domingo, 9 de maio de 2010

A Política Científica Nacional e a fabricação da “produtividade” como o único critério de avaliação do conhecimento

“O Fetiche da Quantidade: Metas de produtividade e burocracia acadêmica diminuem o potencial de pesquisas científicas”

A matéria assinada pelo psicanalista e colunista da Folha, Renato Mezan, aborda um assunto fundamental: o impacto da atual política científica na produção do conhecimento nas universidades brasileiras. O autor dá inicio mencionando a atual tendência do setor científico em avaliar a produção dos professores universitários em termos meramente quantitativos, onde a “produtividade” é medida pelo número de artigos publicados, pela quantidade de trabalhos escritos, tendo em vista, muitas vezes, critérios de avaliação das revistas amplamente questionados pelos próprios pesquisadores. Soma-se a isso outro problema de conseqüências mais nefastas ainda, pois incide exatamente sobre o cerne da produção do conhecimento científico nas universidades: o encurtamento gradual dos prazos para a defesa de dissertações e teses na área de humanas. Esse último tema, inclusive, está novamente relacionado à duração das bolsas de incentivo à pesquisa, com a diminuição também gradual desse período e, desta forma, do próprio curso de formação. Os critérios, em ambas as situações, dão preferência a uma visão da ciência como um bem que pode ser medido conforme a lógica econômica da bolsa de valores. Ao abordar o que denomina o “fetiche da quantidade”, Renato Mezan trouxe à tona questões fundamentais que não recebem quase nenhuma atenção na opinião pública e que deveriam ser tratadas com mais atenção.

Além desses dois problemas abordados pelo autor, existe outro bem mais profundo e com conseqüências nefastas: a desigualdade científica regional. Afinal, assim como em outros campos da política, existe uma clara concentração dos recursos e investimentos científicos no sul e sudeste em detrimento de outras regiões historicamente prejudicadas, como o Norte, o Centro-Oeste e o Nordeste. Com isso vai se delineando uma geopolítica do conhecimento que está diretamente relacionada à manutenção de históricas desigualdades econômicas e sócias.

Todas essas questões são importantes e devem ser aprofundadas. O governo federal está organizando a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, que será realizada em Brasílila, de 26 a 28 de maio: um bom espaço para avançar na reflexão sobre a política científica nacional.

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