O candidato à presidência da república, Jair Bolsonaro, apesar de se apresentar como o representante da "nova política", está há 28 anos no Congresso Nacional. Ao longo desse período, o candidato acumulou um capital pessoal de mais de dois milhões de reais, sendo que a sua família enriqueceu e hoje possui cerca de 15 milhões em propriedades.
Além de ser sustentado por dinheiro público nas últimas décadas, vivendo "dá" política e "para" política, Bolsonaro apadrinhou e encaminhou os três filhos para o mesmo caminho, ou seja, tornou a política um "assunto de família". Além do irmão -que é vereador no RJ - seus filhos foram incentivados a ingressar na política partidária: Carlos Bolsonaro, vereador do RJ; Flávio Bolsonaro, Deputado Estadual do RJ; e Eduardo Bolsonaro, Deputado Federal pelo RJ. Todos defendem as mesmas bandeiras que o pai, sendo que, em alguns casos, assumem posições mais radicais ainda: seus discursos incentivam a violência e o ódio de gênero, racial, ideológico e de classe.
Apesar de se apresentar como "Caçador de Marajás", Bolsonaro foi citado na "Lista de Furnas" por participar em esquema de corrupção e é acusado de ter recebido 200 mil da JBS, empresa que ficou conhecida pelo envolvimento em casos de propina, tendo sido citada em cinco investigações da PF. O candidato diz ter recusado a verba da JBS e devolvido a doação ao partido, mas existem registros de que esse valor foi repassado novamente a ele como "verba partidária".
Entre 2010 e 2014, o patrimônio do candidato cresceu 150% segundo declaração patrimonial registrada no TSE. Nesse período, Bolsonaro adquiriu 5 imóveis no valor total de 8 milhões, incluindo 2 casas luxuosas na Barra da Tijuca (RJ). Inclusive, esses dois últimos imóveis foram adquiridos por um valor bem abaixo do valor de mercado, o que é, no mínimo, um indício de que se trata de "lavagem de dinheiro". Como é de conhecimento público e notório, um dos filhos dele, Eduardo Bolsonaro, aumentou o patrimônio em 432% em apenas quatro anos.
Bolsonaro é acusado de fazer campanha para presidente com a cota parlamentar - o que é ilegal - além de se beneficiar indevidamente do "auxílio moradia" concedido a parlamentares, apesar de ser proprietário de um apartamento em Brasília, utilizado como moradia. Questionado pelo uso indevido de tal benefício, o parlamentar respondeu que, na época, era solteiro e usava o dinheiro "para comer gente", referindo-se a aplicação da verba para a contratação de acompanhantes e prostitutas. E veja bem, neste caso, não se trata de 'denuncia' ou 'acusação' feita por terceiros, mas de afirmações públicas do próprio candidato.
Existe um vídeo onde, ao ser questionado por um correligionário em evento de campanha política, sobre o seu posicionamento em relação às "regalias" dos deputados federais (passagens aéreas, auxílios moradia e transporte, verba parlamentar, etc), o mesmo fez uma defesa do "direito do parlamentar em receber esses benefícios", dizendo que ele "não abria mão" de algo que considera como um "direito". O vídeo em que o parlamentar faz essa defesa aos privilégios e regalias dos políticos está disponível no youtube e foi filmado por seus correligionários.
Apesar de se apresentar como "novo", Jair está na política desde que foi eleito vereador do Rio de Janeiro, em 1989, tendo ingressado no Congresso Nacional, em 1991, e reeleito desde então. Ao longo desse período, o parlamentar foi filiado a 7 partidos políticos: PDC (1990), PPR (1993-95), PTB (1995-2003), PFL (2005), PP (2005-2016), PSC (2016-17) e PSL (2018).
É importante notar que entre os partidos ao qual foi filiado, Bolsonaro integrou o PFL de Antônio Carlos Magalhães, cacique da política tradicional brasileira; o PTB de Roberto Jefferson, autor confesso de práticas de corrupção associadas ao chamado "mensalão"; o PPR e o PP de Paulo Maluf, conhecido pelo seu apoio aos militares e por ter sido condenado por práticas de corrupção.
Como defender a bandeira de combate à corrupção tendo integrado partidos políticos que não só representam o que há de pior na velha e tradicional política brasileira, mas possuem, entre seus membros de maior destaque, políticos que foram denunciados por envolvimento direto em práticas corruptas?
Outra questão que não se explica é como sustentar a imagem de representante do "anti-petismo" se o parlamentar foi membro do PP entre 2005 e 2016, período em que esse partido fez parte da base aliada dos Governos do PT e do PMDB de Michel Temer?
Outra contradição está associada as atividades do parlamentar no Congresso Nacional. Bolsonaro foi autor (em alguns casos, em conjunto com outros parlamentares) de 171 projetos, sendo relator de 73 deles (conforme informação do site da Câmera Federal). Entre esses projetos, conseguiu aprovar apenas 2 Projetos-Lei e uma PEC: ampliação da isenção do IPI para produtos de informática; obrigação de geração de recibo eleitoral após voto em urna eletrônica; e liberação do que ficou conhecido como "pilula do câncer", cuja eficácia terapêutica é questionado por médicos do mundo inteiro.
A maior parte dos projetos de autoria de Bolsonaro trata da defesa dos direitos de membros das Forças Armadas, de modificações no Código Penal, de liberação do porte de armas, de posições contrária aos direitos humanos, das mulheres e do Movimento LGBT, da causa anti-indígena e anti-quilombola e de combate ao que entende como "ideologia de gênero" e aos Direitos Humanos.
Destaca-se, por exemplo, a proposta de se comemorar o "Golpe Militar de 1964", os projetos que visam amenizar crimes cometidos em defesa da propriedade privada, as inúmeras proposições de diminuição da maioridade penal e as ações que visavam tornar sem efeito a demarcação de terras indígenas (ver PDC-365/1993 e PDC-170/1992).
Jair Bolsonaro também ficou conhecido nacionalmente por defender pautas extremamente conservadoras: defesa da Ditadura Militar e de outros Regimes Autoritários na América Latina; de combate ao fantasma do "comunismo"; de ferrenha crítica a pauta de defesa dos direitos Humnaos e LGBT, das mulheres, dos índios e dos quilombolas, incluindo posições contrárias às políticas de ação afirmativa; posições favoráveis à pena de morte, à censura e à tortura. Conhecido por suas frases desrespeitosas em relação a mulheres e a integrantes do Movimento LGBT, o candidato tem promovido a ideologia machista, o racismo, a homofobia, assim como a violência e o ódio de classe.
Apesar do slogan da sua campanha ser "Brasil acima de tudo", Bolsonaro incita a divisão do pais e a violência entre diferentes setores da sociedade. Se existe uma palavra que define e sintetiza o que tem sido a atuação do parlamentar nos últimos 28 anos, certamente é a "intolerância" em relação a toda e qualquer forma de alteridade. Essa intolerância é marcada por posições anti-democráticas e pela glorificação nostálgica dos regimes totalitários e ditatoriais. Caso Bolsonaro venha a se eleger presidente do Brasil, a jovem democracia brasileira ficará em risco e podemos ter que enfrentar novamente um governo autoritário e com forte tendências totalitárias e fascistas.
Agora me explica como um sujeito com essa biografia política pode ser considerado um representante da "Nova Política"?
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