O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, um dos membros da equipe da candidata à presidência Marina Silva (PV), criticou a falta de articulação do governo Lula em relação à questão indígena no País.
"Certamente, o maior inimigo dos índios durante a gestão do governo Lula, não foi o governo Lula. Trata-se talvez da necessidade do governo compor, por razões da estrutura do governo, com forças que são inimigas mortais dos povos indígenas, como vimos no caso da Raposa Serra do Sol", afirmou em referência ao conflito entre indígenas e rizicultores em uma reserva em Roraima.
Viveiros de Castro também atacou a representação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e criticou àqueles que a colocam na posição de "árbitro" da questão indigenista.
"É preciso entender que a Funai, o órgão responsável pela implementação da política indigenista, tem por obrigação defender os índios, não é um juiz, não é um árbitro. É um defensor da causa indígena (...) as pessoas entendem que a Funai deve pronunciar veredictos, quando, na verdade, a função dela é representar. Os índios devem cada vez mais constituir suas formas de representação dentro do Estado, junto do Estado. Mas um ponto fundamental é reforçar o dever constitucional do Estado brasileiro perante aos índios brasileiros".
O antropólogo ainda afirmou que o dever constitucional com os índios estaria cumprido se a sua representação fosse reforçada no Estado.
"A minha proposta é, como horizonte geral, o de dar tanto às populações indígenas quanto às populações tradicionais plena visibilidade política formal. Não sei como isso pode ser feito, mas temos dezenas de países perto de nós, como é o caso da Colômbia, que sugerem que há formas diferenciadas de relação das populações tradicionais com o Estado que vão um pouco mais adiante do que foi a enorme conquista da constituição de 88".
Questionado sobre se colocar um indígena para presidir a Funai resolveria o problema, ele pareceu cético.
"Não sei o que pensa a senadora, ou a equipe de campanha, mas não acho que seja uma solução mágica, não sei se é a melhor solução. Penso que talvez o interessante é que você tenha muitos presidentes indígenas de outras instâncias, outros corpos, entes políticos, administrativos, mas não na Funai. Acho até que pode ser contraproducente, em vista do processo de filtragem passiva que essas escolhas muitas vezes produzem".
Durante seu discurso, pronunciado na apresentação das novas diretrizes do plano de governo de Marina, Viveiros de Castro se concentrou em pontos como energias renováveis e modos de produção. "Uma política verdadeira precisa que as pessoas pensem. O papel é levantar o que poderosos tentam esconder (...) o Brasil precisa aprender a dar exemplos e não seguir, até por que não há mais exemplos para seguir", afirmou o antropólogo.
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