"Talvez a melhor forma de mostrar isso seja a partir da interpretação heideggeriana da aletheia. Heidegger traduz aletheia por 'desvelamento'. A partir do uso linguístico grego, talvez fosse mais correto dizer com Humboldt e outros: 'desocultamento'. (...) A linguagem 'arranca' do 'velamento', traz para o desvelamento, para a palavra e para o risco do pensamento. (...) É quase desnecessário dizer como resultou daí facilmente para Heidegger a passagem para o 'morar'. Pois 'morar' também é efetivamente uma palavra para designar o fato de não nos encontrarmos diante dos objetos para dominá-los. Nós habitamos no habitual. No interior desse habitual também se acha a linguagem, algo em que vivemos, moramos e nos sentimos em casa. (...) Palavra e língua são aquilo com o que lidamos uns com os outros e com o mundo no estamos em casa - essa moral do qual Hegel já estava consciente ao empregar a bela expressão 'encontrar sua moradia' para descrever a tarefa humana. De maneira similar, Heidegger mostrou junto ao morar que a palavra não possui em torno de si um círculo daquilo que é dominado, mas um círculo daquilo que é familiar. É um espaço próprio que se abre aí - e um espaço no qual nunca estamos sozinhos. Não apenas porque estamos aí tão frequentemente com outros homens. Sempre estamos antes de tudo envolvidos pelos rastos da própria vida e preenchidos pela totalidade de nossas lembranças e esperanças".
Fonte: "Hermenêutica em Retrospectiva" - Hans-Georg Gadamer
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