atribuição subjetiva de ligações preestabelecidas" (Ibidem, p. 26-7).
Mas se os modelos arbóreos agem sobre as multiplicidades rizomáticas, estruturando-as conforme uma hierarquia pré-estabelecida de relações (como um mapa ou projeto), ele também não deixa de originar outros rizomas mais adiante:
"Há, então, agenciamentos muito diferentes de mapas-decalques, rizomas-raízes, com coeficientes variáveis de desterritorialização. Existem estruturas de árvores ou de raízes nos rizomas, mas, inversamente, um galho de árvore ou uma divisão de raiz podem recomeçar a brotar em rizoma (...). Ou então é um elemento microscópico da árvore raiz, uma radícula, que incita a produção de um rizoma. A contabilidade e a burocracia procedem por decalques: elas podem, no entanto, começar a brotar, a lançar hastes de rizomas, como um romance de Kafka" (Ibidem, p. 24).
Não importa o quanto a intervenção governamental seja autoritária e hierárquica (e, portanto, anti-democrática), ela nunca deixa de originar linhas de fuga e desterritorialização por toda parte, dando origem a filamentos rizomáticos que percorrem toda a sociedade. Mas essas "linhas de fuga rizomáticas" são novamente capturadas e ordenadas mais a frente conforme o modelo-árvore, dando origem a um processo de reprodução e ordenação constante do múltiplo e do diverso conforme um modelo ou projeto pré-estabelecido.
Foto: "Hipertexto - Dispositivo Rizomático em ação".
Nenhum comentário:
Postar um comentário