quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cine-UFG realiza mostra do “Cinema europeu contemporâneo” - Carolina Soares

A partir da próxima segunda-feira, 27, o Cine-UFG exibirá filmes de Portugal, da Espanha, França e Itália, na Mostra de Cinema Europeu Contemporâneo, que vai até 8 de outubro e tem como objetivo proporcionar ao público goianiense um contato com a produção europeia recente. (ver lista de filmes no final)
Os filmes da mostra, em sua maioria, foram pouco divulgados no Brasil e alguns nem foram lançados aqui. A programação é compacta, mas tem a presença tanto de grandes mestres como Alain Resnais e Carlos Saura, quanto da iniciante Margarida Cardoso (Costa dos murmúrios é o seu primeiro filme de ficção). Haverá sessões às 12h e às 17h30, de segunda a sexta-feira.

O desafio de Jean de la Fontaine é um docudrama de Daniel Vigne, um diretor veterano, porém pouco conhecido no Brasil. O filme conta a história do famoso escritor francês, conhecido por fábulas como “A Formiga e a Cigarra”, e constrói um retrato do personagem a partir de sua luta contra Luis XIV (Jocelyn Quivrin). Quando seu amigo Fouquet (Nicky Naude) é preso, Jean (Lorànt Deutsch) é o único a resistir à injustiça, usando como arma as palavras. O ponto central do filme, além de biografar o célebre escritor, é o embate entre a arte e a política, em nome da liberdade de expressão.

Baseado no livro homônimo de Roberto Saviano, Gomorra, dirigido por Matteo Garrone, é um painel brutal e perturbador da máfia napolitana, uma das mais sangrentas e lucrativas da Itália atual. Nesse cenário violento, são narradas cinco histórias de personagens de um mundo que parece ser imaginário, porém profundamente afogado na realidade. Gomorra faz-se mais impactante ao evitar o clássico foco nos poderosos que se encontram no topo da hierarquia da Camorra (facção do crime organizado retratada no filme). O espectador é forçado a acompanhar os “peixes pequenos” – os que arriscam a vida nas ruas diariamente por alguns trocados enquanto seus chefes, em sua mansões, enriquecem.

A produção franco-belga O primeiro a chegar é uma rara oportunidade para conferir a vigorosa proposta autoral do realizador francês Jacques Doillon. O parentesco da construção dramática desse filme com o teatro é notório. O tempo do filme está dividido em quatro “atos”, devidamente separados por uma tela preta, que correspondem às ações dos personagens praticadas em quatro dias.

Pontuada por um único tema musical, o Prelúdio n. 9, de Claude Debussy, a trama se inicia no meio de uma ação em que se vê uma briga entre os dois protagonistas, a enigmática jovem Camille, interpretada por Clémentine Beaugrand, e o desajustado Costa, vivido por Gérald Thomassin. O título, que lembra as lúdicas correrias da infância, remete ao atrito entre os personagens (quem vai ganhar, chegar primeiro?). Conduzida com maestria, a obra de Doillon é capaz de suscitar profundos questionamentos, embora não tenha outra pretensão além de descrever os embates do casal.

No drama Medos privados em lugares públicos, do veterano diretor francês Alain Resnais, seis personagens cujas histórias se cruzam direta ou indiretamente buscam contato humano, calor, em contraste com a neve surrealista que desce impiedosa e metaforicamente lá fora. O cenário é a contemporânea Paris, uma Cidade que de Luz tem muito pouco, já que todo o invernal filme se passa no confinamento de um escritório de vidro, um bar techno-kitsch e alguns poucos apartamentos.

A estrutura do filme, adaptado da peça de Alan Ayckbourn, é toda dividida em pequenas interações entre dois personagens, sempre carregadas de sentimento e com atuações inspiradas. A melancolia é onipresente e a resolução não é o objetivo do diretor, interessado aqui apenas no desenvolvimento desses pequenos dramas.

O documentário musical Fados, do cineasta espanhol Carlos Saura, é uma viagem musical, com um elenco pluricultural que tem muito das suas raízes embebidas no fado. Em uma jornada pelas múltiplas influências musicais que determinaram o destino desse gênero tão português de expressão, o filme dá novos tons à canção de Lisboa. É um filme-concerto: funciona como um conjunto de números musicais, expostos em quadros autônomos, em que cada um tem um conteúdo com princípio, meio e fim, e que podem ser lidos isoladamente ou em conjunto.

A costa dos murmúrios, realizado por Margarida Cardoso, é uma adaptação do romance homônimo de Lídia Jorge. A obra mais célebre da escritora portuguesa aborda um momento ainda doloroso da história de Portugal. No final da década de 1960, Evita (Beatriz Batarda) chega a Moçambique para casar-se com Luís (Filipe Duarte II), um estudante de matemática que ali cumpre o serviço militar. Evita percebe que Luís já não é o mesmo e que, perturbado pela guerra, se transformou num triste imitador do seu capitão, Forza Leal (Adriano Luz). Quando os homens partem para uma grande operação militar no norte, Evita fica sozinha e, no desespero de tentar compreender o que modificou Luís, procura a companhia de Helena (Monica Calle), a mulher de Forza Leal. Submissa e humilhada, Helena é prisioneira em sua casa, onde cumpre uma promessa. É ela quem revela a Evita o lado negro de Luís. Perdida num mundo que não é o seu, Evita convive com a violência e as feridas abertas de um tempo colonial agonizante.
Filmes da mostra:
. Medos privados em lugares públicos (Alain Resnais)
· Fados (Carlos Saura)
· Gomorra (Mateo Garrone)
· O desafio de Jean de la Fontaine (Daniel Vigne)
· O primeiro a chegar (o que você quer da vida?)
· A costa dos murmúrios (Margarida Cardoso)

*Texto de autoria de Carolina Soares - membro do projeto de extensão “Cine-UFG, debates”.

Blog de Mauro W. Barbosa de Almeida

Vale apena conferir o blog do antropólogo Mauro W. Barbosa de Almeida, onde estão disponibilizados textos de sua autoria. O trabalho de Mauro tem relação com a proposta de uma antropologia simétrica e alguns temas presentes em seus últimos textos - ontologia, redes, pragmatismo - fornecem um caminho interessante para pensar problemáticas atuais do campo da antropologia da ciência e da etnologia.

Link: http://mwba.wordpress.com/

Nova Sessão no Cineclube "Ciência em Foco"

A próxima sessão do cineclube Ciência em Foco, será realizada na Casa da Ciência da UFRJ, no dia 2 de outubro, sábado, às 16h. Na ocasião, será exibido o filme "Rabid" (Canadá, 1977), de David Cronenberg, seguido da palestra "Uma visão irônica e apocalíptica dos experimentos científicos", ministrada por Lilian Krakowski Chazan, médica, psicanalista, doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social da UERJ (IMS/UERJ).

A entrada é franca e a atividade é indicada para o público a partir de 16 anos.

"Ciência em Foco" também tem um blog, onde poderam ser encontradas informações mais detalhadas sobre assuntos relacionados às sessões, como também notícias, curiosidades e dicas de outros eventos interessantes. Vale apenas conferir:

http://cineclubecienciaemfoco.blogspot.com/

Fonte: Redes Sociais (Web) - GEACT

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre o último debate na Record...

Os candidatos à presidência da república participaram de um debate ontem na Record. Em minha opinião, no geral, o desempenho de Marina e Dilma foi melhor do que a atuação de Serra e Plínio. O evento abre a última semana do primeiro turno das eleições 2010. Segue abaixo comentários a algumas das questões abordadas durante o debate:

Sobre a corrupção...

A questão foi feita por Marina e dirigida para Dilma, que se limitou em afirmar que no seu governo as denúncias são investigadas. A candidata do PT lembrou à antiga correligionária que durante a sua passagem pelo MMA também havia denúncias contra venda de madeira por pessoas que ocupavam cargos de diretoria. Ao fazer isso, Dilma se referia à dificuldade de prever o comportamento de um cargo de confiança. Você pode levar em conta as suas credenciais no momento da escolha, mas não pode prever como será a sua atitude diante de uma “oportunidade”. A verdade é que existem ladrões de carreira e ladrões oportunistas. Os primeiros são mais fáceis de se evitar, pois a sua atitude é mais sistemática: o seu “currículo” os denuncia. Já os últimos são imprevisíveis. Um ladrão oportunista se torna ladrão na oportunidade. Enfim, tanto o questionamento colocado em forma de denúncia, como a resposta vaga não ajudaram a esclarecer nada sobre o tema. Precisamos abordar a corrupção do ponto de vista realista e não do ponto de vista moralista. A corrupção no Brasil não é um problema localizado em pessoas, partidos ou instituições, mas um problema sistemático e generalizado. A questão está mais relacionada à “micropolítica” do que à “macropolítica”. Enquanto a sociedade e os meios de comunicação se negaram a pensar o problema a partir de uma chave diferente, nunca vamos avançar na discussão. A realidade é que a corrupção está presente em pessoas que estão no Governo por que ela também está presente na sociedade e vice-versa. O problema é mais sistêmico do que localizado.

Sobre o PAC e Obras como a Hidroelétrica Belo Monte...

A questão foi dirigida aos candidatos Serra e Marina. O candidato do PSDB demonstrou que está alinhado com Dilma nessa questão e fez uma defesa da continuidade de todas as obras do PAC. Ele afirmou que em seu governo todos os procedimentos ambientais serão levados em conta durante o processo de liberação das obras pelas agências reguladoras, mas não mencionou nada sobre os impactos sociais deste tipo de empreendimento. Serra não deixou dúvida que, se vencer as eleições, obras como a hidroelétrica Belo Monte (cuja reformulação do projeto foi feita durante o Governo FHC) não serão interrompidas. Mais do que isso, deixou claro que pretende dar continuidade ao PAC e que está comprometido com a “agenda do desenvolvimento”.

