Foi divulgada, nesta última sexta-feira, uma nova pesquisa da Data Folha sobre as eleições 2010. Os dados mostram o seguinte quadro: Dilma com 50%, Serra com 27% e Marina com 11% das intenções de voto.
Os resultados por regiões são os seguintes. No sudeste: Dilma manteve-se estável, pois a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa (de 44% para 46%); Serra caiu sensivelmente de 33% para 29%; e Marina manteve-se estável (de 12% para 13%). No Norte e Centro-Oeste: Dilma caiu de 51% para 47%; Serra se manteve em 29%; e Marina subiu de 10% para 14%. No Nordeste a situação manteve-se praticamente estável sem grandes oscilações.
Vejamos os resultados em alguns estados da federação:
SP - 44%, 36%, 11% (2 e 3.set) - 41%, 35%, 14% (8 e 9.set)
RJ - 46%, 23%, 13% (23 e 24.ago) - 49%, 21%, 16% (8 e 9.set)
MG - 48%, 29%, 10% (23 e 24.ago) - 51%, 24%, 11% (8 e 9.set)
RS - 43%, 39%, 7% (23 e 24.ago) - 43%, 38%, 8% (8 e 9.set)
PR - 43%, 34%, 9% (23 e 24.ago) - 46%, 33%, 8% (8 e 9.set)
BA - 60%, 22%, 7% (23 e 24.ago) - 64%, 18%, 8% (8 e 9.set)
PE - 62%, 21%, 5% (23 e 24.ago) - 67%, 18%, 6% (8 e 9.set)
DF - 44%, 25%, 16% (23 e 24.ago) - 51%, 16%, 24% (8 e 9.set)
Conforme podemos ver acima: Dilma caiu em SP e subiu no RJ, MG, PR, BA, PE e DF; Serra caiu em todos os estados acima; e Marina subiu em todos os estados, com destaque para o DF (de onde pulou da faixa dos 16% para 24%).
Comentários Gerais
A última pesquisa Data Folha demonstra claramente uma tendência de queda de José Serra em quase todas as regiões do país, mas quem parece estar ganhando mais com isso é a candidata do Partido Verde, Marina Silva, que conseguiu subir em quase todas as regiões do país, enquanto Dilma manteve-se estável (com exceção de SP). Isso aponta para uma possibilidade real da Marina se colocar como a candidata que vai levar as eleições para o segundo turno, o que seria um ganho para todos nós, pois só assim teríamos um debate sobre temas fundamentais para o Brasil, como o meio ambiente e as populações tradicionais e indígenas. Caso Marina consiga subir mais 15 pontos percentuais, saindo de 11% para 26%, podemos imaginar um segundo turno com Dilma e Marina.
Tenho que reconhecer, no entanto, que mudanças drásticas são difíceis de serem alcançadas nesta altura do campeonato, mas não podemos esquecer que existe uma parcela do eleitorado que deixa para decidir na última hora. Por outro lado, caso a tendência de queda de Serra se mantenha e Marina consiga ganhar pelo menos metade dos votos dele, uma boa parcela dos indecisos e mais alguns votos da Dilma, já teríamos um quadro favorável para a candidata do Partido Verde. Caso isso não ocorra, acredito que o quadro não irá sofrer grandes alterações e é muito provável que não tenhamos segundo turno nessas eleições. Pois a candidatura Serra já demonstrou claramente a sua impossibilidade de crescimento acima da faixa dos 30%.
De qualquer forma, um ponto positivo revelado nessa última pesquisa é que o quadro atual demonstra que o povo brasileiro não está caindo na perspectiva “golpista” da oposição, que busca confundir o eleitor para ganhar seus votos. Não que eu seja favorável à quebra do sigilo fiscal, mas acho que essa perspectiva alarmista não contribui com o momento em que estamos vivendo. O debate deveria ocorrer a partir do confronto de propostas para o país, mas a mídia comprometida com a direita faz questão de dar um espaço desproporcional para o caso da filha do candidato do PSDB, inclusive, dando-se o direito de mencionar reportagens de revistas como a “Veja” – cuja qualidade jornalística é completamente questionável – como prova desta ou daquela acusação. Quem perde diante disso é o eleitor brasileiro, que não pode escolher seu candidato a partir da avaliação de suas propostas. A verdade é que em um contexto de eleições (e também devido ao próprio funcionamento das instituições no país), não temos como saber o que realmente aconteceu ou até mesmo descobrir os verdadeiros culpados pela quebra do sigilo fiscal, pelo menos não agora. Em um Estado de Direito e Democrático, denúncias não se equivalem a sentenças (isso só acontecia na época da Ditadura Militar), pois existe um processo legal que deve seguir os procedimentos previstos na Constituição e no Código Processual. O que eu chamo de “golpismo” nada mais é do que uma especialização da mídia alarmista e sua insistência em transformar (por força da repetição de acusações) uma denúncia em fato consumado. Como o seu candidato (Serra, o menino de ouro da Rede Globo e suas associadas) não está conseguindo se colocar como opção para o eleitorado a partir das suas propostas políticas, a velha tática golpista surge como última opção. A questão é que o povo brasileiro já não é mais vulnerável como antigamente, fato que ficou comprovado no evento do chamado “mensalão”. Não é um salário mínimo ou denúncias que irão comprar o voto do eleitorado. O PDSB e seus aliados (o velho PFL) vão perder mais do que ganhar com essa tática alarmista de tentar virar o jogo a partir de um golpe midiático (apesar desta tática ter dado certo em outras ocasiões, como quando Collor foi eleito devido a manipulações midiáticas da Rede Globo).
