quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Modos de Subjetivação em Foucault

"Em suma, para ser dita 'moral' uma ação não deve se reduzir a um ato ou a uma série de atos conformes a uma regra, lei ou valor. É verdade que toda ação moral comporta uma relação ao real em que se efetua, e uma relação ao código a que se refere; mas ela implica também uma certa relação a si; essa relação não é simplesmente 'consciência de si', mas constituição de si enquanto 'sujeito moral', na qual  o indivíduo circunscreve a parte dele mesmo que constitui o objeto dessa prática moral, define sua posição em relação ao preceito que respeita, estabelece para si um certo modo de ser que valerá como realização moral dele mesmo; e, para tal, age sobre si mesmo, procura conhecer-se, controla-se, põe-se à prova, aperfeiçoa-se, transforma-se. Não existe ação moral particular que não se refira à unidade de uma conduta moral; nem conduta moral que não implique a constituição de si mesmo como sujeito moral; nem tampouco constituição do sujeito moral sem 'modos de subjetivação', sem uma 'ascética' ou sem 'práticas de si' que as apoiem. A ação moral é indissociável dessas formas de atividade sobre si, formas essas que não são menos diferentes de uma moral a outra do que os sistemas de valores, regras e de interdições" - História da Sexualidade II, M. Foucault.

[Selecionei este breve trecho por ele abrir um caminho em direção à problematização do "sujeito moral" nas ciências. Isso implica uma reflexão sobre a maneira como o fazer científico envolve um trabalho cotidiano sobre si mesmo e com os outros (humanos e não humanos). Ao lado desse exercício reflexivo - diretamente associado à noção de "modos de subjetivação" em Foucault - será necessário abordar outro tema importante: os modos 'disciplinares' de objetivação das relações de conhecimento. Este aspecto é abordado em outros trabalhos de Foucault, principalmente, no livro "Vigiar e Punir". Inclusive, foi a releitura desta obra durante o processo de escrita da tese que me fez problematizar o espaço e o tempo laboratorial como componentes de uma máquina disciplinar, que age sobre os corpos e subjetividades dos cientistas. Esses dois aspectos - os modos de subjetivação e objetivação - tiveram um efeito importante nos estudos da ciência denominados de "epistemologia histórica" (Daston e Galison) e "ontologia histórica" (Ian Hacking).]
  
[Nesta semana, realizamos a terceira reunião do Grupo de Estudo "Saber e Poder em Foucault", desta vez para refletir e debater o segundo volume da História da Sexualidade. Devido à série de seminários do Nupecs com a temática foucaultiana, retomaremos às atividades do grupo somente em janeiro de 2013].

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