quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ironias da Veja - eleições 2010

O oportunismo sensacionalista da revista VEJA realmente não tem limite. Conforme já foi mencionado diversas vezes neste blog, esse veículo de comunicação vem fazendo um serviço sistemático de desinformação da sociedade. Um bom exemplo foi o posicionamento desta revista em relação à polêmica do aborto, um assunto que merece uma abordagem séria devido aos vários fatores (muitas vezes contraditórios) envolvendo esse tema. Como muitos de vocês devem ter acompanhado, a VEJA publicou recentemente uma matéria sobre as supostas declarações de Dilma sobre a questão do aborto. A matéria, como era de se esperar, buscou usar a polêmica para atacar a candidata do PT:


No entanto, conforme podemos ver logo abaixo, A MESMA REVISTA publicou outra matéria, em setembro de 1997, amplamente favorável ao aborto, inclusive, trazendo o depoimento de várias "celebridades" sobre o assunto (Ver abaixo).

Na primeira matéria, os jornalistas exploram o lado moral do problema, sem abordar as questões socioculturais. A matéria tem um tom de denúncia e busca desmoralizar a candidata Dilma. Não existe nenhum compromisso ético em explorar os vários fatores que estão por trás de um fenômeno tão complexo como o aborto. Bem diferente foi a atitude da mesma revista, em um contexto diferente do eleitoral. Na matéria publicada em 1997, os jornalistas exploram as várias questões relacionadas ao aborto a partir do depoimento de várias pessoas que enfrentaram esse problema em suas próprias vidas.  É lamentável que uma questão séria como esta esteja sendo tratada de forma oportunista e sem nenhum compromisso ético. Acho que as mulheres brasileiras precisam contar suas histórias. Precisamos ouvir mais as mulheres, ouvir seus depoimentos, entender a complexidade de cada caso e ao mesmo tempo buscar entender como essas histórias estão entrelaçadas. Este é o momento mais oportuno para discutirmos este problema com seriedade, em um ambiente democrático, onde todos os setores da sociedade possam expressar seu posicionamento, debater e discutir idéias. Não podemos tratar o assunto do ponto de vista moralista (seja ele religioso ou não). E a mídia não tem o direito de tentar "lucrar" com o drama de milhões de brasileiras. O bom jornalismo é aquele que explora os diferentes lados da história. É realmente uma pena que sejamos obrigados a conviver com o autoritarismo de certos veículos de comunicação. Isso não condiz com o ambiente democrático. Enquanto o Brasil não resolver o problema dos meios de comunicação nunca vamos conseguir construir uma sociedade verdadeiramente democrática. O poder de comunicar e gerar debates, reflexões e opiniões não pode ficar concentrado na mão de poucos coletivos. É preciso discutir o controle social da mídia, um preceito constitucional de extrema importância para o Brasil. Mas precisamos abordar essa questão de maneira séria. Um bom caminho seria buscar diferenciar o "controle social" do autoritarismo exercido durante os governos militares. Na época a decisão de censura estava nas mãos de um pequeno grupo de pessoas e era exercida de forma autoritária. Não havia discussão com a sociedade. Hoje, no entanto, já não vivemos mais neste contexto. A democracia permite discutirmos critérios éticos, culturais, sociais que devem ser levados em conta por aqueles que controlam os meios de comunicação. O bom jornalismo precisa ser valorizado. É preciso buscar retomar os fundamentos éticos que foram abandonados pelo ritmo frenético dos editorais, preocupados unicamente com o lucro. É preciso buscar uma harmonia entre os vários interesses em jogo, principalmente, sobre o exercício do direito de imagem e do acesso aos meios de comunicação.        

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