tag:blogger.com,1999:blog-18246003239689838772024-03-01T22:05:01.580-03:00Antropologia SimétricaSymmetric AnthropologyDiego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.comBlogger327125tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-49253526045016779982018-10-27T12:32:00.000-03:002018-10-27T16:51:45.897-03:00Em Defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade: Haddad Presidente! Neste semestre, dei aulas de antropologia nos cursos de graduação em Ciências Sociais e Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, Minas Gerais. Ao longo das últimas aulas, tenho percebido a expressão de angústia e medo nos (as) estudantes.<br />
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Em uma aula sobre o livro, "Sexo e Temperamento", da antropóloga norte-americana, Margaret Mead; ficamos todos apreensivos diante da possibilidade de um correligionário do candidato Bolsonaro entrar no recinto e nos agredir: diante de todo movimento de pessoas no corredor, os (as) alunos (as) olhavam assustados para a porta, com medo de que algo pudesse acontecer. Afinal, a matéria que estava lecionando aborda as relações de gênero em três sociedades estudadas pela autora na década de 1930, buscando desconstruir a "naturalização" das identidades e relações de gênero na sociedade norte-americana da época, conteúdo classificado negativamente pelo neofascismo bolsonasrista como "ideologia de gênero". </div>
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Enquanto apresentava as ideias da autora, fiquei emocionado e triste: seria essa a última aula sobre esse livro? Será que - caso o candidato do PSL ganhar no dia 28 de outubro - nós, professores, continuaremos a ter liberdade de cátedra nas universidades? Ou seremos censurados no exercício da nossa profissão? E o que dizer dos estudantes, seriam eles perseguidos por serem classificados na categoria moral "Vermelhos" simplesmente por cursarem filosofia ou ciências sociais? Pior ainda, será que as universidades públicas serão mantidas em funcionamento em um eventual governo Bolsonaro? Será que nós, professores universitários, seremos expulsos do Brasil? </div>
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Neste ano, completei 40 anos de idade, sendo 20 deles de experiência em Universidades Públicas: primeiro como aluno de graduação em Ciências Sociais na UFRGS; depois como estudante de mestrado em antropologia (na mesma instituição) e doutorado em antropologia na Universidade de Brasília; e, desde 2012, como professor do Instituto de Ciências Sociais da UFU. Ao longo de todo esse período, contei com benefícios concedidos pelo Governo: bolsas sociais (para aluno de baixa renda) e bolsas de pesquisa. Morei em casa de estudante, frequentei o restaurante universitário e, principalmente, tive a oportunidade de cursar a universidade, algo que, no meu caso, só foi possível devido à gratuidade do ensino público superior no Brasil.</div>
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Desde 2003, quando Lula assumiu a presidência da república, pude vivenciar um processo intenso de transformação da Universidade Pública: construção de novas universidades; introdução das políticas de cotas; aumento de investimentos em infra-estrutura; contratação de novos professores; incentivo à qualificação docente; aumento dos recursos destinados à pesquisa; aumento considerável das bolsas "sociais", de introdução à docência e de pesquisa. Pude perceber, por experiência própria, que o perfil dos estudantes da universidade pública mudou sensivelmente: a presença de negros, pessoas de baixa renda e mulheres, aumentou consideravelmente nos 14 anos de governos petistas. </div>
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Nunca antes um governo defendeu de forma tão contundente o lema da "Defesa da Universidade Pública, Gratuita e de Qualidade". Milhões de brasileiros e brasileiras, como eu, tiveram acesso ao ensino superior devido às políticas educacionais implantadas ao longo dos governos petistas. </div>
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A Universidade Pública - que sempre foi um privilégio dos setores mais ricos da sociedade brasileira - tornou-se acessível a setores da sociedade historicamente excluídos do ensino superior. Tenho orgulho de fazer parte dessa história recente do Brasil. </div>
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Ao longo desse período, também pude gozar de um ambiente democrático de debate de diferentes perspectivas teóricas. Nunca, em momento algum, falou-se em censurar autores ou teorias. O espaço das Universidades sempre foi, ao longo de todo período pós-constituição de 1988, um ambiente livre de exercício do pensamento crítico, deixando aos próprios estudantes o direito de escolher - entre múltiplos autores e teorias - aqueles com os quais mais se identificavam. </div>
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A apreensão e o medo estampado na expressão dos meus estudantes de Filosofia e Ciências Sociais reflete os inúmeros ataques do candidato Bolsonaro ao ambiente democrático e livre das instituições públicas de ensino. Pela primeira vez na história recente do Brasil, fala-se em banir autores e teorias, o que é um claro desrespeito a autonomia de cátedra das universidades e instituições de ensino; fala-se em implantar o ensino à distância em todos os níveis educacionais, inclusive no ensino superior, supostamente para resguardar os alunos da "doutrinação comunista", um desses fantasmas criados pelos neofascistas bolsonaristas. Com a justificativa de combater a suposta "lavagem cerebral dos vermelhos", busca-se transformar a Universidade em um curral de reprodução das ideologias conservadoras e do pensamento neoliberal. Pior ainda, fala-se também em extinguir as políticas de cotas sociais e cobrar mensalidades aos estudantes. Retorna-se, desta forma, a visão "elitista" e "conservadora" do ensino público. Ao que parece, Bolsonaro pretende retomar o processo histórico de sucateamento das universidades públicas, investindo no ensino superior privado. </div>
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Diante do medo e da apreensão dos estudantes, senti-me na obrigação de tentar tranquilizá-los: falei que, independe do resultado dessas eleições, haverá resistência política a medidas que busquem destruir com as instituições de ensino; haverá resistência à censura e ao abuso de autoridade nas universidades federais. Falei que eles não estariam sozinhos nessa luta em defesa da democracia e da liberdade de expressão de ideias e pensamentos. </div>
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Saímos dali decididos que a esperança pode, sim, vencer o medo. </div>
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Após a aula, retornando para casa, chorei por alguns minutos a dor dos meus alunos, que é também a minha dor. Estamos todos apreensivos e angustiado com os discursos antidemocráticos de Bolsonaro e seus correligionários, apreensivos com o que poderá acontecer nos próximos quatro anos. Mas saímos dali também convencidos de que a esperança pode, sim, vencer o medo neste domingo!</div>
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A LUTA CONTINUA! </div>
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Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-34269367750295487502018-10-24T16:52:00.003-03:002018-10-27T12:46:09.697-03:00Sobre o Caráter Sistêmico da Corrupção e a origem sensacionalista do "Anti-Petismo"Uma parte dos eleitores que está apoiando a candidatura do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro, justifica a sua escolha por se dizer contra a corrupção que teria atingido, na última década, diversos níveis governamentais e partidos políticos. Trata-se, fundamentalmente, de um justo sentimento de indignação com o mau uso do dinheiro público, mas baseado em uma compreensão equivocada e sensacionalista do fenômeno em questão.<br />
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Essa compreensão equivocada da corrupção em nossa sociedade resulta de uma abordagem sensacionalista e parcial do problema por parte da grande mídia. Nos últimos anos, tal sentimento de indignação foi canalizado inteiramente para o PT e suas principais lideranças partidárias por uma extensa rede de comunicação filiada aos grupos que detêm o monopólio dos principais canais de TV no Brasil: Rede Globo, Record, SBT e Band. Por meio de um jornalismo parcial e comprometido politicamente com os interesses dos setores mais conservadores da nossa sociedade, criou-se a falsa ideia de que o PT, Lula, Dilma e Cia seriam os principais responsáveis pelas inúmeras denuncias de corrupção publicizadas na grande mídia. Criou-se a ideia de que a corrupção foi criada pelos governos "petistas" ou pelo menos ampliada a padrões monumentais. O que vimos nos últimos anos foi um movimento evidente de uso político das denuncias de corrupção para denegrir a imagem do partido político no poder executivo, tendo como finalidade tomar o poder a qualquer custo: até por que as investigações estavam indo "longe demais", a ponto de colocar em risco os interesses dos representantes das classes dominantes. <br />
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Trata-se, obviamente, de uma interpretação equivocada da corrupção, visando agenciar o sentimento de indignação da população brasileira para combater o que sempre foi percebido por esses setores mais conservadores da nossa sociedade como uma ameaça aos seus privilégios enquanto representantes da aristocracia brasileira. O fato é que o tal "sentimento anti-PT" sempre existiu em nossa sociedade, mas sempre se manteve no patamar dos 25%-30%, tendo como principais porta-vozes os tradicionais representantes da "Casa Grande", incluindo as famílias que têm o monopólio dos meios de comunicação no Brasil.<br />
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Ao invés de informar a população sobre as razões sociais e culturais que estão na origem da corrupção, assim como a sua magnitude e amplitude sistêmica, os comentadores do péssimo jornalismo sensacionalista se aproveitaram do momento de fragilidade da esquerda brasileira, para tratar de tirar o melhor benefício da conjuntura histórica. A "crise econômica" mundial teve um impacto tardio - sendo que esse efeito foi consideravelmente ampliado pela conspiração política dos opositores pós-eleição de 2014. Insatisfeito com a derrota nas urnas, teve início um processo político que só agravou ainda mais o que já parecia ruim. Seguiu-se o desemprego...<br />
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E o Governo Dilma não conseguiu - devido às alianças que estavam na origem da sua reeleição - responder com eficácia e rapidez de forma a amenizar a insatisfação de amplos setores da população. Foi desta forma que o discurso midiático anti-PT teve eco nos setores mais pobres da população brasileira. Dilma foi canibalizada pelo sistema que a elegeu, tendo em vista que a iniciativa do impedimento partiu de sua base aliada. Ao longo do período em que o PT esteve no poder, na mesma medida em que se aproximava - para conseguir governar - dos setores tradicionalmente conservadores da sociedade brasileira; por ouro lado, afastava-se das pautas trabalhistas e de esquerda que estavam na origem da formação histórica do partido. <br />
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Esse movimento alimentou-se também de excessos políticos e jurídicos: o impedimento da Presidenta Dilma por meras "peladas fiscais" que, até então, não eram consideradas ilegais; e a condenação do Ex-Presidente Lula, ato jurídico questionado pela total ausência de provas legais por parte significativa da classe jurídica nacional e internacional. Se a condenação de outros políticos e dirigentes do PT foi, em grande medida, baseada em provas mais concretas; este não foi certamente o caso de Dilma e Lula, cujas condenações são até hoje fruto de inúmeras controvérsias jurídicas e políticas. Para piorar ainda mais a "neutralidade" das investigações, vieram logo após as denúncias contra Temer e seus principais assessores, que não receberam a mesma atenção "negativa" da mídia e foram arquivadas ou suspensas pela prerrogativa do fôro privilegiado da classe política.<br />
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Nos últimos anos - quando avaliamos as ações do MPF, do STF e da PF - percebemos não somente que houveram excessos, mas que a Justiça não foi imparcial na aplicação e interpretação da Constituição e das leis em geral. Ainda assim, não podemos negar ou retirar o reconhecido mérito das operações de combate à corrupção, pois, pela primeira vez na História do Brasil, empresários e políticos foram investigados, condenados e presos. Não se trata, portanto, se ser à favor ou contra a "Lava Jato" e outras operações, mas apenas de controlar os excessos e usos extra-jurídicos da máquina.<br />
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Mas, vamos aos fatos estatísticos sobre a corrupção na política. Como podemos ver aqui, o PT não é, de fato, o partido mais corrupto do Brasil, pois teve apenas 2,9% dos seus políticos condenados e cassados:<br />
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Os partidos com maior número de políticos condenados e cassados é, exatamente, o DEM, o PMDB, o PSDB e - pasmem! - o PP e o PTB, partidos aos quais o deputado Bolosonaro foi filiado por mais de dez anos. É realmente extraordinário o fato do candidato do PSD ter convivido tanto tempo com correligionários cassados por corrupção e nunca tenha descoberto nada ou feito qualquer denuncia.<br />
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O resultado desse processo de "pedagogia midiática" - visando canalizar todo o sentimento anti-corrupção no PT - passou a ser conhecido popularmente como "Anti-Petismo" e representa, nessas eleições presidenciais, a principal razão para o alto índice de rejeição do candidato à presidência da república pelo PT, o Prof. Haddad, assim como de outras lideranças políticas. Essa transformação do sentimento anti-corrupção em sentimento anti-PT está baseada em uma série de ilusões sobre o próprio fenômeno "corrupção", como veremos aqui. A maneira sensacionista que o problema foi abordado, comentado e interpretado, pela grande mídia, incentivou o sentimento de intolerância da população em relação ao PT e à esquerda brasileira, gerando discursos e atitudes de ódio e violência profetizadas na figura do "messias" Bolsonaro e sua família.<br />
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Mas, retornemos ao problema inicial. Primeiramente, para entendermos a verdadeira natureza do fenômeno da corrupção em nossa sociedade, será necessário inserir na análise as perspectivas histórica e sociológica.<br />
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<b>Uma breve História da Corrupção no Brasil</b><br />
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Podemos afirmar que a corrupção no Brasil teve início ainda no processo de colonização e continuou presente na vida nacional ao longo de toda a nossa história. Não se trata, portanto, de uma "novidade" ou de práticas que teriam, supostamente, sido inauguradas nos governos do PT, mas um fenômeno de longa duração baseado em razões socioculturais que nos remetem diretamente ao processo de constituição do Estado no Brasil. Teve início ainda com a distribuição das sesmarias, quando a tarefa de colonização foi, por assim dizer, "terceirizada" ao ser repassada para famílias portuguesas que se instalaram aqui. Essas famílias de "sesmeiros" representavam o Estado Português Colonial e combateram violentamente os nativos, apropriando-se de suas riquezas e mulheres, escravizando a sua força de trabalho. A corrupção primordial, no Brasil, foi a corrupção colonial. Corrupção essa feita com o apoio da elite colonial, que depois se transformou em elite nacional.<br />
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Desde então, sempre houve, na cultura política brasileira, uma apropriação privada e familista das instituições governamentais. Basta dar uma olhada nos livros de história para ver como a "corrupção" surge, inicialmente, como um ato de rebeldia política das elites locais em relação ao que era então percebido como uma apropriação indevida da riqueza produzida na colônia portuguesa. O próprio movimento de independência política pode ser entendido, em grande medida, como um movimento que buscava tornar as elites aristocráticas locais - cujo poder sempre foi baseado, em última instância, no controle do território e suas riquezas - "independentes" em relação ao Estado Português, permitindo que as riquezas construídas com a exploração do trabalho escravo - seja ele negro ou indígena - pudesse ser inteiramente apropriado pelas elites locais.<br />
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Com isso, uma genealogia da corrupção no Brasil nos leva a uma análise histórica do processo de enriquecimento das aristocracias locais, cuja riqueza tem origem na exploração indevida do trabalho escravo e na apropriação injusta (mas "legal") da terra e suas riquezas. Essas elites alimentaram-se historicamente do uso indevido do poder publico, seja no sentido do enriquecimento pessoal e familiar, como também no sentido de combater tudo e todos que estivessem no seu caminho: foram assim que as principais fortunas familiares foram construídas no Brasil, ou seja, a partir da apropriação indevida - e, portanto, "corrupta" - do trabalho e da terra, sempre visando o benefício de uma pequena parcela da população.<br />
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A desigualdade de classe no Brasil está diretamente associada a apropriação do Estado pelas elites locais e a transformação de suas estruturas em um instrumento de enriquecimento pessoal e familiar. A corrupção primordial é a corrupção associada ao próprio processo de produção e reprodução de riquezas, baseado, em última instância, na exploração do trabalho: inicialmente dos índios, depois dos negros; e depois do trabalhador pobre.<br />
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No Brasil, o que é "público" sempre foi tratado pelas elites como um "bem privado e familiar", sendo esta, sem dúvida nenhuma, a mais grave de todas as corrupções. Nunca houve, portanto, um sentimento de empatia das elites pelo "povo brasileiro" ou até mesmo pela "Nação Brasileira", muito menos pelo "bem público"; a história do Brasil é também a história da apropriação indevida da terra, das riquezas e do trabalho para benefício de uma elite. A política partidária tem sido, historicamente, um instrumento de apropriação das estruturas estatais para benefício de uma pequena elite letrada, que faz uso da máquina pública para seu benefício próprio, buscando ampliar suas riquezas a partir da expropriação da força de trabalho dos setores mais pobres da população. A sociedade brasileira, desde sua mais remota origem, sempre foi perpassada por uma desigualdade estrutural que perverte o seu sistema político em suas engrenagens estruturais. Não se trata, portanto, de um fato datado na história brasileira, mas de princípio estrutural e estruturante do próprio Estado Brasileiro, que, em sua origem, foi um Estado Colonial. <br />
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O discurso nacionalista propagado por esses setores da sociedade é baseado em uma ideia de nacionalidade extremamente excludente e eurocêntrica, uma imagem que pouco reflete a ampla diversidades de culturas que compõem a sociedade civil brasileira: nela não há lugar para os índios, os negros e os pobres, muito menos para as minorias de gênero e políticas. Trata-se também de uma imagem superficial da história de formação do Brasil e da sociedade brasileira, movida pelo sentimento de negação das desigualdades estruturais e estruturantes que perpassam a nossa sociedade: uma visão branca e elitista do que deve ser o "Brasil dos brasileiros". <br />
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Ao longo da histórica republicana do Brasil, essas elites aristocráticas sempre manipularam a opinião pública no sentido de manter um total monopólio das instituições estatais, impedindo, desta forma, que a corrupção endêmica e sistêmica promovida pelos seus representantes políticos fosse denunciada ou até mesmo combatida pelo poder público.<br />
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O grande problema da corrupção no Brasil é que - devido a apropriação aristocrática das instituições governamentais, incluindo as agências de investigação e o poder jurídico - nunca houve um real controle sobre essas práticas e os corruptos sempre gozaram de liberdade para agir. As instituições de investigação sempre foram controladas e manipuladas com mão firme, em todos os governos de nossa história republicana. Ora, quando as investigações são "censuradas" pelos próprios agentes públicos, a corrupção ocorre de forma oculta, nos interstícios dos mecanismos de exercício do poder de Estado. <br />
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Um exemplo claro disso foram os 21 anos de Regime Militar, um dos períodos mais corruptos da nossa história recente. Ao longo dos governos ditatoriais, os meios de comunicação sofriam dura censura e as forças de investigação não tinham nenhuma autonomia para investigar, muito menos o setor jurídico e parlamentar para condenar e prender corruptos. E não foram apenas os militares que se beneficiaram da corrupção, mas amplos setores da sociedade civil, as elites agrárias, os empresários e amplas parcelas da sociedade civil tiraram vantagem de um "milagre econômico" calcado em um amplo endividamento externo do Brasil. As grandes obras de infraestrutura construídas a partir do slogan desenvolvimentista e de integração nacional (leia-se, "segurança nacional"), foram um paraíso para práticas de corrupção envolvendo agentes públicos e privados. Quando os militares deixaram o governo, a dívida externa tinha se multiplicado e a inflação atingiu 235% ao ano. Em governos ditatoriais, as instituições de denuncia e investigação são mantidas sob estrito controle e censura, o que possibilita que a corrupção avance sem qualquer controle.<br />
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<b>A Constituição Federal de 1988 e o combate à corrupção</b><br />
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Foi somente com a abertura política e a redemocratização do Brasil que essa história começou, lentamente, a mudar. Primeiramente, devido ao fim da censura dos meios de comunicação, o que permitiu que as ilegalidades fossem minimamente publicizadas. Mas, fundamentalmente, devido à criação de instituições autônomas de investigação e condenação, como é o caso do Ministério Público e da Polícia Federal. A CF de 1988 é, de fato, o primeiro instrumento jurídico que criou instrumentos concretos para combater um princípio estrutural e estruturante do sistema político brasileiro: a corrupção.<br />
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Essas instituições sofreram um processo natural de consolidação ao longo do curto período de vida democrática. Mas foi somente nos governos do PT que elas conquistaram autonomia política de fato, por meio da nomeação de chefaturas indicadas pelos próprios membros dessas agências; assim como pelo investimento maciço na "modernização" dos seus instrumentos de investigação. Nunca, em nenhum outro governo na história do Brasil, o Ministério Público e a Polícia Federal tiveram tanta liberdade e autonomia para conduzir suas investigações sem a interferência do poder executivo ou parlamentar. Entre 2003 e 2011 - período em que Lula esteve na Presidência da República - foram mais de 1.060 operações de combate à corrupção conduzidas pela PF. Só para ter uma ideia, ao longo dos 8 anos em que FHC esteve no governo, foram apenas 48!<br />
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Ora, com isso, antes de advogarmos que houve um aumento considerável da corrupção nos governos do PT, precisamos levar em conta o efeito da consolidação das agências de investigação e condenação - assim como a maior liberdade dos meios de comunicação em divulgar as denuncias - nas estatísticas sobre denuncias e condenações, assim como na "percepção" da corrupção pela população em geral. Quando se tem maior autonomia para investigar é normal que o número de denuncias e condenações aumente consideravelmente aos olhos da sociedade, ainda mais quando essas notícias são reproduzidas e comentadas em uma ampla rede de formadores de opinião pública. Não somente o número de operações foi maior, como também a magnitude da disseminação dos fatos associados à corrupção nos meios de comunicação e, de forma mais capilar, nas redes sociais, ampliou-se consideravelmente. Como diz o velho ditado popular, 'quem conta, aumenta um conto'. A forma como os fatos foram relatados e interpretados teve uma implicação na forma como o fenômeno da corrupção foi percebido pela população em geral. <br />
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Esse fato bastante lógico e elementar nunca foi objeto de análise ou comentário por parte dos principais canais de comunicação, que passaram a alardar um simples crescimento da corrupção e creditar o fato na conta do PT.<br />
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Podemos afirmar, portanto, que a sensação de que a corrupção "aumentou" foi provocada, primeiramente, pela maior autonomia das agências de investigação e pela liberdade da grande mídia em divulgar e comentar os "fatos" apontados nas denúncias das agências de investigação. O próprio PT foi vítima, por assim dizer, da sua postura de defesa das instituições democrática: tanto que suas lideranças foram, uma após a outra, denunciadas, investigadas e, quando se provou os fatos alegados, condenadas e presas. Trata-se de um fato inédito na história do Brasil. <br />
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Ora, como já disse Miriam Leitão, uma coisa é preciso reconhecer. Durante todo o período em que permaneceu no poder, o PT "sempre jogou dentro das regras da democracia". Tanto que - mesmo estando no poder executivo nacional - não conseguiu impedir que suas principais lideranças fossem alvo das agencias de investigação que ajudou a consolidar e fortalecer. Diferente de governos anteriores (e também posteriores, como "Temer"), as lideranças do PT não tentaram controlar as agências de investigação como a Polícia Federal e o Ministério Público, mesmo quando estiveram sob alvo das mesmas.<br />
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Por isso é um total absurdo lógico as pessoas dizerem que o PT é "comunista" ou que irá transformar o Brasil em uma "Cuba ou Venezuela"; eles estiveram 14 anos no poder e o Brasil continuou sendo uma democracia; mais do que isso, houve um sensível fortalecimento das instituições democráticas. E isso à revelia dos interesses do próprio PT e seus dirigentes, conforme a história recente do Brasil tragicamente nos demonstrou.<br />
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<b>O caráter sistêmico da corrupção no Brasil</b><br />
<b><br /></b>
A corrupção no Brasil sempre existiu e está na origem da própria formação do Estado Brasileiro: trata-se de uma tradição de longa duração que resultou em uma cultura institucional de ampla disseminação. Algo que está presente tanto nos agentes do poder público, como também em amplas parcelas da sociedade civil. Para aquém da corrupção 'molar' - perpetuada pela apropriação indevida do Estado pelas elites políticas - sempre existiu uma corrupção "molecular", por assim dizer 'menor", de caráter 'invisível', mas sistêmica e infra-estrutural. Ela está disseminada na forma de múltiplas micropráticas que perpassam a relação de diferentes setores da sociedade civil e o Estado Brasileiro. Não se trata de um fenômeno "novo", muito menos circunscrito a este ou aquele partido político ou setor da sociedade.<br />
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A corrupção está presente no velho rito autoritário do "você sabe com quem está falando?", na busca de privilégios de toda espécie, nas pequenas e microscópicas práticas de corrupção que perpassam o cotidiano da sociedade brasileira. Ela está presente tanto nas atitudes de sonegação de impostos de grandes organizações econômicas, como também nas práticas de sonegação do cidadão de classe média, que forja notas fiscais e faz uso de todos os mecanismos de ilusionismo contábil. Ela também se faz presente nas micropráticas de apropriação das estruturas de governo pelo cidadão comum, principalmente, aqueles das classes com maior poder econômico.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5z6SEloeX4B8sOerGebMND5-94oNz3nxhrGtKFquRYUw3c3D8m0vbYv02ZL_fdFXzYka-izxyA6Y1hmg9VtpgFX5KIzlXAXZQUiEDnX-7YrBCc8uMPdRTu8YnNaA75fy1D6jDqE0prQWH/s1600/Captura+de+Tela+2017-01-25+as+11.05.07.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="608" data-original-width="464" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5z6SEloeX4B8sOerGebMND5-94oNz3nxhrGtKFquRYUw3c3D8m0vbYv02ZL_fdFXzYka-izxyA6Y1hmg9VtpgFX5KIzlXAXZQUiEDnX-7YrBCc8uMPdRTu8YnNaA75fy1D6jDqE0prQWH/s400/Captura+de+Tela+2017-01-25+as+11.05.07.png" width="305" /></a></div>
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Mas, por bem ou mal, as pessoas costumam justificar ou minimizar o problema da sonegação fiscal devido à alta carga tributária brasileira. Sem dúvida, precisamos rever a estrutura tributária brasileira, mas antes de tudo precisamos nos certificar que os grandes grupos econômicos estão pagando devidamente os impostos. Mais do que isso, precisamos cobrar mais impostos dos ricos e diminuir os impostos dos trabalhadores e da classe média.<br />
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Mas o grande problema da corrupção é que ela se tornou, ao longo do tempo, uma cultura institucional que corrói, por dentro, a administração pública e privada, algo que está presente no próprio funcionamento das engrenagens do Estado e das empresas privadas, na forma histórica em que as elites econômicas se apropriaram do poder público para defender seus interesses econômicos. Esse amplo e sistêmico sistema de corrupção já existia muito antes da criação do PT e foi uma "forma de fazer as coisas" que foi repassada de geração para geração de políticos e empreendedores privados. A promiscuidade entre agentes governamentais e privados é uma tradição de longa duração do Estado Brasileiro, não é, portanto, um fenômeno isolado, ou novo, muito menos circunscrito a um único partido político.<br />
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É uma injustiça histórica (além de ilusão e contra-senso sociológico) creditar na conta de um único governante ou partido político a culpa pela corrupção. Além do mais, ao se isolar o problema do seu contexto histórico e institucional, perde-se a oportunidade de construção de mecanismos mais eficientes de fiscalização do poder público. Ao invés disso, o que percebemos é a constante substituição de um corrupto por outro. Nesse caso, a denúncia da corrupção se transforma num poderoso instrumento político de combate aos adversários, visando exatamente se apropriar do Estado para benefício próprio. <br />
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Também não se trata de um problema presente apenas no poder executivo nacional: a corrupção perpassa agentes dos três poderes da república, em seus diversos níveis de atuação (municipal, estadual e nacional), fazendo parte da cultura política nacional desde que o Brasil é Brasil. As práticas corruptas são bastante heterogêneas, envolvendo membros de todos os partidos (com pouquíssimas exceções).<br />
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Mas, com isso, ao se afirmar a magnitude e amplitude da corrupção no Brasil, assim como o seu caráter sistêmico e pluripartidário, não se está querendo dizer que se trata de um fenômeno tão enraizado na cultura institucional brasileira que não possa ser devidamente combatido. O que se está querendo argumentar aqui é que para se combater, de fato, a corrupção e suas consequências negativas na vida nacional, precisamos, antes de tudo, saber exatamente o que é a corrupção, sua natureza e magnitude. Caso contrário corremos o sério risco de não combater a "raiz" do problema chamado "corrupção", mas apenas reproduzir os seus meios estruturais de reprodução social e política.<br />
