segunda-feira, 7 de junho de 2010

Genealogia dos Saberes em Foucault - 2ª Parte

Nesse processo, podemos identificar alguns momentos importantes. Primeiro, o surgimento da Universidade já no fim do século XVIII e início do século XX. “A universidade tem sobretudo uma função de seleção, não tanto das pessoas, mas dos saberes. O papel da seleção, ela o exerce com essa espécie de monopólio de fato, mas também de direito, que faz que um saber que não se formou nesse campo institucional, com limites aliás relativamente instáveis, mas que constituem em linhas gerais a universidade, os organismos oficiais de pesquisa, fora disso, o saber em estado selvagem, o saber nascido alhures, se vê automaticamente, logo de saída, se não totalmente excluído, pelo menos desclassificado a priori”.


Também é a partir desse processo que ocorre o desaparecimento do cientista-amador: um fato conhecido no século XVIII-XIX. Portanto, papel de homogeneização desses saberes com a constituição de uma espécie de comunidade científica com estatuto reconhecido; organização de um consenso; e, enfim, centralização, mediante o caráter direto ou indireto, de aparelhos de Estado (219). Com a fundação de uma instituição que tem como função controlar o mecanismo (disciplinarização interna dos saberes), temos uma transformação na forma de dogmatismo com uma renúncia da ortodoxia dos enunciados: ortodoxia que incidia sobre os próprios enunciados, descartando uns em detrimento de outros, decidindo os que eram conformes e os que não eram, o século XVII vai substituir essa ortodoxia por outra coisa: um controle que já não incide mais sobre o conteúdo dos enunciados, sobre sua conformidade ou não com certas verdades, mas sobre a regularidade das enunciações. “O problema será saber quem falou e se era qualificado para falar, em que nível se situa esse enunciado, em que conjunto se pode colocá-lo, em que e em que medida ele é conforme a outras formas e a outras tipologias de saber”. Surge daí um controle muito mais minucioso e abrangente, que ocorre a nível mesmo dos procedimentos de enunciação. Isso permite uma “possibilidade de rotação muito maior dos enunciados, um desgaste muito mais rápido das verdades”, o que acabou ocasionando um “desbloqueio epistemológico”. Passou-se da censura dos enunciados para a disciplina da enunciação (que é também uma espécie de ortologia). Surgiu assim “uma nova regularidade na proliferação dos saberes”. Esse disciplinamento organizou um novo modo de relação entre poder e saber. Surgiu, assim, uma nova regra, já não mais a regra da verdade, mas a regra da ciência (220-21).

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