O assunto que pretendo tratar leva-nos diretamente para a região da Calábria, na Itália, num cenário marcado pelas montanhas e o mar. Essa região deu nome a toda península Italiana, pois antigamente era chamada de Itália em homenagem ao seu rei: Ítalo. Também foi nesta região que foi fundada a primeira cidade Italiana, Reggio Calábria, ainda na época em que a região fazia parte do império da Magna Grécia. Mas não foram apenas os gregos que influenciaram na formação da cultura local, também passaram por ali, ainda em épocas remotas: romanos, normandos e árabes. Todos esses povos contribuíram para a formação de uma rica cultura camponesa mediterrânea, que ainda sobrevive em pequenas aldeias localizadas nos cumes das montanhas, com suas festas medievais, sua culinária, suas histórias e sua mitologia. Terra das Oliveiras e do tão apreciado azeite de Oliva, utilizado em praticamente toda a culinária mediterrânea, Calábria é uma das regiões mais lindas e antigas da Itália, com paisagens deslumbrantes e inesquecíveis.
Mas o que nos leva tão distante no tempo e no espaço é uma deliciosa receita de berinjela, que chegou ao Brasil na bagagem cultural de imigrantes italianos provenientes da Calábria, que se estabeleceram no Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros. Essa deliciosa receita é preparada com ingredientes comuns da culinária mediterrânea, misturados com tamanha perfeição que o resultado final é de dar água na boca. A sua matéria prima principal, a Berinjela, tem sua origem na Índia. Mas, segundo registros históricos, essa fruta foi levada para a Europa, ainda no século XIII, pelos árabes provenientes da península ibérica, grandes apreciadores das suas qualidades medicinais e alimentares. A berinjela tem forte presença na culinária italiana, sendo cultivada nas regiões da Calábria e Sicilia, onde também é milenarmente usada para combater doenças como artrite, gota, reumatismo e diabetes.
A arte envolvida no seu preparo me fez lembrar um livro do filósofo Rubem Alves – Livro sem fim – onde o autor fala, entre outras coisas, sobre a relação entre a culinária, a filosofia e a epistemologia. Como boa parte das receitas familiares, esse típico prato italiano envolve uma arte que passou de geração para geração, percorrendo o tempo e o espaço e sobrevivendo até hoje para a minha completa felicidade. Quando Rubem Alves fala sobre a alquimia que envolve a arte culinária e a sua relação com a produção do conhecimento científico, ele nos remete ao prazer que envolve essas duas atividades, onde o resultado final é sempre fruto da capacidade do autor-cozinheiro de manipular e misturar, na medida certa, um conjunto heterogêneo de elementos de maneira a dar forma a sua criação, seja ela uma receita ou uma teoria. Os saberes sobre o uso culinário desta fruta são um legado cultural não somente dos árabes e da Ásia, mas da Calábria e de todos os países para onde os seus habitantes migraram com o passar dos anos, como o Brasil.
Fica aqui a minha homenagem à Dona Emília Salituri, que soube conservar essa receita viva ao repassar esse legado aos seus filhos e netos, permitindo a todos nós saborear ainda hoje essa curiosa mistura de ares e sabores mediterrâneos, forjados nas belas paisagens da Calábria e que se adaptaram perfeitamente a não menos linda paisagem carioca.
BERINJELA À MODA Dª EMÍLIA SALITURI
Descascar e cortar em cubinhos 4 Kg de berinjela.
Lavar bem no escorredor para retirar o máximo de sementes.
Cozinhar em um caldeirão com água, sal e três folhas de louro, por vinte minutos.
Após, escorrer a água deixando a berinjela no escorredor por uns trinta minutos, com um prato por cima, para extrair toda a água.
A seguir, temperar e conservar na geladeira.
Tempero
1 cebola média
½ pimentão vermelho
1 pimenta dedo de moça, sem as sementes
2 dentes de alho grandes
½ molho de salsa e cebolinha
3 c.s. de alcaparras
½ xícara de azeitonas verdes
4 c.s. de orégano
4 c.s. de vinagre
sal a gosto
azeite extra virgem a vontade
Obs: Os ingredientes do tempero devem estar bem picadinhos.
BOM APETITE!
3 comentários:
Huuuummmm, já me deu água na boca...
Essa receita fica bem com tudo, mas com um pãozinho e uma cerveja, fica é bom demais da conta!!!
Muito legal o post, Diego!!!
Beijoscas
Adoramos o post, ficamos mesmo emocionados. Se a nona Emília aqui ainda estivesse certamente ficaria muito feliz de saber do sucesso de sua receita. Diego, você é, como diziam os antigos, um sujeito FORMIDÁVEL!!!
Beijos
Paulo e Denise
Foi com muita emoção que terminei de ler o post. Obrigada por me fazer lembrar de minha infância. Quem conviveu com a "vó" Emília sabe que ela diria: " só esse menino mesmo!"
Amei o blog
bjs
Hilda
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