Em um primeiro momento, Marina defendeu a necessidade de desenvolvimento do Brasil, deixando claro que não é contra, mas esclareceu que é preciso desenvolver sem impactar o meio ambiente e a sociedade. Ela criticou a forma como algumas obras do PAC estão sendo conduzidas sem o devido respeito ao processo legal de licenciamento ambiental e sem a devida consulta às populações diretamente atingidas, mas buscou não direcionar a sua resposta diretamente à problemática sobre Belo Monte, o que eu considero um erro. É nesses momentos que é preciso “fazer a diferença” e deixar claro como ela se diferencia da sua ex-correligionária e também como é possível desenvolver o país de uma forma historicamente diferente. A questão não é tanto “ser a favor ou contra” o desenvolvimento, pois todos nós somos a favor, mas sim “que tipo de desenvolvimento nós queremos implementar no país”. De qualquer forma, a candidata do PV deixou claro que no seu governo haverá um respeito incondicional aos procedimentos legais de licenciamento de obras como a Belo Monte e que o processo constitucional de liberação de obras será respeitado, afinal, precisamos nos desenvolver sem impactar o meio ambiente e sem excluir a sociedade.

Apesar da sua resposta não ter mencionado a necessidade de se investir em alternativas “limpas” de geração de energia elétrica, essa questão foi abordada por Marina num segundo momento, diante do questionamento de Dilma sobre a divulgação dos últimos ganhos econômicos envolvendo a Petrobrás. Marina defendeu o investimento em fontes alternativas ao petróleo, como o biocombustível e a energia solar. No seu comentário, Dilma ressaltou a movimentação econômica do Governo Lula e voltou a defender o modelo hidroelétrico como principal solução para a questão energética, deixando claro que essa será a sua prioridade se for eleita.

Essa questão da hidroelétrica Belo Monte não foi devidamente explorada pelos candidatos. Acredito que a sua importância no debate sobre qual tipo de desenvolvimento que queremos para o Brasil é estratégica e paradigmática. O modelo hidroelétrico tem sido implantado no Brasil desde o início do século XX. Foi essa a política adotada durante os governos militares. Existem estudos que demonstram claramente que os efeitos ambientais e sociais de obras como Belo Monte representam um custo muito caro para o país e que esse modelo de geração de energia elétrica não somente produz grandes desastres ecológicos, como também produz exclusão social. Por outro lado, a demanda existente por energia (com o crescimento do setor industrial do país) é muito grande e fica difícil vencer “apagões” sem a alternativa hidroelétrica. Mas precisamos pensar melhor essas obras. Esse tempo da “reflexão” e da “análise” não pode ser atropelado pela ganância e a “urgência” dos empreiteiros. O problema dessas obras é que elas são pensadas e feitas a partir do tempo da economia e não da política. Não se dá a oportunidade para a sociedade debater a questão. É neste sentido que Belo Monte representa aqui séculos da história do desenvolvimento no Brasil. Pois não há dúvida de que o desenvolvimento foi uma preocupação constante de nossas elites políticas, o problema é que o desenvolvimento tem sido historicamente pensado sem levar em conta os interesses e as necessidades de amplos setores da nossa população, exatamente por que tem sido feito com a “urgência” dos mentecaptos. O governo que for eleito nessas eleições terá a oportunidade histórica de pensar um modelo de desenvolvimento verdadeiramente democrático e que esteja voltado para a população em geral. Não tenho dúvida que muitas obras do PAC são necessárias e geram renda, oportunidades e benefícios para amplos setores da população. Mas também existem obras – como Belo Monte – que produzem exclusão tanto do meio ambiente como da sociedade. É preciso diferenciar as coisas. Só poderemos avançar nesta questão quando abandonarmos as posições extremistas e buscarmos uma solução mais viável do ponto de vista econômico, ambiental e social.

Sobre o “Desenvolvimento Sustentável”...

Neste ponto, Marina foi muito melhor do que Dilma e Serra. Ficou claro que a candidata do PV está disposta a implantar no Brasil um modelo sustentável de desenvolvimento. Marina também deixou claro que se trata de um novo conceito de governabilidade, ou seja, que a sustentabilidade não é uma questão unicamente ambiental, mas também econômica e social. Conforme suas próprias palavras: precisamos pensar a ecologia ao lado da economia. O meio ambiente não é contra a economia e a sociedade, mas deve ser pensado em relação com as questões econômicas e sociais. Também ficou evidente que esse é o caminho em direção ao futuro e também o maior potencial do Brasil no cenário internacional. Temos a oportunidade histórica de reformular completamente o conceito de governo e de política no Brasil e no mundo.

Já os outros candidatos não abordaram essa questão e mostram com clareza a limitação das suas idéias de governo e desenvolvimento.

Sobre a atuação da Mídia...

Tenho que reconhecer que a resposta de Plínio a essa questão foi muito mais corajosa e inteligente que a resposta de Dilma. O candidato do PSOL deixou claro que deve haver algum tipo de “controle social” da mídia, além de denunciar o monopólio dos meios de comunicação por meia dúzia de famílias. Talvez tenha sido o único momento de lucidez desse senhor que, em outras situações, demonstrou claramente o atraso jurássico de suas posições políticas. Afinal, seus posicionamentos diante de questões econômicas e sociais é, via de regra, de uma ingenuidade perigosa.

Dilma, por outro lado, falou o óbvio. A candidata do PT lembrou que sofreu na própria pele o efeito de um regime de censura e exceção, deixando claro que prefere o ambiente democrático da “livre crítica” ao ambiente ditatorial.

Ora, não há dúvida de que a liberdade da livre opinião deve ser respeitada a qualquer custo. Mas a questão é que o exercício dessa liberdade não está igualmente distribuído pelo conjunto da sociedade. Existe um monopólio do exercício da crítica no Brasil e é isso que deve ser pensado. A primeira questão é se somos a favor da censura ou da liberdade de livre opinião. Acho que não resta nenhuma dúvida que a liberdade de opinião combina mais com a democracia. A segunda questão é se o direito de exercício da livre expressão está igualmente distribuído pela sociedade. É nesse momento que precisamos pensar a questão dos monopólios dos meios de comunicação e do efeito disso no exercício da “livre opinião” dos demais cidadãos. Será possível que a sociedade possa exercer a livre opinião em um contexto onde a opinião dos meios de comunicação possui um poder de propagação gigantesco? Portanto, não é a opinião que deve ser questionada, mas, sim, a “economia da opinião”, ou seja, como o direito de expressão está distribuído pela sociedade. A segunda questão é se o direito da livre expressão dos meios de comunicação deve ser fiscalizado pela sociedade. Afinal, diante de uma situação de monopólio, precisamos pensar em como avaliar ou controlar esse poder de formação de opinião que está nas mãos dessas seis famílias mencionadas por Plínio. Conforme a Constituição Federal de 1988, os meios de comunicação no Brasil são um bem da sociedade. Da mesma forma como a sociedade e os cidadãos comuns devem responder por suas afirmações (apesar de todos termos o direito de expressar nossa opinião, não podemos sair por ai afirmado mentiras ou calúnias sobre as pessoas), é óbvio que os meios de comunicação também precisam de alguma forma de regulamentação para que excessos não sejam cometidos. Enquanto a tentativa de discussão de alguma forma de “regulamentação social” da mídia seja abordada pelos meios de comunicação como “censura”, não teremos como avançar na discussão. Existe uma diferença muito grande entre “censura” (controle autoritário e centralizado na mão do Estado) e “regulamentação social” (controle exercido de forma democrática e descentralizada). Enquanto o governo não enfrentar essa questão com coragem e seriedade não vamos avançar. O problema é que até agora nenhum governante teve coragem de enfrentar o pode político e econômico da Rede Globo e de outros meios de comunicação que possuem o controle hegemônico do setor. Todas as vezes que alguma forma de “regulamentação” foi sugerida, um exército de jornalistas saiu correndo denunciado o que eles entendem por “censura”. Diante de um quadro onde só as posições extremistas são levadas em conta é impossível avançar na discussão. A verdade é que a questão não foi devidamente abordada.

O quadro geral do debate...

Acho que, no geral, Marina foi quem teve um desempenho melhor no debate. Dilma ficou em segundo lugar. Entre Serra e Plínio, não sei qual é o mais atrasado e despreparado para governar o Brasil. O fato é que agora entramos na reta final do primeiro turno. Eu só espero que o eleitor entenda a importância de levarmos Marina Silva para o segundo turno, pois essa é a única forma de avançarmos no debate sobre qual “desenvolvimento” queremos para o país. Não tenho dúvida que o Governo Lula foi o melhor governo da história deste país! Avançamos muitos nos últimos oito anos e houve uma melhora em praticamente todos os setores. Mas agora é o momento de avançarmos ainda mais. A verdade é que tanto Dilma como Marina são sucessoras legitimas de Lula. Inclusive, sobre essa questão é preciso reconhecer que se formos avaliar pela trajetória de vida do presidente, Marina é uma sucessora mais legitima do que Dilma.

Acredito seriamente que seria um ganho para a democracia brasileira levarmos Marina para debater com Dilma no segundo turno. Assim Marina teria o tempo necessário para expressar com mais qualidade as suas idéias, tempo que não teve durante o primeiro turno. Dilma, por sua vez, teria a oportunidade de abordar com clareza questões mais polêmicas que mal foram abordadas durante esta primeira etapa das eleições.

Eu sou completamente favorável as mulheres neste segundo turno!

Levar a candidata do PV para disputar o segundo turno com Dilma não é praticamente impossível. Basta que cada eleitor de Marina consiga convencer mais duas pessoas e já teríamos votos suficientes para avançar em direção a um debate mais produtivo.