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Pior do que isso, corremos o sério risco de embarcar em uma nova "aventura messiânica" no pior estilo "caçador de marajás", conforme já vimos antes na história recente do Brasil: a vassourinha de Jânio Quadros, que varria não somente a corrupção, mas também foi usada para literalmente tentar "varrer" do mapa os novos costumes culturais e políticos presentes em setores da população urbana; o messianismo de Collor, o "Caçador de Marajás" que prometia combater a corrupção a qualquer custo, desde que não fosse praticada pelos seus familiares e empresários de estimação.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimCieRehp0MuWDCIjr1Q3Avxtn3P5mWM2sbU7om7PTf4dzpMLRs2SWuz5kV3C_IP-BTZxbNYLSQ3riIS6m-PViLhhaJVbYYERbJMphdyb-_6rXJApQkc2PssAG6zKJjWYZPgOcUA5iwcbt/s1600/Fernando-Collor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1063" data-original-width="1600" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimCieRehp0MuWDCIjr1Q3Avxtn3P5mWM2sbU7om7PTf4dzpMLRs2SWuz5kV3C_IP-BTZxbNYLSQ3riIS6m-PViLhhaJVbYYERbJMphdyb-_6rXJApQkc2PssAG6zKJjWYZPgOcUA5iwcbt/s400/Fernando-Collor.jpg" width="400" /></a></div>
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Sempre houve, na história do Brasil, dois movimentos que se complementam: por um lado, uma abordagem sensacionalista e pessoalista da corrupção, que busca canalizar a investigação do fenômeno para promover ou prejudicar partidos e políticos específicos; por outro lado, uma sucessão de falsos "salvadores da pátria", profetas que se alimentam da indignação popular para conquistar o poder e se apropriar das estruturas estatais para beneficiar seus correligionários e familiares. O uso político da denúncia é, em si, um mecanismos que permite a reprodução das práticas corruptas. Historicamente, a regra tem sido: um corrupto sai, outro entra em seu lugar.<br />
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O fato é que todos os governos são essencialmente corruptos, faz parte da sua natureza estrutural e histórica. Mas a maneira mais eficaz de buscar combater a corrupção consiste, por um lado, em fortalecer as instituições de investigação; e, por outro, em criar mecanismos de controle interno (geralmente denominadas de "corregedorias") que possam agir com autonomia no sentido de controlar o uso político e partidário dessas mesmas estruturas. Pois um dos maiores obstáculos para o combate aos aspectos estruturais da corrupção consiste exatamente no fato de que a lei, no Brasil, não vale pra todo mundo: as estruturas jurídicas - que constituem a 'polícia estatal' - são utilizadas para combater os inimigos e defender os aliados. Faz parte, portanto, do problema a corrupção presente nas próprias instituições de investigação, que podem ser agenciadas e operacionalizadas como um instrumento político-partidário.<br />
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Agora como um candidato que abertamente fala em não aceitar os resultados das urnas, que defende a reforma da constituição de cima pra baixo e um forte controle ideológico do Estado, pode ser a melhor solução para, de fato, combater a corrupção? Qual autonomia terão essas instituições para investigar? Será que - em uma eventual denuncia de corrupção contra membros do PSD - a PF, o MP e o próprio STF não serão acusados de serem "de esquerda" ou "petista"? Qual será a liberdade da imprensa em divulgar as denuncias em um eventual governo Bolsonaro?<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaT7rxT28zHlBEGG-Gipwp7iTEgVpAMrMSKp3l1gQrNFX-J20PgZuYhYBanBi7ZE-P9cc3ZZ1sKHC7WmKOuzrtKP32bOAPg5qmxiULWWOvYOwYrdxDJjaUcOWIRaa4Fw4gkB-PM7AyW1CT/s1600/hqdefault.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="360" data-original-width="480" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgaT7rxT28zHlBEGG-Gipwp7iTEgVpAMrMSKp3l1gQrNFX-J20PgZuYhYBanBi7ZE-P9cc3ZZ1sKHC7WmKOuzrtKP32bOAPg5qmxiULWWOvYOwYrdxDJjaUcOWIRaa4Fw4gkB-PM7AyW1CT/s400/hqdefault.jpg" width="400" /></a></div>
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A melhor forma de continuar combatendo a corrupção consiste em fortalecer cada vez mais as instituições republicanas e democráticas, por meio da aplicação dos princípios enunciados na Constituição de 1988.<br />
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Não parece ser esse o caminho proposto pelo candidato do PSD, que fala a todo momento que não irá tolerar nada que não seja a favor dos seus interesses. Uma coisa é certa: sem democracia, não há fiscalização e combate à corrupção nos diferentes níveis governamentais. <b> </b> Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-46398730486831684982018-10-23T11:18:00.003-03:002018-10-27T12:46:32.848-03:00Em defesa da democracia: ele não, ele nuncaO maior perigo que a eleição de Bolsonaro representa para o Brasil é a disseminação do discurso da intolerância, do ódio e da violência de classe, racial e de gênero. Afinal, não estamos falando de alguém "novo" na política, mas de um parlamentar que possui mais de 28 anos de vida pública. Ao longo desse período, Bolsonaro expressou e propagou suas ideias e preconceitos a quem quisesse ouvir, conforme registrado em inúmeras entrevistas onde o candidato tece manifestações de ódio contra mulheres, homossexuais, negros, pobres e nordestinos.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLeXjWu_rFt5UhYfbY9vr8gOjRWxzl7F-CS_zyQE4sTPA7WVZthDNDIUIUWdW9XpuXDBNJgurdkgnIUGumEKGmlRQfZ4bPpJvvqSXpoftey-94F_X80UTaNHwLSI5jpG41q2VUdwrU0Otg/s1600/ele-nao-mulheres-bolsonaro.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="449" data-original-width="810" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLeXjWu_rFt5UhYfbY9vr8gOjRWxzl7F-CS_zyQE4sTPA7WVZthDNDIUIUWdW9XpuXDBNJgurdkgnIUGumEKGmlRQfZ4bPpJvvqSXpoftey-94F_X80UTaNHwLSI5jpG41q2VUdwrU0Otg/s400/ele-nao-mulheres-bolsonaro.jpg" width="400" /></a></div>
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Sobre as mulheres, por exemplo, Jair já falou que não merecem receber o mesmo salário do que os homens por engravidarem: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=8Ror3MKK8Tk">https://www.youtube.com/watch?v=8Ror3MKK8Tk</a><br />
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O Deputado está sendo processado pela sua colega, Maria do Rosário, por ter sido chamada de "vagabunda" e alguém que "não merecia ser estuprada", conforme é de conhecimento público e notório:<a href="https://www.youtube.com/watch?v=8Ror3MKK8Tk">https://www.youtube.com/watch?v=8Ror3MKK8Tk</a><br />
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Em relação aos homossexuais, Bolsonaro já expressou todo o seu ódio e intolerância em inúmeras manifestações públicas em programas de auditório e entrevistas:<br />
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<a href="https://www.youtube.com/watch?v=Z1oGuNkGV2g">https://www.youtube.com/watch?v=Z1oGuNkGV2g</a><br />
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Nesta entrevista, por exemplo, o candidato propõe reprimir a homossexualidade na porrada:<br />
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<a href="https://www.youtube.com/watch?v=QJNy08VoLZs">https://www.youtube.com/watch?v=QJNy08VoLZs</a><br />
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Tratando os homossexuais de forma claramente desrespeitosa e violenta:<br />
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<a href="https://www.youtube.com/watch?v=4X0RG6DE114">https://www.youtube.com/watch?v=4X0RG6DE114</a><br />
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Mas a metralhadora de violências de Jair é uma metralhadora giratória, índios, negros e pobres também são alvos dos seus ataques e palavras de ordem.<br />
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Teses que remontam a política da "assimilação étnica" e "integração" dos índios na sociedade nacional, um total desrespeito aos direitos indígenas inscritos na Constituição de 1988: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=kjVyjCRuDS0">https://www.youtube.com/watch?v=kjVyjCRuDS0</a><br />
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Nesta entrevista, Jair nega a "dívida histórica com os negros" devido à escravidão:<br />
<a href="https://www.youtube.com/watch?v=vtbXWVEWl88">https://www.youtube.com/watch?v=vtbXWVEWl88</a><br />
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Discursos em que fala dos afro-descendentes utilizando uma unidade de peso portuguesa utilizada na época da colonização, para pesar e comercializar gado, adicionando ainda que "nem pra <i>reprodutores </i>servem mais": <a href="https://www.youtube.com/watch?v=vjl1dJ-m12M">https://www.youtube.com/watch?v=vjl1dJ-m12M</a><br />
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Mas o principal alvo de seus ataques no Congresso sempre foi o fantasma do "comunismo" - genericamente identificado com determinadas "pautas" como a reforma agrária, os direitos humanos, os direitos indígenas, o meio ambiente, os direitos LGBT etc. A forma como o deputado trata essas questões é perpassada por um sentimento de ódio e raiva aos seus adversários, motivado pelo sentimento de intolerância em relação a toda e qualquer forma de alteridade. Os seus discursos apontam claramente a sua disposição em perseguir e exterminar todos e todas que pensem diferente dele e seus correligionários.<br />
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Nega-se, com isso, um dos valores mais caros à democracia: a possibilidade de buscar resolver nossas diferenças morais, ideológicas e até mesmo religiosas e políticas, por meios legais e institucionais do Estado de Direito, ou seja, através do debate público entre aqueles que elegemos como nossos representantes políticos, debate esse conduzido dentro da legalidade e respeitando as garantias e os direitos civis e políticos anunciados em nossa Constituição Cidadã.<br />
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Assim, quando o candidato Bolsonaro, seus filhos e correligionários, propagam o discurso do ódio e da intolerância, quando incitam as pessoas a resolver as suas diferenças por meio de atitudes violentas e autoritárias; quando falam abertamente em "prender, perseguir ou banir todos os vermelhos", em "metralhar toda a petralhada", em prender adversários político-partidários após as eleições ou fechar o STF, em atacar direitos constitucionais; coloca-se em risco os valores e as instituições democráticas. São exatamente essas instituições que nos permitem exercer o pensamento crítico e manifestar nossa crítica e oposição ao que não concordamos ou pensamos que está errado. Sem a democracia, não há oposição, seja ao PT, à esquerda ou aos partidos mais conservadores. <br />
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Incitação ao ódio, promessas de armar a população civil, sintetizadas em cenas de apelo sensacionalista e cinematográfico, visam incentivar o eleitor a agir guiado unicamente por sentimentos e emoções, colocando o ódio e a indignação acima da razão.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4AtIMsRz0MQOJdGw3z2-ZSc5RRJO4r8bDosuiJ7emAuiDfEZI22ocWDwv5JZslw0s10841DKAiR2ZMb33Dc91_yW1jQEDsoCcp8rwfesSk-ukyJU5O2oktDlhryoYObetwux1zaFnr7vx/s1600/bolsonaro-no-acre-868x644.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="644" data-original-width="868" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4AtIMsRz0MQOJdGw3z2-ZSc5RRJO4r8bDosuiJ7emAuiDfEZI22ocWDwv5JZslw0s10841DKAiR2ZMb33Dc91_yW1jQEDsoCcp8rwfesSk-ukyJU5O2oktDlhryoYObetwux1zaFnr7vx/s320/bolsonaro-no-acre-868x644.jpeg" width="320" /></a></div>
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Mas o efeito mais nefasto desse tipo de discurso político na população civil é exatamente a incitação à violência, pois seus eleitores se sentem incentivados e emparados a expressar de forma contundente ações de violência sem maiores constrangimentos. Temos vistos vários casos de intolerância em todo o Brasil: mulheres sendo agredidas e mortas por serem mulheres; homossexuais sendo perseguidos e espancados; pessoas sendo assassinadas por simplesmente manifestarem sua opção ideológica, política ou partidária. Nos primeiros dez dias após o término do 1º turno das eleições presidenciais, foram noticiados mais de 50 casos de violência motivados por diferenças partidárias e/ou ideológicas, a ampla maioria promovida por seus correligionários (apenas 4 casos tinham como vítimas eleitores do Bolsonaro).<br />
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Neste site, por exemplo, foram publicados inúmeros relatos que testemunham o preconceito e a violência cometida contra eleitores, baseado unicamente na sua opção partidária ou ideológica, ou simplesmente por serem enquadrados em categorias genéricas que foram eleitas como inimigas do Brasil de Bolsonaro: "gays", "lésbicas", "travestis", "prostitutas", "putas", "artistas de esquerda", "esquerdistas", "umbandistas", "católicos mercenários", "nordestinos burros", "humanistas" e outras tantas classificações de acusação moral e ideológica.<br />
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"Mapa da Violência Eleitoral nas Eleições de 2018": <a href="http://mapadaviolencia.org/">http://mapadaviolencia.org/</a><br />
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Da mesma forma, temos visto o aumento de ações de forte apelo neofascista em instituições públicas, assim como manifestações que evocam diretamente valores ditatoriais, racistas e totalitários. São diversos os casos de perseguição a negros ou militantes nas escolas e universidades. Também são diversos os casos de violências cometidas nas ruas, nos bares, nos estabelecimentos comerciais e no espaço público em geral.<br />
<br />
Essas ações se multiplicaram ao longo das eleições por uma verdadeira indústria de produção e disseminação de fakenews nas redes sociais. Por meio da circulação de informações mentirosas sobre o PT, "a esquerda", as "feministas" ou "comunistas", os bolsonaristas insuflaram a intolerância cada vez mais explícita a esses setores da população brasileira. Intolerância esse que tem sido estimulada por discursos e propostas políticas que parecem profetizar um ataque concreto às instituições democráticas.<br />
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Fala-se abertamente em banir autores, livros e perspectivas teóricas, em desrespeitar aquilo que é mais sagrado para a sobrevivências das Universidades - a liberdade e autonomia de exercer o pensamento crítico - posicionamentos nunca antes vistos na jovem democracia brasileira. Ao longo dos 14 anos em que o PT permaneceu no poder, nunca se cogitou em perseguir ou banir da universidade autores e teorias associadas ao pensamento neoliberal e/ou conservador. Pela primeira vez na história democrática, um candidato com fortes chances de vencer as eleições afirma literalmente que irá banir do sistema de ensino determinados autores classificados como "comunistas" ou de "esquerda", o que obviamente desrespeita o direito à livre expressão do pensamento e das ideias, algo inadmissível em uma sociedade republicana e democrática.<br />
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Será que retornaremos aos tempos sombrios das masmorras, da censura estatal à arte e ao conhecimento? Retornaremos a era das perseguições morais e religiosas? Por acaso iremos reviver a censura ideológica e política vigente durante os anos de chumbo da Ditadura Militar?<br />
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Será que as palavras ofensivas e agressivas do deputado, que promete "varrer do Brasil todos os vermelhos", é um sinal de que estamos prestes a retornar a um dos períodos mais trágicos da nossa história nacional? Será que os professores e estudantes serão censurados em sala de aula? Será que o currículo escolar será modificado de forma a banir eventos da história nacional, como a escravidão e a ditadura?<br />
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Junta-se a essa clara ameaça de "censura ideológica" propostas absurdas de transformar o ensino fundamental, médio e superior, em ensino à distância. O que significa isso de fato? A destruição da estrutura material e humana concentradas nas universidades e instituições de pesquisa federais? Promessas e propostas de cobrança de mensalidades nas universidades públicas, outra ação que vai contra o princípio constitucional de gratuidade e universalidade do ensino público. Tendo em vista que esta estrutura de ensino técnico e superior está fundamentada em leis e direitos jurídicos - sejam de caráter individuais ou de classe - algo assim somente seria possível a partir de uma ruptura com a ordem democrática e constitucional, ou seja, com a ruptura com próprio Estado de Direito.<br />
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Soma-se a isso a proposta de fundir em um único ministério as pastas da agricultura e meio ambiente, obviamente, para subordinar os interesses e direitos ambientais e indígenas aos interesses dos fazendeiros e do agronegócio, em um claro e aberto desrespeito aos direitos constitucionais (retornarei a essa questão em outro post). Promessas de rever os limites e a integridade territorial das terras indígenas já reconhecidas e homologadas pelo Estado Brasileiro, somadas a ameaças de não conceder "nem mais um centímetro de terra para quilombolas e índios", tudo isso só seria possível a partir de uma ruptura com a ordem constitucional vigente.<br />
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Bom, sem falar nas alegações de fechar o STF, em terminar com o 13º, em atacar os direitos trabalhistas, em desrespeitar o próprio voto e as eleições, em tratar o problema da violência civil como uma questão militar... <br />
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Mas não se trata de temer unicamente o que pode ocorrer com os setores e grupos que foram alvos históricos da metralhadora giratória do deputado Bolsonaro em seus 28 anos de vida pública, mas também de temer aquilo que ele sempre apoiou e exaltou em seus discursos inflamados no Congresso Nacional. Defensor da Ditadura, apoiador da censura e da tortura, Jair dá voz e vazão aos discursos que fazem apologia aos regimes militares e ditatoriais. Mais de 85% dos projetos que defendeu no Congresso são referentes a temas de interesse dos militares. Um dos seus principais ídolos - o General Carlos Alberto Brilhante Ursa - torturou homens, mulheres e crianças nos porões do Doi-Codi.<br />
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A história já demonstrou, por diversas vezes, que os profetas e messias costumam ter vida curta e um fim trágico, simplesmente porque suas promessas e soluções partem de uma análise equivocada, simplória e mesquinha dos problemas sociais e do próprio <i>ser humano </i>e, com o tempo, acabam decepcionando os seus seguidores mais fanáticos.<br />
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Mas é aí que mora o maior risco de todos. Neste caso em específico o "messias" anda acompanhado pelo pensamento autoritário da caserna, que passa a ensaiar voos mais altos, demonstrando interesse em sair das cavernas, retomar o rumo da nação. A história brasileira já nos demonstrou o que costuma suceder a personagens lunáticos e salvadores da pátria, eles costumam ser sucedidos por militares "mão de ferro", linha dura, que assumem o Governo para restabelecer a ordem. Da última vez que isso ocorreu, em 1964, os militares assumiram com a proposta de viabilizar as condições institucionais para as próximas eleições - previstas para ocorrer em 1965 - mas acabaram ficando no poder durante 21 anos (1964-1985).<br />
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Ao longo desse período, milhares de jovens foram perseguidos, presos, torturados e assassinados. É isso que queremos para o Brasil?<br />
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Em nome da democracia e da liberdade: ele não, ele nunca! Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-13180643093532971572018-10-15T14:30:00.000-03:002018-10-27T12:46:51.318-03:00Bolsonaro: o que há de pior na velha e tradicional política brasileiraO candidato à presidência da república, Jair Bolsonaro, apesar de se apresentar como o representante da "nova política", está há 28 anos no Congresso Nacional. Ao longo desse período, o candidato acumulou um capital pessoal de mais de dois milhões de reais, sendo que a sua família enriqueceu e hoje possui cerca de 15 milhões em propriedades.<br />
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Além de ser sustentado por dinheiro público nas últimas décadas, vivendo "dá" política e "para" política, Bolsonaro apadrinhou e encaminhou os três filhos para o mesmo caminho, ou seja, tornou a política um "assunto de família". Além do irmão -que é vereador no RJ - seus filhos foram incentivados a ingressar na política partidária: Carlos Bolsonaro, vereador do RJ; Flávio Bolsonaro, Deputado Estadual do RJ; e Eduardo Bolsonaro, Deputado Federal pelo RJ. Todos defendem as mesmas bandeiras que o pai, sendo que, em alguns casos, assumem posições mais radicais ainda: seus discursos incentivam a violência e o ódio de gênero, racial, ideológico e de classe. <br />
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Apesar de se apresentar como "Caçador de Marajás", Bolsonaro foi citado na "Lista de Furnas" por participar em esquema de corrupção e é acusado de ter recebido 200 mil da JBS, empresa que ficou conhecida pelo envolvimento em casos de propina, tendo sido citada em cinco investigações da PF. O candidato diz ter recusado a verba da JBS e devolvido a doação ao partido, mas existem registros de que esse valor foi repassado novamente a ele como "verba partidária".<br />
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Entre 2010 e 2014, o patrimônio do candidato cresceu 150% segundo declaração patrimonial registrada no TSE. Nesse período, Bolsonaro adquiriu 5 imóveis no valor total de 8 milhões, incluindo 2 casas luxuosas na Barra da Tijuca (RJ). Inclusive, esses dois últimos imóveis foram adquiridos por um valor bem abaixo do valor de mercado, o que é, no mínimo, um indício de que se trata de "lavagem de dinheiro". Como é de conhecimento público e notório, um dos filhos dele, Eduardo Bolsonaro, aumentou o patrimônio em 432% em apenas quatro anos.<br />
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Bolsonaro é acusado de fazer campanha para presidente com a cota parlamentar - o que é ilegal - além de se beneficiar indevidamente do "auxílio moradia" concedido a parlamentares, apesar de ser proprietário de um apartamento em Brasília, utilizado como moradia. Questionado pelo uso indevido de tal benefício, o parlamentar respondeu que, na época, era solteiro e usava o dinheiro "para comer gente", referindo-se a aplicação da verba para a contratação de acompanhantes e prostitutas. E veja bem, neste caso, não se trata de 'denuncia' ou 'acusação' feita por terceiros, mas de afirmações públicas do próprio candidato.<br />
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Existe um vídeo onde, ao ser questionado por um correligionário em evento de campanha política, sobre o seu posicionamento em relação às "regalias" dos deputados federais (passagens aéreas, auxílios moradia e transporte, verba parlamentar, etc), o mesmo fez uma defesa do "direito do parlamentar em receber esses benefícios", dizendo que ele "não abria mão" de algo que considera como um "direito". O vídeo em que o parlamentar faz essa defesa aos privilégios e regalias dos políticos está disponível no youtube e foi filmado por seus correligionários.<br />
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Apesar de se apresentar como "novo", Jair está na política desde que foi eleito vereador do Rio de Janeiro, em 1989, tendo ingressado no Congresso Nacional, em 1991, e reeleito desde então. Ao longo desse período, o parlamentar foi filiado a 7 partidos políticos: PDC (1990), PPR (1993-95), PTB (1995-2003), PFL (2005), PP (2005-2016), PSC (2016-17) e PSL (2018).<br />
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É importante notar que entre os partidos ao qual foi filiado, Bolsonaro integrou o PFL de Antônio Carlos Magalhães, cacique da política tradicional brasileira; o PTB de Roberto Jefferson, autor confesso de práticas de corrupção associadas ao chamado "mensalão"; o PPR e o PP de Paulo Maluf, conhecido pelo seu apoio aos militares e por ter sido condenado por práticas de corrupção.<br />
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Como defender a bandeira de combate à corrupção tendo integrado partidos políticos que não só representam o que há de pior na velha e tradicional política brasileira, mas possuem, entre seus membros de maior destaque, políticos que foram denunciados por envolvimento direto em práticas corruptas? <br />
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Outra questão que não se explica é como sustentar a imagem de representante do "anti-petismo" se o parlamentar foi membro do PP entre 2005 e 2016, período em que esse partido fez parte da base aliada dos Governos do PT e do PMDB de Michel Temer?<br />
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Outra contradição está associada as atividades do parlamentar no Congresso Nacional. Bolsonaro foi autor (em alguns casos, em conjunto com outros parlamentares) de 171 projetos, sendo relator de 73 deles (conforme informação do site da Câmera Federal). Entre esses projetos, conseguiu aprovar apenas 2 Projetos-Lei e uma PEC: ampliação da isenção do IPI para produtos de informática; obrigação de geração de recibo eleitoral após voto em urna eletrônica; e liberação do que ficou conhecido como "pilula do câncer", cuja eficácia terapêutica é questionado por médicos do mundo inteiro.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2Bkh8PUe_ZYDC3OBAf6FQeBvByfPX2gm3Jqf9-ni1tB2N2btktNd8_CmICgEVCTLa8Z3hnlYSLZITwc8MamjMW9-VvVa9EkIOabj1CN9j4p_mGGr0KNu0-31UGsjJ0W_1IM_9QQyCluxt/s1600/bolsonaro-1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="388" data-original-width="645" height="192" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2Bkh8PUe_ZYDC3OBAf6FQeBvByfPX2gm3Jqf9-ni1tB2N2btktNd8_CmICgEVCTLa8Z3hnlYSLZITwc8MamjMW9-VvVa9EkIOabj1CN9j4p_mGGr0KNu0-31UGsjJ0W_1IM_9QQyCluxt/s320/bolsonaro-1.jpg" width="320" /></a></div>
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A maior parte dos projetos de autoria de Bolsonaro trata da defesa dos direitos de membros das Forças Armadas, de modificações no Código Penal, de liberação do porte de armas, de posições contrária aos direitos humanos, das mulheres e do Movimento LGBT, da causa anti-indígena e anti-quilombola e de combate ao que entende como "ideologia de gênero" e aos Direitos Humanos.<br />
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Destaca-se, por exemplo, a proposta de se comemorar o "Golpe Militar de 1964", os projetos que visam amenizar crimes cometidos em defesa da propriedade privada, as inúmeras proposições de diminuição da maioridade penal e as ações que visavam tornar sem efeito a demarcação de terras indígenas (ver PDC-365/1993 e PDC-170/1992).<br />
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Jair Bolsonaro também ficou conhecido nacionalmente por defender pautas extremamente conservadoras: defesa da Ditadura Militar e de outros Regimes Autoritários na América Latina; de combate ao fantasma do "comunismo"; de ferrenha crítica a pauta de defesa dos direitos Humnaos e LGBT, das mulheres, dos índios e dos quilombolas, incluindo posições contrárias às políticas de ação afirmativa; posições favoráveis à pena de morte, à censura e à tortura. Conhecido por suas frases desrespeitosas em relação a mulheres e a integrantes do Movimento LGBT, o candidato tem promovido a ideologia machista, o racismo, a homofobia, assim como a violência e o ódio de classe.<br />
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Apesar do slogan da sua campanha ser "Brasil acima de tudo", Bolsonaro incita a divisão do pais e a violência entre diferentes setores da sociedade. Se existe uma palavra que define e sintetiza o que tem sido a atuação do parlamentar nos últimos 28 anos, certamente é a "intolerância" em relação a toda e qualquer forma de alteridade. Essa intolerância é marcada por posições anti-democráticas e pela glorificação nostálgica dos regimes totalitários e ditatoriais. Caso Bolsonaro venha a se eleger presidente do Brasil, a jovem democracia brasileira ficará em risco e podemos ter que enfrentar novamente um governo autoritário e com forte tendências totalitárias e fascistas. <br />
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Agora me explica como um sujeito com essa biografia política pode ser considerado um representante da "Nova Política"? <br />
<br />Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-60400339798177554762018-10-10T21:55:00.000-03:002018-10-27T12:47:16.428-03:00Retomando o blog na luta contra o Fascismo TupiniquimJá faz tempo que o blog "Antroposimétrica" está parado. A ultima postagem foi em outubro de 2014. Na época, estávamos diante da releição de Dilma e existiam mais dois candidatos com chances de chegar ao segundo turno das eleições presidenciais: Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). Apesar de antever alguns sinais, mal sabia eu que a situação poderia, em um futuro próximo, tornar-se muito pior do que o cenário então existente. Quem poderia imaginar que olharíamos para qualquer um daqueles candidatos com "alívio" diante da possibilidade de um sujeito com forte posição fascista estar com chances reais e contundentes de assumir a Presidência do Brasil a partir de 2019.<br />
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O momento extremo que vivemos exige uma reação contundente em defesa da democracia e contra posições fascistas e autoritárias. Bolsonaro é ainda candidato e os casos de violência - motivados por intolerância ideológica, preconceito ou machismo - perpetuados por seus eleitores, multiplicaram-se pelo Brasil inteiro. Desde o final do primeiro turno, já são mais de cinquenta casos de violência, alguns deles tendo resultado em assassinato. Não podemos aceitar um retorno a era medieval, onde as pessoas resolvem suas diferenças "à bala", na violência. Não podemos ser reféns da raiva e do ódio.<br />
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O sentimento anti-corrupção e o anti-petismo não podem servir de justificativa para o apoio de alguém que agride abertamente mulheres, LGBT's, negros, pobres, índios; alguém que se coloca em defesa de governos e ideias autoritárias; pior, alguém que nega a própria história do Brasil, ao questionar eventos como a escravidão e a ditadura militar. Um sujeito que apoia a tortura não pode ser o futuro presidente do Brasil. A história já nos mostrou por diversas vezes que governos totalitários costumam ampliar ainda mais o sofrimento dos setores mais pobres e das minorias de uma sociedade repleta de desigualdades sociais como a nossa. O Brasil que essas pessoas querem construir é um Brasil onde nós não existimos, pois fomos extintos pela violência declarada da intolerância dos setores mais conservadores da sociedade brasileira. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAKKmFDn_Eyj2_x8dxqzSf-xbtGPi9G-IUzXc8uzyTlX-k7jYBCuNiqqLtay2J2NXt6M0d9MAuErf3lzFUO8V1toWTIVEGHlhCbF-h2F70l5mdrCP9aJy_iaoOhD0v6q4L4r5iTLrnBEMG/s1600/Ele+n%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="375" data-original-width="666" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjAKKmFDn_Eyj2_x8dxqzSf-xbtGPi9G-IUzXc8uzyTlX-k7jYBCuNiqqLtay2J2NXt6M0d9MAuErf3lzFUO8V1toWTIVEGHlhCbF-h2F70l5mdrCP9aJy_iaoOhD0v6q4L4r5iTLrnBEMG/s320/Ele+n%25C3%25A3o.jpg" width="320" /></a></div>
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Por essa razão, decidi retomar este espaço como um ambiente de luta e resistência em defesa da democracia e contra o fascismo. Até o dia 28 de outubro de 2018 - já a partir da próxima semana - irei postar textos buscando desmistificar ilusões sobre o candidato Bolsonaro, com a esperança de esclarecer o eleitor dos sérios e trágicos riscos que corremos caso venha a ser eleito.<br />
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Trata-se da contribuição do blog "Antropologia Simétrica" à luta contra o fascismo!<br />
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A LUTA CONTINUA!! </div>
Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-22400618391098782282014-10-25T12:46:00.000-02:002014-10-26T21:57:13.832-02:00Triste fim de Dom Quixote: sobre Marina, Aécio e Dilma<b>Sobre Marina Silva</b><br />
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Sempre fui à favor de Marina Silva e, principalmente, da proposta inovadora da "Rede", baseada em uma reformulação radical e revolucionária do pensamento e da prática política contemporânea. Até pouco tempo atrás, Marina se apresentava como uma liderança extremamente inovadora, com uma proposta genuína e conectada com as mudanças do século XXI. A fundação de um novo partido, com uma estrutura e proposta de funcionamento diferenciada, expressava, naquele momento, a instauração de uma nova forma de fazer política, convergindo e até mesmo intuitivamente antecipando as demandas que foram colocadas por parte dos "manifestantes" insatisfeitos com as velhas e corroídas estruturas da democracia representativa. <br />
