segunda-feira, 26 de abril de 2010

Berinjela à moda Dna. Emília Salituri

O assunto que pretendo tratar leva-nos diretamente para a região da Calábria, na Itália, num cenário marcado pelas montanhas e o mar. Essa região deu nome a toda península Italiana, pois antigamente era chamada de Itália em homenagem ao seu rei: Ítalo. Também foi nesta região que foi fundada a primeira cidade Italiana, Reggio Calábria, ainda na época em que a região fazia parte do império da Magna Grécia. Mas não foram apenas os gregos que influenciaram na formação da cultura local, também passaram por ali, ainda em épocas remotas: romanos, normandos e árabes. Todos esses povos contribuíram para a formação de uma rica cultura camponesa mediterrânea, que ainda sobrevive em pequenas aldeias localizadas nos cumes das montanhas, com suas festas medievais, sua culinária, suas histórias e sua mitologia. Terra das Oliveiras e do tão apreciado azeite de Oliva, utilizado em praticamente toda a culinária mediterrânea, Calábria é uma das regiões mais lindas e antigas da Itália, com paisagens deslumbrantes e inesquecíveis.

Mas o que nos leva tão distante no tempo e no espaço é uma deliciosa receita de berinjela, que chegou ao Brasil na bagagem cultural de imigrantes italianos provenientes da Calábria, que se estabeleceram no Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros. Essa deliciosa receita é preparada com ingredientes comuns da culinária mediterrânea, misturados com tamanha perfeição que o resultado final é de dar água na boca. A sua matéria prima principal, a Berinjela, tem sua origem na Índia. Mas, segundo registros históricos, essa fruta foi levada para a Europa, ainda no século XIII, pelos árabes provenientes da península ibérica, grandes apreciadores das suas qualidades medicinais e alimentares. A berinjela tem forte presença na culinária italiana, sendo cultivada nas regiões da Calábria e Sicilia, onde também é milenarmente usada para combater doenças como artrite, gota, reumatismo e diabetes.

A arte envolvida no seu preparo me fez lembrar um livro do filósofo Rubem Alves – Livro sem fim – onde o autor fala, entre outras coisas, sobre a relação entre a culinária, a filosofia e a epistemologia. Como boa parte das receitas familiares, esse típico prato italiano envolve uma arte que passou de geração para geração, percorrendo o tempo e o espaço e sobrevivendo até hoje para a minha completa felicidade. Quando Rubem Alves fala sobre a alquimia que envolve a arte culinária e a sua relação com a produção do conhecimento científico, ele nos remete ao prazer que envolve essas duas atividades, onde o resultado final é sempre fruto da capacidade do autor-cozinheiro de manipular e misturar, na medida certa, um conjunto heterogêneo de elementos de maneira a dar forma a sua criação, seja ela uma receita ou uma teoria. Os saberes sobre o uso culinário desta fruta são um legado cultural não somente dos árabes e da Ásia, mas da Calábria e de todos os países para onde os seus habitantes migraram com o passar dos anos, como o Brasil.

Fica aqui a minha homenagem à Dona Emília Salituri, que soube conservar essa receita viva ao repassar esse legado aos seus filhos e netos, permitindo a todos nós saborear ainda hoje essa curiosa mistura de ares e sabores mediterrâneos, forjados nas belas paisagens da Calábria e que se adaptaram perfeitamente a não menos linda paisagem carioca.

BERINJELA À MODA Dª EMÍLIA SALITURI

Descascar e cortar em cubinhos 4 Kg de berinjela.
Lavar bem no escorredor para retirar o máximo de sementes.
Cozinhar em um caldeirão com água, sal e três folhas de louro, por vinte minutos.
Após, escorrer a água deixando a berinjela no escorredor por uns trinta minutos, com um prato por cima, para extrair toda a água.
A seguir, temperar e conservar na geladeira.


