O discurso de Lula na assinatura da concessão pública para a construção da usina hidroelétrica Belo Monte é um marco da política do “desenvolvimentismo conservador” que o PT vem implementado e cujo marco fundamental tem sido o PAC. Inclusive, não estamos diante de uma descoberta do PT ou do Lula, mas da reprodução de um pensamento governamental que foi concebido há mais de 50 anos atrás na celebre frase de JK “50 anos em 5”. Segundo o nosso presidente, Belo Monte é um reflexo de um estado fortalecido e atuante, em suas próprias palavras, que “não tem medo de governar”. O único fato lamentável é que a lógica por trás da ação governamental, pelo menos neste caso, esteja movida por uma visão extremamente conservadora de desenvolvimento. Para Lula e seus seguidores (incluindo tanto Dilma como Serra), a visão desenvolvimentista é apontada como uma grande conquista por economistas eméritos, quando nada mais é do que uma versão nem tão democrática do velho desenvolvimento militarista da época da ditadura. E, ao que parece, apesar de vivermos num ambiente democrático, o nosso presidente sindicalista parece ainda pensar de forma tão autoritária como seus antigos inimigos de farda. Para Lula, Governar significa passar por cima da Constituição Brasileira e dos interesses dos grupos diretamente afetados pela construção de Belo Monte. Afinal, o governo não respeitou o direito de consulta das populações diretamente atingidas pela obra ou o tempo do debate democrático com a sociedade, pois preferiu introduzir cargos de confiança na estrutura do governo (Funai, Ibama) para "fazer passar a obra a qualquer custo", passando por cima de laudos técnicos contrários aos interesses dos empresários envolvidos na construção da úsina Belo Monte.
Essa visão de desenvolvimento é tão ultrapassada que no mesmo momento em que o Governo assinou a sentença de morte da bacia do rio Xingu, o presidente Obama anunciava altos investimentos em fontes alternativas de energia. Será que ninguém informou o presidente que, na verdade, a grande novidade não é o desenvolvimento (1970/80), mas sim tentar pensar "outra forma" de desenvolvimento, um "desenvolvimento alternativo" baseado no princípio da sustentabilidade.
O mais irônico em tudo isso é vermos a mais “nova” vedete do pensamento econômico brasileiro lançar o “desenvolvimentismo” como a grande descoberta da vez, quando, na verdade, nada mais é do que uma reprodução do velho conservadorismo industrialista que sempre reinou no Brasil pelo menos desde a década de 1950. Somente pessoas mal informadas e que não conhecem a história recente no nosso país podem acreditar que algo tão velho pode ser lançado como a grande novidade do momento. A ironia é que no Brasil constumamos lançar grande idéias com algumas décadas de atraso!
Alguém precisa avisar o Planalto que precisamos descobrir uma nova forma de desenvolvimento que leve em conta o nosso potencial nativo: a nossa sociobiodiversidade. Isso significa não cometer os mesmos erros de antigamente. Precisamos investir em novas idéias e novos projetos. Precisamos repensar a nossa base energética a partir de princípios mais sustentáveis. Com uma área tão favorecida pelo sol, por que não investir em fontes de energia solar? Que pensamento desenvolvido é esse que ao se desenvolver faz isso a partir de perspectivas extremamente conservadoras sobre o desenvolvimento?
É uma pena que o nosso presidente não possua a sensibilidade necessária para entender que obras como Belo Monte representam um atraso para a nossa sociedade ao reproduzirem um desenvolvimento antropofágico, que se faz em detrimento da vida (cultural e ambiental) de parcelas importantes da nossa população. Não precisamos destruir o meio ambiente para gerar energia elétrica. Não precisamos destruir a cultura e a vida dos índios para gerar desenvolvimento. Será que alguém pode avisar o presidente Lula que o pensamento gestado nos quartéis militares já está ultrapassado? Será que alguém pode avisar a Maria da Conceição Tavares que é impossível reinventar a roda quando já existem bilhões de carros poluindo o meio ambiente?
Na realidade, a diferença entre o “Avança Brasil” e o “PAC” não é qualitativa, mas quantitativa. No final, o que temos é o mesmo pensamento conservador e tecnicista que vem se reproduzindo como mentalidade governamental há mais de 50 anos e que agora é apresentado ao público (percebido enquanto conjunto de “consumidores”) como o novo produto de idéias inovadoras.
O que precisamos é de um desenvolvimento democrático e sustentável, que seja pautado pelo princípio da inclusão das populações que foram historicamente excluídas dos projetos desenvolvimentistas – os índios, os povos “tradicionais”, os pobres, os negros, as mulheres – nos projetos governamentais. O desenvolvimento não pode continuar sendo feito “contra” esses importantes setores da nossa sociedade, como se eles fossem o sinal do nosso atraso em relação aos "países desenvolvidos", algo que precisa ser superado pelas forças históricas do “desenvolvimento a qualquer custo”. Afinal, existe pensamento mais conservador do que esse?
Como diria Sérgio Buarque, o problema do Brasil é que a nossa elite governa o país com os olhos na Europa (e hoje, cada vez mais, nos Estados Unidos e na China) e de costas para esse imenso continente chamado Brasil. Por isso conseguimos fazer grandes descobertas ultrapassadas!
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