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No entanto, aquilo que parecia um rizoma extremamente produtivo e com forte potencial revolucionário - em uma época em que a política tornou-se a infeliz "arte do possível" (economia política) - transformou-se, diante do primeiro obstáculo, em uma retomada da trajetória arbórea, com a filiação de Marina a um partido político tradicional, o PSB.<br />
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Na minha opinião, acho que a companheira errou três vezes consecutivas.<br />
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Primeiro, quando resolveu se filiar ao PSB e ser vice na chapa de Eduardo Campos. Ora, como mudar a política filiando-se a um partido "tradicional" e aliando-se a um político desenvolvimentista e conservador? Para quem se propõe "mudar a política", não seria mais coerente "fincar o pé" na rede e aguardar as próximas eleições?<br />
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Segundo, quando o destino - por uma fatalidade circunstancial - lhe deu a oportunidade de assumir como candidata do PSB e ir para o segundo turno, Marina foi omissa, ambígua e se blindou com uma política econômica conservadora. Em poucas semanas, o sentimento de "mudança" que animava seus eleitores transformou-se em "decepção". Surgiu outra rede de apoiadores, essa muito mais sinistra e oportunista, composta por uma "quadrilha" de animadores de torcida com tendências homofóbicas e desenvolvimentistas. De fato, o olhar ansioso e tenso de Marina expressava uma candidatura fadada a auto-contradição e quem sabe até mesmo a auto-destruição, baseada em alianças frágeis e oportunistas. Diga-se de passagem, a presença desse "eleitorado" - que nunca esquece de "cobrar a conta" - anunciava um futuro governo comprometido com aqueles setores mais conservadores do cenário político nacional. A candidatura inesperada de Marina, que surgiu inicialmente como um cometa, logo demonstrou-se extremamente frágil e sem uma identidade contundente que a diferencia-se da velha bipolaridade esquizofrênica que caracteriza, há mais de vinte anos, o cenário político nacional. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0ZQp0DL8XIBHoFh8lv6JgibQFA9BW_SGEiAVD-gKw4lGNGR8ENSUM-Ek6RhXir0hGIgCmlHN0AwjUBztNsdPIA0oHSrQ0TtPfcxNHSGlgvV5BQclNJib-uyBGQW2l3jxZ4Utl47EnH0EW/s1600/Marina+A%C3%A9cio.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0ZQp0DL8XIBHoFh8lv6JgibQFA9BW_SGEiAVD-gKw4lGNGR8ENSUM-Ek6RhXir0hGIgCmlHN0AwjUBztNsdPIA0oHSrQ0TtPfcxNHSGlgvV5BQclNJib-uyBGQW2l3jxZ4Utl47EnH0EW/s1600/Marina+A%C3%A9cio.jpg" /></a></div>
Terceiro, Marina errou quando, ao se ver novamente derrotada, resolveu apoiar Aécio e sua corja de vampiros. Se Dilma anda abraçada com os ruralistas e o agronegócio, se Dilma defende com unhas e dentes o setor hidroelétrico nacional e não é à favor dos índios; Aécio é o representante legítimo de tudo isso, porta-voz de uma política econômica e social extremamente conservadora e retrógrada, coloca-se como o próprio capeta para diversos setores da sociedade que têm se beneficiado com o reformismo era Lula, incluindo aí a classe dos trabalhadores, os professores e a camada mais pobre da população brasileira. E ainda resta a dúvida: como ser contra a "polarização tradicional" entre PSDB X PT posicionando-se à favor de um dos pólos dessa histórica disputa? Talvez esse apoio revele, de fato, porque a candidatura de Marina não chegou a decolar. Seu Programa de Governo deixou claro para todos que a "mudança", neste caso, era muito mais um retorno à política do "mesmo". Sua "rede" de apoiadores mudou radicalmente em poucas semanas, anunciando o que poderia ser uma "virada" à direita de uma proposta política que, num primeiro momento, colocava-se acima das polarizações tradicionais. Tudo indica que, se eleita, Marina se tornaria um "Lula de saias", transformando a utopia em um contrato social com o grande capital.<br />
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Triste fim do Dom Quixote de saias, agora reduzida à garota propaganda de um playboy de direita!<br />
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<b>Sobre Aécio Neves</b><br />
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Sobre uma coisa não tenho a menor dúvida: Aécio não representa a "mudança" de nada nesse mundo!<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Ex1PLb-unWxBEVt04XKPFxD8Fu4ANHp9JEygbhglbKV0RdqNev9quqQLi_Kv9ZHCGbV8n_5Vb79gvgmfaqEuK4dp8ZRnjWEJkWXzIC7gaPbU2SwlahY_sf7ASZmfQpAvpvzibbf-FCqh/s1600/antipetismo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9Ex1PLb-unWxBEVt04XKPFxD8Fu4ANHp9JEygbhglbKV0RdqNev9quqQLi_Kv9ZHCGbV8n_5Vb79gvgmfaqEuK4dp8ZRnjWEJkWXzIC7gaPbU2SwlahY_sf7ASZmfQpAvpvzibbf-FCqh/s1600/antipetismo.jpg" /></a></div>
Político de direita, aliado ao que há de pior no horizonte político nacional, Aécio expressa, isso sim, um retorno dos "vampiros oportunistas" que sempre sugaram as riquezas do Brasil e do povo brasileiro. Trata-se de uma candidatura vinculada ao pensamento neoliberal, sustentada por alianças com setores extremamente retrógrados da nossa sociedade. Sua candidatura é baseada em uma "campanha do ódio" promovida pelos mais ricos que querem ficar cada vez mais ricos. Sua razão é a razão dos analfabetos da história do Brasil, a razão da ignorância e da intolerância radical. Trata-se de uma racionalidade "rasa" de gente que vota pensando no seu próprio umbigo, que acha que "pobreza" é coisa de "vagabundo", que quer diminuir a idade penal, que quer acabar com as políticas sociais, com as cotas, com a educação, com a saúde e com as Universidades. Que quer acabar com o mundo! Que quer acabar com os índios, com os ribeirinhos, que quer varrer a pobreza para baixo do tapete. Essa gente que conspira sob o hino maquiavélico e aterrorizante do "Gigante Acordou", abraçados na bandeira nacional, promotores da "ordem e do progresso", abutres que vêem no governo Dilma a manifestação contundente de um comunismo sem dente e na ditadura o regime da salvação da pátria. Gente que acredita em papai noel, que se delicia nos paraísos fiscais das Bahamas, que jura de pés juntos que a capital do Brasil é Miami, que desconhece completamente a nossa história e o nosso povo. Votar em Aécio significa um retrocesso perigoso, que poderá colocar em risco as pequenas conquistas dos últimos governos, por menores que sejam elas diante da possibilidade de mudança revolucionária.<br />
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Claro, também tem gente boa votando no Aécio, gente que quer mudar o Brasil, gente indignada com o que há de pior na política nacional. Mas, o fato é que, ao escolher Aécio como messias da mudança, toda essa gente boa e bem intencionada entra em contradição profunda com seus próprios ideais e valores políticos. É exatamente quando a democracia se vê abalada em suas fundações mais primitivas que o vazio ideológico pode ser preenchido pela promessa de fácil redenção de messias oportunistas como Aécio Neves.<br />
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Depois desse festival de atrocidades, resta a dúvida: podemos chamar o retorno do "mesmo" de "mudança"? A natureza descodificante e desterritorializante de um sistema socioeconômico como a capitalismo produz políticas esquizofrênicas como a política de Aécio, que propõe o passado como futuro, que traça o caminho do retorno, do retrocesso, como caminho de fuga. A candidatura que faz a alegria dos corruptos, desse pessoal que já começa a esfregar as mãos ao se imaginar como gestor da riqueza nacional, tem como fundamento principal enterrar de vez a democracia e a nova cidadania. As bolsas de valores e as grandes corporações financeiras comemoram e vibram alucinadamente diante da possibilidade de ampliar ainda mais a sua já astronômica taxa de lucro. Anuncia-se no horizonte próximo a possibilidade real de multiplicação da mais-valia do grande capital. Afinal, quanto aeroporto não será construído na casa dos parentes? Quantos mensalões mineiros não vão se multiplicar nos bastidores ocultos do planalto central? Quanto processo de corrupção não será engavetado? Imagina a intimidade dos ruralistas com um governo que se coloca como porta-voz legítimo dos seus interesses?<br />
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Não, eu não voto em Aécio nem morto!<br />
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Colocar o governo na mão de um playboy mimado e oportunista é traçar no horizonte mais próximo a falência do Estado de Direito, abrindo caminho para uma mudança de paradigma político muito mais radical, animada por proposições anti-constitucionais e por um congresso ultra conservador. O fato é que se com Dilma está ruim, com a Aécio pode ficar muito pior. Não vejo problema nenhum no povo buscar uma alternativa melhor para a política brasileira, buscando construir uma nova forma de gestão do bem público, mas fazer isso retornando para trás, trazendo para o mundo dos vivos a múmia neoliberal, com seus tentáculos afiados e sedentos por carne e dinheiro, não me parece ser uma forma coerente de superar os impasses da política nacional. Na minha opinião, votar em Aécio é o mesmo que buscar curar uma ressaca com álcool etílico, só pode dar errado!<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdWZgW_VZrdeRmiPoL9yQxkIh1WCVoZnb6uaRg-hKrlrp7vSObEDjUMR4GpSS7OltKcJlz2HdZIKgM5ka_7Ji2S4czwY0c2Ewsx0tieGqVar5pN1U39oYGcheexKFEs70wm4IeJNpe7AaT/s1600/A%C3%A9cio.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdWZgW_VZrdeRmiPoL9yQxkIh1WCVoZnb6uaRg-hKrlrp7vSObEDjUMR4GpSS7OltKcJlz2HdZIKgM5ka_7Ji2S4czwY0c2Ewsx0tieGqVar5pN1U39oYGcheexKFEs70wm4IeJNpe7AaT/s1600/A%C3%A9cio.png" height="225" width="320" /></a></div>
O fato de um pequeno burguês que sempre se beneficiou da carreira política dos seus parentes e que, apesar de ter um pai político que apoiou a ditadura militar, é sempre lembrado como o sobrinho do Tancredo Neves, expressa a fragilidade da democracia representativa e a total ausência de alternativas para superar os impasses e problemas que levaram milhares de brasileiros para as ruas no ano passado. Infelizmente, o vazio ideológico deixado pelo PT - que transformou a utopia revolucionária em uma economia política desenvolvimentista extremamente pragmática - foi ocupado por uma corja de mau feitores. Diante do precipício e da destruição eminente de todas as moralidades e utopias, Aécio Neves se coloca como o novo "salvador da Pátria", como o "messias" que irá nos libertar do colonialismo petista. Infelizmente, no entanto, tudo não passa de uma farsa muito bem montada. Estamos diante de um ilusionismo barato que tem como principal personagem o pior dos charlatões. Aécio representa o lunático esquizofrênico que surge das cinzas para salvar a sociedade, um "anti-herói" mau caráter que se coloca como "libertador", que ocupa o vazio deixado pelas lideranças, que se aproveita da fragilidade do povo para se lançar como o novo "libertador".<br />
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Por trás dessa fábrica de ilusões tucanas, no entanto, encontramos o menino mimado, o playboy da política tradicional, o cavaleiro das trevas que nos conduzirá diretamente ao pior dos precipícios. <br />
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<b>Sobre o Governo Dilma</b><br />
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Sem dúvida, poderia ser muito melhor! Se houveram conquistas, elas foram demasiadamente modestas. O povo quer mais, muito mais! A rede de alianças escusas que levou Lula ao poder - armada com maestria por gente como Dirceu - demonstrou-se extremamente prejudicial no momento de governar e fazer as mudanças almejadas pelos eleitores. Os apoiadores cobraram a fatura! Eles nunca deixam escapar os favores, as regalias, os cargos especiais e as pequenas concessões do caixa dois petista.<br />
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O maior responsável pelo avanço da direita no congresso nacional foi o "vazio" ideológico deixado por um governo que apostou todas as suas fichas em um pragmatismo político e econômico de resultados duvidosos. A emergência e disseminação do anti-petismo é o efeito do caminho traçado pelos governos petistas na última década, com uma política de alianças com os setores mais conservadores da sociedade e a redução da política de estado à razão econômica, inaugurando o que poderíamos denominar de um "neoliberalismo social" sem precedente na história do pensamento político contemporâneo. <br />
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A máquina do Urstaad engoliu a utopia de uma nova sociedade, canibalizou os sonhos de toda uma geração de pseudo-revolucionários, transformou seus planos de mudança em uma equação duvidosa, onde a conquista da cidadania se resume à transformação de pobres em consumidores. Em última instância, o sonho da revolução socialista foi reduzido à tarefa nada digna de ampliação do território ocupado pela máquina capitalista, por meio da multiplicação dos seus tentáculos para além da classe-média, com a inclusão do pequeno pobre trabalhador no mercado enquanto consumidor de segunda classe. Toda uma nova economia, um novo marketing, uma nova tecnologia governamental, uma nova tecnocracia, tudo isso - que está na base de ampliação dos processos de descodificação capitalista, de transformação de valores em moeda, mercadoria e salário - só foi possível com a conversão da utopia revolucionária em um best seller "pulp", em um "populismo new age" animado por uma "esquerda gospel", com seus slogans de auto-ajuda e sua sede pela manutenção do poder.<br />
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Nem mesmo os índios - "esses pobres selvagens primitivos" - estão à salvo dos processos de descodificação e desterritorialização de um mercado que expande cada vez mais sua área de atuação. Promovidos à "guardiões da floresta", os velhos nativos do continente sul-americano podem ser transformados em mercadoria, tornando-se um dispositivo de lucro estatal e privado. Ninguém mais está à salvo, a partir de agora todos os sonhos podem ser transformados livremente em mercadoria.<br />
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Vitória de um pragmatismo político herdado dos governos anteriores, incluindo aí o PSDB de Fernando Henrique Cardoso. Depois da crise do mensalão, ninguém mais está à salvo do grande fantasma da corrupção. Já não existem mais super-heróis como antigamente. Mesmo o pobre Dom Quixote já não vê mais o mundo pelo viés da utopia. A política já não é mais a arte do impossível, reduziu-se ao cálculo exato da contabilidade econômica, dos coeficientes sinistros das bolsas de valores, das tabelas e das formulas retiradas das pranchetas dos bancários, dos números e das equações matemáticas que sustentam a razão econômica. Os líderes foram substituídos por economistas de personalidade "fria", centrais de cálculo que traduzem pessoas em números, sonhos em axiomas numéricos. Toda política passa agora pela grade de uma economia da sensibilidade que tem como princípio fundamental a arte do possível, nada mais, nada menos. O horizonte da mudança revolucionária transformou-se em um grande balcão de negócio. Nunca o campo "social" rendeu tanto para a economia política, nunca as políticas de inclusão foram tão benéficas ao grande capital. De um lado, a redução dos efeitos negativos de um sistema econômico desigual e injusto através da redução gradual e lenta dos limites mais desumanos da pobreza absoluta (o sonho revolucionário reduzido ao reformismo capitalista das políticas "sociais" e do "bolsa família"); do outro, o contrato social com os bancários, a mídia e os ruralistas, a manutenção de uma política econômica conservadora, a ampliação do lucro e a manutenção das taxas de juros. O governo Dilma é a expressão mais contundente desta fórmula esquizofrênica de conjugação de fluxos de trabalho com fluxos de propriedade e capital, de cidadania com consumo, de revolução nos limites rigorosos e exatos da pobre razão econômica que anima o café da manhã dos grandes bancários. A partir de agora, toda revolução pode ser transformada em uma fórmula econômica de baixo custo, em um coeficiente estatístico ou axioma matemático. O cálculo do capital já não possui mais fronteiras ou limites, está por toda parte, emerge agora enquanto razão de Estado tupiniquim. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3aLI7Ps1Bjkp7Cla7UGwTeLWyN6Clcjq4LHnXbpGH_ML3kIGaJ9LAjkmqvSnHuK7PiQnm_CQwdZLUyKidSpUOoxNM2BIMHq1Fhfnh8OqTJT6VjSAq7fxMeQDnIzc-2QJPM3PywADmlESk/s1600/dilma-caricatura2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi3aLI7Ps1Bjkp7Cla7UGwTeLWyN6Clcjq4LHnXbpGH_ML3kIGaJ9LAjkmqvSnHuK7PiQnm_CQwdZLUyKidSpUOoxNM2BIMHq1Fhfnh8OqTJT6VjSAq7fxMeQDnIzc-2QJPM3PywADmlESk/s1600/dilma-caricatura2.jpg" height="320" width="291" /></a></div>
Triste fim de Dom Quixote! Mas ainda o "menor dos males" diante de um horizonte político aterrorizante. Votar na Dilma, neste segundo turno, representa, infelizmente, votar em uma política menos destrutiva. Representa optar por tomar uma dose menor de veneno e, quem sabe, ganhar tempo de vida, de resistência. Nada mais do que isso! Não vamos nos iludir novamente. Trata-se mais de um veto do que de um voto. Se com Dilma está ruim, com Aécio pode ficar muito pior. Infelizmente, já não votamos para mudar o país, mas para salvá-lo da mais completa e cruel destruição. Estamos na era da política do "salve-se quem puder", da política do medo e da desilusão. Já se foi o tempo em que se votava no melhor candidato, agora o voto é um atestado de resistência pragmática. Neste caso, ao invés de dizer sim, dizemos não, votamos para nos prevenir e nos proteger do pior e não para promover o melhor. É como se o pragmatismo econômico que predominou nas grandes instituições molares do Estado se disseminasse também na base dos elementos moleculares que constituem o fluído vital de toda política, transformando o eleitor em um "calculista pragmático", em um "investidor" movido pela razão rasa do mercado e dos economistas. O cálculo da razão econômica disseminou-se também entre o povo.<br />
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Neste "Big Brother" da política nacional, nada de sonho, nada de utopia, apenas o calculo e a fração, apenas uma nostálgica política de minimização dos riscos, de diminuição dos danos, de retardamento da "crise final". Escolhemos Dilma para reduzir o efeito da eminente destruição de todas as moralidades, para retardar ao máximo o movimento iminente de conversão da sociedade em mercado, de pessoas em mercadoria.<br />
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Trata-se do voto da "prevenção", muito mais do que da "redenção". Ao votar em Dilma, dos males, escolhemos o menor, simples assim. Triste fim do sonho revolucionário, triste fim de Dom Quixote, triste fim de toda utopia política.<br />
Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-44575975739968893662013-11-11T22:18:00.002-02:002013-11-11T22:20:55.136-02:00Seminários Externos do NUPECS - Profº Drº Guilherme Sá (UnB)O Instituto de Ciências Sociais, o NUPECS, o PETI-CS e o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia promovem, nesta quarta-feira, 13/11/2013, às 17hrs, no auditório 5O-C, no Campus Santa Mônica, mais uma edição dos "Seminários Externos do NUPECS", sob coordenação dos professores Diego Soares da Silveira e Antônio Petean.<br />
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Na ocasião, o Profº Drº Guilherme da Silva e Sá - do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade de Brasília (UnB) - estará ministrando o seminário "Antropologia de Coletivos Humanos e Animais: etnografia e simetria".<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3lSJoU2CI4UCbp6r410gR2CU5ddkuhVu4BabawPr0siepoqmQqZ5Qe-sv7osqKRpl5TQKyT4m7xGnPKBc0oqMMG4vU3N89lYjxcOMHk2fptJjS57fHdSUWDjAs1BVzuGHHq4A1prYru8v/s1600/Visita+Kayap%C3%B3s+UDI+-+2013+(243).JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3lSJoU2CI4UCbp6r410gR2CU5ddkuhVu4BabawPr0siepoqmQqZ5Qe-sv7osqKRpl5TQKyT4m7xGnPKBc0oqMMG4vU3N89lYjxcOMHk2fptJjS57fHdSUWDjAs1BVzuGHHq4A1prYru8v/s400/Visita+Kayap%C3%B3s+UDI+-+2013+(243).JPG" width="266" /></a></div>
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Guilherme da Silva e Sá é mestre e doutor em antropologia social pelo Programa de Pós-Graduação do Museu Nacional/UFRJ. Atualmente é professor adjunto II do DAN/UnB, líder do Grupo de Pesquisa "Laboratório da Ciência e da Técnica" (LACT), tendo publicado recentemente "No mesmo galho: antropologia de coletivos humanos e animais" (7Letras, 2013). Sua área de pesquisa é a antropologia da ciência e tecnologia, com enfase nas relações entre humanos e não-humanos, natureza-cultura.Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-36316095206566488212013-07-23T11:27:00.000-03:002013-07-23T11:27:12.649-03:00Seminários Externos do NUPECS/UFU - Profª Drª Claudia Fonseca (UFRGS)O Instituto de Ciências Sociais e o Núcleo de Pesquisa em Ciências Sociais (NUPECS) da Universidade Federal de Uberlândia promovem, na quarta-feira, 24/07, mais uma edição dos "Seminários Externos do Nupecs".<br />
<br />
Na ocasião, a Profª Drª Claudia Fonseca - do Curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - estará ministrando a palestra intitulada "O Antropólogo em contextos multidisciplinares: práticas, políticas e moralidades".<br />
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O evento irá ocorrer no auditório 5O-C, no Campus Santa Mônica, as 17 horas. As inscrições podem ser feitas pelo e-mail - atendimentonupecs@incis.ufu.br - e no local do evento.<br />
<br />
Claudia Fonseca é professora titular da UFRGS, tem experiência na área de antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: grupos populares, família, adoção e gênero, infância e juventude, antropologia do direito e antropologia das ciências.<br />
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Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-35864549730239451772013-06-24T09:50:00.000-03:002013-07-05T13:20:40.496-03:00O Movimento dos Manifestantes: razões, motivações e contradições <b>Quem são os manifestantes?</b><br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXxafnvhyytvSbF8f-1_nWVKLE_VP7VAwJ0fMs6rAoLHWVNPoJjvE6w-X7Ovy_lBHUa4zZAvzcdzAdGU5cQLAZ2SbqFbj7C8aMRcBIkA7V-ZVr4HUOFX4_m15bEnW4L4ya676Zasr7L0Du/s1600/Manifestantes+RJ.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXxafnvhyytvSbF8f-1_nWVKLE_VP7VAwJ0fMs6rAoLHWVNPoJjvE6w-X7Ovy_lBHUa4zZAvzcdzAdGU5cQLAZ2SbqFbj7C8aMRcBIkA7V-ZVr4HUOFX4_m15bEnW4L4ya676Zasr7L0Du/s320/Manifestantes+RJ.jpg" width="320" /></a></div>
Os primeiros protestos foram promovidos por manifestantes diretamente ou indiretamente vinculados ao Movimento Passe Livre e a questão do transporte público (ver post anterior). Após as primeiras manifestações e diante da postura dos governadores e prefeitos, da polícia e da grande mídia, que classificaram as ações como "atos de vandalismo" e os autores como "vândalos", o coletivo de manifestantes passou por uma transformação radical em sua composição interna. Mobilizados por uma insatisfação generalizada com a classe governamental (dos três poderes da república e em todos os níveis de governo, a mesma história pronunciada e reificada diariamente na Grande Mídia), pessoas de todos os tipos aderiram ao movimento, em sua maioria, jovens de classe média. Articulados por meio das redes sociais, o Movimento multiplicou extraordinariamente a sua força política em poucos dias, ampliando também a sua pauta de reivindicações. Surgiram novos coletivos formados por pessoas desvinculadas de partidos políticos, o que não significa que não sejam eleitores e não participem de outros níveis de exercício da cidadania, inclusive por meio do voto.<br />
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Esse vasto e variado contingente com forte tendência para o pensamento de esquerda mobilizou-se pelas razões mais variadas: contra a corrupção e o mau uso dos recursos públicos (talvez a insatisfação mais latente e generalizada); contra projetos conservadores que colocam em risco direitos conquistados na constituinte; contra o esvaziamento ideológico dos partidos políticos e dos próprios governos (cada vez mais voltados para a conquista do poder e manutenção da "governabilidade" a qualquer custo); contra os privilégios da classe governamental; contra a ação homofóbica sintetizada na figura de Feliciano e seus aliados e apoiadores; pela melhoria da educação, da saúde, do transporte público de qualidade, da reforma agrária, da reforma política e tributária, da igualdade racial e de gênero, dos direitos indígenas e do meio ambiente. A maior parte dessas pessoas é de esquerda e votou em Dilma ou na Marina nas últimas eleições, mas se decepcionou profundamente com as alianças feitas em nome da governabilidade e com a incapacidade política do governo federal em levar adiante propostas e bandeiras políticas históricas do Partido dos Trabalhadores e de outros partidos de esquerda. Algumas delas desistiram da via partidária há décadas ou se afastaram do Partido dos Trabalhadores para formar novos partidos, com tendências políticas mais à esquerda.<br />
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Motivados por toda série de insatisfação, os 'insurgentes moderados' se revoltam contra a destruição iminente dos seus sonhos, das suas inquietudes mais profundas, da total ausência de perspectiva ideológica, e emergem 'além-mundo' feito rizomas nômades, numa avalanche de sentidos que transborda os limites quadráticos e euclidianos das frases e bandeiras de efeito moral (e muitas vezes moralista). Esses 'renegados' da história política recente não conseguiram acompanhar os impressionantes desvios e contorções ideológicas de suas principais lideranças e acabaram ficando para trás, em algum lugar no meio do caminho. São as pedras do poema que invadiram as ruas, que ocuparam os prédios públicos da cidade e que agora sentem - mesmo que de forma estereotipada como as camisetas de Guevara vendidas nas esquinas das grandes metrópoles - um suspiro e uma inquietação que transborda pelas frestas da estrutura, que já não tem lugar e por isso avança, atento e determinado, em busca de um mundo que ainda não existe e que parece condenado a desaparecer sem deixar vestígios. <br />
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Obviamente, quando a mídia e a polícia mudaram a sua atitude em relação às manifestações, entraram em cena grupos mais radicais que agenciaram o anonimato das massas para colocar em prática suas táticas e estratégias de ação direta.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv3sJYfTRtKo9xOAZdIatnoCXM6KCmxpU3LWHb34VFBbGDXudDrRdA63XiOscogeF1A-Iw8jRt1qbaugfWkEEEyAFO3_xI3UxPaYrlYun-okvQANIXoF7ybHUMFfblRTWbC1KZXyCP4HMG/s1600/Vandalos+Poa.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiv3sJYfTRtKo9xOAZdIatnoCXM6KCmxpU3LWHb34VFBbGDXudDrRdA63XiOscogeF1A-Iw8jRt1qbaugfWkEEEyAFO3_xI3UxPaYrlYun-okvQANIXoF7ybHUMFfblRTWbC1KZXyCP4HMG/s320/Vandalos+Poa.JPG" width="320" /></a></div>
Com isso, grupos civis organizados passaram a agir em meio a massa de manifestantes, separando-se deles em momentos estratégicos e promovendo ações independentes, como a depredação, principalmente, de bens públicos, mas também privados. Esses grupos já existiam antes do Movimento e utilizaram os protestos para disseminar as suas modalidades tradicionais de ação política. Apesar do uso da violência representar um ataque à democracia, já que equaciona a diversidade ideológica a partir da intolerância e da luta direta com o diferente, não podemos deixar de reconhecer que esses grupos agem de forma organizada e consciente, fazendo uso de estratégias de ação direta associadas às noções de "guerrilha urbana" e "enfrentamento" com as forças policiais, em um estilo muito próximo do grupo anarquista "black pot". Podemos ver essa coerência na própria escolha dos alvos dos ataques: prédios e bens públicos, unidades policiais e a própria polícia, bancos, instituições comerciais e unidades móveis da grande mídia. Ora, mesmo quem é contrário ao uso de violência nas manifestações políticas, não pode deixar de perceber que se trata de grupos civis organizados para fins específicos de ação política, mesmo que as suas práticas e estratégias sejam condenáveis e, até certo ponto, consideradas 'selvagens' e contraproducentes.<br />
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[O pior 'vandalismo' é aquele perpetuado pela corrupção do poder público e privado, o chamado crime do 'colarinho branco'. A raiva, o ódio e a violência se alimentam do mau exemplo dado pelos corruptos e pelo descaso geral com o bem público].<br />
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A questão, portanto, é saber como os governos pretendem lidar com esses grupos? Classificando-os como "terroristas" e criminalizando suas ações ou buscando constituir um canal de diálogo com suas lideranças (será isso possível?). De fato, ainda conhecemos muito pouco sobre a identidade, os valores e as formas de organização social desses grupos mais radicais, alguns deles com orientação ideológica mais à direita (como é o caso dos Skin Head e dos Nazistas) e outros com posicionamentos políticos mais à esquerda, como é o caso dos grupos anarquistas que fazem uso de táticas violentas de ação política.<br />
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[Vale notar, no entanto, que o anarquismo político é um campo bastante múltiplo e variado de coletivos e indivíduos, alguns deles organizados, outros não, mas certamente sua diversidade não deve ser reduzida a uma ou outra de suas inúmeras versões. Existem coletivos anarquistas que são pacifistas e contrários ao uso de força física em manifestações políticas, com exceção da promoção de táticas de autodefesa e proteção. O Estado Brasileiro estaria cometendo um erro injustificável se passasse a perseguir os anarquistas e tratá-los genericamente como 'terroristas', o que constitui um atentado contra seus direitos civis e políticos. O Movimento Anarquista nacional e internacional não pode ser confundido com ações de grupos isolados que só vagamente se identificam com a teoria política anarquista.]<br />
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Uma questão importante que se coloca para o poder público e as forças policiais é como diferenciar e abordar diferentemente esses coletivos, que possuem identidades políticas antagônicas e valores políticos divergentes. Os grupos de direita visam, em última instância, instaurar uma ditadura de direita no Brasil e possuem uma postura intolerante em relação a diferenças "raciais" e de gênero; já os grupos radicais de esquerda querem promover uma revolução popular e instalar formas alternativas de representação política. Estamos diante, portanto, de forças políticas mais à direita e à esquerda do cenário político brasileiro, que possuem apenas um único fator em comum: ambas fazem uso de estratégias e táticas de luta radicais e não se organizam através de partidos políticos, apesarem de atuarem enquanto um "movimento político".<br />
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[É importante citar um dado relevante e surpreendente. Conforme pesquisa realizada pelo Ibope, apesar da maioria dos manifestantes não concordar com ações de depredação do patrimônio público, 28% concordam que essas ações são justificáveis em 'alguns casos']. <br />
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Paralelo a esses grupos civis mais radicais, existe também uma massa de desatentos que dormia um sono profundo e que agora se sente 'acordada' e 'alerta'. São jovens de classe média que até ontem se deliciavam com o 'fast-food' ideológico encontrado nas prateleiras da grande mídia, com seus jargões terroristas e seu niilismo inconsequente. Esses jovens se sentem 'perdidos', sem 'um lugar' ou uma 'perspectiva histórica'. Eles são o fruto subversivo de uma sociedade vazia de ideologias e utopias. Ainda sob o efeito entorpecedor do protagonismo providencial dos holofotes da mídia, esses anti-heróis do nosso tempo são como zumbis que ainda não encontraram sua redenção e descansam eternamente nos braços da mãe gentil. Esses homens-pequenos se transformam em gigantes quando protegidos pelo anonimato das massas. Essa força e essa potência de jovens de classe média que acabaram de acordar para a política é extremamente maleável, efêmera, inconstante e imprevisível, podendo dar origem a bulbos rizomáticos ou à árvores de raízes nacionalistas e até mesmo fascistas e homofóbicas. Aqui, sem dúvida, é preciso ter cuidado para não afugentar esses 'recém chegados' e lançá-los não mãos utilitárias dos setores mais conservadores da nossa sociedade. O aspecto efêmero e inconstante de sua disposição política pode servir de subsídio para o brotamento espontâneo de ideologias políticas fascistas. Por outro lado, a sua imensa potencialidade pode servir como ponto de partida para projetos políticos revolucionários e de esquerda. Cabe agora saber como essa 'nova' força política será agenciada no cenário político brasileiro. <br />
