O acordo estabelecido com o Irã com intermediação do Brasil e da Turquia foi recebido com descaso e arrogância por parte das grandes potências que compõem o Conselho de Segurança da ONU. O posicionamento dos Estados Unidos demarcou com clareza que esse país não aceita perder seu espaço na arena mundial como liderança em assuntos de “segurança internacional”. Parece que a memória do governo norte-americano é tão fraca como o seu serviço de “inteligência”, pois os erros cometidos no passado não servem como exemplo para melhorarem a sua postura internacional: a investida contra o Iraque foi alimentada pela fobia promovida pelo Governo Bush, que aterrorizou o mundo com a promessa de que esse país tinha a bomba atômica. Agora, apesar da mudança de governo, Obama parece não conseguir se livrar da linha dura do velho sistema de segurança nacional forjado ainda nos duros anos de Guerra Fria e busca impedir de todas as formas possíveis que um país que assinou o tratado de não proliferação nuclear desenvolva a energia atômica para fins pacíficos. Por outro lado, países como a Coréia do Norte, Paquistão e Israel nunca receberam o mesmo tratamento pelo tio SAM. Esse último, inclusive, tem colocado em prática o “terrorismo de Estado” sem sofrer quaisquer sanções, postura que, segundo o Governo Americano, é legitimada pelo direito desse país em promover a sua segurança nacional. Mais uma das velhas assimetrias da política internacional, pois o mesmo direito de se defender de possíveis ameaças que é garantido aos israelenses é negado aos iranianos.
O que precisamos é uma reforma da ONU com a abertura para a participação mais ativa dos países em desenvolvimento, como Brasil, Índia, Turquia e México, entre outros. Não podemos continuar agindo como se ainda estivéssemos em plena Guerra Fria, pois o cenário internacional passou por grandes transformações nos últimos anos e não vemos qualquer reflexo disso nos organismos internacionais, que continuam centralizados em torno dos interesses das grandes potências mundiais.
A posição da diplomacia brasileira foi, a meu ver, a melhor possível, pois demonstrou a capacidade necessária para buscar uma solução amigável dentro de um contexto extremamente belicoso e hostil, provando que poderá, no futuro, assumir uma posição de maior destaque no cenário internacional. Pena que, no Brasil, uma parte da nossa mídia e alguns “especialistas” tenham promovido novamente o velho pensamento colonizado ao indicar que o Brasil não soube ocupar a posição de mero coadjuvante que lhe cabe no cenário internacional. A verdade é que desde que Lula assumiu o governo, surgiram críticas de todas as partes contra a postura autônoma que o Itamaraty passou a assumir no contexto mundial. Esses senhores não entendem que a postura submissa aos interesses norte-americanos não condiz com um país que possui o direito de construir o seu próprio futuro e, para isso, precisa deixar de viver à sombra do “Grande Irmão do Norte”.
Na verdade, talvez o melhor mesmo do Lula seja a sua capacidade de potencializar a imaginação do povo brasileiro, que, por sinal, nunca deixou de projetar no horizonte a imagem de um Brasil superior. Como já dizia Sérgio Buarque de Holanda, o problema é que a nossa elite política e intelectual continua governando o país de costas para o Brasil e com os olhos na Europa e nos Estados Unidos. Também, o que esperar de pessoas que mal conhecem o verdadeiro Brasil e que passam o ano inteiro aguardando o momento de deixar o nosso clima tropical para trás e rumar imediatamente para as férias em Nova Iorque ou Paris? Com isso, continuamos aguardando a descoberta do Brasil!
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