Tempero
1 cebola média
½ pimentão vermelho
1 pimenta dedo de moça, sem as sementes
2 dentes de alho grandes
½ molho de salsa e cebolinha
3 c.s. de alcaparras
½ xícara de azeitonas verdes
4 c.s. de orégano
4 c.s. de vinagre
sal a gosto
azeite extra virgem a vontade

Obs: Os ingredientes do tempero devem estar bem picadinhos.


BOM APETITE!

Retomando os trabalhos no blog...

Já faz um tempo que eu gostaria de retomar a escrita no blog, criado, inicialmente, para manter um canal de divulgação das minhas experiências na Amazônia, algo que acabou se demonstrando completamente impossível devido a minha dedicação integral ao trabalho de acompanhar cientistas e comunidades locais envolvidos em projetos na área de “biodiversidade” e “conhecimentos tradicionais” realizados nessa região. Desta forma, infelizmente, no último ano, não foi possível falar sobre o meu campo no blog, principalmente, por falta de tempo mesmo. Por outro lado, também não foi possível fazer outra utilização deste espaço e foram poucos os textos publicados, no geral, apenas breves notas sobre uma diversidade de temas, nada muito programático.

Pois bem, ao que parece, ainda não poderei fazer o uso que pretendo deste espaço, pois, agora, tenho que me dedicar à fase final do curso de doutorado em antropologia e à escrita da tese, tarefa nada fácil. Por outro lado, sei que ainda estou devendo aos meus caros leitores relatos sobre o período que permaneci na Amazônia; além do mais, temos pela frente uma copa do mundo e as eleições nacionais, entre outros assuntos que eu gostaria de comentar eventualmente.

Desta forma, mesmo sabendo que não poderei escrever com a assiduidade que gostaria, pretendo manter o espaço ativo, publicando breves mensagens quinzenalmente. Para facilitar ao máximo a tarefa, essas intervenções vão seguir um estilo livre e despreocupado, pois não poderei dedicar todo o tempo que gostaria para a elaboração e correção dos textos. Por isso, peço que o leitor entenda que são notas passageiras, descomprometidas do rigor acadêmico e gramatical, pois não terei muito tempo para corrigir os textos antes de publicá-los. Em troca, no entanto, prometo manter um estilo mais fluído, leve e de fácil leitura, com mensagens dedicadas a um público que se pretende mais amplo do que o estritamente acadêmico. Mas, para organizar um pouco mais esse trabalho, pretendo dividir as mensagens em dois eixos diferentes: o primeiro está diretamente ligado ao objetivo inicial do blog e consiste em apresentar aos amigos breves notas sobre a minha experiência na Amazônia durante o ano de 2009, explorando bastante o uso de imagens e vídeos como suporte da escrita etnográfica; o segundo está relacionado a uma segunda etapa do blog, com a publicação de breves notas sobre uma diversidade de outros assuntos contemporâneos, com especial atenção à copa do mundo e às eleições nacionais. Essas notas serão publicas quinzenalmente, sempre no início de cada quinzena. Bom, esse é o compromisso que pretendo assumir com meus amigos e seguidores. Vou tentar ao máximo me manter fiel a esse plano, mas, tenho que confessar que a minha prioridade, neste momento, estará voltada para a tese de doutorado, com previsão de defesa para abril de 2011.

Para abrir a rodada e esquentar os tambores, estou publicando logo mais um texto que havia prometido escrever para mim mesmo, uma espécie de apologia à arte culinária e, especialmente, a uma receita que tem me dado grandes prazeres. Apesar de, aparentemente, o assunto não se enquadrar imediatamente sob os objetivos do blog, os bom conhecedores da ciência e da culinária sabem, certamente, reconhecer uma qualidade que essas duas atividades têm em comum: elas permitem uma aproximação entre saber e prazer, conhecimento e a arte de fazer. Espero que a minha escrita possa ser tão prazerosa quanto a arte culinária, permitindo aos leitores saborear idéias passageiras que representam um devir neste mundo, nada mais do que isso.
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