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Por último, existem os coletivos de manifestantes que representam uma minoria associada a partidos de direita ou de oposição. Esses "manifestantes retardatários" - pois só aderiram às manifestações tardiamente e de forma oportunista - buscam agenciar os protestos para disseminar seus projetos golpistas. De fato, esses são os "infiltrados", aqueles que querem transformar o Movimento exatamente naquilo que ele não é, i.e., numa ação de retomada do poder pelos partidos de direita. Trata-se de grupos como o "Golpe Militar de 2014", que se manifestam, em grande parte, por meio das redes sociais, mas que, no geral, possuem pouca ou quase nenhuma ressonância na massa de manifestantes. Inclusive, boa parte desses coletivos civis organizados já existia e atuava antes da emergência das manifestações. Em geral, trata-se de forças políticas nem tão 'ocultas' que compartilham entre si uma mentalidade fascista e autoritária gestada pelo regime de exceção dos governos militares. Outra questão que resta a ser investigada é a ligação desses micro-fascismos extremistas com partidos de direita que também propagam, nos bastidores do poder republicano, um discurso com forte tendência golpista. Outro sério risco é que esses setores fascistas acabem conseguindo arregimentar e agenciar a insatisfação e o entorpecimento dos 'desavisados' que até ondem dormiam sem sonhar, aumentando significativamente suas fileiras de combatentes. <br />
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[Talvez seja essa a razão para que a presença desses setores minoritários entre os manifestantes tenha incentivado a disseminação precipitada de boatos e conjecturas absurdas, comparando, por exemplo, o Movimento dos manifestantes com a Marcha por Deus, pela família e pela propriedade privada de 1964. Essas interpretações foram alimentadas pelo uso, por parte de alguns manifestantes, de antigos slogans como "O Gigante Acordou" e frases do gênero. Apesar de uma parte dos manifestante ser composta por jovens que estão, de fato, "acordando" para a vida política brasileira (não posso deixar de notar e questionar o caráter 'iluminista' dessa expressão), amplos setores da população e muitos dos próprios manifestantes já estavam acordados e alertas há muito tempo, atuando em partidos, ONGs ou movimentos sociais. De fato, a história política do país demonstra claramente que os estudantes, trabalhadores e camponeses nunca tiveram o privilégio do sono profundo. Talvez isso seja aplicável apenas aos jovens e adultos da classe média, cuja uma parte significativa esteve descansando em águas profundas, ainda sob o efeito nefasto da apatia civil promovida pelos regimes militares. No entanto, essas particularidades simbólicas que perpassam o Movimento não devem ser utilizadas como subsídio para a generalização de estereótipos ou para a propagação do medo, pois ao criar alusões desta magnitude acabamos por silenciar a energia e a potência revolucionária de outra parte do movimento que, apesar de heterogêneo e "a-partidário", nunca esteve apático e tem fortes ligações com bandeiras politicas historicamente 'de esquerda'. Aqui, mais do nunca, não podemos deixar que as batalhas de interpretação acabem por sobrepor a imagem da "Maioria" (qualitativa e não quantitativa) sobre os devires-minoritários que perpassam o Movimento e que podem potencializar projetos políticos revolucionários.] <br />
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Em meio à massa de manifestantes existem também indivíduos que se aproveitam de uma situação de exceção para roubar e cometer toda série de ilegalidade. Esses indivíduos são mais difíceis de identificar e controlar, pois eles se aproveitam do anonimato para gozar da impunidade.<br />
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Do ponto de vista quantitativo, conforme pesquisa realizada pelo Ibope entre a massa de manifestantes, 52% dos manifestantes eram estudantes; 43% tinham menos de 24 anos; 43% possuem ensino superior completo, 49% disseram ter renda familiar acima de cinco salários mínimos (R$ 3.390,00); e 46% nunca haviam participado antes de manifestações políticas. Esses dados fornecem um retrato do Movimento, formado, em grande parte, por jovens de classe média e baixa.<br />
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Todos esses coletivos são compostos não somente por elementos humanos, mas também por aparelhos e objetos que compõem sua agência política. Estamos aqui diante de um campo bastante heterogêneo que envolve desde cartazes, camisetas, máscaras e faixas utilizadas para expressar as ideias e bandeiras políticas, até aparelhos tecnológicos como a internet, computadores, máquinas fotográficas, filmadores digitais e celulares, aparelhos que permitem a expressão pública de ideias e valores, o registro das ações e sua divulgação por meios das redes sociais. O papel que esses elementos não humanos desempenham nas redes sociotécnicas associadas ao Movimento dos Manifestantes deve ser levado em conta no estudo desses eventos de protagonismo político. Os recursos teórico-metodológicos fornecidos pela Teoria Ator-rede me parecem os mais apropriados e potencialmente eficazes para compreender a associação entre coisas e pessoas que está na origem dessa extensa rede de manifestantes que ocuparam as ruas e avenidas das grandes metrópoles mundiais. <br />
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<b>Quais são as razões e motivações dos manifestantes?</b><br />
<b><br /></b>
Na minha opinião, não existe um único fator que determinou a emergência das manifestações no cenário político brasileiro. De fato, esse mapeamento das motivações e insatisfações só será possível a partir de estudos mais densos sobre as manifestações e os próprios manifestantes. Uma das razões para isso é a própria heterogeneidade do Movimento, que não pode ser reduzido a uma de suas várias partes ou eixos de disseminação. Ao tentar homogeneizar um coletivo de vozes diversificadas, acabamos por fabricar estereótipos imprecisos. Qualquer tentativa de pressupor uma identidade que não comporte, em si mesma, certa multiplicidade de vozes e opiniões, resultará em uma visão deturpada sobre o Movimento, seus protagonistas e suas razões históricas. Tenho certeza que, nos próximos anos, os eventos que acompanhamos nas últimas semanas serão objeto de inúmeras pesquisas nas áreas de ciências sociais e humanas. Podemos, no entanto, contribuir para esse mapeamento a partir de algumas anotações iniciais.<br />
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A razão mais geral e, provavelmente, também a mais espontânea e estrutural, é a indignação com a classe política e governamental. As pessoas estão cansadas de conviver com contradições evidentes de um país com problemas estruturais, como a alta desigualdade econômica e social. Ninguém suporta saber que, enquanto pessoas ganham um salário miserável, os políticos têm inúmeros privilégios, além de um excelente salário. Num país com alta taxa de desigualdade econômica, sustentar uma elite governamental extremamente onerosa e, na maioria dos casos, improdutiva, é uma contradição evidente aos olhos da sociedade civil. Esse sentimento cresce ainda mais diante das constantes notícias de corrupção e mau uso dos recursos públicos. A indignação aumenta ainda mais quando as pessoas se dão conta do quanto elas pagam de impostos e o que isso representa na economia familiar. Campanhas e projetos de lei que buscam dar visibilidade aos impostos embutidos no preço das mercadorias tem incentivado a revolta popular contra o uso indevido dos tributos estatais. A incapacidade dos governos em fazer uma reforma tributária profunda que promova um ajuste nas irregularidades existentes tem levado as pessoas a se manifestarem contra o que consideram um "roubo". Vale notar que não se trata aqui de ser contra a cobrança de tributos - essa é a tradução/versão propagada pelos empresários, pela indústria e pelos meios de comunicação - mas no fato de que, apesar da alta carga tributária, os serviços públicos, em geral, continuam sendo de péssima qualidade e acabam indo parar - através da corrupção - no bolso da classe político-partidária e governamental. <br />
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Além dessa razão mais geral - o que não significa que ela seja a mais importante ou significativa -, existem outras tantas razões mais específicas que são compartilhadas por apenas uma parte ou outra do Movimento, mas que estão mais ou menos disseminadas enquanto bandeiras secundárias para boa parte dos manifestantes: educação, saúde, transporte público, desigualdade econômica e social, além de projetos conservadores ou lutas históricas das minorias, como os direitos indígenas, de gênero e o combate a homofobia. Essas razões têm como porta-vozes, em geral, pessoas comuns, que elegem um tema para o seu cartaz tendo como referências os debates e discussões que ocorrem nas redes sociais e nos meios de comunicação, expressando sua voz no coletivo de manifestações. É importante notar que essas noções também são amplamente compartilhadas. Pessoas que saíram para ´protestar contra a homofobia podem 'apoiar' manifestações mobilizadas contra o ataque aos direitos indígenas e ao meio ambiente (e vive-versa). Existe, portanto, um fluxo contínuo de razões que se associam ou dissociam entre si em maior ou menor medida. Ao participar de uma manifestação, logo notei a multiplicidade de vozes que constituem o coletivo de manifestante, mas também notei que essas vozes não eram dissonantes, mas na maioria dos casos convergentes e/ou paralelas.<br />
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Não resta dúvida que os coletivos de direita "infiltrados" na massa de manifestantes possuem razões e motivações bem diferentes e até mesmo opostas às razões e motivações da maior parte das pessoas mobilizada nos protestos das últimas semanas. Seus interesses são notórios e públicos e estão expressos em toda série de documentos escritos e seus projetos políticos são divulgados por meio de redes sociais, blogs e sites. Não se trata, portanto, de nenhuma novidade. Por outro lado, não resta dúvida que essas razões e motivações representam uma pequena minoria dos interesses envolvidos na massa de manifestações políticas e seria um grave erro metodológico conferir a essas exceções o caráter de 'norma' ou 'média', pois certamente não se trata aqui de algo relevante ou representativo tanto do ponto de vista quantitativo como qualitativo. <br />
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<b>O a-partidarismo e a insatisfação com o atual sistema de representação política</b><br />
<b><br /></b>
Muito tem se falado sobre o caráter a-partidário do Movimento de manifestantes. Conforme pesquisa do Ibope, 89% dos manifestantes disseram não se sentirem representados por qualquer partido político e 96% não são filiados. Antes de abordarmos as razões e motivações do sentimento a-partidário, precisamos limpar o terreno de teses equivocadas sobre o "a-partidarismo".<br />
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1) Existe uma diferença conceitual entre "a-partidarismo" e "anti-partidarismo". No primeiro caso, trata-se de uma ausência de identificação com os partidos políticos atuais e suas formas de organização, o que significa que esse termo expressa o fato das pessoas não serem 'filiadas' a nenhum partido político na atualidade, o que não significa que não tenham apoiado partidos políticos no passado ou não estejam dispostas a aderir a projetos políticos partidários no futuro. No segundo caso, trata-se de uma crítica histórica consciente à forma de organização político-partidária, postura geralmente associada a coletivos que defendem outras formas de ação política organizada;<br />
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2) A Ciência Política demonstra claramente que, pelos menos, desde o pensamento político de Aristóteles, sabe-se que a atividade política é inerente ao ser humano, daí o termo de "sujeito político" para referir-se a nossa forma de estar e viver no mundo;<br />
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3) Como muito bem esclarece o próprio marxismo, o Partido é, sim, um instrumento de exercício da política, <i>mas não é o único</i>. A política é uma atividade que perpassa outros setores da nossa sociedade: a família, o ambiente empresarial, as associações profissionais e de classe, as escolas e universidades, as fábricas e empresas, os bancos e instituições financeiras, as organizações não governamentais, os movimentos sociais, as diferentes igrejas e religiões, as relações comerciais e econômicas, a mídia e os meios de comunicação, etc. Reduzir a atividade política ao exercício partidário é um equivoco e tanto;<br />
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4) O fato das pessoas não serem filiadas a partidos políticos não significa, obviamente, que elas não exercem o voto nas eleições. Inclusive, boa parte dos manifestantes teve papel ativo nas últimas eleições, muito deles, inclusive, votaram na Dilma no primeiro ou no segundo turno. Outras ajudaram a eleger o Governo Lula, em 2002. Quando as pessoas dizem que são "a-partidárias", elas estão dizendo que, atualmente, não estão envolvidas diretamente com as questões deste ou daquele partido político ou que simplesmente não são filiadas a nenhum partido político, simples assim.<br />
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Mas porque essa insatisfação generalizada com os nossos partidos políticos e com a estrutura partidária? Ora, não é de hoje que os especialistas defendem a tese do "esvaziamento ideológico" dos partidos políticos no Brasil. Inclusive, existem pesquisas que apontam que boa parte dos eleitores não vota no partido "x" ou "f", mas neste ou naquele candidato. Por outro lado, os partidos atuais possuem uma organização social e política cujo esboço inicial foi construído na Grécia e na Roma Antiga, mas cuja forma atual foi concebida ao longo dos séculos XVIII e XIX. Ora, desde então, as sociedades ocidentais passaram por profundas transformações sociais e tecnológicas. Com isso, da mesma forma que fazemos, por exemplo, com outras instituições como a Igreja ou a escola, devemos questionar se a estrutura partidária foi capaz de se adaptar aos novos tempos ou se tornou obsoleta. Na minha opinião, eventos de mobilização direta da sociedade civil em diversos países do mundo apontam para uma falência da capacidade de organização das demandas civis por parte da classe política e dos partidos tradicionais.<br />
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É importante notar que a via partidária não é e nunca foi a única forma de fazer política na democracia. E essa questão de fazer política de outras formas nos remete a antigos debates do socialismo revolucionário, envolvendo figuras históricas do anarquismo e do marxismo. Existem, inclusive, milhares de grupos civis organizados no mundo inteiro que se identificam com a forma anarquista de fazer política e se organizam politicamente tendo como referência as noções de ação direta e auto-organização ou auto-gestão. É importante notar que a maior parte dos coletivos anarquistas não fazem uso de ações e táticas violentas de luta política, sendo que muitos desses coletivos possuem uma postura claramente pacifista. O Brasil, inclusive, foi palco de importantes ações anarquistas nas décadas de 1920-40, quando coletivos formados por imigrantes europeus desempenhavam um importante papel na luta de classes em diversas cidades brasileiras, como Porto Alegre e São Paulo. Boa parte dessas manifestações anarquistas resultaram nos direitos trabalhistas instaurados pelo primeiro governo de Getúlio Vargas, que também fez de tudo para institucionalizar e disciplinar esses setores mais radicais da sociedade civil por meio da criação de sindicatos e partidos políticos mais ou menos atrelados ao Estado. <br />
<br />
O próprio Movimento dos Manifestantes é um bom exemplo de como é possível fazer ações políticas eficazes sem ser por intermédio dos partidos políticos. Inclusive, a forma de organização política descentralizada do Movimento deve ser estudada mais densamente, assim como o seu caráter mais ou menos "espontâneo", pois esses fatores podem oferecer uma boa indicação de alternativas ou impasses atrelados à difícil tarefa de superar a crise das instituições da democracia participativa. <br />
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<b>O Papel das Redes Sociais</b><br />
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É importante notar o papel que as redes sociais têm na conscientização popular das contradições estruturais de uma sociedade capitalista: 76% dos manifestantes que participaram da pesquisa do Ibope disseram que fizeram uso das redes sociais para convidar amigos para manifestações. Esse padrão de organização política se alimenta de uma vasta rede de contra-informação que cresce a cada dia que passa, conseguindo, com isso, colocar em disputa a interpretação dos fatos, acirrando, portanto, as batalhas de interpretação e retirando um pouco do imenso poder de formar "opinião pública" que a grande mídia historicamente teve no Brasil e no mundo. A alta velocidade de disseminação rizomática das informações em amplos setores da sociedade civil tem levado a um aumento significativo do protagonismo político. Até maio de 2013, esse protagonismo era exercido, em grande parte, no ambiente virtual ou em eventos e mobilizações mais localizadas. A maior novidade deste Movimento é que as pessoas resolveram sair do ambiente virtual e ir para o mundo da vida, encontrando-se de "carne e osso" nas ruas e avenidas das cidades. Esse movimento de <i>transbordamento </i>do "virtual" para as ruas teve início há mais de uma década, quando a internet começou a se popularizar entre jovens de classe média, uma parte deles de esquerda. Ele esteve presente como importante fator de organização social, por exemplo, nas manifestações e protestos políticos promovidos pelos primeiros integrantes do MPL.<br />
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Existe, portanto, uma especificidade na forma como os manifestantes se organizam e se mobilizam e as redes sociais têm exercido um papel fundamental nessa forma de organização sociotécnica. As informações circulam de forma descentralizada, mas seguindo feixes ou eixos de dispersão que compartilham entre si uma determinada tendência ideológica ou posicionamento político. Esse fato não é novidade e existem, inclusive, grupos de pesquisa voltados para o estudo da circulação rizomática e arbórea de informações e posicionamentos políticos nas redes sociais. Ver, por exemplo, o excelente trabalho desenvolvido pelo "Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura" (<a href="http://www.labic.net/">LABIC</a>). <br />
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É importante notar que o poder de agência e eficácia das ações políticas desses novos movimentos civis é o efeito da associação entre elementos humanos e não humanos. Vale notar aqui o papel que os aparelhos de mediação sociotécnica possuem na circulação, disseminação, amplitude e alta ressonância política dos protestos que temos acompanhados nas últimos anos no Brasil e no mundo, assim como a importância estratégica do uso de aparelhos de registro audiovisual - câmeras fotográficas, celulares e filmadoras digitais -, que funcionam como um elemento de divulgação dos abusos cometidos pela polícia ou até mesmo como instrumentos de registro de eventos que não são transmitidos pela grande mídia. <br />
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<b>A associação entre o Movimento dos manifestantes brasileiros e outros movimentos civis</b></div>
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É bastante evidente a relação entre as manifestações que ocorreram nas últimas semanas, no Brasil, com outros movimentos civis como "Occupy Wall Street", os protestos contra a política econômica adotada na União Européia e o conjunto de mobilizações políticas denominadas de "Primavera Árabe". Essas manifestações possuem vários pontos em comum, como é o caso do papel desempenhado pelas redes sociais nas formas de organização e mobilização política, o caráter a-partidário dos coletivos de manifestantes (pelo menos num primeiro momento) e uma insatisfação generalizada com a democracia representativa e com as formas tradicionais de organização política das sociedades ocidentais e "modernas".<br />
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Para o Movimento de Manifestantes, o grande desafio será manter o povo mobilizado na cobrança de atitudes e ações dos governantes. Essa tarefa tem sido a mais difícil e complexa. Os exemplos de outros movimentos como "Occupy Wall Street" apontam também para o caráter "efêmero" dessas novas mobilizações da sociedade civil. Da mesma forma surpreendente que os movimentos emergem no cenário político, eles também desaparecem da noite para o dia. Existe uma forte tendência que, após certo período de efervescência politica, as pessoas acabem retornando para suas rotinas de trabalho, família e lazer, deixando as atividades de protesto nas ruas para os movimentos sociais e os setores tradicionais da política partidária.<br />
<br />
Por outro lado, o grau de resistência e densidade das manifestações civis tende a crescer na medida em que as contradições da democracia representativa e do capitalismo se multiplicam. Quanto maior for o vazio ideológico dos partidos políticos, quando mais os porta-vozes traírem as expectativas ideológicas dos coletivos que eles representam, maior será a força e a persistência das manifestações civis.<br />
<br />
Diante do acirramento das relações de força no capitalismo contemporâneo - ocasionado, entre outras razões, por um acirramento da desigualdade econômica e social e pela crise ambiental - não seria uma hipótese equivocada apontar para um possível crescimento da periodicidade das manifestações políticas da sociedade civil.<br />
<br />
Ainda em relação ao Movimento, outro desafio será equacionar as multiplicidade de vozes e interesses políticos agenciados nos protestos e mobilizações. Sabemos que os diferentes coletivos mobilizados nessas redes de ativistas envolvem atores que se diferenciam tanto pelos valores ideológicos que defendem, como pelas estratégias de luta e práticas políticas. Estabelecer um espaço de dialogo democrático entre as múltiplas diferenças que perpassam o Movimento representa um desafio e tanto para os manifestantes, algo que já ficou evidente na onda de protestos que acompanhamos nas últimas semanas.Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-51164247932725906692013-06-21T19:45:00.002-03:002013-06-21T19:51:40.576-03:00Poética - Manuel Bandeira"Estou farto do lirismo comedido<br />
Do lirismo bem comportado<br />
<br />
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expe<br />
diente protocolo e manifestações de apreço ao senhor<br />
[diretor<br />
<br />
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicioná-<br />
[rio o cunho vernáculo de um vocábulo<br />
<br />
Abaixo os puristas<br />
<br />
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais<br />
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção<br />
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis<br />
<br />
Estou farto do lirismo namorador<br />
Político<br />
Raquítico<br />
Sifilítico<br />
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de<br />
[si mesmo.<br />
<br />
De resto não é lirismo<br />
Será contabilidade tabela de co-senos do amante<br />
[exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes<br />
[maneiras de agradar às mulheres, etc.<br />
<br />
Quero antes o lirismo dos loucos<br />
O lirismo dos bêbedos<br />
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos<br />
O lirismo dos clowns de Shakespeare<br />
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- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-61439569047572872012013-06-18T09:02:00.000-03:002013-06-18T14:30:48.520-03:00O Movimento Passe Livre e a Revolta dos Manifestantes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7aOkrvOzjfb3WanW6xhAZhsWECRhAb_4ykzXheaQrtjWDkD000i9_PwEmr1AV0GKfhhRqk25ULhCJ-pAiAhTbFgFq-Jfqj5QbbDbEsBue01UALZjiK712lmacHtSzyVpJsSyM4RQzMs3-/s1600/MPL.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="189" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7aOkrvOzjfb3WanW6xhAZhsWECRhAb_4ykzXheaQrtjWDkD000i9_PwEmr1AV0GKfhhRqk25ULhCJ-pAiAhTbFgFq-Jfqj5QbbDbEsBue01UALZjiK712lmacHtSzyVpJsSyM4RQzMs3-/s320/MPL.jpg" width="320" /></a></div>
Na última semana acompanhamos "ao vivo" cenas de violência policial contra manifestantes civis que ocuparam diversos setores da cidade de São Paulo, parando vias públicas com suas bandeiras de luta e gritos de guerra. Tratava-se de manifestações políticas pacíficas do Movimento Passe Livre, coletivo civil a-partidário que luta pela tarifa zero e por melhorias no transporte público das grandes metrópoles brasileiras. A ação foi organizada após o governo paulista anunciar um novo aumento no preço das passagens. Esse evento ocorreu paralelamente a outros atos civis em prol da defesa do transporte público, gratuito e de qualidade, em cidades como Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Fortaleza e Brasília.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyL5lFSgPK1_P20O9sRZSsYCFc2m0T6cJINVajJasYifzA9pZsTQ-eoptrKIlPNiYEs9qUuz2Wc_QxRWRmxHtOIVrRHitvlqH87RZzCKmEjF89K6baJegYaPHPon5pbXTabABEEmMajadH/s1600/Passe+Livre.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyL5lFSgPK1_P20O9sRZSsYCFc2m0T6cJINVajJasYifzA9pZsTQ-eoptrKIlPNiYEs9qUuz2Wc_QxRWRmxHtOIVrRHitvlqH87RZzCKmEjF89K6baJegYaPHPon5pbXTabABEEmMajadH/s1600/Passe+Livre.jpg" /></a></div>
O Movimento Passe Livre (MPL) representa uma importante inovação no cenário político brasileiro, tendo surgido oficialmente, em 2005, na Plenária Nacional pelo Passe Livre, em Porto Alegre. Desvinculado de qualquer partido político, em poucos anos o coletivo de manifestantes conseguiu forjar unidade a partir da multiplicidade, unindo uma diversidade de vozes em torno de um interesse em comum. Antes disso, no entanto, já existiam movimentos em defesa do passe livre em outras cidades brasileiras, como é o caso de Florianópolis. Conforme informações prestadas pelo MPL, eventos como a "Revolta do Buzu" (Salvador, 2003) e as "Revoltas da Catraca" (Florianópolis, 2004-5) são marcos da recente história de mobilizações civis em defesa do transporte público gratuito e de qualidade. Conforme argumentam os membros do MPL, o transporte não pode ser tratado como mercadoria, pois é o único meio de locomoção dos setores mais pobres da população - estudantes, trabalhadores e desempregados - que dependem dele para exercer outros direitos civis, como o acesso ao trabalho, à educação, aos serviços de saúde e lazer. [<a href="http://tarifazero.org/mpl/">Site "Tarifa Zero" e MPL</a>].<br />
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Os abusos cometidos pela polícia militar diante das manifestações do MPL demonstram claramente o seu total despreparo para lidar com atos políticos civis mesmo após vinte anos de democracia e às vésperas do país sediar uma copa do mundo. O uso recorrente de bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e spray de pimenta contra manifestantes nos remete à abordagem truculenta que os militares dispensavam aos movimentos populares na época da ditadura, evidenciado uma atitude anti-democrática do poder público, marcado pelo uso abusivo da autoridade policial contra a população civil. Essa atitude acabou incentivando a revolta de alguns grupos de manifestantes, que agiram em resposta à repressão com cenas dignas de uma rebelião popular, com depredação de bens públicos e privados, como o ataque a paradas de ônibus e a instituições do setor financeiro. Essas cenas de batalha foram televisionadas para o mundo inteiro e em poucos dias os atos civis se multiplicaram em várias cidades do Brasil. Essas manifestações também foram fortemente reprimidas pela polícia, que performou, em pleno século XXI, cenas dignas de uma ditadura militar, o que representa um grave retrocesso na ainda recente democracia brasileira. <br />
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Ao mesmo tempo, em um claro exemplo de mau jornalismo, os grandes meios de comunicação transmitiram a notícia de forma superficial, nomeando as manifestações civis de "vandalismo". Nas palavras do guru decadente das organizações tabajaras, Arnaldo Jabor, tratava-se de uma "ação isolada de pessoas que não têm o que fazer e resolveram criar transtorno atoa". Nos primeiros dias de cobertura jornalística os manifestantes foram classificados como "vândalos" e estigmatizados como baderneiros nos principais telejornais brasileiros, com destaque especial para a rede globo. Ao invés de informar a população sobre as motivações legítimas dos manifestantes e os abusos evidentes da polícia, a primeira postura da mídia foi 'ocultar' as motivações dos manifestantes e deslegitimar suas ações políticas através das constantes acusações de vandalismo. Essa postura foi reforçada pelas declarações iniciais do governador e do prefeito de São Paulo, que não reconheceram qualquer legitimidade política nas ações do MPL, apoiaram a ação repressora das forças policiais e se colocaram contrários a qualquer forma de negociação com "vândalos". <br />
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Mais tarde, no entanto, diante da divulgação dos eventos na mídia internacional e da mobilização da população através das redes sociais - além do ataque sofrido pelos próprios repórteres que acompanhavam, nos últimos dias, os eventos na rua - o jornalismo tupiniquim 'voltou atrás' e resolveu 'representar' os atos políticos dos manifestantes como um movimento civil legítimo, apesar dos exageros cometidos por 'grupos isolados". Nunca antes a mudança de perspectiva jornalística sobre eventos políticos nacionais foi tão evidente como no caso das manifestações do MPL. Com o passar dos dias, os representantes governamentais também flexibilizaram seus discursos em nome do diálogo com o Movimento. Essa mudança radical de postura por parte da mídia e dos governantes reflete, em grande medida, a mobilização massiva da sociedade civil nas redes sociais, o que permitiu colocar em ação um poderoso plano de contra-informação, esclarecendo a sociedade brasileira sobre o serviço de desinformação performado em tempo real pelos grandes meios de comunicação. <br />
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Em um dos melhores exemplos de mobilização popular que a sociedade brasileira já produziu nas últimas décadas, os "manifestantes", conforme passaram a ser denominados na grande mídia, fizeram uso das redes sociais para planejar novos atos políticos em praticamente todas as grandes capitais brasileiras. Essas mobilizações culminaram em múltiplas ações coordenadas que ocorreram simultaneamente, no dia 17 de junho, em diversas capitais, do norte ao sul do país, mobilizando milhares de pessoas. Além dos membros do MPL, simpatizantes de outras causas políticas aderiram às manifestações e multiplicaram as barricadas do movimento. As ações foram convocadas, em grande parte, por meios virtuais e sem uma coordenação centralizada, envolvendo coletivos a-partidários ou multi-partidários mobilizados em torno de causas comuns, como a luta pela educação de qualidade, o acesso universal à saúde, o combate à corrupção, o alto custo de vida, a criminalidade, os altos gastos públicos com a copa do mundo e outros problemas vivenciados pela sociedade brasileira, como a homofobia e a intolerância religiosa.<br />
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As manifestações também refletem a insatisfação popular diante de inúmeros projetos de lei que circulam atualmente no congresso nacional e que colocam em sério risco direitos civis, políticos e humanos conquistados via processo constituinte, em meados da década de 1980. Com isso, a adesão foi imediata e em grande escala: em poucas horas cidadãos comuns foram mobilizados por uma rede de ativistas anônimos. O 'efeito cascata' de informações transmitidas pela internet e pela própria grande mídia foi responsável pela amplitude das manifestações. <br />
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No distrito federal, por exemplo, os manifestante fizeram um ato histórico em frente ao Congresso Nacional, subindo a rampa da esplanada entoando o hino nacional e conclamando a liberdade de expressão.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOdovsRfuTFjq1vazDh33_HetimEMZNZfuXzG-HskZ-l92juXb3tk4Ct4ZG0oUCcdDozQ6TKX2z3M4mERG5rd4hRYQ9dtOqfo-0l19x4zfEQ7_6Z9I3m7bdFLG4stmx2z3eOvKfsUDlHp6/s1600/Manifest+congress.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOdovsRfuTFjq1vazDh33_HetimEMZNZfuXzG-HskZ-l92juXb3tk4Ct4ZG0oUCcdDozQ6TKX2z3M4mERG5rd4hRYQ9dtOqfo-0l19x4zfEQ7_6Z9I3m7bdFLG4stmx2z3eOvKfsUDlHp6/s400/Manifest+congress.jpg" width="400" /></a></div>
