quinta-feira, 9 de abril de 2009

Trilhas e Saberes



Descanso em um tronco de uma árvore após percorrer uma trilha ao lado de guias kayapós, treinados desde muito cedo a reconhecer os sinais deste trecho da floresta amazônica. Momento de reflexão sobre o valor do saber indígena: as árvores e as plantas que encontramos no caminho estabelecem uma conexão entre o espaço percorrido e o espaço cosmológico: tudo ali tem um nome e um sentido. Eu, por outro lado, mal consigo perceber a diferença sutil de vegetação que demarca o caminho da trilha do restante da floresta: sozinho, provavelmente, já estaria perdido. Meus amigos indígenas, no entanto, seriam capazes de percorrer aquele mesmo caminho a noite. Para eles, a trilha é um espaço demarcado pela experiência de caçar e pescar nos arredores da aldeia e está gravada em suas memórias da mesma forma que as avenidas e ruas que percorremos todos os dias, sem nunca recorrer ao auxílio de um mapa.

3 comentários:

Patrice Schuch disse...

Diego, parabéns pela iniciativa, tenho certeza que acompanhar tuas reflexões e, ao mesmo tempo, o processo de tua pesquisa, será muito interessante e com muita vida.
Um abraço e boa sorte na pesquisa e no teu caminho,
Patrice

Rta Amaral disse...

Diego,
O mesmo acontece com um índio na metrópole, que os urbanitas dominam como "sua" natureza, não? Dominamos nosso espaço com nossas categorias, nossa teodicéia, nossas -mais de uma- cosmologias.

Diego Soares da Silveira disse...

Rita, você tem toda a razão. O mapa cognitivo é sempre contextual. Aplicar a simeria, neste caso, consiste em abordar o mapa urbano da cidade e as trilhas em torno da aldeia como caminhos que nós - índios e brancos - apreendemos a percorrer da mesma forma que apreendemos a linguagem com o qual nos comunicamos com o mundo. É importante notar, no entanto, que a complexidade da cidade não é mais complexa do que os caminhos que percorrem a mata. Existe, é claro, uma diferença em termos de extensão e qualidade da rede formada por esses diferentes caminhos. Essa diferença, no entanto, só ganha cor e sentido quando abordamos essas duas complexidades de uma forma simétrica.

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