Nesta postagem, vou explorar o viés etnocêntrico das teorias racialistas do século XIX como um exemplo de como o etnocentrismo pode se associar ao racismo.
A suposta superioridade (tecnológica e moral) dos europeus frente aos demais povos colocava países como o Brasil em situação de 'inferioridade', pois a sua emergente sociedade nacional era retratada como 'atrasada' frente aos povos 'desenvolvidos' da Europa. Incapazes de olhar para o povo brasileiro levando em conta as suas características culturais específicas, os nossos intelectuais viam a realidade brasileira a partir da lente dos colonizadores, ou seja, como uma sociedade decadente e atrasada. Os índios que aqui viviam antes dos portugueses chegarem e os negros escravizados durante a colonização portuguesa foram percebidos como um entrave ao desenvolvimento nacional. Isso explica a emergência da 'teoria do branqueamento', que teve forte influência nas políticas de atração de imigrantes europeus para o Brasil: acreditava-se que ao aumentar a presença do branco na sociedade, isso levaria a uma diluição das demais "raças", produzindo o que alguns defensores dessa teoria denominavam de contínuo e lento 'branqueamento' do nosso povo.
O viés etnocêntrico das teorias racialistas está presente na incorporação dos pressupostos racistas dos colonizadores, embasados por suas teorias científicas sobre a suposta superioridade moral e intelectual do branco. Atualmente, essas teorias são amplamente refutadas pela comunidade científica, pois não existe nenhum argumento que justifique tal superioridade do branco sobre as demais raças, seja do ponto de vista intelectual ou moral. Ao eleger os traços culturais dos brancos como indícios de sua superioridade racial, os defensores das teorias racialistas desenvolveram uma explicação etnocêntrica da diversidade humana. Com isso, esses cientistas colaboraram para legitimar o domínio ideológico dos colonizadores sobre o rumo que suas antigas colonias traçaram após a sua independência política.
A preocupação com o estabelecimento de uma 'identidade nacional' a partir de uma teoria explicativa do Brasil e dos brasileiros impediu aos percursores das ciências sociais de perceber a potencialidade da multiplicidade cultural e social dos habitantes deste continente chamado "Brasil", impossibilitando a nossa gente de traçar seu próprio caminho e estabelecer suas prioridades e objetivos enquanto uma nação multicultural.
O viés etnocêntrico e racialista que perpassou as teorias explicativas da nossa identidade nacional justificou a emergência de uma série de micro-mecanismos de exclusão racial no cotidiano de nossa sociedade, disseminando ações de exclusão racial em instituições como a escola, o mercado de trabalho, a universidade e o governo, sem nunca corromper a retórica da 'igualdade racial' presente na teoria da mistura (supostamente igualitária) de raças que teria dado origem aos brasileiros. O resultado da dinâmica estabelecida entre esses dois movimentos - de um lado os micro-mecanismos de exclusão racial e de outro a retórica da igualdade de raças - resultou em índices estatísticos que demonstram claramente a exclusão de negros e índios da vida política e intelectual do país.
Um comentário:
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