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No Rio de Janeiro,enquanto milhares de pessoas vestidas de branco em sinal de paz se reuniam na Avenida Rio Branco em defesa da educação, do transporte público e da saúde de qualidade, grupos isolados ocuparam a Assembleia Legislativo do RJ e entraram em conflito direto com os policiais, encenando cenas dignas de uma rebelião popular.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR5eoALPvnhz-8_mfddorYBgegDkNUdmSkC4fvzgK4oCJ85zZyQZ3weGihMD8gwawiIBrRo4qHmjbVOSru6SPmEsGDwVIRdb25DmXtObofzu67-5llyHq-ufQMJDvSjKN-Sv0vMQ9lUFyk/s1600/Manifest+ALRJ.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR5eoALPvnhz-8_mfddorYBgegDkNUdmSkC4fvzgK4oCJ85zZyQZ3weGihMD8gwawiIBrRo4qHmjbVOSru6SPmEsGDwVIRdb25DmXtObofzu67-5llyHq-ufQMJDvSjKN-Sv0vMQ9lUFyk/s320/Manifest+ALRJ.jpg" width="320" /></a></div>
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Outras manifestações foram organizadas em Porto Alegre, Curitiba, Fortaleza, Belém e outras cidades brasileiras, a maior parte de forma pacífica e sem maiores confrontos com a polícia. Em Belo Horizonte, no entanto, após um conflito geral com a polícia militar, que tentava impedir a passeata de se aproximar do estádio de futebol que sediará a copa do mundo, uma parte dos manifestantes tentou ocupar o Palácio de Governo e foi reprimida veementemente pela polícia militar.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6WAfRNbPf5drUiEdEAfPSQYqhOXxJkYA93ykxrFwG_hV1fmMHanltduZEqC4FPI2Nh1XbRkR_LOFV42UBOwOTwwnDr4Fi9FcNxD6EbpnMl06th8isbUx4mE1oxOLVz1GZkvoTnHOEdnWw/s1600/Manifestant+Poa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="238" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6WAfRNbPf5drUiEdEAfPSQYqhOXxJkYA93ykxrFwG_hV1fmMHanltduZEqC4FPI2Nh1XbRkR_LOFV42UBOwOTwwnDr4Fi9FcNxD6EbpnMl06th8isbUx4mE1oxOLVz1GZkvoTnHOEdnWw/s320/Manifestant+Poa.jpg" width="320" /></a></div>
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Se, em um primeiro momento, os atos políticos visavam unicamente a questão do acesso ao transporte público, as manifestações subsequentes ampliaram ainda mais os propósitos do movimento, incluindo a defesa da educação pública, do acesso à saúde e o combate à corrupção e ao mau uso do dinheiro público. Inclusive, muitas ações voltara-se também contra os gastos do governo federal com a Copa do Mundo em detrimento de maiores investimentos, por exemplo, na educação e na saúde pública. A rápida adesão popular às manifestações é um sinal claro de insatisfação da sociedade com a qualidade dos serviços públicos, os altos gastos com obras públicas em geral e a corrupção em todos os setores do governo. Se existe uma palavra que possa descrever com sucesso o sentimento compartilhado pelo conjunto dos manifestantes é a palavra "indignação", que expressa claramente uma insatisfação geral com a lógica eleitoreira da política partidária e com a corrupção no poder público. A população já percebeu que os holofotes da copa do mundo funcionam como uma excelente e poderosa caixa de ressonância para os protestos da sociedade civil brasileira. <br />
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A incapacidade do governo, da grande mídia, da polícia e dos principais partidos políticos de direita e esquerda em lidar com a forma de fazer política inaugurada pelos 'novos caras pintadas' revela uma crise profunda da representatividade política nas democracias ocidentais contemporâneas, onde a lógica e a razão oculta do neoliberalismo orientam, de fato, as escolhas governamentais, em detrimento das razões sociais, ideológicas e políticas, gerando uma divergência entre as decisões tecnicistas tomadas pelos governantes e as demandas políticas colocadas pela sociedade civil. Apesar da magnitude épica dos atos políticos que acompanhamos nos últimos dias, os governantes continuam demonstrando que não estão dispostos a dialogar com os manifestantes, principalmente, no que se refere ao aumento das passagens de ônibus em São Paulo e em outras capitais brasileiras. Diante dessa postura autoritária das instituições políticas tradicionais - o que inclui também o estado de total apatia dos principais partidos políticos frente à ação de um movimento a-partidário e de caráter civil - cabe aos manifestante dar continuidade as suas ações de mobilização até que os governos resolvam retroceder e dialogar de fato em torno de suas demandas políticas. O argumento utilizado pelo prefeito de São Paulo de que não há recursos para subsidiar o preço das passagens de ônibus é uma contradição, principalmente, diante dos altos lucros da máfia do transporte público. <br />
<br />
Os protestos realizados no Brasil, no dia 17 de junho, inauguram uma nova era na política mundial, somando-se a outras manifestações civis que ocorreram nos últimos anos, como o Movimento de ocupação de Wall Street e as manifestações políticas no norte da África, na Grécia, no oriente médio e em outros países europeus.<br />
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Viva a liberdade de expressão popular e o poder de mobilização política e de ação direta da sociedade civil organizada! Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-60798787656802689342013-06-05T08:45:00.000-03:002013-06-06T18:48:47.622-03:00Anões, antropólogos e cabeças de bacalhau existem? O post "Coisas que você nunca viu: cabeça de bacalhau, enterro de anão e antropólogo que faz laudo", publicado no blog de Reinaldo Azevedo, é um bom exemplo de desinformação popular. No texto, que faz referência a um suposto laudo da Embrapa sobre 15 processos de reconhecimento de Terras Indígenas no Paraná, o autor pergunta porque a população não sabe nada, ou quase nada, sobre os procedimentos de reconhecimento de terras indígenas no país. Além de desconsiderar o trabalho dos antropólogos que fazem laudos, Azevedo utiliza como referência um estudo da Embrapa sem esclarecer como foi produzido, o que é, certamente, uma contradição evidente com o seu próprio argumento. Nesse caso, sim, vale questionar: quem fez os estudos? Especialistas de que área do conhecimento foram consultados? Quais procedimentos foram utilizados? A Embrapa é, realmente, a instituição mais apropriada para fazer esse tipo de trabalho?<br />
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Mas é pela descontextualização da informação que o texto se torna um dispositivo de desinformação. Afinal, os processos de reconhecimento de terras indígenas seguem preceitos e regras legais, instituídas através de dispositivos jurídicos internos à FUNAI e previstos na legislação (Decreto 1.775/1996; Portaria 14/1996; Portaria 116/2012; e Instrução Normativa 02/2012). Essas regras estão embasadas em um marco legal constitucional e reproduzem princípios e diretrizes anunciadas na CF de 1988 e no Estatuto do Índio (1973). De fato, os procedimentos de pesquisa envolvidos nos processos de demarcação de terras são de conhecimento público, podendo ser facilmente acessados no próprio site da FUNAI, no link sobre "legislação", onde também podem ser acessados outras leis e dispositivos jurídicos associados aos direitos indígenas e à regulamentação do funcionamento deste órgão indigenista (www.funai.gov.br). Inclusive, lá encontramos o "Manual do Antropólogo", documento que reúne orientação para a elaboração de laudos.<br />
Ao que parece, Azevedo não quer se informar e informar o seu público, pois não faz qualquer referência à legislação existente, apesar de não se furtar em fazer alegações maldosas sobre os antropólogos.<br />
<br />
Mais uma vez, também no que se refere à antropologia, é a desinformação que prevalece sobre o conhecimento. Apesar de Azevedo se questionar sobre a existência de "antropólogos que fazem laudo" (será que eles existem? Alguém já viu um?), o seu texto não informa nada sobre a antropologia ou sobre os profissionais que atuam na Funai. Ficamos sem saber como são formados os antropólogos e, mais especificamente, como se dá a aplicação do conhecimento antropológico na elaboração de laudos jurídicos.<br />
Se formos julgar pelas alegações levianas de pessoas como Azevedo, o raciocínio antropológico seria reduzido a um conhecimento "místico" produzido por profissionais de formação duvidosa, que agem nos bastidores do poder como dispositivos "ideológicos" ocultos.<br />
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Mas aqui também a intenção do autor é mais 'ocultar' do que 'revelar', pois não só a antropologia tem uma história centenária, como também é regida por um código de ética comum e pela convivência de paradigmas epistemológicos coletivos, compartilhados publicamente e que mudam ao longo do tempo, pois são discutidos em eventos científicos nacionais e internacionais. Os critérios metodológicos de produção do conhecimento antropológico - incluindo aqueles associados a laudos e outros processos legais - são definidos em um espaço de debate e discussão. Da mesma forma, os resultados das pesquisas antropológicas são publicados em artigos, relatórios e livros e, desta forma, passam pela avaliação dos pares, como em qualquer outra disciplina científica. O profissional da área passa por um extenso processo de formação teórico-metodológica e certamente está preparado para enfrentar os desafios contemporâneos, atuando na academia e em instituição públicas e civis. Não há nada de oculto na antropologia e os antropólogos podem ser encontrados em laboratórios, universidades e outras instituições científicas brasileira e internacionais. <br />
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Temos que começar a campanha: "Azevedo, acredite, antropólogos existem!" <br />
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Ora, o fato de pessoas desinformadas não irem em busca de informações sobre a antropologia, os antropólogos que fazem laudo e os procedimentos legais de reconhecimento de TI's, não atesta qualquer qualidade 'obscura' ou 'velada' do processo em si, mas apenas o descaso de determinados setores da sociedade brasileira com os preceitos legais e constitucionais vigentes no país.<br />
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Como sempre, os porta-vozes da direita fazem uso de fatos isolados e descontextualizados para deslegitimar os direitos indígenas e, com isso, ajudam a proclamar o descaso para com as ações da FUNAI. Promovem, desta forma, o pior (de)serviço que um jornalista pode oferecer: a produção da desinformação. É isso que tem feito, incessantemente, a revista "Veja", que expressa claramente um vínculo carnal com os interesses das classes latifundiárias. Ali também a descontextualização e o ocultamento explícito e implícito de informações produz a desinformação sobre fatos e eventos da política nacional. <br />
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Por outro lado, a retórica da revelação messiânica assumida pelo tom de denúncia do texto de Azevedo é desmentida, na prática, pelo seu trabalho constante de velamento e distorção de informações. Em nenhum momento Azevedo revela os procedimentos utilizados pela Embrapa para produzir as suas conclusões. Ficamos sem saber como que uma instituição sem qualquer histórico de realização de estudos de reconhecimento de TI's produziu afirmações assim tão contundentes e afinadas com os interesses dos ruralistas? Também ficamos sem saber quem são os pesquisadores ou autores do laudo, sua formação e especialidade? Também ficamos impossibilitados de decifrar as entrelinhas de suas afirmações, cuja mensagem subliminar está inscrita na breve menção feita à ministra da casa civil e aos usos que a paranaense estaria dando a tal 'relatório' da Embrapa nos bastidores do governo federal.<br />
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Aqui, sim, navegamos em um mar de ocultismo explícito, onde, como em uma mágica, o autor retira da sua cartola afirmações gerais, ambíguas e imprecisas, ao mesmo tempo em que oculta as relações libidinosas que interligam ministros do governo Dilma aos interesses da classe latifundiária.<br />
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Diferente do que afirma Azevedo, os antropólogos que emitem laudos também atestam sua autoria. Com isso, podem ser facilmente consultados. Isso ocorre porque esses antropólogos existem, estão vivos, possuem residência e profissão notória, podendo falar por si próprios, esclarecendo ou se defendendo de acusações e denuncias.<br />
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O mesmo não ocorre com os técnicos responsáveis pelo laudo da Embrapa, figuras anônimas cujas conclusões são afirmadas por Azevedo sem qualquer esclarecimento sobre os procedimentos técnicos utilizados para fabricá-las. Se, por um lado, os laudos da Funai devem seguir preceitos jurídicos de conhecimento público instituídos através do devido processo legal, produzindo laudos de acesso livre; por outro, os estudos realizados pela Embrapa representam uma verdadeira caixa-preta.<br />
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Por último, mas não menos importante, vale notar o tremendo preconceito do autor do blog com os anões, sugerindo que os mesmos não são enterrados. Ora, não é pelo fato do senhor nunca ter comparecido ao enterro de um anão que esses eventos não ocorrem, da mesma forma que não precisamos ir até o sol para saber que ele existe. Basta sair numa manha ensolarada e fria para sentir a sua presença, revelada a partir dos efeitos dos raios solares sobre os nossos corpos, que são afetados e, desta forma, se aquecem. Os anões são seres vivos, homens de carne e osso e, por isso, morrem e são sepultados conforme a sua crença. Além do mais, o tom jocoso da afirmação visa projetar uma imagem negativa sobre os anões, representados no post como figuras exóticas e enigmáticas, uma injustiça com um setor tão importante da sociedade brasileira.<br />
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O mesmo raciocínio pode ser aplicado também às cabeças de bacalhau, afinal, é um erro acreditar que um peixe poderia viver sem uma cabeça. Não é porque não vemos a cabeça ao comer o bacalhau que ela não existe. Os pescadores da Noruega não só conhecem a cabeça como o peixe ainda vivo, seus hábitos de vida, preferências alimentares e outros tantos detalhes sobre o mundo aquático e seus segredos. Inclusive, se Azevedo fosse uma pessoa minimamente informada sobre a vida do bacalhau e seus usos culinários saberia que em alguns lugares as cabeças desses peixes são especiarias disputadas com fervor. <br />
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Mas o pior de tudo é que esse tipo de jornalismo superficial e preconceituoso conta com uma ampla legião de comentadores, cujas opiniões conseguem ser mais absurdas do que aquelas pronunciadas por Azevedo. Uma breve leitura dos comentários publicados no post sobre o tal estudo enigmático da Embrapa - encomendado pela ministra da casa civil - revela uma mentalidade racista, preconceituosa e desumana. A palavra mais apropriada diante da mentalidade expressa nessas manifestações cegas de apoio revela algo muito mais sinistro e nefasto: a permanência e a reprodução mais ou menos velada de uma mentalidade política fascista e autoritária, regida, por um lado, pela tranquilidade que só a ignorância dá aos fracos de espírito, por outro, pela violência própria aos bárbaros, que só sabem destruir e roubar a sociedade brasileira.Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-86257414483115819022013-06-04T11:12:00.001-03:002013-06-04T11:29:14.204-03:00A face ruralista do Governo Dilma e os movimentos sociaisDois artigos jornalísticos publicados recentemente revelam de forma clara a vinculação do Governo Dilma com a "classe ruralista".<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii_vo6mGXz8D5_PMwoQjF5-UeqW09wCGBbVM0Nj2B3_jTCZLR2Sm3i9FsZNFjfoaG6ciAUZQdUJk2Vyxba1LMDfI9j9mc30nLJl44fBcGSm_hb3UbBeHVGUUlHO9_2V63auU_rmLp2Iy8p/s1600/Dilma+e+K%C3%A1tia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii_vo6mGXz8D5_PMwoQjF5-UeqW09wCGBbVM0Nj2B3_jTCZLR2Sm3i9FsZNFjfoaG6ciAUZQdUJk2Vyxba1LMDfI9j9mc30nLJl44fBcGSm_hb3UbBeHVGUUlHO9_2V63auU_rmLp2Iy8p/s320/Dilma+e+K%C3%A1tia.jpg" width="320" /></a></div>
No primeiro deles, "Agenda de Dilma revela opção do governo", publicado no jornal "Brasil de Fato" (30/05), Cleber Buzatto descreve em detalhes a agenda de reuniões da presidenta, que em pouco menos de uma semana, recebeu diversas lideranças diretamente associadas aos interesses dos latifundiários, como é o caso, por exemplo, da audiência particular com a maior representante do agronegócio brasileiro, a senadora Kátia Abreu (PSD/TO). Além de homenagens recebidas recentemente, Dilma mantem um canal aberto com os latifundiários brasileiros por intermédio da sua ministra da casa civil, Gleise Hoffmann, que tem atuado como "porta-voz" dos ruralistas no planalto. Da mesma forma, por diversas vezes Dilma compareceu em eventos patrocinados pelo agronegócio, que tem um lugar de destaque na agenda política do seu governo. Essa aliança conservadora tem reflexos no plano econômico, como podemos notar pela recente concessão de R$ 112 bilhões para o "Plano Agrícola e Pecuário", voltado para financiar a produção do agronegócio. Da mesma forma, os "aliados" da base governamental de Dilma, como diversos deputados e senadores do PMDB, têm fortes vínculos com os ruralistas, barganhando apoio político em troca de um favorecimento presidencial à sua causa.<br />
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Por outro lado, Dilma tem se negado a conceder audiência para os índios e seus representantes. Apesar dos diversos conflitos envolvendo povos indígenas brasileiros, as portas do planalto estão fechadas para os habitantes originais do Brasil. Conforme aponta o artigo de Cleber, Dilma é a única presidente brasileira - desde a ditadura militar - que ainda não se reuniu com os índios.<br />
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Em outro artigo, "Os movimentos sociais e a queda da popularidade de Dilma", publicado no site "Luis Nassif online", Emanuel Cancella chama atenção para a recente queda da popularidade do governo Dilma e associa esse fenômeno à crescente insatisfação dos movimentos sociais e ambientais com os fortes vínculos existentes entre o Governo Dilma e o que há de mais conservador na política brasileira. Soma-se a essa insatisfação a total ausência de uma política de reforma agrária no Brasil, os constantes desrespeitos aos direitos humanos, o apoio fornecido ao cartel hidroelétrico formado em torno da figura do senador José Sarney e seus aliados e fenômenos criados pela "política da aliança", como é o caso "Feliciano". Segundo Emanuel, a recente queda da popularidade de Dilma não está unicamente associada ao aumento da inflação, mas também à insatisfação dos movimentos sociais organizados, sindicatos e outros setores da sociedade com o rumo que o governo Dilma tem tomado nos últimos dois anos.<br />
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Diante da aproximação das próximas eleições presidenciais, Dilma se vê em uma encruzilhada: ou busca retomar o vínculo com os movimentos sociais, sindicais, ambientais e indígenas que ajudaram a elegê-la (principalmente, no segundo turno), ou solidifica ainda mais o estreito vinculo que tem mantido com o agronegócio e a elite ruralista, descendentes da antiga UDR e do que há de mais conservador no cenário político brasileiro. O acirramento dos conflitos políticos, indígenas e fundiários expressa claramente a divergência entre essas duas agendas políticas e seus interesses, além de demonstrar a existência de visões diferenciadas sobre o "desenvolvimento" que se quer para o Brasil: de um lado o "neodesenvolvimenstismo conservador" das elites rurais; do outro, o "desenvolvimento sustentável" proposto pelos índios, camponeses, ambientalistas e demais setores populares.<br />
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Infelizmente, a descrição da agenda política de Dilma revela que, até o presente o momento, a sua opção tem sido em favor das forças ruralistas e sua visão conservadora de desenvolvimento. <br />
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Link para os artigos de Buzatto e Cancella:<br />
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<a href="http://www.brasildefato.com.br/node/13078">Agenda de Dilma revela opção do governo</a><br />
<a href="http://www.advivo.com.br/node/1393403">Os movimentos sociais e a queda da popularidade de Dilma</a> Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-66531440987870867532013-06-01T16:41:00.000-03:002013-06-02T13:29:06.867-03:00Assassinato de índio terena no Mato Grosso do Sul<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHGQUd82hyphenhyphen9nHVqZi4UhXP5JQV3XGAMBP9EvuPsPfCfd6MvuhIME3RtggwgL4v-WI8wkfXNYg_OfjbWE7rooxuCv7AKe4pSwR1oT4Da6VSDVF7B7GwaIerG78MACPNKNYtmsrOyPwtrSsO/s1600/Oziel-Gabriel.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="187" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHGQUd82hyphenhyphen9nHVqZi4UhXP5JQV3XGAMBP9EvuPsPfCfd6MvuhIME3RtggwgL4v-WI8wkfXNYg_OfjbWE7rooxuCv7AKe4pSwR1oT4Da6VSDVF7B7GwaIerG78MACPNKNYtmsrOyPwtrSsO/s320/Oziel-Gabriel.jpg" width="320" /></a></div>
O assassinato do índio terena Oziel Gabriel por forças policiais, em Mato Grosso do Sul, expressa claramente a omissão e o despreparo do governo federal diante dos conflitos fundiários na região centro-oeste. Oziel foi morto por ocasião da reintegração de posse da fazenda Buriti, ação que contou com o apoio da polícia federal. Essa fazenda está em situação de litígio judicial por ocupar um território da etnia terena, conforme aponta um denso laudo antropológico produzido por Jorge Eremites de Oliveira e Levi Marques Pereira, ambos professores da Faculdade Federal da Grande Dourados. Além de apresentarem um levantamento arqueológico e antropológico extremamente denso, fornecendo indícios inquestionáveis da presença dos terenas na região do conflito desde meados do século XIX - reconhecendo, desta forma, a legitimidade constitucional das suas demandas por terra - o documento também traz informações sobre o histórico das forças de repressão no estado do Mato Grosso do Sul e a sua vinculação direta com o poder público local.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF5kY96bk4uUFTwUwdpataRv8AX55VGf4UVcb9mvEjIAptsxJZECqxOD7P5PnmtpUf9QoUwW68g_35qS3HpiY6VnA6mNzNqpoHR5XMhbCtXBbQpxBR3C7LY3fMB4Q3LpklkAmalK-gFoNG/s1600/Puccinelli+e+Dima.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjF5kY96bk4uUFTwUwdpataRv8AX55VGf4UVcb9mvEjIAptsxJZECqxOD7P5PnmtpUf9QoUwW68g_35qS3HpiY6VnA6mNzNqpoHR5XMhbCtXBbQpxBR3C7LY3fMB4Q3LpklkAmalK-gFoNG/s1600/Puccinelli+e+Dima.jpg" /></a></div>
O atual governador, André Puccinelli (PMDB), é fortemente vinculado com a elite rural do estado. Além de ser acusado de coordenar um audacioso plano de pagamento de propina para parlamentares e corrupção ativa e passiva, o governador ficou famoso por conclamar, em maio de 2010, todos os setores "ricos" do MS a "serem mais nacionalistas e se unirem na luta contra os sem terra e os povos originais". Se, por um lado, Puccinelli tem se utilizado de contatos em Brasília para garantir a defesa dos interesses dos fazendeiros, o governo Dilma precisa do atual governador e sua base do PMDB para manter a "governabilidade" do país e viabilizar a sua reeleição em 2014.<br />
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[Vale lembrar que o ex-governador, José Miranda dos Santos (também conhecido como "Zéca do PT"), é filho de Orsirio Santos, comandante de uma antiga "Captura" que, em tese, foi formada para perseguir bandoleiros, mas que também perseguiu e matou índios naquela região, conforme aponta o estudo "Coronéis e Bandidos em Mato Grosso (1889-1943)", de Valmir Correia (1995), mencionado no laudo antropológico dos professores da UFGD. Ao que parece, nessa região, o ofício selvagem e bárbaro de "matador de índios" é transmitido de pai para filho, numa espécie de 'legado familiar maldito'. Mas não é só de manter a "tradição familiar" que o ex-governador é acusado. Constam na justiça vários processos de improbidade administrativa, um amplo histórico de denúncias de crimes contra o poder público, como desvio de recursos, corrupção ativa e passiva, compra de votos de parlamentares e favorecimento dos seus interesses econômicos, assim como de familiares e parentes.]<br />
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As alianças políticas que sustentam o atual governo incluem a chamada "ala ruralista", que possui tentáculos em diversos partidos políticos da "base aliada". Esta face sinistra e obscura do Governo Dilma tem produzido uma das maiores contradições da história política brasileira: o fato de um governo que se diz de esquerda estar diretamente vinculado às forças de repressão que dominam a política regional no interior do país. Em situações de conflito aberto, são as vozes da antiga UDR que reemergem com força no cenário político nacional. Vale mencionar que isso se deve, em grande parte, à aliança governista com o PMDB e seus aliados, muitos deles representantes do que há de pior na política brasileira.<br />
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Mas essas redes partidárias e governamentais também revelam que o desenvolvimentismo da era PAC está estruturado em bases extremamente conservadoras, alimentado-se do que existe de mais arcaico no cenário político brasileiro. Inclusive, os dados macroeconômicos recentemente revelados reafirmam que o 'progresso', no Brasil, continua sendo conduzido pela aristocracia latifundiária e, em grande parte, à favor dos seus interesses econômicos, agora traduzidos sob a alcunha do "agronegócio", responsável pelo pouco de crescimento que terá o PIB brasileiro em 2013. Uma economia que se quer desenvolver em bases próprias e autônomas não pode ser conduzida pelos setores mais conservadores do país, sob o risco de ser reduzida pelas forças da história a um "desenvolvimentismo neoconservador".<br />
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Não quero, com isso, ser injusto com o atual governo, que tem, em outros aspectos, conduzido ações importantes. No entanto, não podemos deixar de visualizar uma agenda política extremamente conservadora no campo dos direitos indígenas e demasiadamente insensível às questões sociais e étnicas. Reuniões e ações emergenciais convocadas sob o saber amargo da polêmica e do conflito aberto revelam a total ausência de um planejamento e de uma ação preventiva nos principais focos de conflito socioambiental no Brasil. Conforme aponta estudo realizado pela FUNAI, existem hoje mais de 50 pontos de conflito fundiário envolvendo índios e ruralistas. Apesar da realização desse mapeamento inicial, o governo federal não possui um planejamento efetivo para enfrentar o problema, muito menos uma ação coordenada. Por outro lado, a recente exclusão do controverso caso "Belo Monte" da agenda política da secretaria de direitos humanos da presidência da república revela também um despreparo técnico no tratamento de temas mais emergentes associados aos direitos humanos e ambientais coletivos. <br />
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Infelizmente, não se trata da primeira tragédia envolvendo lideranças indígenas. Outros conflitos estão ocorrendo todos os dias em outras regiões do país. No mesmo estado, em Dourados, índios da etnia Guarani-Kaiowá enfrentam diariamente os abusos e as violências cometidas por agentes do agronegócio, que contam com o total apoio policial e judicial da elite política local e seus representantes governamentais.<br />
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No Pará, na região de Altamira, índios de diversas etnias - entre eles os Kayapó e os Munduruku - ocuparam o canteiro de obra da Usina Hidroelétrica Belo Monte. Eles exigem que o governo federal respeite os seus direitos de 'livre consentimento' em caso de obras com impacto direto em suas vidas, conforme prevê a OIT 169, assinada pelo governo brasileiro. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-VZgbmo1q6I-ioM7e0X7XbxUzFdg-yp6qb-nrXmfjA2nZBcYdzFoyePw8gnuwi1A3EwTpssbq9yTlMvkhxrW6cg5zGUGQzarY8d5COYBNEwD9M_5qx3N_PNFGtZfvYhp58gbY_zPiu0nR/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh-VZgbmo1q6I-ioM7e0X7XbxUzFdg-yp6qb-nrXmfjA2nZBcYdzFoyePw8gnuwi1A3EwTpssbq9yTlMvkhxrW6cg5zGUGQzarY8d5COYBNEwD9M_5qx3N_PNFGtZfvYhp58gbY_zPiu0nR/s1600/images.jpg" /></a></div>
Os fortes vínculos político-partidários do Governo Dilma com a elite política do estado do Mato Grosso do Sul - a mesma elite latifundiária que financia e promove violentas ações genocidas contra diversas etnias indígenas e camponeses sem terra que vivem na região - impede que o governo federal, por intermédio da PF, atue como uma força do poder público destinada à resguardar o 'estado de direito' proclamado na Constituição de 1988. Afinal, a nossa carta constitucional prevê, entre os seus princípios estruturais, o dever do governo em garantir e defender os interesses das minorias civis contra toda e qualquer forma de abuso e violência que possa ser cometida por setores com maior poder econômico e político. Toda a nossa legislação trabalhista está baseada no princípio de que "tratar os diferentes de forma diferenciada" é o único instrumento de garantia da igualdade de direitos prevista na constituição. O mesmo pressuposto jurídico ganhou materialidade em diversos artigos da CF de 1988, como é o caso dos artigos 216 e 231, entre outros; na instituição do Ministério Público como órgão destinado a proteger os direitos da sociedade civil contra toda e qualquer forma de abuso de poderes estatais e civis; e na recém editada lei de cotas raciais e sociais na universidade pública. Esses preceitos existem porque a igualdade em um estado de direito é uma garantia constitucional e não histórica. Trata-se de algo que, para se efetivar na prática, depende em grande parte da ação do poder público, e não de sua omissão ou 'neutralidade'.<br />
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Uma breve análise dos dispositivos jurídicos atualmente vigentes - sem falar nos tratados e acordos internacionais assinados pelo governo brasileiro - não deixa dúvida de que caberia ao governo federal, através das instituições competentes, garantir que o processo político e judicial transcorra sem prejudicar ou acarretar em qualquer forma de perseguição ou violência cometida contra grupos diretamente envolvidos no conflito, principalmente, os índios, devido à sua vulnerabilidade frente ao ataque anônimo das forças locais de repressão.<br />
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Caberia ao governo federal buscar a assessoria de 'especialistas' que acompanham o conflito na região, pois a CF prevê um tratamento "diferenciado" aos índios, devido aos seus direitos específicos associados ao reconhecimento da sua identidade étnica e cultural diferenciada. Essa ação policial deveria ser coordenada por uma equipe que incluísse membros do Ministério Público Federal, representantes de entidades civis organizadas, membros da Comissão de Direitos Humanos, jornalistas, organizações internacionais de direitos humanos, organizações indígenas locais e regionais, técnicos e funcionários da FUNAI, além de especialistas em etnologia indicados pela Associação Brasileira de Antropologia.<br />
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Nada disso, no entanto, foi feito. Mais preocupada em anunciar a retórica e o profetismo do desenvolvimentismo, o governo Dilma reproduz a mesma mentalidade política autoritária dos militares, que hoje sabemos - através dos trabalhos desenvolvidos pela Comissão da Verdade - perseguiram e violentaram a integridade cultural e física dos povos indígenas brasileiros.<br />
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Esse total despreparo e insensibilidade do Governo Dilma e seus mandatários diante dos conflitos fundiários e étnicos que estão ocorrendo em diversas regiões do Brasil - conflitos originados, em grande parte, na política desenvolvimentista da era PAC e nos subsídios governamentais concedidos aos agentes que atuam nas frentes de expansão da sociedade nacional - demonstram uma carência do governo federal no planejamento das ações governamentais associadas ao "desenvolvimento", o que tem resultado em sérios danos aos povos indígenas e à sociedade brasileira como um todo. É um absurdo que o atual governo federal compartilhe com os ruralistas e seus representantes políticos uma mentalidade bárbara, selvagem e primitiva, que poderia ser resumida na insistência desses setores em tratar a questão fundiária e indígena como "uma questão de polícia", e não de 'política'. Após destruir os vestígios do passado com suas máquinas agrícolas, os ruralistas buscam destruir também os vestígios humanos e sociais de um processo de dominação colonial de longa data, hoje sintetizado de forma expressiva em suas ações políticas contemporâneas de perseguição e violência contra os povos indígenas brasileiros. <br />