De qualquer forma, independente do resultado, espero que vença o espírito democrático na reta final deste primero turno das eleições 2010! 

sábado, 25 de setembro de 2010

Roriz: um "machista" tentando burlar a lei "ficha limpa"

Foi com certa surpresa que recebi a notícia que Roriz abandonou sua candidatura e colocou em seu lugar a sua esposa, uma senhora simpática, mas que até o momento jamais atuou na política e não possui qualquer experiência de administração pública ou privada. O abandono da candidatura “em si” não me surpreendeu, afinal, Roriz já havia “renunciado” antes para tentar interromper o processo de julgamento de suas ações e foi exatamente por isso que ele foi “enquadrado” na lei “ficha limpa”. O fato é que tal atitude faz parte da sua “personalidade”.

O que me surpreendeu foi ele ter colocado a sua esposa partindo do pressuposto de que poderá governar através dela, comportamento machista que não condiz com os princípios de igualdade defendidos pelas feministas, mas que está de acordo com o comportamento de muitos homens da nossa sociedade: a lei “Maria da Penha” é um bom exemplo disso. Ao ser questionada pelos jornalistas sobre como conduziria sua campanha na reta final do primeiro turno das eleições, a esposa de Roriz disse que seu marido saberia responder melhor a essas questões e todas as demais que viessem a surgir dali pra frente, deixando claro que a sua candidatura é apenas uma “fachada” para que Roriz possa governar. A ironia é que a foto das urnas eletrônicas será a foto de Roriz, pois já é muito tarde para fazer alterações. Ou seja, quando o eleitor votar na esposa, a foto que irá aparecer é a do ex-candidato, reforçando a idéia de que Roriz e sua esposa são uma única entidade. Um absurdo da política contemporânea!

Estou cada vez mais convencido que Roriz é um desses candidatos “populistas” que usam da demagogia como estratégia principal para arrecadar votos e eleitores, fenômeno arcaico ainda muito comum na política interiorina e em algumas cidades do Brasil. Estamos diante de um sujeito que faz política como “antigamente”. No tempo dos coronéis, o governo era exercido por famílias inteiras que se sucediam no poder, mantendo o controle do bem público como se fosse um “bem familiar ou privado”. O populista defende os interesses da sua família como se fossem os interesses do povo, não importando se o candidato é o filho, a esposa ou o genro. O que importa é manter o governo nas mãos da “família”. Uma lógica que é a própria negação dos princípios democráticos, mas que ainda está presente no cotidiano brasileiro.

O fato é que a demagogia de Roriz combina com as suas atitudes preconceituosas e seu desrespeito à moralidade pública e às leis instituídas. Burlar a “Lei Ficha Limpa” desta forma é apostar na ignorância do povo e na submissão das mulheres à vontade dos homens: uma mistura de machismo com mau caráter. Talvez ele pretenda transformar o DF no quintal da sua família. Eu só espero que o eleitor de Brasília não se deixe enganar mais uma vez por esse sujeito e dê uma reposta nas urnas.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Votação da "Lei Ficha Limpa" no STF

Está em discussão no STF o processo movido por Roriz contra o impedimento da sua candidatura pelo TSE. O caso é paradigmático por que servirá de jurisprudência para analisar outros processos semelhantes movidos por candidatos que se enquadram nos critérios de inelegibilidade da nova lei (ver quadro abaixo com explicação sobre a lei). As discussões no STF já duram dois dias ou quase 15 horas de sessão e muito debate. O resultado das votações aumenta ainda mais a polêmica sobre a correta interpretação jurídica do caso: 5 X 5. A discussão entre os magistrados aborda duas questões: 1) se a legislação vale já para esse ano; 2) se ela pode ser aplicada a um político que renunciou o mandato antes da nova legislação entrar em vigor. A polêmica sobre a data de vigor da lei está relacionada à interpretação da própria lei “Ficha Limpa”. Os magistrados contrários a sua vigência nestas eleições – José Toffoli, Gilmar Mendes, Marco Aurélio de Mello, Cezar de Mello e Cezar Peluso – argumentam que o artigo nº 16 da constituição determina: “a lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da sua vigência”. Desta forma, ao entender que a Lei “Ficha Limpa” altera o “processo eleitoral”, esses magistrados defendem que a mesma só possa entrar em vigor nas próximas eleições conforme estipula a Constituição Federal. Os magistrados que são a favor da sua aplicabilidade imediata – Carlos Brito, Ricardo Lewandosky, Cármen Lúcia, Joaquim Barbosa e Ellen Gracie – argumentam que a lei “não altera o processo eleitoral”, mas garante que preceitos constitucionais referentes à elegibilidade dos candidatos a cargos públicos sejam respeitados no processo eleitoral. Ou seja, conforme a interpretação desses magistrados as regras do processo eleitoral continuam as mesmas, o que muda são as condições que os candidatos precisam cumprir para entrar no jogo (critério constitucional anterior à determinação do processo eleitoral). O impasse ainda não foi resolvido, pois agora o ilustre colegiado terá que decidir os critérios de desempate. Existem várias possibilidades: o presidente do STF pode dar o "voto de minerva"; os ministros podem aguardar a nomeação do novo membro do STF pelo Presidente; ou aceitar preceito do regimento interno do STF que determina que apenas a maioria do tribunal poderia derrubar decisão do TSE.

Enquanto isso, a sociedade brasileira fica sem saber o que fazer nessas eleições e a polêmica – que surgiu inicialmente para evitar a crise institucional – acaba por criar um “clima” de insegurança para o eleitor, que não sabe se a candidatura de pessoas como Roriz são válidas ou não. Na minha opinião, a lei “ficha limpa” – movida por ação popular - foi promulgada para garantir que o processo eleitoral seja realizado conforme os ditames da CF de 1988, respeitando os critérios constitucionais. Ela procura acabar com o procedimento usual na política brasileira de renúncias de candidatos acusados de corrupção e o seu retorno nas eleições seguintes. Essa farra dos corruptos deve acabar! Ladrão (devidamente julgado) não pode ser candidato a cargo público! Essas pessoas precisam entender melhor os fundamentos da democracia. O exercício de cargo público deveria ser uma contribuição do cidadão ao bem público de uma sociedade, de preferência, por tempo determinado. Na era da política "profissional", no entanto, as pessoas vivem da política, são profissionais da política. A questão é que esses "profissionais" precisam entender que, da mesma forma que uma pessoa precisa ter carteira de motorista para dirigir, um cidadão que tenha a intenção de seguir carreira pública precisa cumprir alguns critérios constitucionais de legibilidade, entre eles, não ter sido julgado por corrupção e outros crimes. Desta forma, a sua aplicabilidade deve ser imediata e deve valer também para essas eleições, pois a lei foi promulgada antes da realização das prévias partidárias.

Sobre o caso específico de Roriz, acho uma vergonha que uma pessoa demagoga como ele, que renunciou ao mandato para fugir do julgamento político pelas suas ações ilegais, possa se candidatar ao governo do Distrito Federal, principalmente, diante da história recente de denúncias contra a corrupção no DF. Independente do julgamento do STF, acho que o povo deve dar a sua resposta nas urnas e anunciar em alto e bom tom que não admite que pessoas “ficha suja” como Roriz sejam candidatos a cargos públicos.

Entenda a "Lei Ficha Limpa”

A “Lei da Ficha Limpa”, aprovada pelo Congresso e sancionada dia 4 de junho de 2010, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, impede, dentre outros dispositivos, a candidatura de políticos condenados por um colegiado da Justiça (mais de um juiz).

Segundo a lei, fica inelegível, por oito anos a partir da punição, o político condenado por crimes eleitorais (compra de votos, fraude, falsificação de documento público), lavagem e ocultação de bens, improbidade administrativa, entre outros. Também ficam inelegíveis todos aqueles que renunciaram para escapar da cassação e os cassados pela Justiça Eleitoral por irregularidades cometidas nas eleições de 2006. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) votou pela validade da lei Ficha Limpa para políticos condenados antes de sua promulgação e decidiu que ela vale para as eleições deste ano.

Nesta quarta-feira, os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) julgam o primeiro caso de político barrado pela lei. A decisão irá valer para outros casos de políticos barrados. Até ontem, o TSE havia recebido mais de 1.700 recursos, tanto de políticos barrados como do Ministério Público questionando a liberação das candidaturas. O projeto é resultado de iniciativa popular que obteve em um abaixo-assinado 1,6 milhão de assinaturas. O documento foi protocolado em setembro de 2009 na Câmara.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Divulgando Eventos - Internacional

1° Seminário de Estudos sobre Imigração Brasileira na Europa


Data: 25 a 27 de novembro de 2010
Local: Barcelona, Espanha
Informações: http://seminariobrasileuropa2010.wordpress.com/

Mega Urbanisation and Human Rights: Emerging Challenges and Opportunities

Data: 14 a 16 de fevereiro de 2011
Local: Indian Museum, 27, Jawaharlal Nehru Road, Kolkata (Calcutta), India
Informações: buddhadebc@gmail.com; sumita_chau@hotmail.com; gargisubir@gmail.com

Knowledge and Value in the Globalising World: Disentangling Dichotomies, Querying Unities

Data:05 a 09 de julho de 2011
Call For Panels is open until: 22 de outubro de 2010
Local: University of Western Australia
Informações: conference2011-anthropology@uwa.edu.au

54 International Congress of Americanists Building Dialogues in the Americas

Data: Julho de 2012
Local: Vienna, Austria
Informações: http://ica2012.univie.ac.at/

Fonte: Informativo da ABA - Setembro

Divulgando Eventos - Brasil

Encontro de Arqueologia e Antropologia: Diálogos Contemporâneos. Tema: Objetos e Cultura Material


Data: 27 de setembro de 2010
Local: Auditório Baesse – 4º andar - Prédio da FAFICH UFMG
Informações: http://www.fafich.ufmg.br/

