Nietzsche - A Gaia Ciência
Nunca a ciência assumiu um tom tão autoritário como na casa do imperador: território do submisso que apreende a submeter, desautorizar, castrar, destruir, desfazer; só para num segundo momento converter, tomar posse, mudar duas ou três palavras e transformar a idéia marginalizada em um pensamento nobre. A ciência régia - com suas confrarias e sociedades secretas, com seus pequenos-grandes fascismos do dia a dia, com suas fortificações e alfândegas - está presa na reprodução do pensamento do Rei. O Castelo é o local privilegiado do colonialismo interno, expresso na grandeza de seus edifícios e na beleza de seus jardins. Nos corredores medievais as estruturas do saber são concretas, "exatas", forças "estabelecidas", grupos consagrados, com forma definida e imutável: reprodução da idéia do Uno em detrimento das multiplicidades.
Toda pessoa que já ingressou no exército do Rei acabou desaparecendo sob o labirinto de suas pequenas repartições de Estado, com suas hierarquias fixas e seus pequenos surtos de maldade e destruição. A cifra que orienta a ciência régia é a regra da apropriação do pensamento nativo e sua transformação em um artigo de luxo: para o Rei e seus cavaleiros, todo devir-animal é transformado em conceito racional ou escola intelectual. Afinal, é na nobreza que todas as perspectivas são apropriadas para o benefício pessoal dos pequenos homens, esses que Nietzsche chama de "homens-ovelhas".
A partir deste momento, os pensadores da aristocracia vão sempre se perguntar antes de pensar: como será a forma do pensamento régio? O que o imperador diria numa situação como esta? Será que estou autorizado a falar? Mas se aceito falar e sair do silêncio, como dizer o que penso? Qual formato devo dar aos meus pensamentos?
O resultado do pensar submisso e colonizado não poderia ser outro: silêncio desprezível, ausência de articulação, enfim, um anti-pensamento refletido em forma de apatia totalitária.
Do outro lado (ou interno ao lado) está a máquina nômade que se espalha por todos os pontos ao mesmo tempo: os pequenos conhecimentos do dia a dia, diluídos em fluxos constantes. Esses pequenos saberes dispersos e cotidianos nunca chegam a constituir instituições como Castelos ou Torres, nem mesmo a se perder nos caminhos infinitos da burocracia moderna. Esses saberes escapam à formalidade das letras não por serem menos "objetivos", ou por não serem "letrados" ou "metódicos" o suficiente, mas devido a sua essência nômade, sua rebeldia contra qualquer forma de edificação ou consagração. Essas ciências nômades estão dispersas como fluxos inconstantes, saberes múltiplos: espaço liso: linha de fuga. Com isso, abre-se caminho para o exercício de habitação no mundo, para o engajamento ordinário nas pequenas coisas, nos pequenos atos: essas práticas dispersas e suspiros poéticos que não fazem forma e não formatam. Devir-pensamento e não pensamento concreto.
Toda pessoa que já ingressou no exército do Rei acabou desaparecendo sob o labirinto de suas pequenas repartições de Estado, com suas hierarquias fixas e seus pequenos surtos de maldade e destruição. A cifra que orienta a ciência régia é a regra da apropriação do pensamento nativo e sua transformação em um artigo de luxo: para o Rei e seus cavaleiros, todo devir-animal é transformado em conceito racional ou escola intelectual. Afinal, é na nobreza que todas as perspectivas são apropriadas para o benefício pessoal dos pequenos homens, esses que Nietzsche chama de "homens-ovelhas".
A partir deste momento, os pensadores da aristocracia vão sempre se perguntar antes de pensar: como será a forma do pensamento régio? O que o imperador diria numa situação como esta? Será que estou autorizado a falar? Mas se aceito falar e sair do silêncio, como dizer o que penso? Qual formato devo dar aos meus pensamentos?
O resultado do pensar submisso e colonizado não poderia ser outro: silêncio desprezível, ausência de articulação, enfim, um anti-pensamento refletido em forma de apatia totalitária.
Do outro lado (ou interno ao lado) está a máquina nômade que se espalha por todos os pontos ao mesmo tempo: os pequenos conhecimentos do dia a dia, diluídos em fluxos constantes. Esses pequenos saberes dispersos e cotidianos nunca chegam a constituir instituições como Castelos ou Torres, nem mesmo a se perder nos caminhos infinitos da burocracia moderna. Esses saberes escapam à formalidade das letras não por serem menos "objetivos", ou por não serem "letrados" ou "metódicos" o suficiente, mas devido a sua essência nômade, sua rebeldia contra qualquer forma de edificação ou consagração. Essas ciências nômades estão dispersas como fluxos inconstantes, saberes múltiplos: espaço liso: linha de fuga. Com isso, abre-se caminho para o exercício de habitação no mundo, para o engajamento ordinário nas pequenas coisas, nos pequenos atos: essas práticas dispersas e suspiros poéticos que não fazem forma e não formatam. Devir-pensamento e não pensamento concreto.
3 comentários:
Eu e minha esposa somos de Santa Maria (RS) e acompanhamos diariamente o seu blog. Somos engenheiros de formação, mas temos interesse na antropologia e os seus posts têm servido como uma boa introdução ao tema. Parabéns pela iniciativa!
Sou aluno de graduação em ciências sociais na UFRGS e acompanho seu blog diariamente. Parabéns pela iniciativa! É ótimo acompanhar o seu processo de escrita da tese e seus comentários antropológicos sobre temas contemporâneos. Estou divulgando por aqui...
Sou do interior de São Paulo e estou pensando em cursar ciências sociais. O seu blod tem sido uma ótima introdução ao tema, principalmente, devido ao material disponibilizado na biblioteca e na videoteca. Parabéns!
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