Em dia de jogo da seleção na copa do mundo é possível sentir a euforia no ar logo cedo de manha. Essa movimentação vai aumentando com o passar das horas, até chegar o momento da partida, quando milhões de brasileiros aguardam com atenção o início do jogo, torcendo em família e entre amigos para o seu time conquistar mais uma vitória. Ontem não poderia ser diferente. Na medida em que foi se aproximando o horário do jogo, podíamos ver torcedores de todas as idades e gênero circulando pelas ruas com suas camisetas e bandeiras. Como era contra o Chile, velho e bom freguês da seleção brasileira, estávamos todos confiantes numa vitória. Esse era o momento para o nosso time comprovar que tem condições de vencer o torneio. A vitória nas oitavas de finais seria um convite para sonhos maiores, como o hexacampeonato. Apesar de ter feito uma boa partida contra Costa do Marfim, ainda faltava à seleção apresentar um bom futebol e entrar definitivamente para o pequeno grupo das favoritas, junto com a Argentina e a Alemanha, as melhores seleções da competição até aquele momento.
Em países como o Brasil, com uma forte tradição futebolística, fica difícil para o torcedor esconder a angústia diante de um grande jogo, principalmente, na fase eliminatória. Mas o futebol é um desses fenômenos que consegue abranger a todos, até mesmo àqueles que não são amantes da bola. Ver a seleção jogar na Copa do Mundo tornou-se um desses costumes transmitidos e compartilhados por todas as gerações, apoiado pelo Governo e pelas empresas – que liberam seus funcionários para assistir as partidas – uma instituição social consagrada na nossa sociedade. Até mesmo quem não gosta de futebol assiste aos jogos da seleção brasileira durante a Copa, só para aproveitar o clima de festa que contamina as pessoas e faz desse evento esportivo um fenômeno de grande expressão sentimental para todos nós brasileiros. Quem não morre de paixão pelo futebol ou pela Seleção, assiste pelo valor social e cultural do evento em si. Vai saber ao certo como tudo isso começou, mas a verdade é que hoje em dia somos milhões torcendo pelo bom desempenho dos nossos jogadores. Estamos diante de um fenômeno social “total” – a Copa do Mundo - uma instituição cultural compartilhada por bilhões de pessoas no mundo inteiro, um evento que nos aproxima enquanto seres humanos, transformando todos os povos em coletivos de torcedores. Não importa se achamos isso produtivo ou racional, pois o futebol não é nada disso. Quando a canarinho entra em campo, a razão desaparece diante do grito de gol e a torcida é apenas o veículo de expressão de emoções e sentimentos coletivos cuja manifestação é extremamente necessária para a construção da nossa identidade nacional. Em muitos contextos e para muitas pessoas, o sentido de “ser brasileiro” só se materializa em momentos como estes, quando as diferenças são superadas em nome de um “coletivo” composto por todas as cores, credos, crenças, costumes, afiliações partidárias e religiosas. Quando a nossa seleção entra em campo ocorre um desses fenômenos culturais inexplicáveis, quando as diferenças são superadas para que exista identidade num nível mais amplo de diferenciação. É quando enfrentamos alemães, argentinos, chilenos, uruguaios e portugueses que sabemos o significado mais profundo e subjetivo do devir brasileiro.
A Copa do Mundo é, definitivamente, um fenômeno cultural mundial de grandes proporções, só podendo ser comparada às olimpíadas. Ontem foi a vez dos nossos jogadores mostrarem ao mundo inteiro que estamos na competição para ganhar o caneco. Apesar da pressão no início do jogo, da coragem e da dedicação dos chilenos, os nossos irmãos latino-americanos não conseguiram superar o bom desempenho da seleção durante boa parte do jogo. Finalmente Kaká voltou a apresentar um futebol mais próximo do que ele vinha apresentando durante os últimos anos: versátil, inteligente e maduro. É impressionante como a Seleção muda completamente com a presença do Kaká e do Robinho em campo, jogadores que fazem a ligação entre a defesa e o ataque. Por sinal, acho que o melhor mesmo da seleção reside na qualidade técnica da sua defesa: segura, confiante e ágil. Lúcio sabe se deslocar até o meio de campo e levar a bola para Kaká e Robinho quando necessário, enquanto Juan apresentou o seu melhor futebol, garantindo a segurança na grande área. Já o nosso goleiro Julio Cezar, apesar de não ter sido muito requisitado durante a partida, demonstrou a confiança necessária nas bolas mais perigosas. No meio campo, Daniel Alves e Gilberto Silva apresentaram qualidade defensiva, mas ainda deixam a desejar no ataque. Quem se deu bem mesmo foi Ramirez, que ingressou maravilhosamente na seleção titular, dando maior movimento ao ataque e fazendo uma boa parceria com Kaká do meio campo pra frente. Luis Fabiano, por sinal, parece ter se recuperado da péssima atuação no último jogo contra Portugal e dá indícios de estar começando a gostar do seu futebol, dando demonstrações claras da sua capacidade de fazer mais alguns gols até a final do campeonato e, quem sabe, consagrar-se o goleador da competição. Robinho melhorou um pouco, mas ainda precisa (e pode) melhorar bastante. No geral, a seleção apresentou um futebol compacto, ágil e com uma defesa que impõe respeito nos adversários. Inclusive, daqui pra frente, quem jogar contra o Brasil terá mais uma preocupação em mente, pois a seleção demonstrou a capacidade de jogar contra times ofensivos e sob pressão, saindo para o jogo quando ameaçada pelos adversários.
O sonho brasileiro de ser hexacampeão continua vivo! Agora que estamos entre as oito melhores seleções do mundo, podemos alimentar mais ainda a passagem para a final, basta, para isso, ganhar de uma velha conhecida de todos nós: a Holanda. E olha que a seleção laranja desta copa não chega nem aos pés da seleção de 94, apesar de ter um ataque perigoso. Vamos em frente, que venham os holandeses! Com uma defesa como a nossa, o Kaká voltando a apresentar o seu velho e bom futebol, Robinho e Luís Fabiano conseguindo dar forma as nossas finalizações lá na frente, acho que podemos almejar chegar até a grande final da Copa do Mundo, ao que tudo indica, contra a Argentina ou a Alemanha. Ai meus amigos, só Deus sabe o que pode acontecer!
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