Palestra: "Os museus de sociedades. Museologia e Antropologia na França"

Data: 30 de setembro de 2010
Local: Consecão CCHLA - UFRN
Informações: http://www.cchla.ufrn.br/tapera/
Tel: (84) 3215-3653

Seminário “Antropologia no Estado: a regularização de territórios quilombolas”

Data: 06 de outubro de 2010
Local: Sala de Reuniões do Departamento de Antropologia - UnB - ICC Centro (Sobreloja)
Informações: 61 3307-3006 / dan@unb.br

Seminário “Antropologia e história social da cultura: etnografia e fontes”

Data: 13 de outubro de 2010
Local: Sala de Reuniões do Departamento de Antropologia - UnB - ICC Centro (Sobreloja)
Informações: 61 3307-3006 / dan@unb.br

II Seminário Nacional Sociedade, Corpo e Cultura

Data: 14 a 16 de outubro de 2010
Local: Universidade Federal do Espírito Santo UFES
Informações: snscc@hotmail.com / 27 3335-7671

Seminário “Direitos dos Sem-Direito”

Data: 10 de novembro de 2010
Local: Sala de Reuniões do Departamento de Antropologia - UnB - ICC Centro (Sobreloja)

Informações: 61 3307-3006 / dan@unb.br

Seminário “Pioneiros e Empreendedores: notas bio/etnográficas para uma antropologia da expansão urbana”

Data: 17 de novembro de 2010
Local: Sala de Reuniões do Departamento de Antropologia - UnB - ICC Centro (Sobreloja)
Informações: 61 3307-3006 / dan@unb.br

II Seminário de Pós Graduação em Ciências Sociais

Data: 29 de novembro a 03 de dezembro de 2010
Local: Universidade Federal de Juiz de Fora
Informações: http://seminariocso.blogspot.com/

III Encontro Latinoamericano Ciências Sociais e Barragens

Data: 30 de novembro a 03 de dezembro de 2010
Local: Belém-PA
Informações: http://www.ecsbarragens.ufpa.br/site/index.php?p=prog.

Seminário “Natureza e modernidade: o caso da nação brasileira”

Data: 01 de dezembro de 2010
Local: Sala de Reuniões do Departamento de Antropologia - UnB - ICC Centro (Sobreloja)
Informações: 61 3307-3006 / dan@unb.br

Seminário do LACT - Corpo, Saúde e Ciência
 
O Laboratório de Antropologia da Ciência e da Técnica promoverá no dia 4/10/2010 o seminário sobre Corpo, saúde e ciência, com a participação de Rogério Azize (http://lattes.cnpq.br/6265564915369838) e Marko Monteiro (http://lattes.cnpq.br/5573301475044497).


PROGRAMAÇÃO:
4 de outubro de 2010
Local: DAN
9-12h: Mesa redonda
14-17h: Conversa com alunos e professores do DAN.

Fonte: Informativo da ABA - Setembro.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Veja as Novidades na Biblioteca Antroposimetrica!

Etnografia e Questões Sócio-Ambientais: esboço de uma antropologia simétrica da paisagem - P. Silveira
Híbridos na Paisagem: uma etnografia de espaços de produção e conservação - P. Silveira

Conselho de Gestão do Patrimônio Genético: hibridismo, tradução e agência compósita - D. Soares

Dismantling the divide betwen Indigenous and Scientific Knowledge - Agrawal
Cosmology as Ecological Analysis: a view from the rain forest - Reichel-Dolmatoff
O que significa tornar-se Outro? Xamanismo e Contato Interétnico na Amazônia - A. Villaça
Environmentality - Agrawal
Textual Agency: how text do things in organizations settings - F. Cooren

Linguistics and Grammatology - Derrida & Spivak
Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia - G. Deleuze & F. Guattari
Vol. 1, 2 e 3

Em que se pode reconhecer o estruturalismo - G. Deleuze
NGOs and the Environment: from knowledge to action - S. Jasanoff
Gabriel Tarde and the End of the Social - B. Latour
Making a mess with method - J. Law
Água e Cultura nas Populações Tradicionais Brasileiras - Diegues
How to read a map: remarks on the practical logic of navegation - A. Gell
A Guerra dos Alfabetos: os povos indígenas na fronteira entre o oral e o escrito - B. Franchetto

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Última Pesquisa Data Folha - Eleições 2010

Foi divulgada, nesta última sexta-feira, uma nova pesquisa da Data Folha sobre as eleições 2010. Os dados mostram o seguinte quadro: Dilma com 50%, Serra com 27% e Marina com 11% das intenções de voto.

Os resultados por regiões são os seguintes. No sudeste: Dilma manteve-se estável, pois a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa (de 44% para 46%); Serra caiu sensivelmente de 33% para 29%; e Marina manteve-se estável (de 12% para 13%). No Norte e Centro-Oeste: Dilma caiu de 51% para 47%; Serra se manteve em 29%; e Marina subiu de 10% para 14%. No Nordeste a situação manteve-se praticamente estável sem grandes oscilações.

Vejamos os resultados em alguns estados da federação:

SP - 44%, 36%, 11% (2 e 3.set) - 41%, 35%, 14% (8 e 9.set)
RJ - 46%, 23%, 13% (23 e 24.ago) - 49%, 21%, 16% (8 e 9.set)
MG - 48%, 29%, 10% (23 e 24.ago) - 51%, 24%, 11% (8 e 9.set)
RS - 43%, 39%, 7% (23 e 24.ago) - 43%, 38%, 8% (8 e 9.set)
PR - 43%, 34%, 9% (23 e 24.ago) - 46%, 33%, 8% (8 e 9.set)
BA - 60%, 22%, 7% (23 e 24.ago) - 64%, 18%, 8% (8 e 9.set)
PE - 62%, 21%, 5% (23 e 24.ago) - 67%, 18%, 6% (8 e 9.set)
DF - 44%, 25%, 16% (23 e 24.ago) - 51%, 16%, 24% (8 e 9.set)

Conforme podemos ver acima: Dilma caiu em SP e subiu no RJ, MG, PR, BA, PE e DF; Serra caiu em todos os estados acima; e Marina subiu em todos os estados, com destaque para o DF (de onde pulou da faixa dos 16% para 24%).

Comentários Gerais

A última pesquisa Data Folha demonstra claramente uma tendência de queda de José Serra em quase todas as regiões do país, mas quem parece estar ganhando mais com isso é a candidata do Partido Verde, Marina Silva, que conseguiu subir em quase todas as regiões do país, enquanto Dilma manteve-se estável (com exceção de SP). Isso aponta para uma possibilidade real da Marina se colocar como a candidata que vai levar as eleições para o segundo turno, o que seria um ganho para todos nós, pois só assim teríamos um debate sobre temas fundamentais para o Brasil, como o meio ambiente e as populações tradicionais e indígenas. Caso Marina consiga subir mais 15 pontos percentuais, saindo de 11% para 26%, podemos imaginar um segundo turno com Dilma e Marina.

Tenho que reconhecer, no entanto, que mudanças drásticas são difíceis de serem alcançadas nesta altura do campeonato, mas não podemos esquecer que existe uma parcela do eleitorado que deixa para decidir na última hora. Por outro lado, caso a tendência de queda de Serra se mantenha e Marina consiga ganhar pelo menos metade dos votos dele, uma boa parcela dos indecisos e mais alguns votos da Dilma, já teríamos um quadro favorável para a candidata do Partido Verde. Caso isso não ocorra, acredito que o quadro não irá sofrer grandes alterações e é muito provável que não tenhamos segundo turno nessas eleições. Pois a candidatura Serra já demonstrou claramente a sua impossibilidade de crescimento acima da faixa dos 30%.

De qualquer forma, um ponto positivo revelado nessa última pesquisa é que o quadro atual demonstra que o povo brasileiro não está caindo na perspectiva “golpista” da oposição, que busca confundir o eleitor para ganhar seus votos. Não que eu seja favorável à quebra do sigilo fiscal, mas acho que essa perspectiva alarmista não contribui com o momento em que estamos vivendo. O debate deveria ocorrer a partir do confronto de propostas para o país, mas a mídia comprometida com a direita faz questão de dar um espaço desproporcional para o caso da filha do candidato do PSDB, inclusive, dando-se o direito de mencionar reportagens de revistas como a “Veja” – cuja qualidade jornalística é completamente questionável – como prova desta ou daquela acusação. Quem perde diante disso é o eleitor brasileiro, que não pode escolher seu candidato a partir da avaliação de suas propostas. A verdade é que em um contexto de eleições (e também devido ao próprio funcionamento das instituições no país), não temos como saber o que realmente aconteceu ou até mesmo descobrir os verdadeiros culpados pela quebra do sigilo fiscal, pelo menos não agora. Em um Estado de Direito e Democrático, denúncias não se equivalem a sentenças (isso só acontecia na época da Ditadura Militar), pois existe um processo legal que deve seguir os procedimentos previstos na Constituição e no Código Processual. O que eu chamo de “golpismo” nada mais é do que uma especialização da mídia alarmista e sua insistência em transformar (por força da repetição de acusações) uma denúncia em fato consumado. Como o seu candidato (Serra, o menino de ouro da Rede Globo e suas associadas) não está conseguindo se colocar como opção para o eleitorado a partir das suas propostas políticas, a velha tática golpista surge como última opção. A questão é que o povo brasileiro já não é mais vulnerável como antigamente, fato que ficou comprovado no evento do chamado “mensalão”. Não é um salário mínimo ou denúncias que irão comprar o voto do eleitorado. O PDSB e seus aliados (o velho PFL) vão perder mais do que ganhar com essa tática alarmista de tentar virar o jogo a partir de um golpe midiático (apesar desta tática ter dado certo em outras ocasiões, como quando Collor foi eleito devido a manipulações midiáticas da Rede Globo).

