Hoje tem início, no Brasil, o feriado de carnaval. Essa grande festa popular tem sua origem mais remota no cristianismo da Idade Média européia, quando cada região “brincava” o carnaval a seu modo. Tudo começou quando a Igreja Católica, ainda no século XI, instituiu a Semana Santa e impôs um período anterior de privações e jejum. Com isso, surgiu o costume de se festejar na rua os “prazeres da carne” um dia antes da quarta-feira de cinzas, com muita bebida, comida e a busca incessante da satisfação dos prazeres do corpo.
Já o carnaval “moderno”, com suas fantasias e desfiles, foi uma invenção da sociedade vitoriana, ainda no século XIX. Mas foi a partir de Paris que esse costume foi disseminado em várias partes do mundo, inclusive no Brasil. Tudo teve início ainda no século XVII, quando, sob as influências da modernidade européia, surgiu o costume de se comemorar o carnaval com fantasias, motivo pelo qual, até hoje, mantemos personagens carnavalescos como a colombina, o pierrô e o Rei momo. Nesse período, havia as festas de máscaras nos clube da elite das grandes cidades, que buscavam imitar os costumes provenientes da Europa. Nessa época, o carnaval era uma forma de distinção social das classes mais altas. Já no século XIX, surgiram as primeiras sociedades carnavalescas. O povo também passou a participar mais ativamente da festa – o entrudo - tomando as ruas da cidade.
Mas foi somente a partir do início do século XX que a festa começou a assumir as características atuais. Na década de 1930, o então interventor do Rio de Janeiro, Ernesto, oficializou o carnaval carioca. Desde então, começaram a surgir escolas de samba. A primeira delas teve início, em 1928, com o nome de “deixa falar”, passando mais tarde a ser chamada de “Estácio de Sá”. A partir daí surgiram outras tantas escolas no Rio de Janeiro e em São Paulo, mas foi apenas na década de 1950 que os desfiles de rua assumiram certa popularidade.
Já no norte e nordeste do Brasil a festa adquiriu ares locais, associando o feriado às tradições regionais. Em Pernambuco, nas ruas de Olinda e Recife, o povo se diverte na companhia dos bonecos gigantes e ao som dos grupos de frevo. O mais famoso de todos os grupos é o “Galo da Madrugada”, que leva para as ruas milhares de foliões. Na Bahia, existem os trios elétricos, sendo que os mais famosos são “Dodô”, “Osmar” e “Batatinha”. Já São Paulo, Porto Alegre e outras capitais do Brasil adotaram o costume carioca dos desfiles de escolas de samba. No interior do Rio Grande do Sul, por exemplo, além dos desfiles de rua, existem as festas de clube e os blocos de carnaval. Em Brasília, o carnaval de rua é movimentado pelos blocos, que se reúnem em dias específicos e percorrem as ruas da cidade. Talvez nenhuma outra festa seja tão popular como o carnaval, disseminado em praticamente toda a sociedade brasileira. Mesmo as pessoas que não gostam de pular e ir para as ruas aproveitam o feriado para descansar e viajar. Mas, dificilmente, você irá conhecer um brasileiro que nunca tenha, em toda a sua vida, pulado uma noite de carnaval, nem que seja nos clubes da alta sociedade.
O melhor estudo antropológico sobre o carnaval ainda é o famoso livro de R. DaMatta, Carnavais, Malandros e Heróis, onde esse autor desenvolve sua análise dessa grande festa popular. Já sobre o carnaval carioca, recomendo a leitura do livro de Hermano Vianna, O Mistério do Samba. Sobre as origens medievais do carnaval, sugiro a leitura do livro de Bakhtin, A Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento. Para uma visão histórica do carnaval brasileiro, temos o livro de Felipe Ferreira, O Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro.
Bom, como dizem por aqui, agora é só pegar o pandeiro, vestir a fantasia e cair na gandaia!
Bom, como dizem por aqui, agora é só pegar o pandeiro, vestir a fantasia e cair na gandaia!
Um comentário:
Caro Diego, gostei do teu texto sobre o carnaval, mostrando um resumo histórico remontando à Idade Média e me chamou a atenção a questão religiosa - cristã que, digamos, provocou essa manifestação cultural.
Repare, como dizemos aqui no Nordeste, tu escreveu (o erro de conjugação é de propósito) este texto no período do carnaval, o mesmo em que estou escrevendo agora, porém no ano de 2011. Quer dizer, levou praticamente 6 anos solares para, digamos assim, viajar pela rede da Internete e eu, cá próximo a Salvador, responder! Achei isso fantástico! Também gostaria que me respondessem aos meus posts de 2013, que não têm nenhum comentário! (rsrs). [paulotrindade2013.blogspot.com.br]
Agora, realmente, como diz o outro, fico fascinado, dentre outras questões (também tenho muito o que fazer para me ocupar somente com o carnaval) com essa questão religiosa que "causou" o carnaval e gostaria de sua posição como antropólogo:
Diante de uma imposição da Igreja Católica - instituição que, na Idade Média, era mais potente do que foi uma ditadura militar - para as pessoas terem privações e fazerem jejum antes da "Semana Santa", eclodiu, então, a necessidade de extravasar os desejos no período anterior, que ficou chamado assim, de "carnaval". Parece a lei da ação e reação de Newton: forças de igual intensidade, em sentidos opostos. É o inconsciente coletivo "dizendo": "já que vamos nos segurar após o carnaval, aproveitemos esse momento para nos soltarmos!"
Vemos na origem etimológica de carnaval a expressão latina "carnis levale" (o adeus, a despedida da carne), como uma espécie de ritual, não acha, algo que se parece com a despedida de solteiro, guardadas as proporções?
Atenciosamente,
Paulo Trindade.
Postar um comentário