sexta-feira, 21 de junho de 2013

Poética - Manuel Bandeira

"Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado

Do lirismo funcionário público com livro de ponto expe
diente protocolo e manifestações de apreço ao senhor
                                                             [diretor

Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicioná-
                  [rio o cunho vernáculo de um vocábulo

Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de
                                                           [si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos do amante
                       [exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
                                        [maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

- Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.    

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