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Para quem tiver interesse em se informar mais sobre a situação dos índios Terena na fazenda Buriti, recomendo a leitura do laudo mencionado aqui, que foi publicado em livro e pode ser acessado na íntegra no site: <br />
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<a href="http://www.ufgd.edu.br/editora/catalogo/terra-indigena-buriti-pericia-antropologica-arqueologica-e-historica-sobre-uma-terra-terena-na-serra-de-maracaju-mato-grosso-do-sul-jorge-eremites-de-oliveira-e-levi-marques-pereira">Laudo sobre a Terra Indígena Buriti (MS)</a></div>
Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-40510978883728506822013-05-31T16:25:00.000-03:002013-06-01T02:21:57.525-03:00O eterno retorno em Zaratustra - Nietzsche "'Alto, anão!, falei eu. 'Ou eu ou tu! Mas eu sou o mais forte de nós dois -: tu não conheces meu pensamento abissal! <i>Esse</i> - tu não poderias carregar!'<br />
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Então aconteceu que eu me tornei mais leve: pois o anão saltou-me do ombro, o curioso! E agachou-se sobre uma pedra diante de mim. Mas havia um portal, precisamente ali onde fizemos alto.<br />
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'Vê este portal, anão!', continuei a falar: 'ele tem duas faces. Dois caminhos se juntam aqui: ninguém ainda os seguiu até o fim. Este longo corredor para trás: ele dura uma eternidade. E aquele longo corredor para adiante - é uma outra eternidade. Eles se contradizem, esses caminhos; eles se chocam frontalmente: e aqui neste portal é onde eles se juntam. O nome do portal está escrito ali em cima: 'Instante'.<br />
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Mas se alguém seguisse adiante por um deles - e cada vez mais adiante e cada vez mais longe: acreditas, anão, que esses caminhos se contradizem eternamente?.'<br />
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'Tudo o que é reto mente', murmurou desdenhosamente o anão. 'Toda verdade é curva, o próprio tempo é um círculo.'<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5qpCYvPm3rgnc7VeJfMutPTapvjJ2Vja791egQgGp6dPDlmN2DZlx3wNVP0vXkVNZveLph9hkxzKlDwi2wNK04ULcSzTksyoSAFGvYsMhANthnVp5ChS9j1FgfHLEGpkk9bw131m0bSFT/s1600/nietzsche.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj5qpCYvPm3rgnc7VeJfMutPTapvjJ2Vja791egQgGp6dPDlmN2DZlx3wNVP0vXkVNZveLph9hkxzKlDwi2wNK04ULcSzTksyoSAFGvYsMhANthnVp5ChS9j1FgfHLEGpkk9bw131m0bSFT/s1600/nietzsche.png" /></a></div>
'Tu, espírito de peso!', falei, irado, 'não tornes tudo tão leve para ti! Ou eu te deixo agachado aí onde estás agachado, pé coxo - e olha que eu te trouxe <i>bem alto</i>! Vê<i>, </i>continuei a falar, vê este instante! Deste portal Instante corre um longo, eterno corredor <i>para trás</i>: atrás de nós há uma eternidade. Não é preciso que, de todas as coisas, aquilo que <i>pode </i>acontecer já tenha uma vez acontecido, já esteja feito, transcorrido? E, se tudo já esteve aí: o que achas tu, anão, deste Instante? Não é preciso que também este portal - já tenha estado aí? E não estão tão firmemente amarradas todas as coisas, que este Instante puxa atrás de si <i>todas </i>as coisas vindouras? <i>E assim</i> - a si próprio também? Pois, de todas as coisas, aquilo que <i>pode </i>correr: também por este longo corredor <i>para diante</i> - <i>é preciso </i>que corra uma vez ainda!<br />
<br />
E esta lenta aranha, que rasteja ao luar, e este próprio luar, e eu e tu no portal, cochichando juntos, cochichando de coisas eternas - não é preciso que todos nós já tenhamos estado aí? - e que retornemos e que percorremos aquele outro corredor, para diante, à nossa frente, esse longo, arrepiante corredor - não é preciso que retornemos eternamente?'<br />
<br />
Assim falava eu, e cada vez mais baixo: pois tinha medo de meus próprios pensamentos e dos pensamentos que se escondiam atrás deles. Então, subitamente, ouvi ali perto um cão <i>uivar</i>. Ouvi alguma vez um cão uivar assim? Meu pensamento correu para trás. Sim! Quando eu era criança, na mais longínqua infância: - foi quando ouvi um cão uivar assim. E também o vi, eriçado, com a cabeça voltada para cima, estremecendo, na mais silenciosa meia-noite, na hora em que também os cães acreditam em fantasmas: - tanto que me apiedei. Acabava, com efeito, de aparecer a lua cheia, mortalmente calada, sobre a casa, acabava de parar, uma brasa redonda - parada sobre o teto raso, como sobre propriedade alheia; - com ela assustou-se aquela vez o cão: pois cães acreditam em ladrões e fantasmas. E quando ouvi outra vez uivar assim, isso me apiedou mais uma vez.<br />
<br />
Para onde teria ido agora o anão? E o portal? E a aranha? E todo o cochichar? Eu estava sonhando? Acordei? Entre penhascos selvagens fiquei de repente sozinho, ermo, no mais ermo dos luares.<br />
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<i>Mas ali jazia um homem! </i>E eis! O cão, saltando, eriçado, ganindo - agora ele me viu chegar - e recomeçou a uivar, e <i>gritou</i>: - ouvi alguma vez um cão gritar assim por socorro?."<br />
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Trecho extraído de "Da visão e enigma"</div>
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Assim falou Zaratustra, terceira parte (1883-1884)</div>
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Tradução de Rubens R. Torres Filho </div>
Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-37208285599275730892013-05-28T18:43:00.002-03:002013-05-28T21:06:40.875-03:00O devir, o múltiplo e o eterno Retorno em "Nietzsche" - Deleuze<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2namDlxlSS59BL5x1F5ro4j5EDvShWpF-X3r8cBihykci3r8uu9mPaiZJ_VHZ1xS9cXkZEYpyxhhp_FJv0RIIZWvEwKdqQj4S-195UwMglKUti0urlni0r9MZi0zxpFkgG4cF8FX1l-kL/s1600/M%C3%A1scaras.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh2namDlxlSS59BL5x1F5ro4j5EDvShWpF-X3r8cBihykci3r8uu9mPaiZJ_VHZ1xS9cXkZEYpyxhhp_FJv0RIIZWvEwKdqQj4S-195UwMglKUti0urlni0r9MZi0zxpFkgG4cF8FX1l-kL/s320/M%C3%A1scaras.jpg" width="312" /></a></div>
"O múltiplo já não é justificável do Uno nem o devir, do Ser. Mas o Ser e o Uno fazem melhor do que perder o seu sentido; tomam um novo sentido. Porque, agora, o Uno diz-se do múltiplo enquanto múltiplo (pedaços ou fragmentos); o Ser diz-se do devir enquanto devir. Tal é a inversão nietzscheana, ou a terceira figura da transmutação. Já não se opõe o devir ao Ser, o múltiplo ao Uno (estas mesmas oposições sendo as categorias do niilismo). Pelo contrário, afirma-se o Uno do múltiplo, o Ser do devir. Ou então, como diz Nietzsche, afirma-se a necessidade do acaso. Dionísio o jogador. O verdadeiro jogador faz do acaso um objeto de afirmação: afirma os fragmentos, os membros do acaso; desta afirmação nasce o número necessário, que reconduz o lançamento dos dados. Vemos qual é a terceira figura: o jogo do eterno Retorno. <i>Retornar é precisamente o ser do devir; o uno do múltiplo, a necessidade do acaso</i>.<br />
<br />
Assim é preciso evitar fazer do eterno Retorno um <i>Retorno do mesmo</i>. Isto seria desconhecer a forma da transmutação e a mudança na relação fundamental. Porque o Mesmo não preexiste ao diverso (salvo na categoria do niilismo). <i>Não é o Mesmo que volta</i>, já que voltar é a forma original do Mesmo, que apenas se diz do diverso, do múltiplo, do devir. O Mesmo não volta, é o voltar apenas que é o Mesmo daquilo que devém.<br />
<i><br /></i>
(...) O segredo de Nietzsche é que o <i>eterno Retorno é seletivo</i>. E duplamente seletivo. Primeiro, como pensamento. Porque nos dá uma lei para a autonomia da vontade desgarrada de toda a moral: o que quer que eu queira (a minha preguiça, a minha gulodice, a minha covardia, o meu vício como a minha virtude) 'devo' querê-lo de tal maneira que lhe queira o eterno Retorno. Encontra-se eliminado o mundo dos 'semi-quereres', tudo o que queremos com a condição de dizer: uma vez, nada senão uma vez. Mesmo uma covardia, uma preguiça que quisesse o seu eterno Retorno torna-se-ia outra coisa diferente de uma preguiça, de uma covardia: torna-se-iam ativas e potências de afirmação.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj39r1W3rzmBBxlgk3SLnOpHFAJZHuajk6KwqoCOt268lKsN-LBSz51kfQVr1m3sPzNxJ1UxD3aPQKAEns3dvzOYr0rWPAZfkmz_Tv-QQ9Go6H3Mz_VRVrna8wlZwJmQZyf8Jjx4m8ecxrY/s1600/Eterno+Retorno.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj39r1W3rzmBBxlgk3SLnOpHFAJZHuajk6KwqoCOt268lKsN-LBSz51kfQVr1m3sPzNxJ1UxD3aPQKAEns3dvzOYr0rWPAZfkmz_Tv-QQ9Go6H3Mz_VRVrna8wlZwJmQZyf8Jjx4m8ecxrY/s1600/Eterno+Retorno.jpg" /></a></div>
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E o eterno Retorno não é só o pensamento seletivo, mas também o Ser seletivo. Só volta a afirmação, só volta aquilo que pode ser afirmado, só a alegria volta. Tudo o que pode ser negado, tudo o que é negação é expulso pelo próprio movimento do eterno Retorno. (...) O eterno Retorno é a Repetição; mas é a Repetição que seleciona, a Repetição que salva. Segredo prodigioso de uma repetição libertadora e selecionante".<br />
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<div style="text-align: right;">
Fonte: G. Deleuze, "Nietzsche" (Edições 70) <i> </i> </div>
Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-21645058521957167792013-05-24T14:15:00.001-03:002013-05-24T14:15:25.467-03:00Kabengele Munanga - Aula Magna 2013 INCIS/UFU Nesta segunda-feira, dia 28 de maio de 2013, Kabengele Munanga irá ministrar aula magna no Instituto de Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia. O professor Kabengele - que nasceu no Congo e cursou doutorado no Brasil - é Livre-docente da Universidade de São Paulo, atuando na área de antropologia das populações afro-brasileiras e relações raciais.<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9cw0TS0-ZxaK8p6oeiUEe_WX0E3HFXWir9krGBdtij-uKT6XPIFJi_TBVmQCjBX96FnJKle0Y9MNZuS0hF1aPA1_dSbiwGZGE-14xPFkCSW0L3rBGhg-MTjpKHh6V-JscRNnZhjtZvfXl/s1600/Kabegenle.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9cw0TS0-ZxaK8p6oeiUEe_WX0E3HFXWir9krGBdtij-uKT6XPIFJi_TBVmQCjBX96FnJKle0Y9MNZuS0hF1aPA1_dSbiwGZGE-14xPFkCSW0L3rBGhg-MTjpKHh6V-JscRNnZhjtZvfXl/s1600/Kabegenle.jpg" /></a></div>
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<br />Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-34235574018934174272013-05-17T17:26:00.000-03:002013-05-29T14:53:30.119-03:00O caso "Feliciano" e Marina Silva: os usos políticos da alteridade <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivKHB-uXmJDuvS71nWvBf2YxHPFUtvursdCYvAimw_Vqzo64qGREhNotv0NCRfcsyMz8zJr0Bn8Bt53BjgC8Fn5fzHIhRpGPJEidYPFFWq9FV1X6eohsijBuUz3tqBlygMPdMBp1K3VkSP/s1600/Feliciano.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivKHB-uXmJDuvS71nWvBf2YxHPFUtvursdCYvAimw_Vqzo64qGREhNotv0NCRfcsyMz8zJr0Bn8Bt53BjgC8Fn5fzHIhRpGPJEidYPFFWq9FV1X6eohsijBuUz3tqBlygMPdMBp1K3VkSP/s1600/Feliciano.jpg" /></a></div>
Não sou contra Feliciano porque ele é Evangélico! Isso seria racismo religioso e a CF é clara nesse ponto: a opção religiosa é um direito civil. Apesar de não ser evangélico, defendo a liberdade de expressão religiosa e a boa convivência entre membros de religiões diferentes no âmbito de um Estado laico. Mesmo sabendo que muitos pastores evangélicos incitam o ódio contra membros de outras religiões, pregando que as mesmas são expressões diabólicas ou coisas do gênero - atitude, diga-se de passagem, compartilhada por católicos conservadores - também sei que essas noções, por mais etnocêntricas que sejam, integram suas cosmologias. E conforme reza o ditado popular, religião não se discute. Ora, enquanto eles se limitarem a expressar essas opiniões no âmbito do culto de suas igrejas, não vejo problema nisso. Certamente, não faltam vozes contrárias no cenário político contemporâneo. Agora, quando esse etnocentrismo é transformado em intolerância e gera ações de violência, deve ser tratado como um desrespeito à alteridade ideológica ou religiosa, algo inaceitável e proibido em lei. As pessoas que incitam a violência contra a opinião alheia devem ser presas, não por terem esta ou aquela religião, mas devido ao teor racista de suas ações e por desrespeitarem um preceito constitucional extremamente importante: a liberdade de expressão. <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh254NliVP76Gd17vB10LEV0NSED_IqsKhvfzw_bWhWSY2TQVX1W6vZ7QFVbrEF9ItJU1t7Oi6IaPQC3S11ll90yq2N1wy_K4PScPe8_9UriqGoSa5MPVShU0-hJ3FWySbhiaU-O9ARcAi7/s1600/Evang%C3%A9licos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh254NliVP76Gd17vB10LEV0NSED_IqsKhvfzw_bWhWSY2TQVX1W6vZ7QFVbrEF9ItJU1t7Oi6IaPQC3S11ll90yq2N1wy_K4PScPe8_9UriqGoSa5MPVShU0-hJ3FWySbhiaU-O9ARcAi7/s1600/Evang%C3%A9licos.jpg" /></a></div>
<br />
Sou contra Feliciano porque ele incita o ódio, fazendo uso da moral religiosa para se promover e promover o preconceito de gênero e a homofobia. Mas essa atitude não reflete sua opção religiosa, mas a intolerância de certos setores da sociedade civil para com a alteridade, seja ela qual for. A censura da alteridade (de gênero, raça, religião, etc) é um fenômeno mais amplo do que a homofobia e revela traços herdados de uma história de arbitrariedades políticas promovidas por ditaduras e governos civis. <br />
<br />
No entanto, mesmo diante do etnocentrismo autoritário, a censura e o totalitarismo ideológico ou religioso não é a solução. Assim como não podemos exigir que todos os políticos sejam ateus ou argumentar que tal descrença em Deus (ou entidades similares) é ou já foi indicio de uma política coerente ou justa, também não podemos partir do pressuposto que política e religião são coisas completamente distintas e divergentes, principalmente, quando a história demonstra exatamente o contrário. Existe algo de religioso em todo pensamento político, assim como há algo político em toda atitude religiosa. Acreditar que o culto de lideranças políticas é completamente diferente do culto religioso de santos e outras entidades significa compartilhar de outra crença, essa sim, muito mais destrutiva e anti-humanista: a crença de que o exercício da política pode ser reduzido aos seus aspectos racionais e técnicos. <br />
<br />
Por mais que eu não concorde com o pensamento de Feliciano, defendo sua liberdade de expressão, desde que essas opiniões não resultem em ações violentas e ataques às pessoas que pensam diferente e também têm o direito de se pronunciar. Afinal, outro preceito constitucional do Estado de Direito é a convivência pacífica entre múltiplas perspectivas políticas, religiosas, literárias, jornalísticas e científicas. Em uma democracia, não podemos simplesmente censurar todas as vozes contrárias, o que parece ser a vontade política de muito militante, seja de esquerda ou de direita. Quanto ódio já não foi disseminado em nome de ideologias e pensamentos políticos? Quantas atrocidades já não foram cometidas em nome da técnica e da razão? <br />
<br />
No caso de Feliciano, a polêmica maior se dá pelo fato de uma pessoa que defende tais ideias estar presidindo uma comissão de direitos humanos, essa é a questão fundamental e o que gerou e ainda gera a indignação coletiva nas redes sociais e nos meios de comunicação. Devido ao histórico de luta por direitos humanos no Brasil - marcado pelo compromisso com os direitos políticos e civis das minorias - é uma contradição inaceitável que uma pessoa que dá declarações fascistas, homofóbicas e preconceituosas, presida uma comissão que foi fundada exatamente para combater esse tipo de discurso. <br />
<br />
E é exatamente isso que Marina Silva vem dizendo desde que surgiu a polêmica, basicamente, "ele não está no lugar certo, não por ser evangélico, mas por defender o que defende". Marina tem se esforçado para ponderar que o problema não é a religião de Feliciano, mas o uso que ele faz da religião para incitar o ódio e o preconceito para com toda e qualquer alteridade. A questão é que ele está em um lugar historicamente ocupado por pessoas que pensam e defendem ideias exatamente opostas às suas e está despreparado para exercer a função que essa comissão tem exercido desde que foi instituída: lutar pelos direitos das minorias. Ou seja, estamos diante de uma situação onde os representados se rebelaram contra um porta-voz, que, de fato, não os representa adequadamente. Mas isso não tem nada haver com a sua religiosidade (ou pelo menos não deveria ter). <br />
<br />
Agora, o fato dos governistas fazerem uso deste ponderamento para tentar deslegitimar uma provável candidatura da Marina é anti-ético e injusto (ver matéria publicada recentemente na Carta Capital). Ainda mais vindo de quem vem. Afinal, foi a 'política de alianças' do Governo Dilma que levou Feliciano a ocupar a presidência da Comissão de Direitos Humanos: negociar cargos públicos como se fossem 'bens partidários' dá no que dá.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtK6f_6uXbjK-3lPWYtubL4IFECCUflpxqtAoYsDYWudMSxxS0pvRWP1crJQBN95smf706ApEtylxq8ZTVSIQ1It0TisIGNnJXfr9IisT7N17BBxvBWzQNfOD06n2KRCo1XsHpkzubg-9W/s1600/STF.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtK6f_6uXbjK-3lPWYtubL4IFECCUflpxqtAoYsDYWudMSxxS0pvRWP1crJQBN95smf706ApEtylxq8ZTVSIQ1It0TisIGNnJXfr9IisT7N17BBxvBWzQNfOD06n2KRCo1XsHpkzubg-9W/s1600/STF.jpg" /></a></div>
Mas esse discurso de "denúncia" em relação à opção religiosa da Marina Silva - que é evangélica por opção de vida - revela, de fato, um preconceito subliminar que nos remete às nossas heranças católicas. Afinal, nunca vi ninguém reclamar do fato de um candidato ser "católico", por exemplo, apesar da nossa história estar repleta de presidentes católicos. O fato de um crucifixo ter lugar de destaque no STF e em outros ambientes governamentais não parece gerar a mesma polêmica.<br />
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Aliás, não foi Dilma que, nas últimas eleições, retrocedeu no debate sobre o aborto para não enfrentar os eleitores cristão (sejam eles evangélicos ou católicos)?<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMOAHpSG6Raui93m7Z5uj6xyOOANJeKaMLIGSwYLcUhIdpEc2lt-WeYM_BgXF-BpuNeFfXzYnu8FYZhI53jWsv2PSRoPJOZDvBM2JfwxwlzMgt0VhGyVM6_LZucaOLcd_P9FEV9v5otUg8/s1600/Dilma+e+Papa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMOAHpSG6Raui93m7Z5uj6xyOOANJeKaMLIGSwYLcUhIdpEc2lt-WeYM_BgXF-BpuNeFfXzYnu8FYZhI53jWsv2PSRoPJOZDvBM2JfwxwlzMgt0VhGyVM6_LZucaOLcd_P9FEV9v5otUg8/s1600/Dilma+e+Papa.jpg" /></a></div>
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Ora, não entendo porque um católico assumido - seja ele praticante ou não - pode exercer o mandato de presidente sem ter sua religiosidade questionada enquanto membros de outras religiões são perseguidos devido à sua opção religiosa?<br />
<br />
Marina, por diversas vezes, já declarou que será presidente de todos e não apenas dos evangélicos. De fato, em nenhum momento, ela se colocou como representante desse setor da sociedade. Inclusive, sua trajetória pessoal demonstra claramente que as suas raízes políticas não residem no movimento evangélico, mas no movimento dos seringueiros do Acre, nas alas mais à esquerda do antigo PT e no socioambientalismo. Basta analisar sua trajetória política para perceber esse fato.<br />
<br />
Quem promove o discurso 'alarmista' sobre uma possível eleição de Marina Silva como presidenta do Brasil pelo simples fato dela ser evangélica está sendo preconceituoso (ou partidário), o que é, de fato, algo bastante previsível diante de um ambiente político extremamente intolerante para com toda e qualquer alteridade. Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-61736940397550360982013-05-14T19:49:00.000-03:002013-05-20T10:34:48.592-03:00Machu Picchu, Cusco - Peru<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMLfjGHY-GRW-pAccdPFyJIuXSnaRv0wKrX6ZIb2DOCPO1EBiuFQlKMLgVb-JR2qZtPLtZbVZLRj6O9zzVYWo7MGK0uXOEeN1MEZmfdiaqXWpAkWPynxNrc21P6_iy1iU6sUUZq73DQSMT/s1600/Cusco+-+Pra%C3%A7a+das+Armas+(5)_WM.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMLfjGHY-GRW-pAccdPFyJIuXSnaRv0wKrX6ZIb2DOCPO1EBiuFQlKMLgVb-JR2qZtPLtZbVZLRj6O9zzVYWo7MGK0uXOEeN1MEZmfdiaqXWpAkWPynxNrc21P6_iy1iU6sUUZq73DQSMT/s320/Cusco+-+Pra%C3%A7a+das+Armas+(5)_WM.jpg" width="320" /></a></div>
Estive recentemente em Cusco, no Peru, conhecendo de perto os vestígios arqueológicos do Império Inca e outras sociedades pré-incas. O lugar é especial, único, belo em todos os sentidos. Apesar da altitude - que produz efeitos como o 'soroche', também conhecido como 'mal estar das alturas' - o ambiente local ainda respira a história andina pré-colonização espanhola, presente nos centros arqueológicos e nas manifestações culturais dos campesinos e povos indígenas da região. Além dos passeios realizados no entorno da cidade, existem dezenas de sítios arqueológicos localizados em pequenos povoados e vilas dos arredores, que podem ser acessados com apenas algumas horas de viagem. O povo é hospitaleiro e simpático e a infra-estrutura local oferece inúmeras opções de lazer, incluindo trilhas ecológicas, festas populares, restaurantes, museus, cafés e feiras de artesanato.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx6cuD72lwTzToR4xaHiYSHSkX1YDx34CAKP9tGCe71grDCMCoBwF0cnbSQa2CXTJ95AHyiemXUHeTNx04Zvg4JOXLRRZswE-dbPlxA0PcMl1e0qU1c6g550CDK7UxMn5EvUmIgFpi1MVz/s1600/Cusco+-+Pachacuteq+(4)_WM.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhx6cuD72lwTzToR4xaHiYSHSkX1YDx34CAKP9tGCe71grDCMCoBwF0cnbSQa2CXTJ95AHyiemXUHeTNx04Zvg4JOXLRRZswE-dbPlxA0PcMl1e0qU1c6g550CDK7UxMn5EvUmIgFpi1MVz/s320/Cusco+-+Pachacuteq+(4)_WM.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="text-align: center;">Cusco é conhecida como a capital do antigo Império Inca, que, entre os séculos XV e XVI, chegou a dominar uma extensão territorial que ia do Equador até Santiago, atual capital do Chile. Essa sociedade andina ficou conhecida no mundo inteiro pela complexidade da sua cultura material e imaterial, incluindo o seu sistema filosófico e religioso, os seus conhecimentos agrícolas, cosmológicos, medicinais e técnicos, além de construções gigantescas cujos vestígios ainda são encontrados praticamente intactos e estradas que interligam cidades fortificadas onde viviam milhares de habitantes. Essa civilização andina viveu seu apogeu entre os anos 1430-1530, período em que foi governada por Pachacuteq, imperador Inca responsável pela ampliação do domínio político através da conquista ou integração de outras sociedades andinas regionais, seja através da guerra ou do comércio.</span><br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoD_D2LlpQ8449CNfGFHXAiebQBymCuDGsqyCUeik05J3Tb7LO0Z4s9rAbtp2gNRSy-rVsAkQpwjwgBynJiyw8wk3RmSbqPYZLMttINvlfC0r2xnu7DJcM-tvc3z5dRCt3r6AycbTTg65K/s1600/Cusco+-+Peru+(16)_WM.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoD_D2LlpQ8449CNfGFHXAiebQBymCuDGsqyCUeik05J3Tb7LO0Z4s9rAbtp2gNRSy-rVsAkQpwjwgBynJiyw8wk3RmSbqPYZLMttINvlfC0r2xnu7DJcM-tvc3z5dRCt3r6AycbTTg65K/s320/Cusco+-+Peru+(16)_WM.jpg" width="320" /></a></div>
Infelizmente, quando os espanhóis chegaram na América do Sul, no início do século XVI, já encontraram o império Inca fragilizado por uma guerra civil ocasionada pela sucessão política, que levou a uma disputa acirrada pelo poder entre os dois filhos do imperador. Essa cisão interna do império Inca explica como - através de uma série de injustiças, alianças e traições - um exército formado por pouco mais de uma centena de espanhóis foi capaz de conquistar uma legião composta por cerca de 20 mil soldados Incas. O fato é que em algumas centenas de anos as antigas cidades Incas foram praticamente destruídas e reconstruídas pelos 'conquistadores', os últimos membros da linhagem de imperadores foram assassinados e, por muito tempo, qualquer identificação com a cultura Inca - como o uso da língua do antigo império, o quechua, ou o culto aos antigos deuses Incas - foi expressamente proibido. Por muito tempo, as 'ruínas' do antigo império foram mantidas em estado de total abandono, praticamente desaparecendo em meio às matas e montanhas locais. Deviso a esse (des) encontro de civilizações, jamais poderemos saber como teria sido o desenvolvimento desta sociedade andina.<br />
<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvrYVMF7GnJw5l6hMMawWegMp7Wq9HPGF8Kqz8nCngZtzH4AFaW0yHsy_1a82r-rXkWmmxLiTGOC0TyIfw9vdSfufJlojEcRjNncehMdaFK9KeusI4tmNpY3BisTSDiJO5OSFIKMcz87xt/s1600/Cusco+-+Festa+Popular+(18)_WM.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvrYVMF7GnJw5l6hMMawWegMp7Wq9HPGF8Kqz8nCngZtzH4AFaW0yHsy_1a82r-rXkWmmxLiTGOC0TyIfw9vdSfufJlojEcRjNncehMdaFK9KeusI4tmNpY3BisTSDiJO5OSFIKMcz87xt/s320/Cusco+-+Festa+Popular+(18)_WM.jpg" width="320" /></a></div>
No entanto, a cultura, a língua e a cosmologia dos Incas permanece 'viva' nos campesinos indígenas que habitam regiões como o Vale Sagrado, onde continuam praticando e desenvolvendo técnicas agrícolas herdadas de seus antepassados; nas manifestações folclóricas e culturais do povo cusquenho, cuja boa parte ainda fala a língua quechua; na agrobiodiversidade local, rica em variedades de milho, batata e outros tubérculos e frutas locais; nas danças e músicas típicas; nas histórias e lendas relatadas pelos moradores mais antigos; nos movimentos indígenas, campesinos e populares que predominam na região; além, é claro, de uma culinária local repleta de pratos típicos como o "Cuy ao forno" e o "Ceviche".<br />
<br />
Em meados do século XIX, a província de Cusco recebeu a visita de exploradores e comerciantes europeus, que percorreram a região em busca de tesouros minerais e arqueológicos. Assim, os vestígios de ouro e argila ainda existentes nos antigos sítios Incas foram contrabandeados para museus europeus e norte-americanos, finalizando uma história de roubo e violência colonial. Durante muito tempo a região de Cusco foi praticamente abandonada pelo Estado do Peru e, em meados dos anos 1990, estava ocupada por grupos terroristas e movimentos revolucionários. <br />
<br />
Ao final da década de 1990, com as reformas políticas e econômicas, o governo do Peru voltou sua atenção à região de Cusco, fazendo uso político de inúmeros estudos históricos e arqueológicos realizados autonomamente por pesquisadores peruanos e estrangeiros, dando início a um processo histórico de luta pelo reconhecimento da cidade e seus arredores como um sítio arqueológico de valor humanitário.<br />
<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYLpfQkFCbWQ6sPtw_aAaV3VPVCQiLppoufzls0jzV8XkuYs2IWjr2w7dm2PJI0XSovl3b64K-jHYugmf2xuS_aG50PGYltV6fEsKOQ2jmjLVM1iiwvc_-nWTJoK9Ob4TV8tk5aSPhRY0g/s1600/Cusco+-+Pachacuteq+(6)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhYLpfQkFCbWQ6sPtw_aAaV3VPVCQiLppoufzls0jzV8XkuYs2IWjr2w7dm2PJI0XSovl3b64K-jHYugmf2xuS_aG50PGYltV6fEsKOQ2jmjLVM1iiwvc_-nWTJoK9Ob4TV8tk5aSPhRY0g/s320/Cusco+-+Pachacuteq+(6)_WM.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
Após o reconhecimento oficial de Machu Picchu como um patrimônio da humanidade pela Unesco, Cusco passou a receber uma legião de turistas provenientes de países do mundo inteiro. Com isso, boa parte da população local está envolvida direta ou indiretamente com atividades de turismo, retirando daí parte de sua renda. Ao mesmo tempo, teve início um movimento amplo de reconhecimento de identidades e culturas andinas locais, com o incentivo a projetos de 'revitalização cultural' promovidos por agências locais de desenvolvimento, levando à multiplicação, em poucos anos, das iniciativas folclóricas e culturais promovidas pela população local.<br />
<br />
Nesta postagem, pretendo mostrar algumas fotos retratando vestígios arqueológicos localizados na cidade de Cusco, em vilas e povoados dos arredores e na antiga cidade Inca de Machu Picchu, reservando para outras postagens um relato fotográfico sobre outros trechos da viagem, como uma festa popular camponesa que tive a oportunidade de acompanhar e as visitas ao Mercado Público local e ao Museu de Plantas Medicinais Andinas.<br />
<br />
<b><u>Chinchero, Cusco - Peru</u></b><br />
<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyCDQDIy-9en0WSTuQH4mmeIky-MmA5cmFD5mU9xF-bM-FMdrYfk5CAvhGZFEN1XBu59JRBUmY3v__UFig7NzLUGqZD7fHrnAOk0Ok6SpfBUovyE-2MdMtwnF0boLMJHdkSwYLnbRQE_FQ/s1600/Cusco+-+Chinchero+%252816%2529_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyCDQDIy-9en0WSTuQH4mmeIky-MmA5cmFD5mU9xF-bM-FMdrYfk5CAvhGZFEN1XBu59JRBUmY3v__UFig7NzLUGqZD7fHrnAOk0Ok6SpfBUovyE-2MdMtwnF0boLMJHdkSwYLnbRQE_FQ/s400/Cusco+-+Chinchero+%252816%2529_WM.jpg" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilX8mNR7GG98MkWxz0ZdRacLP_mnRPSwxZ4Zz2gOfBq96XYt3M1wzP8HxDMJUxCr1qhnaLtX2sMfCD0PAREHdu_2a5FPD3FXvTf40Ohi8hE77kr-ldBlGoFQLmhDy-N5cpkV6ynv99Q0G8/s1600/Cusco+-+Chinchero+%25281%2529_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEilX8mNR7GG98MkWxz0ZdRacLP_mnRPSwxZ4Zz2gOfBq96XYt3M1wzP8HxDMJUxCr1qhnaLtX2sMfCD0PAREHdu_2a5FPD3FXvTf40Ohi8hE77kr-ldBlGoFQLmhDy-N5cpkV6ynv99Q0G8/s400/Cusco+-+Chinchero+%25281%2529_WM.jpg" width="400" /></a></div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDjhRAwZsnYCfoN747z6HcU-lK1xJqvvK-9Jo-K_awY9SqRNJtzkmjF_yOH1czlgVU4d2uv8N6qaJA3hxbSXNr51u75sFKS1M98TKZ5csX4gq_m8IQOD1C5ROMqQs7guCYE9goTULV3FTo/s1600/Cusco+-+Chinchero+%252827%2529_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiDjhRAwZsnYCfoN747z6HcU-lK1xJqvvK-9Jo-K_awY9SqRNJtzkmjF_yOH1czlgVU4d2uv8N6qaJA3hxbSXNr51u75sFKS1M98TKZ5csX4gq_m8IQOD1C5ROMqQs7guCYE9goTULV3FTo/s400/Cusco+-+Chinchero+%252827%2529_WM.jpg" width="400" /></a></div>
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<br /></div>
<b><u>Salineras de Maras, Cusco - Peru</u></b><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEGwa83NgqGNm5Qbf0tz-MQ7MRCOzhztq2eesB66Y1WFgJ8t8F3N4puZDxC8a1vp_zAFtUyqu2R3moiPY5C8vvP1QF6eSje87NlMPb44WALEQS7_DKxvzGjd0PXib5WqqX_GbGVBiqVYs6/s1600/Cusco+-+Maras+(15)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiEGwa83NgqGNm5Qbf0tz-MQ7MRCOzhztq2eesB66Y1WFgJ8t8F3N4puZDxC8a1vp_zAFtUyqu2R3moiPY5C8vvP1QF6eSje87NlMPb44WALEQS7_DKxvzGjd0PXib5WqqX_GbGVBiqVYs6/s400/Cusco+-+Maras+(15)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5xAcxrRV6ebF0O3N3jNCR6T-4BcnDiXIllC9RdVHCeKxHicqJyItMvpN4VdmEJQLIA6tvpIyVgEf3ci6AXCuoOlMt7mSExVOJbF2NLJCII2B7ijiAId3ybwvA9keOmq0r5xoGzTvvMqnm/s1600/Cusco+-+Maras+(22)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5xAcxrRV6ebF0O3N3jNCR6T-4BcnDiXIllC9RdVHCeKxHicqJyItMvpN4VdmEJQLIA6tvpIyVgEf3ci6AXCuoOlMt7mSExVOJbF2NLJCII2B7ijiAId3ybwvA9keOmq0r5xoGzTvvMqnm/s400/Cusco+-+Maras+(22)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<b><u>Sítio Arqueológico de Moray, Cusco - Peru</u></b><br />
<b><u><br /></u></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-SW0bdP6rHn9zshn0ujfz0mQUzDi154EaDUW0wziiRXBXQ_zykVAI7gDMfRHXpT4Tv1QpLafMzLYAPK95qs8T2RoW-DAIaFTbgl0fW9cGL9GQjCFuconRW5FUPv4ogRdgmtpBOBg6z6gs/s1600/Cusco+-+Moray+(7)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg-SW0bdP6rHn9zshn0ujfz0mQUzDi154EaDUW0wziiRXBXQ_zykVAI7gDMfRHXpT4Tv1QpLafMzLYAPK95qs8T2RoW-DAIaFTbgl0fW9cGL9GQjCFuconRW5FUPv4ogRdgmtpBOBg6z6gs/s400/Cusco+-+Moray+(7)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg21Za6j8I9Z-XTT1yuDtuicjftlIoCekKRkdaVb-TjlUOZslMSJnGxuhPn8237bOKmOSmoEaZhRSyw97YgMr5WbPVJGsYgcm8ttYxkZVGJWJESJLjYBZZja8G2thnvxtwSXf1PwzAjKuza/s1600/Cusco+-+Moray+(9)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg21Za6j8I9Z-XTT1yuDtuicjftlIoCekKRkdaVb-TjlUOZslMSJnGxuhPn8237bOKmOSmoEaZhRSyw97YgMr5WbPVJGsYgcm8ttYxkZVGJWJESJLjYBZZja8G2thnvxtwSXf1PwzAjKuza/s400/Cusco+-+Moray+(9)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIpWjPKXPM6IzjDBbxehkAyveiONJac3nqhCk9hyphenhyphen5xcO-2APBovCdahR0m-YnivbKs1GsszvtLpXXLA07ZtVtYZXD8CaBCwk7UqkcC-my4IQT5pRb0gfcjEYcxVY_aBZ6iVzbd9pVskCx6/s1600/Cusco+-+Moray+(19)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIpWjPKXPM6IzjDBbxehkAyveiONJac3nqhCk9hyphenhyphen5xcO-2APBovCdahR0m-YnivbKs1GsszvtLpXXLA07ZtVtYZXD8CaBCwk7UqkcC-my4IQT5pRb0gfcjEYcxVY_aBZ6iVzbd9pVskCx6/s400/Cusco+-+Moray+(19)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<b><u><br /></u></b>
<b><u>Sítio Arqueológico de Pisac, Cusco - Peru</u></b><br />
<b><u><br /></u></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3siiC0ghqbcKF71Sl1r3oAHjgUox53nbGshQYMk4kRCY7L9IOS4aVztcBA0TRjwGmT7Mm2jIKflhpa4FA-LVV19N2_Qg1lbH0j7Zn7iq5gDKFrvhpv_G778_oE03aKKlXqCs-GSm-TZP7/s1600/Cusco+-+Pisac+(26)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3siiC0ghqbcKF71Sl1r3oAHjgUox53nbGshQYMk4kRCY7L9IOS4aVztcBA0TRjwGmT7Mm2jIKflhpa4FA-LVV19N2_Qg1lbH0j7Zn7iq5gDKFrvhpv_G778_oE03aKKlXqCs-GSm-TZP7/s400/Cusco+-+Pisac+(26)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmny_hLu5n0teLAgG1ycEyaXWUm-aHzUVvJUhkhUft2ucBxz2364TfHt5IFV-vybyujDo-zN_GVaZszjMbUFacCLg8km5yZZMkytMqpdN8q0Vj-VDOavOvntdAEJhhBmCUhanEuSjRbPAs/s1600/Cusco+-+Pisac+(8)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgmny_hLu5n0teLAgG1ycEyaXWUm-aHzUVvJUhkhUft2ucBxz2364TfHt5IFV-vybyujDo-zN_GVaZszjMbUFacCLg8km5yZZMkytMqpdN8q0Vj-VDOavOvntdAEJhhBmCUhanEuSjRbPAs/s400/Cusco+-+Pisac+(8)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><u>Sítio Arqueológico de Saqsayhuamán, Cusco - Peru</u></b></div>
