O conceito de "energia limpa" é um desdobramento da noção correlata de "energia renovável" e surgiu em meados do século XX, em contraposição as formas de geração de energia "não renováveis". Trata-se, no entanto, de dois conceitos com significados diferentes, como veremos aqui.
A produção de energia elétrica a partir de fontes como petróleo, carvão e gás natural é considerada não renovável, pois a exploração desses recursos não permite a sua renovação em prazo útil. Essas formas de geração de energia são consideradas "sujas", pois liberam grandes quantidades de dióxido de carbono na atmosfera, resultando em grandes danos ao meio ambiente. Esse é o caso da energia nuclear, também considerada de caráter não renovável. Recentemente, os vazamentos de radiação das usinas nucleares japonesas devido ao terremoto levou a um debate sobre a viabilidade e o risco associado a esse tipo de empreendimento. A comunidade européia, por exemplo, cancelou temporariamente a liberação de investimentos para a construção de novas usinas. Com isso, as fontes de energia renovável surgem como a principal alternativa. É nesse momento que se torna necessário diferenciar e refletir sobre o caráter "limpo" de cada uma das fontes renováveis e os risco indiretos causados pela sua exploração.
Existem diferentes tipos de energia renovável que vem de recursos naturais como sol, ventos, chuvas, águas e calor. A geração de energia renovável é considerada mais "limpa" em relação às energias não renováveis. No entanto, o caráter "limpo", os riscos sociais e ambientais associados e os custos de construção e manutenção dos aparatos tecnológicos necessários para tal exploração são bastante diferentes.
A energia hidráulica, por exemplo, geralmente associada à construção das hidroelétricas, também envolve a exploração da energia gerada pelo movimento das ondas do mar. Mas a exploração da energia liberada pelo movimento dos rios exige uma intervenção no meio ambiente e no meio social muito mais radical, pois envolve a construção de barragens e grandes obras que exigem a mobilização de milhares de trabalhadores para os locais onde as hidroelétricas são construídas e grandes modificações no meio ambiente. Existem diversos exemplos históricos dos impactos desse tipo de empreendimento. A hidroelétrica de Balbina, construída pelo ex-presidente Figueiredo, é um bom exemplo do impacto ambiental desse tipo de obra, principalmente, quando os estudos para a sua implantação não são realizados com a devida seriedade. Já a hidroelétrica Passo do Real (RS), construída na década de 1970, é um bom exemplo dos impactos sociais e políticos associados a esse tipo de empreendimento. Afinal, a construção dessa hidroelétrica foi responsável pelo deslocamento de milhares de trabalhadores rurais, que acabaram se tornando os primeiros sem-terra da história do nosso país, dando origem a movimentos sociais como o MST e o MAB. Esses movimentos foram forjados pela ação do próprio Estado Brasileiro, a partir do impacto social e político ocasionado pelo deslocamento populacional. Esses dois exemplos são uma boa demonstração de que nem toda energia renovável é limpa, se considerarmos que essa noção faz referência aos riscos ambientais (mas também sociais) associados a esse tipo de empreendimento.
Por outro lado, existem outras fontes de energia renovável cujo caráter "limpo" é maior, como a energia aólica, solar e maremotriz. Essas fontes de energia são altamente renováveis e os impactos ambientais e sociais são muito menores. Além do mais, os custos envolvidos neste tipo de empreendimento são bem menores, principalmente, quando já existe a tecnologia disponível. Por outro lado, costuma-se argumentar que a energia gerada por essas fontes é menor do que a energia gerada pelas hidroelétricas. Mas, de fato, isso depende da dimensão e dos investimentos em novas tecnologias.
O Brasil conta com um grande território, onde poderíamos construir uma ampla rede de aparelhos aólicos como os vistos na foto acima. A energia solar também oferece um grande potencial, principalmente, em regiões como o nordeste (foto ao lado). A exploração da energia elétrica gerada pelo movimento das marés também oferece um grande potencial em um país com um amplo litoral. Mas, para que essas alternativas se tornem realmente viáveis, o governo precisa rever o conceito de "energia limpa" e sua política energética, baseada quase que inteiramente na construção de grandes hidroelétricas como Belo Monte. Temos que debater se os impactos sociais, ambientais e políticos gerados por essas obras não é maior do que os benefícios. Mas, para isso, é preciso instaurar um ambiente realmente democrático, onde esse debate se torne efetivamente viável. O interesse econômico existente por trás dessas obras não pode ser colocado acima do interesse coletivo da nossa sociedade. Os grupos de interesse que estão por trás desse tipo de iniciativa não podem ser colocados acima dos interesses das populações locais diretamente atingidas. Infelizmente, não é a essa a realidade que enfrentamos no Brasil.
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