A revista “Veja” é declaradamente mentirosa e suas táticas jornalísticas deveriam ser investigadas pelo Ministério Público, pois são completamente contrárias à função social que todo meio de comunicação deveria exercer (conforme manda a Constituição Federal de 1988). Com seu estilo sensacionalista, a Veja busca usar o seu poder para transformar uma denúncia (acusação que deve ser investigada) em fato consumado, exercendo a função jurídica que deveria ser dos magistrados. Num efeito cíclico, os demais meios de comunicação (assim como a propagando política dos candidatos) passaram a usar a notícia da Veja como fonte para suas divagações, como se o simples fato da denúncia já fosse uma comprovação da culpa deste ou daquele candidato (neste caso, a Dilma). Com isso, mais uma vez, meios de comunicação comprometidos com a candidatura Serra – Rede Globo, Folha de São Paulo, editora Abril e outras – não contribuem em nada com a democracia brasileira, buscando usar do seu poder midiático para forçar um contexto de crise institucional que podemos denominar de “golpista”. O que mais impressiona é que jornalistas e comentaristas supostamente sérios embarcaram nesta onda sem o menor constrangimento ético, reproduzindo a “denúncia” como se fosse fato, o que na verdade não é. Uma denúncia é apenas uma acusação que deve ser investigada através do devido procedimento legal. No nosso país, existem instituições que são responsáveis por investigar as denúncias e até onde eu sei esta não é uma função da mídia e dos jornalistas. É claro que a denúncia deve ser divulgada, o problema é quando ao divulgar a denúncia você imprime um deslocamento de significado que transforma a acusação em fato consumado, que é o que a mídia tem feito na última semana. Mais uma vez assistimos o velho “golpe midiático”, ou seja, o uso indevido do poder da mídia para forçar um ambiente de crise institucional e aterrorizar o eleitor de forma que ele fique tão confuso a ponto de não saber mais em quem votar (ou resolva votar no candidato da oposição!). Felizmente, a sociedade brasileira mudou nos últimos 15 anos e está mais preparada para adotar uma posição crítica em relação aos “fatos” que são divulgados na mídia.

A verdade é que o Serra representa um atraso para a nossa sociedade, nem tanto pela sua pessoa, mas devido as suas parcerias e seus “companheiros” de campanha. Ainda bem que a sociedade brasileira se deu conta disso em tempo e logo vamos poder nos livrar deste lunático.

Já Dilma demonstra ter um compromisso maior com alguns princípios importantes da democracia, mas peca devido a sua perspectiva demasiadamente desenvolvimentista. Veja bem, não sou contra o desenvolvimento, pois a nossa sociedade precisa crescer. A questão não é tanto sobre se desenvolver ou não se desenvolver, mas sobre “como se desenvolver”. Que tipo de desenvolvimento nós queremos para o nosso país? O desenvolvimento não pode ser feito a partir da exclusão da forma de vida dos povos indígenas e tradicionais (conforme vem ocorrendo com a obra carro-chefe do PAC, a hidroelétrica Belo Monte), mas a partir da inclusão dessas populações, o que significa que precisamos construir um caminho mais sustentável para o nosso desenvolvimento, buscando alternativas mais democráticas de crescimento econômico. Essas alternativas já não são mais sonhos e divagações, pois existem exemplos concretos que podemos adotar. A questão é que Dilma está comprometida com alguns setores da sociedade brasileira que possuem uma visão de desenvolvimento completamente predatória e etnocêntrica.

Por isso sou favorável neste primeiro turno a candidatura de Marina Silva, pois acredito que a única forma de discutirmos que tipo de desenvolvimento nós queremos para o nosso país seja levando a candidata do PV a disputar o segundo turno com Dilma, pois isso ajudaria a dar maior visibilidade à questão socioambiental. Ainda acredito na possibilidade de um crescimento da Marina nestas últimas semanas de campanha eleitoral e vejo com bons olhos um segundo turno entre Marina e Dilma. A candidatura do PV cresceu sensivelmente no DF, chegando aos 24% das intenções de voto, o que demonstra que é possível alterar o quadro atual. Basta que Marina continue subindo nas outras regiões para que a sua candidatura ganhe força.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Redescoberta do Desenvolvimentismo Conservador: será possível reinventar a roda?

O discurso de Lula na assinatura da concessão pública para a construção da usina hidroelétrica Belo Monte é um marco da política do “desenvolvimentismo conservador” que o PT vem implementado e cujo marco fundamental tem sido o PAC. Inclusive, não estamos diante de uma descoberta do PT ou do Lula, mas da reprodução de um pensamento governamental que foi concebido há mais de 50 anos atrás na celebre frase de JK “50 anos em 5”. Segundo o nosso presidente, Belo Monte é um reflexo de um estado fortalecido e atuante, em suas próprias palavras, que “não tem medo de governar”. O único fato lamentável é que a lógica por trás da ação governamental, pelo menos neste caso, esteja movida por uma visão extremamente conservadora de desenvolvimento. Para Lula e seus seguidores (incluindo tanto Dilma como Serra), a visão desenvolvimentista é apontada como uma grande conquista por economistas eméritos, quando nada mais é do que uma versão nem tão democrática do velho desenvolvimento militarista da época da ditadura. E, ao que parece, apesar de vivermos num ambiente democrático, o nosso presidente sindicalista parece ainda pensar de forma tão autoritária como seus antigos inimigos de farda. Para Lula, Governar significa passar por cima da Constituição Brasileira e dos interesses dos grupos diretamente afetados pela construção de Belo Monte. Afinal, o governo não respeitou o direito de consulta das populações diretamente atingidas pela obra ou o tempo do debate democrático com a sociedade, pois preferiu introduzir cargos de confiança na estrutura do governo (Funai, Ibama) para "fazer passar a obra a qualquer custo", passando por cima de laudos técnicos contrários aos interesses dos empresários envolvidos na construção da úsina Belo Monte.

Essa visão de desenvolvimento é tão ultrapassada que no mesmo momento em que o Governo assinou a sentença de morte da bacia do rio Xingu, o presidente Obama anunciava altos investimentos em fontes alternativas de energia. Será que ninguém informou o presidente que, na verdade, a grande novidade não é o desenvolvimento (1970/80), mas sim tentar pensar "outra forma" de desenvolvimento, um "desenvolvimento alternativo" baseado no princípio da sustentabilidade.

O mais irônico em tudo isso é vermos a mais “nova” vedete do pensamento econômico brasileiro lançar o “desenvolvimentismo” como a grande descoberta da vez, quando, na verdade, nada mais é do que uma reprodução do velho conservadorismo industrialista que sempre reinou no Brasil pelo menos desde a década de 1950. Somente pessoas mal informadas e que não conhecem a história recente no nosso país podem acreditar que algo tão velho pode ser lançado como a grande novidade do momento. A ironia é que no Brasil constumamos lançar grande idéias com algumas décadas de atraso!

Alguém precisa avisar o Planalto que precisamos descobrir uma nova forma de desenvolvimento que leve em conta o nosso potencial nativo: a nossa sociobiodiversidade. Isso significa não cometer os mesmos erros de antigamente. Precisamos investir em novas idéias e novos projetos. Precisamos repensar a nossa base energética a partir de princípios mais sustentáveis. Com uma área tão favorecida pelo sol, por que não investir em fontes de energia solar? Que pensamento desenvolvido é esse que ao se desenvolver faz isso a partir de perspectivas extremamente conservadoras sobre o desenvolvimento?

É uma pena que o nosso presidente não possua a sensibilidade necessária para entender que obras como Belo Monte representam um atraso para a nossa sociedade ao reproduzirem um desenvolvimento antropofágico, que se faz em detrimento da vida (cultural e ambiental) de parcelas importantes da nossa população. Não precisamos destruir o meio ambiente para gerar energia elétrica. Não precisamos destruir a cultura e a vida dos índios para gerar desenvolvimento. Será que alguém pode avisar o presidente Lula que o pensamento gestado nos quartéis militares já está ultrapassado? Será que alguém pode avisar a Maria da Conceição Tavares que é impossível reinventar a roda quando já existem bilhões de carros poluindo o meio ambiente?

Na realidade, a diferença entre o “Avança Brasil” e o “PAC” não é qualitativa, mas quantitativa. No final, o que temos é o mesmo pensamento conservador e tecnicista que vem se reproduzindo como mentalidade governamental há mais de 50 anos e que agora é apresentado ao público (percebido enquanto conjunto de “consumidores”) como o novo produto de idéias inovadoras.

O que precisamos é de um desenvolvimento democrático e sustentável, que seja pautado pelo princípio da inclusão das populações que foram historicamente excluídas dos projetos desenvolvimentistas – os índios, os povos “tradicionais”, os pobres, os negros, as mulheres – nos projetos governamentais. O desenvolvimento não pode continuar sendo feito “contra” esses importantes setores da nossa sociedade, como se eles fossem o sinal do nosso atraso em relação aos "países desenvolvidos", algo que precisa ser superado pelas forças históricas do “desenvolvimento a qualquer custo”. Afinal, existe pensamento mais conservador do que esse?

Como diria Sérgio Buarque, o problema do Brasil é que a nossa elite governa o país com os olhos na Europa (e hoje, cada vez mais, nos Estados Unidos e na China) e de costas para esse imenso continente chamado Brasil. Por isso conseguimos fazer grandes descobertas ultrapassadas!

sábado, 11 de setembro de 2010

Reflexões sobre "War and Peace of Microbes" (1ª Parte - The Pasteurization of France) - Latour

Bruno Latour propõe deslocar o olhar antropológico para o centro das sociedades ocidentais. Desde o seu primeiro livro, Vida em Laboratório, baseado em pesquisa de campo realizada na década de 1970, na Califórnia, a sua proposta etnográfica se alia perfeitamente ao objetivo maior de construção de uma antropologia da ciência.