<b><u><br /></u></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSJuel4WPrsS3MByhMfl7-jsQq4BEj9eQFJJuFt7leYD3Ra8-ByrYItN0cq0F8dh7DDxzNfqjwfi_2yCaCc5pu7T2GURQlXCFA0iOXA_fsQbPjewXW8QIZGc35Ff5zbWnEk-aCDgkpfwNZ/s1600/Cusco+-+Saqsayhuam%C3%A1n+(11)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSJuel4WPrsS3MByhMfl7-jsQq4BEj9eQFJJuFt7leYD3Ra8-ByrYItN0cq0F8dh7DDxzNfqjwfi_2yCaCc5pu7T2GURQlXCFA0iOXA_fsQbPjewXW8QIZGc35Ff5zbWnEk-aCDgkpfwNZ/s400/Cusco+-+Saqsayhuam%C3%A1n+(11)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUP-KYf9XG9gmY6IuEuytWevOglG4pHAlsuFoAxwW_8QnYW2EsPr8RNCE9hZGg3D9HbqHGsKmCKAPFGJ2I4YoXf70Y0UEY_ahCYC_I1qs7moxTCK5mWL5u6n4dYMe5XO_56j5voPHqjdjN/s1600/Cusco+-+Saqsayhuam%C3%A1n+(18)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgUP-KYf9XG9gmY6IuEuytWevOglG4pHAlsuFoAxwW_8QnYW2EsPr8RNCE9hZGg3D9HbqHGsKmCKAPFGJ2I4YoXf70Y0UEY_ahCYC_I1qs7moxTCK5mWL5u6n4dYMe5XO_56j5voPHqjdjN/s400/Cusco+-+Saqsayhuam%C3%A1n+(18)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<b><u><br /></u></b>
<b><u>Sítio Arqueológico de Tipon, Cusco - Peru</u></b><br />
<b><u><br /></u></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVm08HKuweTFvE2V2Q9iGgQnkoOnvtNzKZYfEAh75YkVpDwxhtYEzrVnO7dR4KP0E1RrXdPwSCVNpVhA2MR8h0ui34drado9uEGK6ukCMxbnX6vA1BePy8XkwjDcYfohHyTXWSgV4Y-r3I/s1600/Cusco+-+Tipon+(28)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVm08HKuweTFvE2V2Q9iGgQnkoOnvtNzKZYfEAh75YkVpDwxhtYEzrVnO7dR4KP0E1RrXdPwSCVNpVhA2MR8h0ui34drado9uEGK6ukCMxbnX6vA1BePy8XkwjDcYfohHyTXWSgV4Y-r3I/s400/Cusco+-+Tipon+(28)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOBftAR36j7pcJZbo6-SUuH_6Bh8TOox6esymkNIJ5F_MH_Zgoe8UYj67wAaq680x6fFgtrvVZMO7MekUBMuUk1TWe_dBLjQmIVH-FKm7sjewWaXYNgGkBfMNS0rS7OP3ud7st18Rq46qe/s1600/Cusco+-+Tipon+(32)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOBftAR36j7pcJZbo6-SUuH_6Bh8TOox6esymkNIJ5F_MH_Zgoe8UYj67wAaq680x6fFgtrvVZMO7MekUBMuUk1TWe_dBLjQmIVH-FKm7sjewWaXYNgGkBfMNS0rS7OP3ud7st18Rq46qe/s400/Cusco+-+Tipon+(32)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<b><u><br /></u></b>
<b><u>Templo del Sol, Cusco - Peru</u></b><br />
<b><u><br /></u></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnRM5WQuuujpQG2vw03EznEwU04uTSxBx-V8Qrx-oRBBQ9JEQ35PdNODjk8u7dSf4180lAiAqQhAIRPdjfGe0o0LdRcpEn4fM8VwGFxwfSi_PqE4mc3LbN5XAsZToB-PrBZIBK6FBKnMr7/s1600/Cusco+-+Templo+do+Sol+2+(3)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjnRM5WQuuujpQG2vw03EznEwU04uTSxBx-V8Qrx-oRBBQ9JEQ35PdNODjk8u7dSf4180lAiAqQhAIRPdjfGe0o0LdRcpEn4fM8VwGFxwfSi_PqE4mc3LbN5XAsZToB-PrBZIBK6FBKnMr7/s400/Cusco+-+Templo+do+Sol+2+(3)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOAbdSvexZnTE_A_aR6tKzhUYavD-DTkO_fYKBa1-uSesYvz8hoi3x0mKE6XHJ_PZ0dEIKdyYQLOttffC1yV9473RpLE1OND21WTKJ34tvFPRvMsxp5_ROuWKf1Zm6NXwOqnGRHv9iRMkF/s1600/Cusco+-+Templo+do+Sol+2+(8)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjOAbdSvexZnTE_A_aR6tKzhUYavD-DTkO_fYKBa1-uSesYvz8hoi3x0mKE6XHJ_PZ0dEIKdyYQLOttffC1yV9473RpLE1OND21WTKJ34tvFPRvMsxp5_ROuWKf1Zm6NXwOqnGRHv9iRMkF/s400/Cusco+-+Templo+do+Sol+2+(8)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><u>Machu Picchu & Huayna Picchu, Cusco - Peru</u></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><u><br /></u></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-f2_qj1foXtqjMiBAz2ArDKSVQmrb3GB8BZ8Zwt4vjXQj6XJ44oPMuqEwvkKOGtAcg-Y5OSdpyb74uRHpY32BbZezTkceh3rIpESRhiS3JpgMnGtXp0D4uYnRvwwXI4YLMgA4A7xFnIRB/s1600/Huaynapichu+2+(52)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi-f2_qj1foXtqjMiBAz2ArDKSVQmrb3GB8BZ8Zwt4vjXQj6XJ44oPMuqEwvkKOGtAcg-Y5OSdpyb74uRHpY32BbZezTkceh3rIpESRhiS3JpgMnGtXp0D4uYnRvwwXI4YLMgA4A7xFnIRB/s400/Huaynapichu+2+(52)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZkqYv6vzvrhgDGX2n7ZdoGTS7miaF7d7c06hVmWqMU9UKO_Ab7C5yTLzM8Y2EFhPThB42bdMxQaHdjOYVRu0dkDP2bZK6IT2XDrUlTU0l8VBSvR0WDYyLlBkV8Njq6OAA7fzJcqDIqapE/s1600/Huaynapichu+2+(55)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZkqYv6vzvrhgDGX2n7ZdoGTS7miaF7d7c06hVmWqMU9UKO_Ab7C5yTLzM8Y2EFhPThB42bdMxQaHdjOYVRu0dkDP2bZK6IT2XDrUlTU0l8VBSvR0WDYyLlBkV8Njq6OAA7fzJcqDIqapE/s400/Huaynapichu+2+(55)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmiQoCw6zbI8BeM4v1eP_qLWAifTLUreGwnfJtJxmJCNlU6DbHAPGP6OjdcbBARe29bPpOZx21OhMMa5a5E58oSpKy1YLnqWNcnosez51xNA7VXgELclcC7zhlxqJ5pIbiVDbxv4bF8VuP/s1600/Huaynapichu+2+(57)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhmiQoCw6zbI8BeM4v1eP_qLWAifTLUreGwnfJtJxmJCNlU6DbHAPGP6OjdcbBARe29bPpOZx21OhMMa5a5E58oSpKy1YLnqWNcnosez51xNA7VXgELclcC7zhlxqJ5pIbiVDbxv4bF8VuP/s400/Huaynapichu+2+(57)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCMQj2cI11sdWDRhaJS7WeNe6eBfsQFDnGWWkXhgDcqxsCROc-JbOyJ5Hik2jMe1LEifmCyi6C8hKMT0ThnHxrHN2peKungvG8VvV8Os2NcggY0nz1lwmPb2et4uXpu6_1WPoBz-pwRjoN/s1600/Machupichu+&+Huaynapichu_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCMQj2cI11sdWDRhaJS7WeNe6eBfsQFDnGWWkXhgDcqxsCROc-JbOyJ5Hik2jMe1LEifmCyi6C8hKMT0ThnHxrHN2peKungvG8VvV8Os2NcggY0nz1lwmPb2et4uXpu6_1WPoBz-pwRjoN/s400/Machupichu+&+Huaynapichu_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvpBe0IPibaCSBpMhFSwWG9NyzTImyArjDud4RcDMxb3ufeHZWgaIxE2pE3hfJQAlyZdhM1BkhUY9rebUKS3JS2oJv2CakCTGAIeFCI06Ha7ghpk8uVQl_N4S0R0RrpMz2VLLd1WWIpeP2/s1600/Machupichu+-+Templo+3+ventanas+(1)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgvpBe0IPibaCSBpMhFSwWG9NyzTImyArjDud4RcDMxb3ufeHZWgaIxE2pE3hfJQAlyZdhM1BkhUY9rebUKS3JS2oJv2CakCTGAIeFCI06Ha7ghpk8uVQl_N4S0R0RrpMz2VLLd1WWIpeP2/s400/Machupichu+-+Templo+3+ventanas+(1)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTASquAuW6xt5ZymDnj8oYpHZgBHurP9fO_3n1NtYrvYi7tvcOYxdHgyYI9US0cJvJzfhmzvxZRJA3OstBbKZH-p1pTliy7ZKq1yYxWiQPmP6RGlJstftXgqoNK5rPbFoJSSesARy2OFfs/s1600/Machupichu+-+Templo+3+ventanas+(3)_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTASquAuW6xt5ZymDnj8oYpHZgBHurP9fO_3n1NtYrvYi7tvcOYxdHgyYI9US0cJvJzfhmzvxZRJA3OstBbKZH-p1pTliy7ZKq1yYxWiQPmP6RGlJstftXgqoNK5rPbFoJSSesARy2OFfs/s400/Machupichu+-+Templo+3+ventanas+(3)_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPcSahh1hb3TuNCMc1nr9EGnS63GpRJQCu3lkyeC5A9I3LYDBcsIrZ3-RQod-VsLcX0E3GddsiifBd8hPm8guASSu3knKp8q8SPbb19RO3tUoholOv4HB6J1qrYiFEB7TtUcwGFWmHgDY3/s1600/Machupichu+-+Templo+do+Sol_WM.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPcSahh1hb3TuNCMc1nr9EGnS63GpRJQCu3lkyeC5A9I3LYDBcsIrZ3-RQod-VsLcX0E3GddsiifBd8hPm8guASSu3knKp8q8SPbb19RO3tUoholOv4HB6J1qrYiFEB7TtUcwGFWmHgDY3/s400/Machupichu+-+Templo+do+Sol_WM.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><u><br /></u></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<b><u>Sítio Arqueológico Pikillacta Wari, Cusco - Peru</u></b></div>
<b><u><br /></u></b>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<b><u><br /></u></b>
<b><u><br /></u></b>Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-41904761126878601362013-05-10T11:09:00.000-03:002013-05-23T07:49:48.163-03:00"Spinoza - Filosofia Prática" - G. Deleuze A filosofia é a arte de invenção de conceitos. Fazer filosofia, ou 'filosofar', implica experimentar com sistemas ou linguagens conceituais, mas não para reproduzi-los de maneira didática ou para reificá-los como princípios gerais e universais associados a uma doutrina moral, tratado lógico ou racional, mas para romper toda e qualquer estrutura de forma a elevá-la à sua última e derradeira potencia, o que significa corromper sua suposta unidade até que a multiplicidade fundante torne-se explícita e, novamente, produtiva.<br />
<br />
Por isso, para Deleuze, experimentar filosofias não consiste em abordá-las como uma unidade - uma obra, um autor, uma teoria - que deve ser refutada ou admitida em sua totalidade. Para experimentar conceitos ou ideias não precisamos firmar compromisso com todo o castelo conceitual no qual estão imersas e com o qual formam um todo ou uma estrutura sistemática mais ou menos coerente. Não é preciso ser spinozista para experimentar algumas ideias sugeridas ou expressas na filosofia de Spinoza, apesar dessa 'experiência' ter um efeito em nossa vida. Cada autor tem sua própria caixa de ferramentas, que pode ser justaposta ou colocada em ação de forma completamente inovadora, compondo com outras ideais, autores e teorias. Afinal, é isso que torna possível colocar em relação preceitos teóricos e conceitos provenientes de filosofias 'opostas' ou supostamente incomensuráveis.<br />
<br />
É exatamente por que os campos ideacionais estão sempre abertos ao mundo da vida - da mesma forma que o sujeito e a subjetividade - que eles podem sofrer deslocamentos, rupturas e desvios, assumindo novas formas ao serem incorporados em novos sistemas ideacionais. A filosofia deve ser sempre libertadora.<br />
<br />
Não é preciso, portanto, tornar-se um 'spinozista' para fazer uso mais ou menos alternativo de algumas de suas ideias e conceitos. Esse seria, por assim dizer, o modo deleuzeano de se relacionar com a filosofia de Spinoza: uma experimentação com alguns de seus conceitos ou ideias, sem maior compromisso em defender didaticamente o seu sistema filosófico como um todo, mas sempre elevando essa relação com conceitos à última potência, retirando dela o maior número de possibilidades, sem nunca alcançar concretamente a sua multiplicidade virtual. <br />
<br />
No que refere à abordagem de autores, obras e teorias, só existe uma única regra: deixem o pensamento exercer a sua função libertadora! <br />
<br />
Mas voltando à leitura deleuziana de Spinoza, ou melhor, à minha leitura dessa leitura (o que temos são sempre interpretações de interpretações), não sejamos assim tão 'puristas'. Nesta breve postagem, gostaria apenas de esboçar anotações para uma futura reflexão sobre alguns pontos que são, por assim dizer, fundamentais para a minha (atual) relação com a filosofia deleuziana (perpassada pela sua apropriação de Spinoza). Essas anotações foram escritas a partir da leitura paralela de dois livros: "Espinoza: filosofia prática", de Gilles Deleuze (Editora Escuta); e "Ética", de Spinoza (edição bilíngue, Autêntica). Com isso, não tenho a menor pretensão em descrever o sistema filosófico de Spinoza, mas de apresentar algumas notas sobre a equação: "Deleuze + Spinoza/X = uma filosofia prática".<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFkK9rJNLhUxF3vVmsbRMZNNpYbUO7FCwgEFmJ3WSw_tEn097belboXcvyj6yN9o-mf-wm_DwLszwT9QeRdlU5qIGBVd1Wq9RIy3vNFy4nO3yO32kBF_bo5kWzkE8mwTkuEC9uRszgFQ-3/s1600/Spinoza_3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="146" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiFkK9rJNLhUxF3vVmsbRMZNNpYbUO7FCwgEFmJ3WSw_tEn097belboXcvyj6yN9o-mf-wm_DwLszwT9QeRdlU5qIGBVd1Wq9RIy3vNFy4nO3yO32kBF_bo5kWzkE8mwTkuEC9uRszgFQ-3/s320/Spinoza_3.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
[A delimitação em sub-títulos dos itens aqui expostos não reflete uma pretensão de didatismo, mas busca expressar a noção subjacente de multiplicidade presente em todo e qualquer sistema conceitual, apontando para o fato dessas notas não formarem um todo "Uno" - sistema coerente de coordenadas ideacionais com latitude e longitude bem delimitadas - mas um mosaico de elementos cuja ordem pode ser invertida ou corrompida, possibilitando que cada ideia possa ser destacada individualmente e explorada enquanto um campo de problematização próprio, ou até mesmo colocado em composição com elementos ausentes]. <br />
<br />
<b>O 'filosofar' enquanto experiência existencial de ordem prática</b><br />
<br />
A primeira observação diz respeito à abordagem deleuziana de alguns conceitos e pressupostos teóricos retirados de Spinoza. Essa abordagem não deve ser meramente didática, mas um experimento de ordem prática que tem um reflexo inevitável na própria forma como vivemos e pensamos a nossa relação com o mundo. Não se trata, portanto, de reproduzir um conjunto estável de definições mais ou menos precisas de conceitos ou de repetir uma determinada linguagem conceitual, mas de retirar desses conceitos uma nova possibilidade de viver a vida. No lugar de uma aventura epistemológica e linguística, estamos diante de uma jornada ontológica:<br />
<br />
"(...) uma única Natureza para todos os corpos, uma unica Natureza para todos os indivíduos, uma Natureza que é ela própria um indivíduo variando de uma infinidade de maneiras. Não é mais a afirmação de uma substância única, é a exposição de um <i>plano comum de imanência </i>em que estão todos os corpos, todas as almas, todos os indivíduos. Esse plano de imanência ou de consistência não é um plano no sentido de um desígnio no espírito, projeto, programa, é um plano no sentido geométrico, seção, intersecção, diagrama. Então, estar no meio de Spinoza é estar nesse plano modal, ou melhor, instalar-se nesse plano; o que implica um modo de vida, uma maneira de viver. Em que consiste esse plano e como construí-lo? Pois é ao mesmo tempo completamente plano de imanência, e todavia deve ser construído, para que se viva de maneira espinosista" ("Spinoza: filosofia prática" - G. Deleuze, p. 127).<br />
<br />
Não se trata, portanto, de <i>interpretar</i>, <i>explicar</i> ou <i>compreender </i>Spinoza, mas de viver e experimentar (com) o seu pensamento.<br />
<b><br /></b><b>Spinoza propõe o corpo como modelo para pensar o pensamento </b><br />
<br />
Estamos diante de um 'Spinoza Materialista', mas não se trata de inverter a assimetria histórica entre alma e corpo, onde o fortalecimento de um implica na anulação do outro (e vice-versa, como nos 'perigos da carne ao bem estar espiritual'), mas em defender um 'paralelismo' entre corpo e espírito.<br />
<br />
"Trata-se de mostrar que o corpo ultrapassa o conhecimento que dele temos, e <i>o pensamento não ultrapassa menos a consciência que dele temos. </i>(...) Procuramos adquirir um conhecimento das potências do corpo para descobrir <i>paralelamente</i> as potências do espírito que escapam à consciência, e poder <i>compará-los" </i>(Idem, p. 24)<i>. </i><br />
<br />
Na "Ética", de Spinoza, o que é ação na alma é também ação no corpo. As ideias possuem extensão corporal, assim como todo corpo possui um caráter ideacional: "(...) que a mente e o corpo são uma só e mesma coisa, a qual é concebida ora sob o atributo do pensamento, ora sob o da extensão. Disso resulta que a ordem ou a concatenação das coisas é uma só, quer se conceba a natureza sob um daqueles atributos, quer sob o outro e, consequentemente, que a ordem das ações e das paixões de nosso corpo é simultânea, em natureza, à ordem das ações e das paixões da mente" ("Ética" - Spinoza, terceira parte, p. 100).<br />
<br />
"Assim, a própria experiência ensina, não menos claramente que a razão, que os homens se julgam livres apenas porque estão conscientes de suas ações, mas desconhecem as causas pelas quais são determinados. Ensina também que as decisões da mente nada mais são do que os próprios apetites: elas variam, portanto, de acordo com a variável disposição do corpo. (...) Sem dúvida, tudo isso mostra claramente que tanto a decisão da mente, quanto o apetite e a determinação do corpo são, por natureza, coisas simultâneas" (Ibidem, p. 102-3). <br />
<b><br /></b><b>O corpo como o efeito da dinâmica de múltiplas singularidades ou forças que entram em composição </b><br />
<br />
Os corpos são definidos por Spinoza de duas formas: a) "todo corpo comporta uma infinidade de partículas: são as relações de repouso ou movimento, de velocidades e de lentidões entre partículas que definem um corpo, a individualidade de um corpo" (Deleuze, idem, p. 128); b) "um corpo afeta outros corpos, ou é afetado por outros corpos: é este poder de afetar e ser afetado que também define um corpo em sua individualidade" (Ibidem). "O importante é conceber a vida, cada individualidade de vida, não como uma forma, mas como uma relação complexa entre velocidades diferenciais, entre abrandamento e aceleração de partículas. (...) Concretamente, se definirmos os corpos e os pensamentos como poderes de afetar e ser afetado, muitas coisas mudam. Definiremos um animal, ou um homem, não por sua forma ou por seus órgãos e suas funções, e tampouco como sujeito: nós o definiremos pelos afetos de que ele é capaz" (ibidem).<br />
<br />
Primeira observação: todo corpo é composto por forças ou singularidades que entram em relação de associação, formando um sistema dinâmico e múltiplo. Esse sistema possui um certo grau de intensidade, marcado por um ritmo de composição e expressão de partículas menores. O corpo é, portanto, uma unidade que não anula a multiplicidade, mas se compõe através dela, uma multiplicidade em potencial (virtual), viva e atuante. Um conjunto de órgãos que estão em relação de associação entre si, que estabelecem um ritmo de composição, que se colocam em movimento de convergência e divergência, formando um coletivo mais amplo, uma individualidade.<br />
<br />
Segunda observação: a tese do paralelismo. Toda ideia é composta por forças ou singularidades que entram em relação de associação, formando um sistema dinâmico e múltiplo... (idem). As ideias existem como forças que entram em relação de associação ou dissociação, formando sistemas mais amplos, configurando novos campos de problematização. Se o corpo é coletivo, a mente também é. O pensamento implica a multiplicidade, constituindo-se através dela, alimentando-se de sua potencialidade virtual. <br />
<br />
Os corpos são conjuntos dinâmicos de afetos e afecções e não podem ser avaliados a partir da sua forma ou função, mas a partir da sua potência de afetar e ser afetado por outros corpos<br />
<br />
"Por afeto compreendo as afecções do corpo, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, estimulada ou refreada e, ao mesmo tempo, as ideias dessas afecções. <i>Explicação</i>. Assim, quando podemos ser a causa adequada de alguma dessas afecções, por afeto compreendo, então, uma ação; em caso contrário, uma paixão. <i>Postulados: </i>1. O corpo humano pode ser afetado de muitas maneiras, pelas quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída, enquanto outras tantas não tornam sua potência de agir nem maior nem menor" (Ética, Spinoza, p. 99). <br />
<br />
<b>Desvalorização de todos os valores e sobretudo do bem e do mal (Spinoza, o imoralista) </b><br />
<br />
Se todos os corpos são caracterizados, por um lado, pelo ritmo e intensidade das forças que entram em composição e, por outro lado, pela capacidade de afetar e ser afetado, deduzi-se daí que todo e qualquer corpo possui sua integridade demarcada pela sua potência (afecções + afetos, que dizem respeito a sua relação com outros corpos) e pela sua dinâmica (certo ritmo ou intensidade de movimentos que demarca a sua individualidade), isso significa que a continuidade de um corpo depende da manutenção dessas duas variáveis em limites aceitáveis.<br />
<br />
Ao mesmo tempo, tanto os corpos como as ideias (tese do paralelismo) entram constantemente em relação de composição, atraindo-se ou repelindo-se conforme a situação e o contexto relacional, sendo que essas relações podem ser benéficas ou maléficas no que se refere à manutenção dos dois atributos que caracterizam toda e qualquer corporalidade. Isso significa que aquilo que é 'bom' contribui para potencializar ou fortalecer seja a potência de um corpo (sua capacidade de afetar ou ser afetado), seja a dinâmica (ritmo e intensidade das forças que o compõem), sendo 'mal' tudo aquilo que contribui para transformações ou mutações que alteram esse estado individual.<br />
<br />
"O bom existe quando um corpo compõe diretamente a sua relação com o nosso, e, com toda ou com uma parte de sua potência, aumenta a nossa. Por exemplo, um alimento. O mal para nós existe quando um corpo decompõe a relação do nosso, ainda que se componha com nossas partes, mas sob outras relações que aquelas que correspondem à nossa essência: por exemplo, como um veneno que decompõe o sangue. Bom e mau têm pois um primeiro sentido, objetivo, mas relativo e parcial: o que convém a nossa natureza e o que não convém. E, em consequência, bom e mau têm um segundo sentido, subjetivo e modal, qualificando dois tipos, dois modos de existência do homem: será dito <i>bom </i>(ou livre, ou razoável, ou forte) aquele que se esforça, tanto quanto pode, por organizar os encontros, por se unir ao que convém à sua natureza, por compor a sua relação com relações combináveis e, por esse meio, aumentar a sua potência. Dir-se-á <i>mau</i>, ou escravo, ou fraco, ou insensato, aquele que vive ao acaso dos encontros, que se contenta em sofrer as consequências, pronto a gemer e a acusar toda vez que o efeito sofrido se mostra contrário e lhe revela a sua própria impotência" (Deleuze, Idem, p. 28-9).<br />
<br />
<i>Bom </i>e <i>Mau, </i>portanto, não são categorias absolutas, determinadas por uma moral que busca universalizar valores transcendentes, válidos para todos os homens, em todos os tempos, em todas as situações históricas.<br />
<br />
Alguns exemplos que me ocorrem neste momento.<br />
<br />
Um homem intempestivo e raivoso - cujas forças internas se compõem de determinada forma, caracterizando um ritmo de intensidade e potência - não é, em si mesmo, um homem mau. Ele será (ou poderá) ser mau para uma pessoa pacífica, medrosa e indefesa, quando e se essa pessoa entrar em uma trajetória de conflito com ele - principalmente em situações em que o segredo garante o anonimato da ação ou quando esse homem mau for também ateu, destemido, ladrão, louco ou assassino. Esse encontro (ou desencontro) poderá significar o aniquilamento da pessoa pacífica e medrosa diante da pessoa destemida, aguerrida e raivosa, evento permeado por um conjunto de condicionantes externos (bebidas, paixões, angústias, imagens-afetos). Mas, quando o homem raivoso e destemido é colocado em uma situação de guerra, ali, no campo de batalha, a sua raiva torna-se em elemento de libertação, será o veiculo ou a ferramenta utilizada para libertar o povo da opressão de um ditador. Um exército de homens raivosos pode representar a 'salvação de uma nação', ou a sua redenção (como nas Cruzadas Cristãs). A raiva e o ódio - em ocasiões específicas - são atributos facilmente transformados em ferramentar de libertação 'divina'. Assim como a coragem pode ser o veículo de uma grande tragédia ou a desatenção ser o motivo de um acidente terrível ou de uma grande descoberta científica. Assassinos comuns também são transformados em verdadeiros heróis. 'Salvadores da pátria' podem ser raivosos, opressores e destemidos e, mesmo assim, serem considerados 'benevolentes' ou até mesmo 'divinos'.<br />
<br />
O fogo pode entrar em diferentes composições com o meu corpo, algumas delas benéficas (o fogo que esquenta o corpo em uma noite fria), outras extremamente maléficas (o corpo que queima a pele), mas o fogo 'em si' não é bom ou mau. Ele pode, por exemplo, servir para cozinhar alimentos ou para afastar inimigos, mas também ser o veículo da destruição e da tragédia coletiva ao destruir uma floresta ou uma cidade. <br />
<br />
A planta é composta por um conjunto de elementos ou substâncias, cada uma definida por um conjunto de afecções e afetos, que entram em relação de associação ou dissociação, formando coletivos bioquímicos maiores, que podem agir de forma sistêmica, produzindo certo número de efeitos ou ações em outros corpos ou seres. Esses elementos ou substâncias que entram em relação de composição podem contribuir para fortalecer ou enfraquecer o corpo ou o espírito, podem compor com outros corpos de diferentes formas e em diferentes ritmos. A planta é um conjunto dinâmico de afetos e afecções, uma multiplicidade virtual associada com outros organismos e seres. Essa associação pode ser benéfica ou maléfica conforme a qualidade da relação, resultando em substração, soma ou multiplicação de potência. A planta pode servir de alimento, medicamento ou até mesmo veneno, produzindo efeitos diferenciados conforme a relação entre suas propriedades ou atributos e as afecções do corpo ou indivíduo com o qual ela entra em associação. Mas a planta, 'em si', não é boa ou má, ela apenas produz associações benéficas ou maléficas para este ou aquele corpo, podendo curar, alimentar ou matar. <br />
<br />
<b>A crítica das paixões tristes </b><br />
<br />
Todo individuo é caracterizado pela forma como afeta e é afetado por outros corpos e pela dinâmica das forças que entram em sua composição. Desta forma, a liberdade de ação consiste em buscar 'compor' preferencialmente com outros corpos (ou indivíduos) que agregam vitalidade e potência a nossa existência, seja ampliando a nossa capacidade de afetar e ser afetado, seja fornecendo os elementos necessários para a manutenção da nossa dinâmica individual (certo ritmo ou intensidade que nos caracteriza diante dos demais corpos).<br />
<br />
"Temos três componentes: 1º) nossa essência singular eterna; 2º) nossas relações características (de movimento e de repouso), ou nossos poderes de ser afetado; 3º) as partes extensivas que definem a nossa existência na duração e pertencem à nossa essência enquanto efetuam esta ou aquela de nossas relações (do mesmo modo as afecções externas que preenchem a nossa potência de ser afetado). O 'mau' é quando partes extensivas que nos pertenciam sob uma relação são determinadas do exterior a entrar sob outras relações; ou então quando uma afecção nos toca e excede o nosso poder de ser afetado. Nesse caso, dizemos que nossa relação é decomposta, ou que nosso poder de ser afetado foi destruído" (Ibidem, p. 48). <br />
<br />
O homem <i>bom </i>é aquele que busca orientar suas ações de forma a compor positivamente com outros corpos (ou ideias). O resultado de uma composição positiva com o mundo da vida, efeito de associações que somam ao invés de subtrair, resulta na <i>alegria </i>que emana naturalmente do homem bom, do homem que orienta suas ações buscando a intensificação da sua potência ou vontade de poder. Isso nem sempre resulta em uma atitude 'justa' ou 'boa' diante de toda e qualquer situação da vida, nem mesmo produz necessariamente 'bondade', apesar de possibilitar a afirmação de uma potência e de uma vida sobre outras vidas. O homem bom, de fato, não é bom para todos ou sempre, mas apenas parcialmente e sempre em um sentido único: a sua bondade potencializa a sua força e, desta forma, a própria Natureza. Como todos os corpos e todas as ideias fazem parte de uma única substância, mesmo o homem bom sabe oferecer-se em sacrifício no momento apropriado e, se for realmente 'bom', saberá também tirar o maior proveito disso que puder. Esse é, afinal, o caminho para a eternidade. <br />
<br />
Já o homem <i>mau </i>ou <i>fraco </i>é aquele que se deixa levar por suas paixões e afecções, compondo com outros corpos (ou indivíduos) de maneira a se decompor com o tempo, ou seja, minimizando sua dinâmica individual e sua capacidade de afetar e ser afetados pelos outros. O homem fraco não conhece a si mesmo e aos outros, suas ações são sempre reações ocasionais e oportunistas que o impedem de poder equacionar produtivamente a sua existência. Ele se deixa conduzir pelas suas paixões, afetando-se conforme o acaso e o destino, sem nunca assumir a responsabilidade de conduzir a si próprio e aos outros diante da tormenta. O homem fraco está sempre reclamando da vida, dos infortúnios de outrem e de si mesmo, transformando-se em vítima, justificando seus atos pela fraqueza diante de paixões e desejos que não consegue explicar. O homem mau justifica sua maldade pela fraqueza dos outros, mas sem nunca entender a química que movimenta os corpos, incluindo o seu. Como um louco perdido, o homem fraco vaga sem rumo, trocando alguns segundos de alegria por uma vida de tristeza e amargura existencial.<br />
<br />
"O bom e o mau são duplamente relativos, e exprimem-se um em relação ao outro, e ambos em relação a um modo existente. São os dois sentidos da variação de potência de agir: a diminuição desta potência (tristeza) é má, seu aumento (alegria) é bom. Objetivamente, é bom, desde logo, o que aumenta ou favorece nossa potência de ação, e mau o que a diminui ou a impede; não conhecemos o bom e o mau a não ser pelo sentimento de alegria ou de tristeza de que estamos conscientes. Como a potência de agir é o que abre o poder de ser afetado ao maior número de coisas, é com aquilo que dispõe o corpo de tal maneira que possa ser afetado pelo maior número de modos" (Ibidem, 60).<br />
<br />
<b>Spinoza e a filosofia da vida</b><br />
<br />
"Há, efetivamente, em Spinoza, uma filosofia da 'vida': ela consiste precisamente em denunciar tudo o que nos separa da vida, todos esses valores transcendentes que se orientam contra a vida, vinculados às condições e às ilusões de nossa consciência. (...) quando encontramos um corpo exterior que não convém com o nosso (isto é, cuja relação não se compõe com a nossa), tudo ocorre como se a potência de agir é <br />
diminuída ou impedida, e que as paixões correspondentes são de <i>tristeza</i>. Mas, ao contrário, quando encontramos um corpo que convém à nossa natureza e cuja relação se compõe com a nossa, diríamos que a sua potência se adiciona à nossa: as paixões que nos afetam são de <i>alegria</i>, nossa potência de agir é ampliada ou favorecida. Esta alegria é ainda uma paixão, visto que tem uma causa exterior; permanecemos ainda separados de nossa potência de agir, não a possuímos formalmente. Esta potência de agir não deixa de aumentar de modo proporcional, 'aproximando-nos' do ponto de conversão, do ponto de transmutação que nos torna-rá senhores dela, e por isso dignos de ação, de alegrias ativas" (Ibidem, 33-4).Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-15995772520175552562013-04-14T21:48:00.001-03:002013-06-11T23:36:56.127-03:00O desenvolvimentismo tecnicista e a popularidade do Governo Dilma<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
O desenvolvimentismo tecnicista atingiu o auge de popularidade. Alimentado pelas migalhas de uma política social de eficácia lenta ,o governo Dilma alimenta a mesa dos bancários e empresários, que multiplicam impérios e promovem o avanço do grande Capital. A esse jogo ousou-se chamar de 'novo contrato social', outros preferem a alcunha de 'capitalismo social-democrata'.<br />
<br />
A retórica do 'crescimento' e do 'desenvolvimento' formam a base mito-ideológica de uma governamentalidade que, na prática, segue à risca a agenda neoliberal, com pequenos traços tupiniquins. De um lado a crença no crescimento sem limites,do outro a aplicação tecnicista de uma economia política voltada para a fabricação e multiplicação de 'consumidores', traduzindo cidadania enquanto um mero acesso ao 'mercado'.<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjAJDztlkJpbMjvwQ230vYlPJUIbg-bzBXdQXw2qGoWIS5Fl-d-yEYoFS3SljhqNA6lfvJZJ38uYdydSDlX3dkCxBG6jbJHsVIjogr7C8uFx-Yz5T-AGDKuSUwOXHxrjFyBnVGMQqh7lj7/s1600/Pac.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhjAJDztlkJpbMjvwQ230vYlPJUIbg-bzBXdQXw2qGoWIS5Fl-d-yEYoFS3SljhqNA6lfvJZJ38uYdydSDlX3dkCxBG6jbJHsVIjogr7C8uFx-Yz5T-AGDKuSUwOXHxrjFyBnVGMQqh7lj7/s320/Pac.jpg" width="274" /></a></div>
Produzem-se, assim, novos níveis de consumo econômico (das classes 'c', 'd', etc.), ampliando o alcance das garras do grande capital. A inclusão social tornou-se, de fato, uma mera 'inclusão econômica'. As pessoas são motivadas pela grande mídia e pelos agentes governamentais a avaliar a sua qualidade de vida conforme o grau de acesso aos bens de consumo 'modernos'. A vida se transformou num grande "Big Brother", onde a competição, o investimento pessoal no 'capital humano e informacional', a lógica da eficiência técnica e econômica, a luta pela sobrevivência no mundo selvagem do capitalismo, tornou-se o único valor moral. Tudo vale apena, desde que vire 'renda'. Todos os sonhos e desejos são possíveis e realizáveis, desde que possuam um preço. Todas as qualidades podem virar um poderoso e atrativo fetiche nas mãos do grande irmão.<br />
<br />
Em nome do acesso às novas tecnologias - que se multiplicam diariamente - tudo é válido. A regra do utilitarismo humano e tecnológico predomina em todos os setores.<br />
<br />
"Corra! Você também pode se aprimorar, faça um curso de especialização técnica, invista no seu currículo, torne-se uma pessoa útil".<br />
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A regra da 'utilidade' como único critério de seleção de pessoas, valores e ideias predomina na infra-estrutura e na super-estrutura, fazendo com que as engrenagens do Grande Capital funcionem à todo vapor. A nossa sociedade é uma flecha progressiva, ou você se "moderniza" ou se torna 'arcaico'. Não sabemos muito bem para onde vamos - neste campo predominam controvérsias intermináveis - mas é certo que 'vamos com intensidade', rumamos em alta velocidade, colocando todas as 'resistências' abaixo, varrendo o caminho com máquinas, tratores e homens. <br />
