quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Uma "guerra" muito particular

Assim que o campo de batalha foi conquistado, começaram a surgir denúncias contra as forças policiais e elas são de todos os tipos:

Primeiro. A rota de fuga usada pelos marginais que conseguiram escapar da favela ocupada desembocava “apenas” 50 metros após a última linha do cerco que foi feito pelas forças policiais. Acredita-se que foi através dos túneis de esgoto – recentemente construídos como parte das obras do PAC - que os bandidos fugiram. Pois bem, a minha questão é muito simples: será que o comandante da operação e seus auxiliares não levaram em conta as possíveis linhas de fuga da favela? Sinceramente, é muito difícil acreditar que a polícia carioca não soubesse da existência desses túneis. Afinal, será que as forças do Estado não tinham um mapa da região para guiar seus movimentos de ocupação do território? Sinceramente, não consigo acreditar nesta hipótese. Pra mim é claro que houve facilitação interna das forças policiais e isso deve ser investigado com toda a seriedade possível. Só precisamos descobrir qual entidade seria mais indicada para investigar aqueles que são responsáveis por esta mesma função: talvez seja hora de inventarmos uma polícia para a polícia.

Segundo. Já foram divulgadas as primeiras notícias de que drogas e armas apreendidas teriam desaparecido ou estariam sendo vendidas por policiais envolvidos na operação. A decisão emergencial do governo parece solucionar o caso: as toneladas de drogas começaram a ser destruídas ontem. Agora só falta decidirem o que vão fazer com o armamento pesado apreendido durante as últimas operações.

Terceiro. Moradores das favelas que estão sob ocupação das forças policiais denunciaram agressões sofridas durante “operações de busca” da policia. Já não basta os trabalhadores terem que conviver com a total falta de condições mínimas de cidadania (todos os direitos sociais e civis descritos na CF e que nunca foram colocados em prática), agora são mantidos como “reféns da guerra” e tratados como bandidos. Os policiais e a sociedade precisam entender que esses “territórios do crime” também são espaços de vida: a maior parte dos moradores dessas favelas não possui relações diretas com o crime organizado. Trata-se de trabalhadores, pessoas honestas que buscam conviver com as imensas desigualdades impostas por uma sociedade injusta e cruel. Mais uma vez, ao que tudo indica, quando falamos em “pacificação”, estamos nos referindo à paz dos moradores do asfalto e não da favela, apesar de todos terem os mesmos direitos constitucionais.

Só espero que o Governo esteja atento a esses excessos cometidos pelos seus “teleguiados”, investigando com seriedade as denúncias e punindo com a mesma determinação os “marginais” que estão inseridos dentro da própria polícia e do Estado brasileiro. Trata-se, como podemos ver, de uma "guerra" muito particular, pois o "território" do inimigo é também um lugar de habitação de brasileiros e brasileiras. Muita calma nessa hora!

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