Em The Pasteurization of France, Latour propõe não separar a ciência/tecnologia da sociedade. Ainda na introdução desse livro, o autor apresenta sua proposta metodológica: não definir a priori uma lista de atores que serão objeto de análise. Não precisamos estabelecer um “mundo” a ser analisado, e nem mesmo quais atores e alianças são fortes ou fracas. O que precisamos fazer é abordar as relações de força a partir de uma antropologia simétrica, definindo um ponto de partida e seguindo a rede de traduções realizadas pelos atores.

Nesse livro, Latour aplica a sua metodologia para analisar a “revolução científica” promovida por Pasteur como um caso exemplar da ciência em ação, pois essa “revolução” ocorreu no auge do iluminismo cientificista e foi representada como a vitória definitiva do esclarecimento sobre a escuridão: um caso bem sucedido de aplicação do método científico para solucionar o “problema” da emergência das epidemias que assolavam as metrópoles européias.

Como exercício de aproximação, Latour propõe abrir a caixa-preta da “Revolução Pasteuriana”. Para isso, é preciso romper com a idéia de que Pasteur sozinho e a partir da sua genialidade regenerou a ciência e fundou uma nova medicina, uma nova biologia. É preciso decompor a eficácia de Pasteur devolvendo a liberdade de ação aos demais atores.

Ao analisar o contexto histórico em que Pasteur estava inserido percebemos que antes mesmo do seu nome ser reconhecido pelos seus colegas cientistas havia uma preocupação geral com a regeneração do homem da sua época, o que só poderia ser feito a partir da aplicação do método científico através de um programa de reformas sociais e políticas. Corpos e forças de produção não atuam isolados, mas são os efeitos inevitáveis de uma nova concepção de “governamentalidade” baseada basicamente na idéia de “população” como força característica dos Estados Nações, contexto muito bem descrito na arqueologia da ciência realizada por Foucault. Esta era a guerra que estava em andamento quando Pasteur resolveu abandonar a ciência dos cristais. A crença na objetividade científica era também uma promessa de reformulação da sociedade e do homem.

Para entendermos como Pasteur passou a ser representado, em pouco tempo, como o gênio que revolucionou a ciência e a sociedade, precisamos entender antes o movimento higienista. Os artigos desse grupo podem ser identificados por portarem um estilo específico. A retórica higienista - composta por uma acumulação de avisos, precauções, receitas, opiniões, estatísticas e regulações - não possui um argumento central. O grande problema dos higienistas do período não era a ausência de argumentos, mas o excesso de informações: se qualquer coisa pode causar doença, nada pode ser ignorado e é preciso agir em todos os lugares ao mesmo tempo, situação um tanto caótica para quem pretende revolucionar a sociedade. Em um contexto como esse, os higienistas precisavam de uma teoria que explicasse a variabilidade da doença.

Foi então que, a partir de 1880, eles passaram a utilizar como referência principal os argumentos de Pasteur, sem nunca questionar suas afirmações, confiando inteiramente em suas idéias e passando a generalizá-las sem maiores questionamentos. Conforme afirma Latour, a força de uma teoria não reside em si mesma, mas com o que é feito com ela: para colocar um argumento em movimento precisamos conquistar aliados e mobilizar novos contingentes militares.

Para os higienistas o que importava é que eles poderiam continuar suas investigações sobre os múltiplos fatores que influenciavam na propagação de doenças, mas ordenando e hierarquizando esses fatores conforme a atuação dos micróbios. Pela primeira vez eles passaram a ter um alvo preciso e conseguiram centralizar suas forças e ordenar o seu ataque. Os higienistas não eram modernos frente aos resistentes, considerados anacrônicos, mas eles se fizeram modernos ao ultrapassar os demais, ao multiplicar a eficácia de suas investidas teóricas, ao fazer com que o tempo passasse a trabalhar a seu favor. E foi exatamente para atingir os seus próprios objetivos e interesses que os higienistas passaram a apoiar, ampliar e generalizar todo argumento sobre micróbios. Sob o custo de aceitar o poder da microbiologia e eleger Pasteur o gênio da sua época, eles conseguiram avançar na sua causa mais rápido e conseguiram intensificar o seu poder sob seus adversários, fossem eles micro-parasitas, doenças ou autoridades públicas.

Por outro lado, os “pasteurianos” também se posicionaram em relação aos higienistas, mas fizeram isso de uma forma muito especial. Num primeiro momento, eles foram ao seu encontro, depois se movimentaram na mesma direção. Mais tarde, pretendendo direcioná-los, acabaram por redirecioná-los ao somar um elemento crucial: o laboratório. Esse é o movimento de tradução/translação realizado pelos pasteurianos: trazer seus adversários para seu campo de batalha. O laboratório é o único espaço onde esses cientistas reinavam inteiramente e é a partir deste espaço que eles vão buscar convencer seus adversários.

Mas porque Pasteur ganhou força no laboratório? Ele ganhou força porque lá os fenômenos do “mundo real” se tornaram fracos ao serem dominados por seres humanos que se tornaram fortes. Com auxílio de suas máquinas – tubos de ensaio, reguladores de temperatura, substância químicas e, principalmente, os microscópios que permitiram transformar agentes invisíveis em micróbios – os homens ganharam uma força extraordinária sobre os seus adversários. Os elementos de inscrição da realidade - instrumentos de disciplinarização do espaço-tempo - possibilitaram a transcrição de fenômenos abstratos em uma linguagem facilmente reconhecível por outros setores da sociedade. Estamos diante de um "riot" científico e de um nivelamento de forças nunca antes possível.

Mas, nesse movimento, o próprio laboratório foi um pouco além ao eleger o problema da variabilidade da doença – de interesse dos higienistas – num problema experimental. Como tal sobreposição de interesses se tornou possível sem ocasionar divergências e conflitos? A questão é que as duas gerações distintas de cientistas acreditaram por um tempo que eles se entendiam uns aos outros, agindo a partir deste mal entendido e intensificando a sua força ao se direcionarem paralelamente – o que só foi possível a partir de um movimento de tradução. Traduzir interesses significa oferecer novas interpretações desses interesses e canalizar as pessoas para direções diferentes.

O próprio Pasteur traduziu seus interesses ao deixar de levar adiante, e de forma quase que isolada, os seus próprios “problemas científicos”, para inclinar-se ligeiramente na direção dos “problemas” que ocupavam a atenção de um número bem maior de pessoas. Pasteur abandonou a cristalografia para se dedicar ao problema da fermentação, posicionando-se no centro de interesses da indústria de cervejas, vinagre e vinho, cujo peso econômico era muito maior do que o potencial dos seus colegas, estudiosos dos cristais. Acima de qualquer outra coisa, Pasteur transformou num problema de laboratório um problema econômico crucial, fazendo com que toda a indústria passasse a se interessar pelo sucesso dos seus experimentos e pelo sucesso do seu laboratório (mais recursos humanos e materiais, microscópios mais potentes). Um pouco mais tarde, ele fez o mesmo com a indústria da seda, para só depois aplicar os avanços adquiridos até então ao problema das doenças contagiosas (problema ao qual ele ainda não havia se dedicado). Em cada um desses momentos ele seguiu a demanda que essas forças estavam apresentando, mas impôs sob essas demandas uma formulação específica a qual só ele tinha a resposta.

Mas ainda era preciso fazer o movimento de retorno: ir do laboratório para a “realidade externa” ou ampliar o laboratório a ponto que ele passasse a abranger a própria sociedade. Era preciso teatralizar a prova, reformar os antigos cenários da doença, conduzir pequenas transformações no ambiente a partir de certo número de procedimentos: os animais vacinados tinham que ser separados dos animais não vacinados e devidamente identificados; todos os dias as suas temperaturas tinham que ser verificadas e anotadas; as seringas utilizadas tinham que ser esterilizadas. Nada disso ocorria antes numa fazenda “tradicional”. Esse projeto de transformação do meio externo só foi possível com o consentimento dos fazendeiros, com quem os cientistas também tiveram que negociar e se associar.

Mas nem todos os coletivos se colocaram em marcha em nome da revolução. Havia também grupos mais rebeldes, menos dispostos a se colocar em movimento, que numa ação defensiva buscaram manter o seu "status quo". Esse foi o caso dos médicos civis franceses. Afinal, todos os avanços apresentados por Pasteur apontavam, pelo menos num primeiro momento, para a dissolução da profissão médica tal qual ela era praticada na época, baseada na relação médico-paciente e na cura de doenças. O que os médicos deveriam fazer com aqueles métodos e doutrinas que representavam uma ameaça a sua profissão? Talvez se eles fossem fortes, contassem com um bom número de aliados... Mas não era esse o caso: os médicos sofreram quase tanto quanto os próprios micróbios. Eles estavam praticamente isolados e não podiam fazer nada além de se negar a ingressar no exército pasteuriano.

O certo é que ou os médicos podiam utilizar o que estava sendo produzido pelo laboratório Pasteur para avançar seus próprios interesses, ou eles não podiam. Se eles pudessem, qualquer argumento, não importa o quanto revolucionário ele pudesse ser, seria compreendido e utilizado o quanto antes. O fato é que a inovação pode levar tempo quando os interesses parecem não coincidir ou não podem ser traduzidos a partir de um mal entendido em comum. Como que os médicos iriam cooperar com um programa que era a própria promessa de extinção da doença, do doente e por reflexo do próprio médico? Tanto os higienistas como os pasteurianos trabalhavam para que a doença não se propagasse através do contágio, promovendo a prevenção em detrimento do tratamento cirúrgico.

Neste caso, os médicos acabaram tendo que traduzir seus interesses, mas não sem levar as demais forças a se deslocar levemente. Se os médicos se negavam a ir em direção ao laboratório com medo de reificar ainda mais a sua força e sua eficácia, o laboratório teve que ir até eles. Desta forma, o único preço que teriam que pagar é que os seus consultórios fossem transformados numa extensão do laboratório Pasteur.