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Enquanto os índices de popularidade da presidenta Dilma aumentam, os serviços públicos de saúde e segurança pública continuam péssimos. A infra-estrutura das grandes cidades está em crise. A reforma agrária anda estagnada há anos. Os movimentos sociais estão em alerta. Nada vai bem no campo ou na cidade, os recursos públicos são desviados e até mesmo os investimentos na recuperação de áreas atingidas por eventos naturais não têm sua execução fiscalizada. Veja a realidade cotidiana das nossas escolas, universidades e hospitais.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0XSP5A2JBRx_bGvTvKL28Ek0D_1UMp19Fux89xf4RfdJketNrtv5veRZCNUOrfapL-LZ3q4SnkGCeeqypBm19wRIy0_tDEwtek7AxRWtV0l5eSRtoY9UiIRQ-zYYaY4Qm8-y_KWxj0sKO/s1600/Belo+Monte.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0XSP5A2JBRx_bGvTvKL28Ek0D_1UMp19Fux89xf4RfdJketNrtv5veRZCNUOrfapL-LZ3q4SnkGCeeqypBm19wRIy0_tDEwtek7AxRWtV0l5eSRtoY9UiIRQ-zYYaY4Qm8-y_KWxj0sKO/s1600/Belo+Monte.jpg" /></a>Mas, não se preocupe, a lógica utilitária prescreve a solução para todos os nossos problemas: se a economia vai bem, a sociedade vai bem, obrigado. Neste contexto totalitário, toda crítica social é percebida como 'conservadora': ora, o Brasil está crescendo, qual é o problema? Se você não quer avançar na mesma intensidade, vai acabar ficando pra trás... Só existe um único caminho, o caminho do 'progresso' e do 'desenvolvimento', o Brasil ainda há de se tornar uma "Nova Iorque Tropical". Para crescer precisamos de energia e se o preço a pagar por isso é a extinção de algumas centenas de índios e ribeirinhos e o extermínio de um patrimônio arqueológico, cultural e ambiental inestimável, que mal há nisso? <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt4FQ5n01QOaQrYnmr8BS_LJKGr0X3toVTpmF-siKcHa1b_NKxClom1o_BhjDp5q2o_xXBllJLm-7iiSVAYwxCg0Ab0A1k4HuFxfYQrwu4EekOrCT_INB47Q03UAuBCCzo2OZnxeU5clKw/s1600/transito_paulistano.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgt4FQ5n01QOaQrYnmr8BS_LJKGr0X3toVTpmF-siKcHa1b_NKxClom1o_BhjDp5q2o_xXBllJLm-7iiSVAYwxCg0Ab0A1k4HuFxfYQrwu4EekOrCT_INB47Q03UAuBCCzo2OZnxeU5clKw/s320/transito_paulistano.jpg" width="246" /></a></div>
Ao mesmo tempo que assistimos "ao vivo" a decadência da qualidade de vida nas grandes metrópoles - marcada pelo péssimo trânsito, os altos índices de criminalidade, as constantes tragédias ambientais e a poluição sonora e do ar - a retórica modernizante promove a assimetria ideológica entre a cidade e a roça, enaltecendo o meio de vida urbano e depreciando o modo de vida rural, operação mitológica cuja expressão literária maior é o nosso já conhecido "Jeca Tatu". O nosso caminho foi delineado de forma a promover exatamente o modo de vida que está em 'crise', demonstrando-se insustentável em médio e longo prazo.<br />
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Mas o debate e a discussão de ideias não é bem vinda no contexto do "Grande Partido". Não importa a qualidade ou conteúdo dos argumentos críticos, nada se contrapõe à justificativa eleitoreira de uma 'popularidade' alimentada por uma economia política que sabe muito bem dar as batatas aos vencedores.<br />
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Esquece-se, com isso, que a história da humanidade demonstra claramente que a 'popularidade' nunca foi um critério de 'justiça', qualidade 'ética' ou até mesmo 'intelectual' das ideias, planos econômicos ou de governo. Afinal, fenômenos políticos totalitários como o "nazismo", o 'fascismo", a 'intolerância religiosa ou ideológica", a homofobia, a 'ditadura militar' e outros governos de exceção - guardadas as devidas diferenças - foram sustentados pela produção de dados estatísticos favoráveis, marketing político e altos índices de aprovação junto à população em geral.<br />
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O fato é que toda forma de totalitarismo - até mesmo os mais 'populares' - são atentados contra a liberdade e a criatividade humana.Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-63993184177133333342013-04-09T10:38:00.001-03:002013-05-10T11:44:34.722-03:00Hans e o Devir-RatoPor mais que Hans se esforçasse, não conseguia lembrar quando o 'distúrbio' teve início. O 'caso' representa uma anomalia rara na história da psicanálise. Apesar de homens e ratos conviverem há milhões de anos,existem poucos relatos sobre eventos como aquele.<br />
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A relação entre as duas espécies é milenar. Homens e ratos vivem lado a lado, amigavelmente ou não. Os ratos podem ser 'sacrificados' em nome da ciência ou combatidos como uma praga.<br />
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As ciências ocidentais tecem inúmeras analogias entre o corpo do rato e o corpo humano. Doenças são testadas nesses animais tendo como referência esse pressuposto de homologia corporal. Apesar da diferença radical, ratos e homens possuem semelhanças genéticas e biológicas há muito exploradas pela medicina. Os ratos são mantidos em cativeiro, no laboratório, onde servem de cobaia 'viva' para experimentos de toda espécie. Coletivos de humanos se mobilizam em nome desses animais, instituições são mantidas com verbas governamentais e todo um campo de problematização jurídico-governamental se estabeleceu em torno dos 'direitos dos animais de laboratório', entre eles, os ratos e camundongos. Os comitês de ética fiscalizam e orientam procedimentos científicos por meio de protocolos. A relação entre homens e ratos no âmbito das pesquisas científicas é regulamentada por regras e valores humanistas, voltadas para o reconhecimento dos direitos do sujeito-rato. Os defensores dos animais seguem uma cartilha rigorosa de 'princípios' e 'orientações' e alguns pesquisadores se especializam em decifrar todos os artigos da nova "Constituição". A 'violência' entre uma espécie e outra é, assim, institucionalizada na ciência por códigos éticos que legitimam as práticas predadoras dos cientistas, tudo em nome da 'vida humana'.<br />
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Os ratos foram perseguidos durante milênios pelas cruzadas evangelizadoras. Simbolo da desgraça e da doença crônica, os ratos foram eleitos como o indicativo da peste e do pecado projetado sobre os homens maus. Os historiadores até hoje tem dificuldade em explicar os motivos que levaram a essa cruel demonização. O fato é que os ratos foram transformados, ao longo do tempo, em emissários e representantes das forças diabólicas, sendo combatidos como tal. Criou-se, assim, uma relação de homologia espiritual entre o espírito mau e o rato, assim como da praga e da desgraça coletiva com a invasão desses animais, considerados malignos e nefastos. A única analogia espiritual mais forte do que essa é aquela entre homens e morcegos... <br />
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A convivência entre ratos e homens nem sempre é pacífica. Mas o fato é que - conforme o 'senso comum' - homens e ratos têm vidas distintas, convivendo sem nunca se misturar. A fronteira entre as duas espécies é um marco para a 'humanidade' e apenas em situações extraordinárias foi superada, como é o caso dos famosos ratos-orelhas criados em laboratório, a partir da aplicação de técnicas de manipulação genética.<br />
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Mas, para o pobre Hans, a lembrança do momento exato em que teve início o lento processo de transformação simplesmente desapareceu. Nenhuma indicação de algo que pudesse ser minimamente denominado de realidade. Teria sido um sonho, ou talvez uma conversa? Ou, quem sabe, uma conversa em um sonho? A vida antes da internação na 'casa de saúde' era uma coleção de imagens borradas e imprecisas. Por mais que ele tentasse recordar, havia apenas a lembrança de uma invasão de ratos de consequências perturbadoras para o conjunto da humanidade. Aos poucos, todos se pareciam com ratos ou eram ratos disfarçados? Homens vestidos de ratos ou ratos vestidos de homens? Seriam todos vítimas de uma 'praga noturna'?<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqQx8inb_vBu43MlMPS_9ZD48Ix4XeYPHNK532-6B7nQutaTBbGhafTujl6qenzfFzs9QJJHjdqMDUnwxqH0ChDOAkWltO01KauSVNvqroSWJzNXEIrUJBcmIbjra7qGlRgMOVi0xn6zYB/s1600/Rato+Branco.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiqQx8inb_vBu43MlMPS_9ZD48Ix4XeYPHNK532-6B7nQutaTBbGhafTujl6qenzfFzs9QJJHjdqMDUnwxqH0ChDOAkWltO01KauSVNvqroSWJzNXEIrUJBcmIbjra7qGlRgMOVi0xn6zYB/s1600/Rato+Branco.jpg" /></a></div>
Por um instante a imagem de uma ratazana gigante lhe veio em mente, seguida de uma breve cena de um rato se deslocando em um assoalho de madeira vermelha. As suas unhas, já grandes, cintilam uma sinfonia desproporcional diante de um Hans tão pequeno e insignificante. A porta por onde entrara parece tão desproporcionalmente grande, assim como a sua sombra delineada na parede.<br />
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Outra imagem, desta vez da face do rato, de seu nariz nervoso. Os pelos do nariz formam um minusculo bigode que vibra.Os olhos são assustadores, como os olhos de um feiticeiro. Seus dentes, levemente postados pra frente, indicando uma possível agressão.<br />
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Lembrança-rato, mas os ratos nunca andam sozinhos. A arte do flautista de Hamlin, como todo bom ilusionista, consiste em saber conduzir o coletivo de animais pelas ruelas e estradas do desconhecido país, apresentá-los às autoridades, levá-los para as festas mais requintadas da elite local até o ponto de embriagá-los completamente, até o ponto de afogá-los no rio Weser e com isso por fim à invasão e ao perigo da epidemia.<br />
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Mas o que seria do flautista sem aquele 'Outro', o anômalo que habita a fronteira e que caminha exatamente no 'entre', esse ser que coloca os limites em questão, abrindo as membranas para movimentos de simbiose completa. Esse rato branco com olhos de um vermelho intenso, unhas gigantes, pelos espessos e cintilantes. Havia nele algo de humano, algo de perigosamente familiar. Talvez os olhos, ou melhor, o olhar de indagação. Como se ele e Hans compartilhassem um grande segredo.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEith5buEdCOKTfv8Nu5MnC2UdD32co0vTsQ6Yk9UrRheNQSo7w4Uc34aEUkfXgve0ij9dkGR8bV0H8VGUo3xZuWJ5Fi2ZEGsd9LFT1vRrrjEBHVm4S7SoN2PjCpk1tmVYsaXML9XIxKSKzX/s1600/Ratos+Humanos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEith5buEdCOKTfv8Nu5MnC2UdD32co0vTsQ6Yk9UrRheNQSo7w4Uc34aEUkfXgve0ij9dkGR8bV0H8VGUo3xZuWJ5Fi2ZEGsd9LFT1vRrrjEBHVm4S7SoN2PjCpk1tmVYsaXML9XIxKSKzX/s1600/Ratos+Humanos.jpg" /></a></div>
Mas que segredo seria esse?Seria outro dialeto, de onde viria esse vocabulário de ruídos-palavras? É como se os ratos falassem a mesma língua, mas de forma completamente diferente. Havia, de fato, algo muito semelhante entre Hans e aqueles animais. E tudo estava inscrito de forma bastante contundente naquele rato branco. A sua brancura era tão terrivelmente perturbadora, algo do qual Hans não conseguia mais se libertar.<br />
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Uma tendência radical em transformar-se em 'Outro' ou outro alguém, expressa em um turbilhão de intensidades que invadiram o corpo do pobre Hans. Seria uma possessão, estaria Hans possuído? Quando, em que momento exato esse movimento de fuga teve início? Melhor, para onde a transformação o conduzia, quais regiões do ser a fuga lhe permitiu experimentar? Quais ritmos, disposições e afecções permitiram essa comunicação entre-bordas, abrindo uma abertura nas dobras do ser?<br />
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Hans lembra de ter comprado um rato, ou seria esse primeiro rato um habitante antigo da morada de seus avós, da velha fazenda. Ou seria um rato capturado ainda vivo, talvez o pobre animal serviu de cobaia para projetos científicos. Teria sido um rato preso em seu labirinto ou uma ratazana presa em uma ratoeira? Mas o rato nunca foi um indivíduo, sempre viveu em coletivos nômades...<br />
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Em algum momento vieram os outros... E logo se multiplicaram, novas gerações surgiram, a população aumento com agressividade e em poucos meses havia toda uma civilização de ratos vivendo em sua casa, convivendo com Hans diariamente, comendo da sua comida e dormindo em sua cama. Porque ele não combateu os ratos, porque não declarou guerra aos invasores? <br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyct4RHwpMAsbFzpuu2H5xkg1j0VfArtNFfgcfMOhqOIOKv6PKPrLiJCVzTknkGQaZfsvlCZJhcqPTZeyZo2irKLEnGzMNKL67OZakmIva_QBaRDoxQlG8RzVNbSQSSOsjIzVj4j0x6CrE/s1600/jornal_ratos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="228" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyct4RHwpMAsbFzpuu2H5xkg1j0VfArtNFfgcfMOhqOIOKv6PKPrLiJCVzTknkGQaZfsvlCZJhcqPTZeyZo2irKLEnGzMNKL67OZakmIva_QBaRDoxQlG8RzVNbSQSSOsjIzVj4j0x6CrE/s320/jornal_ratos.jpg" width="320" /></a></div>
O fato é que a passividade custou-lhe caro. Afinal, para que o coletivo de ratos pudesse viver naquele pequeno apartamento de dois quartos e uma sala-cozinha foi necessário que os novos habitantes do local fossem exilados de sua própria terra. A esposa de Hans e suas duas filhas - Miriam e Jan - abandonaram o local após a chegada dos primeiros ratos. Não suportaram ver o lar transformado daquele jeito. Não suportavam ver Hans, outrora tão radiante, completamente transfigurado, vestido com roupas sujas, com barba por fazer e o corpo coberto de pelos, vivendo como um rato entre ratos. Aquela animalidade tornou-se, em algum momento, tão insuportavelmente humana a ponto de transpor as fronteiras entre as duas espécies, torná-las insignificantes. O resultado era um ser híbrido, nem rato nem homem, algo 'entre' os dois.<br />
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Hans continuou apático, servil, completamente dominado por uma ideia que apreendeu em pouco tempo a considerar 'natural': havia algo de 'rato' nele e em todos de sua espécie. Pequenos afetos, afecções, tendências e intensidades, que surgiam em contextos específicos, em situações inesperadas e, até certo ponto, incomuns. Havia a possibilidade iminente de composição radical entre homens e ratos. Cabia a ele elevar a enésima potência esses movimentos moleculares. <br />
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Não há dúvida, os homens podem ser ratos em situações especiais, 'ratiando' aqui e ali como um pequeno mamífero roedor, alimentado-se das sobras e dos restos de seus hospedeiros. O homem pode ser o mais temível dos ratos, alcançando a terrível façanha de ser mais rato do que os próprios ratos.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCYf4o4fOPfLI30PAiC8PjNvN9MN4cVYqjWQphEgo5VMd0oUjWadGHX7D751SRLn83qRLclTn-u6gpcVmK9y16mO5EEhpud6HrqxRCazwzFPyfyzA2ktP3F_TQDvudm1FK-JEAuMM2g7v_/s1600/Ratos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCYf4o4fOPfLI30PAiC8PjNvN9MN4cVYqjWQphEgo5VMd0oUjWadGHX7D751SRLn83qRLclTn-u6gpcVmK9y16mO5EEhpud6HrqxRCazwzFPyfyzA2ktP3F_TQDvudm1FK-JEAuMM2g7v_/s1600/Ratos.jpg" /></a></div>
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A metamorfose.de Hans foi voraz e em poucos meses estava completamente transformado. A primeira mudança foi no campo da alimentação. Surgiu como uma modesta obsessão por queijos, de todas as procedências e tipos. <br />
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Depois, a transformação intensificou-se ainda mais. Em algum momento a caça de pequenos insetos lhe pareceu tão apetitosa e atrativa que a força do hábito não foi suficiente para desconstruir ou retrair um estranho e inesperado desejo evidenciado por um salivar compulsivo. Depois vieram os grãos, como nozes, amendoins e amêndoas. Restos de comida, pães e arroz cru. Sementes de todos os tipos, bananas e outras frutas. Mas os ratos comem no chão. Para comer como um rato, Hans também teve que passar a viver como um, rastejando ao lado de seus comparsas.<br />
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Tudo mudou quando os ratos reconheceram Hans pela primeira vez como parte do bando. Naquele momento, ele sabia que havia cruzado uma fronteira importante. A partir dali ele jamais seria o mesmo. Retornar no interior da diferença, reportar-se a outras diferenças, sem nunca reproduzir o "Fundamento" ou à identidade do conceito. <br />
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Um devir-rato apoderou-se do pobre Hans, dando início a um intenso movimento de transformação, transfigurando completamente o seu corpo e face, a ponto de, no final, nem mesmo sua mãe, ex-esposa e filhas reconhecerem nele nada mais do que uma remota lembrança do que um dia foi ou pensou ser.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8vyY5G50wFDRi0hk1DXTc8kT2gAPfXiVgimN_NMNUaHuUgw2e9teA6A19gadB01IhnOBDvSXvBeZtTnT3eVU_jitrB0K0xKhbazeSkzpCI_92ctcOibm2GaASZIqospDiBwqYGWmEftFG/s1600/Homem-Rato.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8vyY5G50wFDRi0hk1DXTc8kT2gAPfXiVgimN_NMNUaHuUgw2e9teA6A19gadB01IhnOBDvSXvBeZtTnT3eVU_jitrB0K0xKhbazeSkzpCI_92ctcOibm2GaASZIqospDiBwqYGWmEftFG/s1600/Homem-Rato.jpg" /></a>Em dias de visita como hoje, Hans tem a impressão de ser um rato em uma gaiola, um reflexo dos olhares surpresos dos visitantes, com seus silêncios intermináveis e seus gestos de nojo e atitudes de distanciamento. Ele havia se tornado um intocável, habitante solitário de um palácio de assoalho e teto branco, de paredes também brancas, onde todos os seres vivem como seres imaculados, com suas vestimentas de um branco extremo, da mesma brancura do velho Barth, o anômalo. Aquele que parecia um animal tão humano, talvez mais humano do que o próprio Hans e todos de sua espécie. O rato-líder, com seus olhos terrivelmente vermelhos e seu bigode demasiadamente humano, tão humano que fazia de todos os homens um mero reflexo. <br />
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Barth era o seu 'Moby-Dick', um rato-homem, o anômalo que não reconhece qualquer fronteira, que transpassa por transbordar todas as linhas. A janela, a abertura ou a dobra por onde tudo flui, transloca, transgride, transforma e transfere. O rato-hans havia se tornado uma ratazana.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibLdvby6Py1JfcURFgpOIr2G4uNczYLubRdcI6FWPX2wfPbWxgEPpke0qoEQNEXikYSKU_alGEnr6ZTUuXNE9OQc8vt0r1ilNQRCA5WagzzU5bKgGm1blQpmnQ64vXNmNClhq-aXqSG0-3/s1600/Rato-Hans.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibLdvby6Py1JfcURFgpOIr2G4uNczYLubRdcI6FWPX2wfPbWxgEPpke0qoEQNEXikYSKU_alGEnr6ZTUuXNE9OQc8vt0r1ilNQRCA5WagzzU5bKgGm1blQpmnQ64vXNmNClhq-aXqSG0-3/s1600/Rato-Hans.jpg" /></a></div>
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[Em algum momento do século XIX, Hans L. A. D. foi personagem de um famoso caso estudado pelos mais renomados psicólogos da época. O rapaz, então com apenas 24 anos, acreditava ter se transformado em um rato, convivendo com os membros desta espécie em um galpão abandonado, em sua propriedade agrícola, em uma pequena cidade da Inglaterra. O evento foi denunciado pela esposa e a filha de Hans, que foi removido para um manicômio, onde viveu até cometer suicídio, em 1932. Conforme relatam os 'livros médicos', Hans morreu "como um rato, comunicando-se até os últimos minutos de vida como se fosse um desses animais". Seguiram-se outros tantos relatos sobre 'casos' semelhantes e a história da psicanálise revela uma simpatia constante pela potencial relação de simbiose ou oposição entre homens e ratos. A obsessão foi analisada em um clássico da psicanalise - "Homem dos ratos" - publicada, em 1909, por Freud, que analisa a obsessão de seu paciente por esses animais, representados como o símbolo de uma série de ambivalências anais projetadas no conflito inaugural com o pai. Esta história e outras semelhantes serviram de inspiração para a escrita deste pequeno ensaio, elaborado em diálogo com a noção de 'devir' de Deleuze e Guattari]. Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-23702744107259224152013-04-05T11:27:00.000-03:002013-04-05T11:27:21.130-03:00Tropas Federais Vs. Povo Munduruku<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9Bqu2DqipT3SmcJHW7yIMVrS_5C1ZmHdVX7qMSCEGsNyb7xZm9RAsoUvLqW8WQi0Pq05gIatwaPpgV6BqlXQZsuXmf7l57Pz12aN-imahl6BLc4VYmK_NdxQkb_LjyquYB8-9Wk7xwo-A/s1600/Munduruku.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9Bqu2DqipT3SmcJHW7yIMVrS_5C1ZmHdVX7qMSCEGsNyb7xZm9RAsoUvLqW8WQi0Pq05gIatwaPpgV6BqlXQZsuXmf7l57Pz12aN-imahl6BLc4VYmK_NdxQkb_LjyquYB8-9Wk7xwo-A/s1600/Munduruku.jpg" /></a></div>
No sudoeste do Pará, os índios Munduruku e ribeirinhos da região lutam contra a construção da hidroelétrica Tapajós. Essa obra terá um impacto sobre o meio ambiente regional, colocando em risco recursos naturais essenciais para a reprodução do modo de vida dessas populações. Além de representar um risco factual para índios e ribeirinhos, a construção dessa hidroelétrica - projeto associado diretamente aos objetivos de 'desenvolvimento antropofágico' do governo federal - também vai colocar 'embaixo d'água' um patrimônio arqueológico de valor inestimável.<br />
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Esse processo de destruição é informado por estudos de 'impacto' que calculam uma série de estimativas sobre a magnitude dos danos causados ao meio ambiente local, que depois serão indenizados pelo Governo. Os pareceres técnicos são, portanto, um elemento fundamental para a liberação da obra. Trata-se de dispositivos jurídicos criados para 'viabilizar' institucionalmente ações que resultam em danos ambientais e sociais. Essa 'economia do dano' está associada a um pressuposto fundamental: a inevitabilidade do 'progresso' e do 'desenvolvimento'. A estimativa do impacto e os estudos que a caracterizam são etapas necessárias para legitimar juridicamente um processo mais amplo e complexo, com efeito desastroso na vida dos povos que vivem na região, mas cujos fundamentos e objetivos não são colocados em discussão com a sociedade brasileira.<br />
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A política energética do governo - e toda a rede formada em torno da sua viabilização, o que inclui o cartel de empreiteiras e seus representantes políticos no congresso nacional - não é discutida ou problematizada. O pressuposto que está por trás disso é que o 'desenvolvimento' (tal como pensado pelo Governo Dilma) é inevitável, cabendo apenas 'calcular' o 'preço do progresso', conforme título de reportagem da rede globo (ver outro post sobre esse tema). <br />
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Recentemente, em março de 2013, o governo federal enviou uma 'força nacional' para a região, composta por veículos de guerra e soldados, colocando em ação uma verdadeira operação de guerra para garantir a continuidade dos estudos dos técnicos do IBAMA.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinAq7Hj1pRTSBCq3C8AXbRE1cE8F9lZRJIOvFVXM79aapoIPTNWIQSjGs0uMqWKtwoZxEzH0d-lQEGU840CIcxz3HSrDMbvopeXIsySeuvPd-rW669jTNGQORLiJrujz7d484nPdveFBkh/s1600/Tapaj%C3%B3s.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEinAq7Hj1pRTSBCq3C8AXbRE1cE8F9lZRJIOvFVXM79aapoIPTNWIQSjGs0uMqWKtwoZxEzH0d-lQEGU840CIcxz3HSrDMbvopeXIsySeuvPd-rW669jTNGQORLiJrujz7d484nPdveFBkh/s320/Tapaj%C3%B3s.jpg" width="320" /></a></div>
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Por outro lado, os índios e demais grupos locais diretamente afetados pela obra não foram consultados pelo governo, o que representa uma clara violação dos princípios de 'consentimento informado' enunciados na Convenção nº 169 da OIT, assinada pelo Brasil. Essa truculência e insensibilidade do governo federal expressa claramente o lado 'obscuro' do desenvolvimentismo da era FHC/Lula/Dilma e o seu efeito na vida das populações locais.<br />
<br />Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-79344187258337011342013-04-03T00:51:00.001-03:002013-04-03T01:06:40.888-03:00Redes Sociais como o 'facebook' são rizomas ou árvores?<b>Após uma aula sobre a noção de 'rizoma' em Deleuze e Guattari, dois alunos conversam entre si no corredor: </b><br />
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<b>A:</b> O que você acha, as redes virtuais como o Facebook e o Orkut são rizomas ou árvores?".<br />
<b>D:</b> Na minha opinião, são as duas coisas ao mesmo tempo.<br />
<b>A:</b> Como assim?<br />
<b>D:</b> No facebook, por exemplo, todos as pessoas conectadas estão distribuídas de forma rizomática, podendo, em princípio, conectar-se aleatoriamente umas com as outras. As informações são distribuídas para todos os amigos, ao mesmo tempo... Não existe uma ordenação da sua rede de amigos, eles estão todos lá, virtualmente conectáveis.<br />
<b>A:</b> Bom, então você acha que as redes sociais são rizomáticas?<br />
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<b>D:</b> Potencialmente sim, mas praticamente não. Pois os usuários ordenam e coordenam suas redes de amigos a partir de modelos como a 'árvore familiar', o 'grupo de amigos preferidos', 'aqueles com quem eu me identifico', 'a turma da escola'. Sem falar na chamada 'economia do curtiu', onde você só demonstra apreço por ideias e informações postadas por seus familiares e amigos mais próximos. Isso ocorre porque algumas pessoas que usam o facebook possuem árvores em suas cabeças, apesar de seus neurônios trabalharem de forma rizomática.<br />
<b>A:</b> Isso significa que as redes, em si, são sistemas rizomáticos, mas o uso que as pessoas fazem das redes pode ser mais ou menos arbóreo, mais ou menos horizontal.<br />
<b>D:</b> Sim, estava pensando algo assim... Isso ocorre porque estamos diante de atores-redes, isso significa que as redes em si são objeto de ordenação e coordenação dos coletivos humanos e não humanos que fazem parte dela. Se, por um lado, enquanto processo imanente a topologia da rede tem uma forma rizomática, os atores buscam formatá-la conforme os modelos que utilizam como referência (parentesco, meritocracia, afinidades), conforme os exemplos de ordenação de redes que discutimos em aula, lembra. <br />
<b>A:</b> Sim, então você está afirmando que as redes são hierárquicas? <br />
<b>D:</b> Talvez, algumas delas certamente são mais hierárquicas do que outras, que podem ser mais horizontais... Não importa o quanto os atores trabalhem duro para manter as redes mais ou menos ordenadas conforme seus modelos genealógicos, hierárquicos ou meritocráticos, os rizomas continuam brotando a partir das raízes das árvores... Se eu só 'curto' aquilo que os meus amigos mais próximos e meus familiares postam, nada impede que eu seja influenciado (mesmo que inconscientemente) por postagens que são enviadas por amigos mais distantes... Mas isso não permite afirmar que as redes são sempre rizomáticas, pois existe uma tensão constante permeada pela ação consciente dos atores... Isso significa que o formato das redes, a topologia, resulta da ação de ordenação e coordenação dos atores. Mas essa ação nunca é totalitária, mas sempre parcial e relativa, produzindo novos eixos rizomáticos que parecem brotar por toda parte, não importa quanto os atores se esforcem por organizar os componentes da rede e coordená-los conforme modelos arbóreos... As redes estão em contante processo de transformação, oscilando constantemente entre o processo imanente e rizomático e o modelo arbóreo e hierárquico.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhye5RZwlC1350hBTW-gPmK7g2wHAz_ZUwjYiemH5yEb_glcjmYxOu-rfEqoCtCWe4Q3Eykp6kr9rBkuTNzI4AJcuBtmhMN4P4P7KTl4UAfy4R5PtfuJ9Ayis5n6MJMUfPHy7ggeXwR3AE0/s1600/Rizoma+II.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhye5RZwlC1350hBTW-gPmK7g2wHAz_ZUwjYiemH5yEb_glcjmYxOu-rfEqoCtCWe4Q3Eykp6kr9rBkuTNzI4AJcuBtmhMN4P4P7KTl4UAfy4R5PtfuJ9Ayis5n6MJMUfPHy7ggeXwR3AE0/s1600/Rizoma+II.jpg" /></a></div>
<b>A: </b>Mas, na minha opinião, a rede é muito mais 'processo' do que 'modelo'... Por mais que eu 'curta' apenas as mensagens dos meus amigos, por mais que eu busque apagar e deletar qualquer informação desconhecida ou que não está de acordo com minhas afinidades ideológicas, estéticas ou morais, acabo sendo influenciado por mensagens que chegam de longe, de um 'lugar' inesperado. Isso explica, por exemplo, o fenômenos do 'surto em rede', ou seja, quando uma informação ou mensagem passa a circular em diferentes 'nichos' como em um efeito de 'ressonância' ou 'simbiose', onde as pessoas repetem a 'frase' ou a 'informação' e fazem com que ela circule sem se preocupar com a autoria ou procedência. Da mesma forma, você sempre pode conhecer uma pessoa nova pela internet ou entrar em contato com uma informação que você não estava buscando, mas que serviu de referência importante para uma 'ideia' qualquer... Inconscientemente as ideias costumam ultrapassar as fronteiras impostas conscientemente pelos próprios atores... Por exemplo, uma informação qualquer chega até você e é registrada pela sua atenção, mas, enfim, você nem conhece a pessoa então, você deixa pra lá... Outro dia você acorda com aquela ideia fixa na cabeça e não sabe de onde veio... Onde mesmo você ouviu falar aquilo? Teria sido um sonho? Um filme? Bom, dizem que a ideia que deu origem ao próprio facebook teve um percurso semelhante... Uma conversa ocasional em uma fila deu origem ao esboço inicial de uma ideia que, ao ser aprimorada, virou um empreendimento bilionário.<br />
<b>D: </b>Bom, nisso eu concordo plenamente... Como dizem DG, por mais que as pessoas pensem como se tivessem uma árvore na cabeça, o cérebro funciona como uma erva... Os saltos e sinapses neurológicas não seguem nenhum modelo ideal, mas trabalham sob a lógica do improviso criativo. Mesmo assim, não podemos deixar de lado o fato de que existe uma luta ou batalha em andamento entre o processo que não cansa de escapar e formar novos rizomas e o trabalho (sempre parcialmente ineficaz) dos atores, que passam boa parte da sua vida tentando ordenar e coordenar a sua relação com o mundo.<br />
[...]<br />
<b>A: </b>Essa conversa toda me deu uma fome...<br />
<b>D: </b>Nem me fala, já faz alguns dias que eu estou com um desejo de comer um bom salmão grelhado...<br />
<b>A: </b>Ah... Então você também recebeu?<br />
<b>D: </b>O que?<br />
<b>A: </b>Aquela receita maravilhosa de salmão que está circulando as redes sociais...<br />
<b>D: </b>Sinceramente, nem tinha reparado... Estava pensando mais em fazer uma adaptação de uma receita familiar, da minha avó... Tenho pensado muito nela ultimamente, não sei porque.<br />
[...]<br />
<b>A: </b>Adoro Salmão... Podemos pegar um cinema depois, estou louco pra ver...<br />
<b>D: </b>...já sei, aquele filme novo... Django...<br />
<b>A: </b>Como você adivinhou?<br />
<b>D: </b>É só o que se fala nas redes sociais...<br />
<b>A: </b>Nem tinha reparado... Mas quero ir naquele cinema perto de casa, pelo menos lá as pessoas não ficam falando durante a sessão... Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1824600323968983877.post-89520519303735801992013-03-09T15:16:00.003-03:002013-03-09T23:31:50.039-03:00Devir-Lembrança: devaneio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisUbz3rCrhJrYXsx6kfr1Qfimj-eNtpMhakUWfVtEnKyyCRKLDdOUQ77RDFie5C8KTSqvkYsp_J3zW8na0xHNcM52ljztvdpBJFA0bZEF5VXFh4Ks6AapKntg_AlsB8Equ6rnxAUflo7hn/s1600/Praia+SGB+(10).jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEisUbz3rCrhJrYXsx6kfr1Qfimj-eNtpMhakUWfVtEnKyyCRKLDdOUQ77RDFie5C8KTSqvkYsp_J3zW8na0xHNcM52ljztvdpBJFA0bZEF5VXFh4Ks6AapKntg_AlsB8Equ6rnxAUflo7hn/s400/Praia+SGB+(10).jpg" width="400" /></a></div>
É bom sentar na praia, ouvir os pássaros, o movimento das cachoeiras, sentir a brisa do ar, acompanhar o brilho da luz solar e seu efeito na composição de um mundo de cores e tonalidades. Depois, na volta para casa, sentar para ouvir histórias e treinar a sensibilidade. Silenciar o pensamento por alguns instantes, deixar-se conduzir pelas intensidades: movimentos, sons dispersos (será preciso segui-los para encontrar o sentido?) <br />
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Vivenciar um devir-planta na degustação de um vinho. Imaginar como é a vida nos campos e vinhedos, envolver-se totalmente em uma lembrança enigmática de um avô que um dia ensinou os netos a lidar com as plantas e, principalmente, com as uvas, esses seres selvagens de personalidade instável.<br />
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Escutar uma sinfonia e viver o ritmo e a harmonia dos sons e dos contra-sons. [Lembrei de uma frase e achei estranho o fato dela soar como um ritornelo, genuíno mas sempre diferente].<br />
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Os bons prazeres da vida são modestos, mínimos em forma e enésimos em potência e vitalidade.<br />
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A felicidade é a duração de uma infinidade no breve período de um devaneio.<br />
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[É tão bom escrever sabendo que as palavras se perdem como os amantes diante de um nascer do sol deslumbrante, sem se preocupar em capitalizar a escrita e o pensamento como os empresários capitalizam os músculos e tendões dos trabalhadores. Escrevo por necessidade, da mesma forma que me alimento quando estou com fome...]. Diego Soares da Silveirahttp://www.blogger.com/profile/16931254746191935240noreply@blogger.com0