A revista “Veja” é declaradamente mentirosa e suas táticas jornalísticas deveriam ser investigadas pelo Ministério Público, pois são completamente contrárias à função social que todo meio de comunicação deveria exercer (conforme manda a Constituição Federal de 1988). Com seu estilo sensacionalista, a Veja busca usar o seu poder para transformar uma denúncia (acusação que deve ser investigada) em fato consumado, exercendo a função jurídica que deveria ser dos magistrados. Num efeito cíclico, os demais meios de comunicação (assim como a propagando política dos candidatos) passaram a usar a notícia da Veja como fonte para suas divagações, como se o simples fato da denúncia já fosse uma comprovação da culpa deste ou daquele candidato (neste caso, a Dilma). Com isso, mais uma vez, meios de comunicação comprometidos com a candidatura Serra – Rede Globo, Folha de São Paulo, editora Abril e outras – não contribuem em nada com a democracia brasileira, buscando usar do seu poder midiático para forçar um contexto de crise institucional que podemos denominar de “golpista”. O que mais impressiona é que jornalistas e comentaristas supostamente sérios embarcaram nesta onda sem o menor constrangimento ético, reproduzindo a “denúncia” como se fosse fato, o que na verdade não é. Uma denúncia é apenas uma acusação que deve ser investigada através do devido procedimento legal. No nosso país, existem instituições que são responsáveis por investigar as denúncias e até onde eu sei esta não é uma função da mídia e dos jornalistas. É claro que a denúncia deve ser divulgada, o problema é quando ao divulgar a denúncia você imprime um deslocamento de significado que transforma a acusação em fato consumado, que é o que a mídia tem feito na última semana. Mais uma vez assistimos o velho “golpe midiático”, ou seja, o uso indevido do poder da mídia para forçar um ambiente de crise institucional e aterrorizar o eleitor de forma que ele fique tão confuso a ponto de não saber mais em quem votar (ou resolva votar no candidato da oposição!). Felizmente, a sociedade brasileira mudou nos últimos 15 anos e está mais preparada para adotar uma posição crítica em relação aos “fatos” que são divulgados na mídia.
A verdade é que o Serra representa um atraso para a nossa sociedade, nem tanto pela sua pessoa, mas devido as suas parcerias e seus “companheiros” de campanha. Ainda bem que a sociedade brasileira se deu conta disso em tempo e logo vamos poder nos livrar deste lunático.
Já Dilma demonstra ter um compromisso maior com alguns princípios importantes da democracia, mas peca devido a sua perspectiva demasiadamente desenvolvimentista. Veja bem, não sou contra o desenvolvimento, pois a nossa sociedade precisa crescer. A questão não é tanto sobre se desenvolver ou não se desenvolver, mas sobre “como se desenvolver”. Que tipo de desenvolvimento nós queremos para o nosso país? O desenvolvimento não pode ser feito a partir da exclusão da forma de vida dos povos indígenas e tradicionais (conforme vem ocorrendo com a obra carro-chefe do PAC, a hidroelétrica Belo Monte), mas a partir da inclusão dessas populações, o que significa que precisamos construir um caminho mais sustentável para o nosso desenvolvimento, buscando alternativas mais democráticas de crescimento econômico. Essas alternativas já não são mais sonhos e divagações, pois existem exemplos concretos que podemos adotar. A questão é que Dilma está comprometida com alguns setores da sociedade brasileira que possuem uma visão de desenvolvimento completamente predatória e etnocêntrica.
Por isso sou favorável neste primeiro turno a candidatura de Marina Silva, pois acredito que a única forma de discutirmos que tipo de desenvolvimento nós queremos para o nosso país seja levando a candidata do PV a disputar o segundo turno com Dilma, pois isso ajudaria a dar maior visibilidade à questão socioambiental. Ainda acredito na possibilidade de um crescimento da Marina nestas últimas semanas de campanha eleitoral e vejo com bons olhos um segundo turno entre Marina e Dilma. A candidatura do PV cresceu sensivelmente no DF, chegando aos 24% das intenções de voto, o que demonstra que é possível alterar o quadro atual. Basta que Marina continue subindo nas outras regiões para que a sua candidatura ganhe força.
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