O que percebemos neste estudo de caso realizado por Latour é que o fato científico é construído coletivamente, que os cientistas são levados a traduzir seus interesses e se associar com outras forças para levar adiante seus projetos. As redes compostas por humanos e não humanos transpassam o laboratório e a sociedade. Napolião não está sozinho: dêem as batatas aos vencedores!

Obs. Texto apresentado no Seminário Avançado em Teoria Antropológica II, ministrado pela Profª Mariza Peirano, no PPGAS da UnB (2008).

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Novidades na Biblioteca Antroposimetrica

Environmentalism Brazil: Between Domestic Identity and Response to International Challenges - Alonso & Clémençon

Indigenous People and Conservation - J. Alcorn

Indigenous Knowledge for Biodiversity Conservation - F. Berkes

Biodiversity Datadiversity - G. Bowker

Scribble (Writing Power) - Derrida

The Challenges of Interculturality: indigenous people and sustainable development subprojects in Brazilian Amazonia - P. Little

Introdução ao Pensamento Complexo - Edgar Morin

Conservation and Development alliances with the Kayapó of south-eastern Amazonia - B. Zimmerman & T. Turner

Piercing Distinctions: the making (and Re-making) of Social Contract in the Northwest Amazon - J. Chernela

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Desaparecimento de indígena mobiliza a comunidade de Y Hovy em Guaira, Paraná

Desde o dia18 de agosto de 2010, o indígena Guarani João Martins, morador do Tekoha Y Hovy, município de Guaira, se encontra desaparecido. Nas palavras do cacique Ilson Soares “estamos muito preocupados, pois, ele jamais abandonaria a comunidade desta forma, já entramos em contato com várias aldeias da região e até do Mato Grosso do Sul e ninguém sabe o seu paradeiro, já estamos conformados com o pior”.
A comunidade de Y Hovy se encontra em uma área ocupada, ainda não regularizada, de 17 alqueires que pertencem – parte ao um proprietário local – parte a prefeitura municipal de Guaira. A comunidade de Y Hovy, que conta com 12 famílias, tomou posse da área em 07 de novembro do 2009, e desde então vem resistindo e reclamando a terra como tradicional. A FUNAI já afirmou que irá tomar providências para a identificação da terra, mas, ainda nada foi feito. Nas palavras de Ilson, esta situação “vem se tornando cada vez mais difícil, pois, não sabemos se o desaparecimento de João Martins pode estar relacionado à questão da terra ou não, a verdade é que sempre recebemos ameaças de um e de outro, então, a gente não sabe o que pode acontecer”.


Logo após o desaparecimento as aldeias da região foram até Y Hovy e fizeram uma grande busca com o auxílio da polícia federal e civil, e encontraram o colar de João Martins quebrado perto de sua casa e sinais de sangue, porém, nenhum corpo. O desaparecimento está registrado junto à polícia civil, porém, as buscas terminaram, a polícia afirma que agora devem esperar o surgimento de “um fato novo” para continuar as investigações. A comunidade está convencida que João Martins foi assassinado, segundo Ilson “não sabemos o que aconteceu, mas, ele deixou o feijão cozinhando no fogo, o feijão secou, queimou, o fogo apagou e ele não voltou a casa”.

Ainda conforme a comunidade, João não tinha problemas de saúde que pudesse lhe causar nenhum mal repentino. A polícia afirma que ainda não tem nenhuma linha de investigação e também nenhum suspeito. Para a comunidade, a desparecimento de João Martins pode estar relacionado à luta pela terra, “por aqui todos estamos com medo, estamos organizando nossos txondaros para fazerem vigília a noite e rezando bastante para que ñanderu nos ajude a achar o corpo do nosso parente, mas, aconteça o que acontecer, não iremos sair desta terra”.

Fonte: Redes Virtuais (Aepim) Blog - http://acordaterra.wordpress.com/
Paulo Porto – OPAN

Processo Seletivo para Alunos Indígenas - UFMG

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) faz saber aos candidatos indígenas interessados que, no período de 27 de setembro a 8 de outubro de 2010, estarão abertas, exclusivamente pela Internet, as inscrições ao Processo Seletivo 2011 FUNAI/ UFMG, para ingresso em 2011 nos seguintes cursos: Agronomia (Campus Montes Claros); Ciências Biológicas; Medicina; Enfermagem; Ciências Sociais e Odontologia. São disponibilizadas 02 vagas para cada curso, perfazendo um total de 12 vagas.


As provas serão realizadas no dia 21 de novembro de 2010, na UFMG, em Belo Horizonte.

No primeiro processo seletivo, realizado em 2009, tivemos 253 candidatos inscritos on-line, de 19 diferentes etnias de vários estados do Brasil, mas nem todos enviaram a documentação em tempo.

É importante consultar o Portal do Processo Seletivo UFMG/FUNAI 2011, disponível no site da COPEVE/UFMG (Comissão Permanente de Vestibular):

http://www.ufmg.br/copeve/site/index.php#-1

Além do site da própria COPEVE, o candidato poderá solicitar esclarecimentos para Comissão de Acesso e Permanência de Alunos Indígenas da UFMG através do e-mail: vestibularindigenaUFMG@gmail.com

Comissão de Acesso e Permanência de Alunos Indígenas da UFMG

Fonte: Redes Virtuais (GEACT)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cameron diz que pretende fazer filme sobre Belo Monte

O cineasta James Cameron afirmou que voltará ao Brasil neste ano para dirigir um filme 3D sobre índios da Amazônia que se opõem à construção de uma barragem, a de Belo Monte, na região. "Eu quero encontrar alguns líderes da tribo Xikrin-Kayapo que me convidaram para voltar ao Brasil", disse o diretor canadense em uma entrevista publicado no jornal Folha de São Paulo.


"Vou fazer um filme 3D sobre a vida desses índios e sobre a sua cultura", ressaltou o cineasta, que assina o blockbuster Avatar, cuja trama se desenrola em torno de uma comunidade pacífica chamada Na'Vi.

O diretor já foi para a Amazônia duas vezes em uma demonstração de apoio à tribo. Ele fez também um pequeno filme sobre a resistência dos índios à construção da barragem, que deverá ser incluído como extra na edição de natal do DVD do Avatar.

Novo Método para combater o câncer

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia descobriram uma nova forma de combater as células do câncer. O processo, desenvolvido por Niles Pierce, faz uso de uma pequena molécula de RNA que pode ser programada para atacar células do câncer específicas, depois, ao trocar de forma, essas moléculas levam a célula a se autodestruir. Nas técnicas de quimioterapia convencional, os métodos usuais atacam as células que possuem um comportamento semelhante às células do câncer, mas acabam por atacar também outras células, causando efeitos colaterais indesejados. A nova técnica, no entanto, torna o tratamento mais específico, pois está voltada unicamente para as células do câncer, deixando as células sadias intocadas. O novo método, portanto, permite um avanço no combate ao câncer acompanhado por uma diminuição nos efeitos colaterais das atuais terapias disponíveis na medicina.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sociedade & Conhecimento: a socio-lógica das associações

No seu livro O Saber Local (1997), Clifford Geertz propôs uma etnografia nas “aldeias intelectuais”, espaço da experiência política, moral e pessoal dos atores que nela circulam. O autor afirmou que a antropologia precisa deslocar o seu olhar na direção dos espaços de produção científica, como os laboratórios, os institutos de pesquisa, os departamentos universitários e as sociedades científicas. Tal deslocamento deve ser um empreendimento histórico, comparativo e interpretativo com especial interesse nas categorias lingüísticas utilizadas pelos pesquisadores no processo constante de ordenação da experiência, o que significa considerar a cognição, a percepção e a imaginação que fazem parte do fazer científico, como construções sociais e, portanto, elementos de reflexão antropológica.

O livro Ciência em Ação (2000) de Bruno Latour representa um marco nos estudos sobre o fazer científico, principalmente, pela perspectiva teórica e metodológica assumida pelo autor. A sua proposta primordial consiste em analisar o fato científico no seu processo de construção coletiva. Para colocar em prática este intento, Latour propôs algumas regras e princípios metodológicos. A noção de “caixa-preta” e a proposta de sua desconstrução através de flashbacks, por exemplo, indica a diferença entre abordar a ciência pronta e a ciência em construção. A partir de um conjunto de exemplos ilustrativos, Latour demonstrou a particularidade de sua abordagem: seguir os cientistas em suas atividades cotidianas, perceber suas ações e associações. Segundo o autor, a atividade científica é um fazer coletivo que depende não só do conteúdo dos enunciados, mas também da forma que estes enunciados são utilizados e relativamente transformados por outros agentes, sejam eles da comunidade científica ou não. Apreendemos então que o status das afirmações está em constante disputa e depende das observações posteriores que serão tecidas por terceiros.

Conforme argumentou Latour, no processo coletivo de construção de fatos, diferente do que afirmou Aristóteles, a retórica exerce uma função fundamental. No entanto, principalmente se tratando de argumentos científicos, a arte do convencimento dificilmente está sozinha e geralmente costuma andar acompanhada de aliados: teorias, autores, equações matemáticas, tabelas, instrumentos de leitura e testes de laboratório. As afirmações de um cientista apresentam-se como mais ou menos resistentes diante de provas de refutação. Esta resistência não é meramente de ordem quantitativa (quanto maior o número de provas, melhor), mas qualitativa, ou seja, depende daquilo que o autor chamou de táticas de posicionamento: empilhamento (do específico para o geral); encenação e enquadramento (o leitor enquanto personagem semiótico); e captação (o movimento do leitor tem que ser previsto e controlado). Todavia, para um leitor desconfiado e decidido em investigar a origem dos enunciados essas táticas são ainda insuficientes.

É preciso ir do texto ao laboratório. Somos convidados a ver o fato científico com os nossos próprios olhos. Esta incursão, no entanto, não nos revela a “Natureza”, mas os instrumentos de sua fabricação. Ao propor a problematização do “realismo do laboratório”, Latour abriu todas as caixas-pretas e apresentou uma ciência em processo de construção. Como saber se o resultado (fato) não tem sua origem no cenário construído pelos instrumentos? Realidade, em última instância, é aquilo que resiste aos testes de força.

Entretanto, a proposta mais estimulante e que de certa forma surge como um reflexo da abordagem propositiva de Latour é a proposta de refutação dos “tribunais da razão” a partir de uma análise do ciclo aspiral de acumulação do conhecimento e os conceitos de tradução e sócio-lógicas. Tais propostas estão relacionadas entre si e surgem de uma abordagem do fato científico enquanto constructo de agentes e associações que ocorrem fora e dentro do laboratório (ou academia).

Ao afirmarmos que “estamos errados ao limitar a construção de fatos aos cientistas”, somos levados a refletir sobre a relação destes com outros agentes (empresários, políticos, ativistas e etc.). A necessidade de negociação de interesses se torna inevitável, principalmente tendo em vista o alto custo dos laboratórios. Insatisfeito com o modelo de difusão - invenção, trajetória e desenvolvimento –, Latour propôs o seu conceito de tradução/translação. Negociar implica necessariamente permitir certo desvio nos objetivos iniciais, mas o cientista deve fazer de tudo para que este desvio seja o menor possível. Traduzir significa transpor interesses fornecendo novas interpretações de forma a constituir conexões entre lugares e agentes diferenciados. Surge, então, uma segunda proposta metodológica: é preciso pensar a ciência a partir da noção de rede de conexões e associações que está por toda a parte.

O passo seguinte consiste em romper com a oposição entre racionalistas e relativistas, consagrada, por exemplo, nas críticas de Ernest Gellner (1997) e a sua refutação militante do relativismo (ou o que ele entende por relativismo). O posicionamento de Latour diante dessa batalha virtual foi bem claro: a crença dos racionalistas no Grande Divisor vem do esquecimento do movimento de ir e voltar (observação e distanciamento) que constitui a prática científica. A sua dica foi mais clara ainda: diante das acusações de irracionalidade, precisamos observar o angulo, a direção, o movimento e a escala do deslocamento do observador. A acusação de irracionalidade é sempre feita por alguém que está construindo uma rede em relação a grupos e pessoas que se colocam no seu caminho. Por trás de todo conhecimento científico, existem expedições, coleções, sondas, observatórios e pesquisas anteriores que permitem às centrais de cálculo atuar nas distâncias mais remotas da imaginação humana. O exemplo citado pelo autor é bastante elucidativo: as caravelas que “descobriram” as Américas são apenas a ponta de um processo muito mais amplo. Por trás de toda caixa-preta existe certo número de ciclos de acumulação. Essa observação, no entanto, não significa uma apologia à continuidade, pois toda acumulação é um conjunto heterogêneo de rupturas constantes de antigas caixas-pretas e construção de outras novas.

O Grande Divisor, no entanto, só é dissolvido com os conceitos de sócio-lógica e simetria. Ao iniciarmos nossa reflexão a partir da quinta regra metodológica proposta por Latour - que devemos acompanhar as duas frentes de construção (interna e externa ao laboratório) simultaneamente - podemos questionar sobre a relação dos cientistas e os demais agentes e seus interesses. Conforme argumentou o autor, se não estamos interessados em incentivar o conflito entre crenças, ou criar alguma dicotomia grandiosa como os adultos e as crianças, os iluminados e os fundamentalistas (versão Gellner), resta saber de que forma devemos fazer para diferenciar as cadeias de associações. Afinal, a crítica simétrica não explica por que os cientistas (e outros sujeitos) estão brigando todo o tempo para criar assimetria entre suas alegações.

Durante todo o livro, utilizando-se de alguns exemplos, o autor demonstrou que quando resolvemos ir ao encontro do que outras pessoas alegam, acabamos por descobrir que outras coisas estão amarradas às suas afirmações. Após ilustrar seu argumento com alguns conflitos de classificação, Latour sugeriu que esses conflitos apresentam tensões entre estruturas lingüísticas que operam em sócio-lógicas diferenciadas. Ao abordar esses conflitos, o pesquisador deve se questionar sobre como são feitas as atribuições de causa e efeito; que pontos estão interligados; que dimensões e que força têm essas ligações; quais são os mais legítimos porta-vozes; e como todos esses elementos são modificados durante as controvérsias. As respostas que surgem dessas questões é o que Latour chama de sócio-lógica.

Ao analisar as classificações totêmicas, Lévi-Strauss percebeu que as lógicas prático-teóricas que regem a vida e o pensamento das sociedades “primitivas” são movidas pela exigência de cortes diferenciais, e que o mais importante não é exatamente o conteúdo (sempre arbitrário), mas a forma que esse sistema assume. Surge, assim, o argumento de que o totemismo não é uma instituição autônoma, mas modalidades arbitrariamente isoladas de um sistema formal que tem como função a conversão dos diferentes níveis da realidade social, um método para se assimilar toda espécie de conteúdo (uma grade). O autor concluiu: “como Durkheim parece ter entrevisto, às vezes é numa sócio-lógica que reside o fundamento da sociologia (1989, p. 93).

Quando Lévi-Strauss apresentou os dois caminhos que o pensamento percorre, um mais voltado para a intuição sensível e o outro para a abstração distanciada, fez questão de notar que não se trata de estágios desiguais no desenvolvimento do espírito humano. O pensamento mágico não é um esboço de outra forma de pensamento mais elaborado, mas um sistema bem articulado e independente da ciência. Nas palavras do próprio autor, “em lugar de opor magia e ciência, seria melhor colocá-las em paralelo, como dois modos desiguais quanto aos resultados teóricos e práticos, (...) mas não devido à espécie de operações mentais que ambas supõem” (Id., p. 28). Conforme uma metáfora utilizada por Latour (2000), as sócio-lógicas são “muito semelhantes aos mapas rodoviários; todos os caminhos vão a algum lugar, sejam eles trilhas, estradas (...), mas nem todos vão para o mesmo lugar” (p. 336). A tarefa de mapeamento de associações heterogêneas que seguem sócio-lógicas diferenciadas nos leva a perceber que a atividade intelectual é universal a todos os sistemas de pensamento, sejam eles “modernos” ou “primitivos”.

domingo, 5 de setembro de 2010

Noites de Cabaré - Fábio Lopes Alves

Divulgo aqui o livro de Fábio Lopes Alves sobre gênero e sociabilidade na zona de meretrício, um trabalho inédito sobre esse tema a partir de uma abordagem antropológica e etnográfica. O livro está disponível na Livraria Cultura. Segue abaixo a sua sinopse.

A vida cotidiana na zona de meretrício é o tema deste livro. Através de uma análise etnográfica são descortinadas as dinâmicas de interação, gênero e sociabilidade que ocorrem nesse estabelecimento social. Utilizando referenciais antropológicos, apresenta-se a maneira como as garotas de programa constroem suas relações cotidianas no ambiente de prostituição. O autor descreve as lógicas simbólicas dos aposentos, salas, cozinha e corredores daquele local. Narra minuciosamente os contatos, os jogos de cena, os olhares e as intenções das personagens que, embora fingindo para agradar, são verdadeiras ao se abrirem para relatar o que pensam e como veem os que com elas interagem. Desde estratégias de propaganda na rua para atrair clientes ao bordel até os relatos feitos nas entrevistas, mostram um universo complexo de relacionamentos e permitem antever o imaginário da família, do trabalho, e o que as garotas pensam de si mesmas. Além disso, os truques usados no bordel mostram estratégias de sobrevivência e lutas que só uma pesquisa como esta pode revelar.

sábado, 4 de setembro de 2010

Novidades na Biblioteca Antroposimetrica

Foram disponibilizados novos artigos na bilioteca:


The Animal That There for I am - Jacques Derrida
The Subject and Power - Michel Foucault
Ritual as Comunication: Order, Meaning, and Secrecy in Melanesian Initiation Rites - R. Wagner
Knowing and Believing: A Dialogue - Michel Serres & Roxanne Lapidus
Objects Lessons - John Law & Vicky Singleton
A Dádiva Indígena e a Dívida Antropológica - Marcela Coelho de Souza
O Ser e o Tempo - M. Heidegger

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Novidade! A Videoteca Antroposimetrica

Seguindo o exemplo da biblioteca, a "Videoteca Antroposimetrica" foi concebida como um espaço público para a disponibilização de vídeos com alguma relação com a temática da antropologia simétrica, incluindo documentários, vídeos e entrevistas sobre etnologia, antropologia da ciência e teoria antropológica. O seu conteúdo será renovado regularmente. Basta entrar na página ao lado, clicar no link e saborear a jornada aúdio-visual.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Curso de Fotografia para Antropólogos

O fotógrafo Olivier Böels e a Escola Contemporânea de Humanidades estão promovendo um curso de fotografia voltado especialmente para antropólogos e estudantes de antropologia (e áreas afins). Olivier é especialista em fotografia social e cultural, sendo detentor de vários prêmios nacionais e internacionais. O curso consiste em seis encontros abrangendo questões relacionadas à técnica fotográfica e à relação/uso dessa técnica na antropologia ou ciências sociais. O curso será realizado em Brasília (DF) e tem previsão de início no dia 29 de setembro. Uma ótima oportunidade para quem gostaria de transformar a arte da fotografia em antropologia visual.

Para maiores informações:

Tel: (061) 3245-7083
E-mail: contato@escolacasa.com
   
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